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Logística de insumos comprometida devido à pandemia é o maior desafio para a medicina nuclear, avalia AIEA

Com apoio da CNEN e de ministérios, IPEN consegue manter a produção dos geradores de Tc-99m, I-131 (em solução e ou MIBG); e Lu-177-Dotatate, que dependem de insumos importados, além da produção de I-123 e Sm-153, realizada no próprio Instituto

A produção de radioisótopos para a medicina nuclear não foi afetada, mas a logística de transporte aéreo dos insumos é o gargalo a ser enfrentado nessa pandemia da Covid-19, avalia a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Os países pequenos com fronteiras fechadas e sem voos, que dependem de importações de radioisótopos para produzir radiofármacos, são os que mais sofrem. No Brasil, a demanda maior é pelo Gerador de Tc-99m/Mo-99 e por radiofármacos à base de I-131. Graças a uma ação conjunta entre IPEN/CNEN-SP, principal fornecedor, e outras instituições governamentais nacionais e estrangeiras, os pedidos estão sendo 100% atendidos.

Outra preocupação é que os custos de radioisótopos e radiofármacos estão começando a aumentar. Dados da AIEA apontam uma diminuição de cerca de 20% a 50 % na demanda por esses produtos, em particular pelo foco dado ao tratamento da Covid-19 nos hospitais e o consequente adiamento de alguns exames pelo mesmo motivo. Toda a cadeia produtiva foi debatida em Webinar (conferência on-line) promovido pela AIEA no dia 23 de abril, que envolveu quatro painelistas da própria AIEA e 14 experts de 12 países membros, representando associações, produtores, centros de medicina nuclear, entre outros.

Um dos painelistas foi Efrain Perini, gerente do Centro de Radiofarmácia (CECRF) do IPEN/CNEN-SP. Ele explica que o Instituto declarou a produção de radiofármacos comoserviço essencial e, desde então, a situação com a Covid-19 tem demandando muita atenção e esforços da equipe, diariamente. "Além disso, o comprometimento e experiência dos fornecedores internacionais em viabilizar a melhor logística de entrega ao Brasil têm sido fundamentais para superar os desafios dos transportes com a malha aérea internacional dificultada.Graças ao trabalho de todos os envolvidos, temos conseguido fornecer a todo o Brasil os principais radiofármacos semanalmente, evitando o desabastecimento”.

Em comparação com a demanda regular de radiofármacos no Brasil, Perini diz que foi constatada uma redução de quase 50%. Entretanto, o número de pedidos varia semanalmente, dependendo da disponibilidade dos voos anunciados pelas companhias aéreas nacionais. "Com base neste cenário, nossa primeira estratégia foi estabelecer prioridades juntamente com a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN): todos os nossos esforços são para manter a produção dos geradores de Tc-99m, I-131 (em solução e ou MIBG); e Lu-177-Dotatate, além da I-123 e Sm-153, que possuem produção local no IPEN/CNEN-SP. A contingência e prioridade foram baseadas nas aplicações e relevância dos radiofármacos.

O químico João Osso, chefe da Seção de Produtos de Radioisótopos e Tecnologia de Radiação da Divisão de Ciências Físicas e Químicas da AIEA, chair do Webinar, afirmou que está trabalhando para avaliar as necessidades na área de radioisótopos médicos, considerando que a maioria das atividades de pesquisa e educação nessa área está interrompida, e hospitais tiveram suas atividades relacionadas a exames adiada. "Sem um fornecimento normal e contínuo, importantes diagnósticos e terapias têm que ser adiadas ou interrompidas, com um impacto direto na saúde de pacientes”, afirmou.

Osso destacou que o Brasil tem uma situação específica, com uma demanda grande de radiofármacos que depende da importação de radioisótopos. "Graças a ação coletiva da CNEN, IPEN, governo e associação médica, soluções têm sido implementadas”, disse. Ele se refere à ação conjunta da CNEN, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), juntamente com a Casa Civil da Presidência da República e o Ministério das Relações Exteriores (MRE), possibilitou que houvesse eficaz coordenação do IPEN/CNEN-SP para que os radioisótopos cheguem de forma segura aoCentro de Radiofarmácia.

Os fornecedores de radioisótopos também se uniram nessa tarefa de evitar o colapso a medicina nuclear do país, durante a pandemia da Covid-19. "Destaco a intensa comunicação e dedicação com os fornecedores internacionais, especialmente a JSC Isotope que têm obtido sucesso na entrega semanal de Mo-99 e I-131 produzidos em RIAR e Karpov. Agradecemos o trabalho diário e incansável de Jeferson Costa, da JN Consult, representante da JSC Isotope no Brasil e Maxim Pozdyshev da JSC Isotope na Rússia, com quem mantemos uma comunicação ininterrupta, independente de horário ou dia, para sabermos detalhes dos embarques dos materiais e superarmos as dificuldades. O apoio da Rosatom América Latina também tem sido fundamental”, afirmou Perini.

O gerente do Centro de Radiofarmácia do IPEN também informou "uma comunicação intensa com os representantes da Curium (AMY)” e o "sucesso no recebimento semanal de Mo-99 produzido na Holanda”. Além do Mo-99, o IPEN tem organizado com este produtor algumas entregas "extraordinárias” de Ga-67 e Tl-201, segundo relatou Perini.

O Centro de Radiofarmácia do IPEN/CNEN-SP está seguindo as recomendações sanitárias da Organização Mundial de Saúde (OMS). Os funcionários portadores de doenças crônicas foram orientados a ficar em casa. De acordo com Perini, as produções têm sido planejadas com escalas mínimas de pessoal durante períodos e dias restritos, com número reduzido de funcionários no local. "Também estamos com uma equipe mínima de infraestrutura e manutenção, logística de insumos e administrativa, todos trabalhando nas essencialidades para a manutenção das produções no IPEN”.

A AIEA vai promover mais webinars, caso seja necessário, focando nos desafios de logística bem como em outras questões, como a segurança dos servidores que atuam para que o fornecimento não seja interrompido, de acordo com João Osso. "Todos os panelistas enfatizaram que medidas extras foram introduzidas nas suas instalações para garantir a segurança dos funcionários e das operações, a fim de evitar a contaminação com Covid-19. Considero uma importante mensagem do Webinar: a segurança dos seus funcionários como principal prioridade”.

Confira trechos da entrevista com João Osso, concedida via e-mail:

Poderia comentar brevemente sobre a iniciativa de realizar o webinar "Pandemia COVID-19: fornecimento de radioisótopos médicos e radiofármacos”?

João Osso– Nós organizamos o webinar por duas razões: as solicitações que recebemos dos Países Membros [da AIEA] para que relatassem problemas de fornecimento de radioisótopos para uso médico e radiofármacos em seus países, assim como uma maneira de responder aos questionamentos apresentados durante os dois webinars para médicos organizados pela Agência em 25 março e 16 abril, respectivamente. Nós também levamos em consideração perguntas coletadas por uma pesquisa conduzida pela AIEA com produtores de radioisótopos que usam reatores de pesquisa. O fornecimento de radioisótopos e radiofármacos é um assunto essencial para medicina nuclear: sem um fornecimento normal e contínuo, importantes diagnósticos e terapias têm que ser adiadas ou interrompidas, com um impacto direto na saúde de pacientes.

Quais atores/países participaram?

João Osso– O webinar teve cerca de 800 participantes. Nós conduzimos uma pesquisa antes do webinar focada nos efeitos da corrente situação de pandemia do Covid-19 na produção de radioisótopos e radiofármacos e recebemos 65 respostas de 48 países membros (PMs). O webinar teve apresentações de quatro panelistas da IAEA e de 14 experts de 12 PMs, representando associações, produtores, centros de medicina nuclear, entre outros.

Como a Agência pode efetivamente atuar para que não haja escassez de radiofármacos nos países que dependem de radioisótopo importado, uma vez que a logística está comprometida devido à pandemia?

João Osso– Uma maneira é promover e organizar webinars como este, onde divulgamos informações corretas, baseadas em fatos, vindas dos países membros da AIEA. Os webinars facilitam a troca de informações e experiências e ações podem ser sugeridas baseadas nas apresentações e discussões. Outra maneira é coletar mais informações dos países membros para poder atuar nos problemas e preocupações. Nós também estamos planejando algumas ações tais como engajar com a Organização Mundial da Saúde, produtores e autoridades nacionais em discussões sobre o transporte de radioisótopos com linhas aéreas e governantes.

Quais os países mais afetados?

João Osso– Em particular países pequenos com fronteiras fechadas e sem voos, que dependem de importações de radioisótopos para produzir radiofármacos. Ainda estamos coletando os dados das pesquisas.

Quais as principais conclusões/considerações a que se chegou com a realização do webinar e as perspectivas de ações?

João Osso– A produção de radioisótopo não foi afetada, mas o transporte aéreo é o gargalo. Em muitos países, a produção de radioisótopos e radiofármacos foi declarada como atividade essencial pelo governo. Mas alguns pararam a produção de radiofármacos pela falta de radioisótopos importados. O transporte e aquisição de alguns insumos não radioativos também foram afetados. Os custos estão começando a aumentar. Uma diminuição de cerca de 20 a 50 % na demanda por radiofármacos foi verificada, em particular pelo foco dado ao tratamento de COVID nos hospitais e o adiamento de alguns exames pelo mesmo motivo. Todos painelistas enfatizaram que medidas extras foram introduzidas nas suas instalações para garantir a segurança dos funcionários e das operações para evitar a contaminação com COVID-19. Considero uma importante mensagem do Webinar: a segurança dos seus funcionários como principal prioridade.


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