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Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares

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Utilização do lítio na indústria nuclear gera parceria entre IPEN/CNEN e Companhia Brasileira de Lítio

Cerimônia on-line teve homenagem a Alcidio Abrão, que foi o pioneiro e inspirou cientistas do projeto com a frase: "A gente vai avançando sem deixar morrer o estímulo científico”.

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN) e a Companhia Brasileira de Lítio (CBL) formalizaram parceria visando a produção do isótopo de lítio-7 por meio do processo de troca iônica, após uma primeira etapa –  a purificação do lítio em nível maior que 99,99% – ter sido bem sucedida. O Acordo de Parceria em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação foi formalizado via web na sexta-feira, 18, e publicado no Diário Oficial da União (D.O.U.) desta segunda-feira, 21 (Edição 181, Seção 3).

A expectativa é de que a produção do isótopo lítio-7 torne o Brasil independente da importação desse material estratégico para a indústria nuclear. No âmbito científico, espera-se que a iniciativa possa gerar uma patente de separação do lítio-7, tornando o país uma das poucas nações do mundo a dominarem essa tecnologia. O recurso total para viabilizar o Acordo, com vigência de dois anos, é de R$ 2.388.265,34, sendo o aporte da CBL o valor de R$ 1.643.543,00, dos quais, uma parte – R$ 593.334,00 – será repassada via Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), também signatária do documento.

Para Oscar Vega, pesquisador do Centro de Química e Meio Ambiente (CQMA) do IPEN/CNEN e coordenador do projeto no âmbito do Acordo com a CBL, a parceria entre indústria e pesquisa é cada vez mais necessária. "O apoio à indústria é muito importante, sobretudo nesse momento. Sempre trabalhamos com agências de fomento, mas estamos em uma época difícil, parece uma guerra, com essa pandemia”. Vega entende que o projeto vai promover "uma sinergia para gerar um produto de interesse comercial no âmbito industrial e de interesse energético nacional utilizando os recursos humanos desenvolvidos pela universidade na área científica”.

A CBL domina tecnologia de ponta na extração e beneficiamento mineral e na produção de compostos de lítio, que se destaca como insumo multiuso e é mundialmente reconhecido como matéria-prima na produção de baterias para dispositivos eletrônicos. O metal também é usado em várias fases da produção industrial, como graxas/lubrificantes, cerâmicas, vidros, polímeros e até em fórmulas farmacêuticas. Na indústria nuclear, segundo Vega, o lítio – especificamente seus isótopos constituintes – é utilizado nos reatores de potência.

Vega explica que o lítio natural é composto por dois isótopos estáveis, o 6Li (lítio-6) e o 7Li (lítio-7). De acordo com o pesquisador, os isótopos de um elemento químico, especificamente no caso do lítio, apresentam propriedades químicas e físicas muito semelhantes. "No entanto, eles se comportam como substâncias completamente diferentes quando utilizados em aplicações na área nuclear. Por consequência, a separação isotópica do lítio é de grande interesse para a tecnologia nuclear”.

O lítio-6 é empregado na produção secundária dos chamados dispositivos termonucleares, utilizados como combustíveis em reatores de fusão nuclear. Já o lítio-7 é um produto usado na refrigeração da água do circuito primário dos reatores nucleares de potência PWR (do inglês Pressurized Water Reactor) para manter o pH constante. É o caso das Usinas Angra I e Angra II, que utilizam o isótopo, hoje importado. Como também está previsto seu uso para operação do reator de Angra III, no futuro, é estratégico para o Brasil ter autossuficiência. "Desenvolver novos processos de separação isotópica do lítio que se ajustem ao mercado nacional é, portanto, um desafio para os institutos de pesquisas nucleares no país”, salienta Vega.

"Tecnologia disruptiva”– Devido à pandemia da Covid-19, a reunião de formalização da parceria foi on-line. Como anfitrião, o superintendente do IPEN/CNEN, Wilson Calvo, deu as boas-vindas aos participantes e convidou o titular da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Madison Almeida, para abrir oficialmente. O diretor começou falando da importância de celebrar o momento com todos os atores, apesar do distanciamento social, e afirmou que a "tecnologia disruptiva engrandece e demonstra a pujança do IPEN”. Ressaltou, ainda, a importância da cooperação para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Endossando as palavras de Almeida, Calvo também destacou "o papel fundamental” de todos os atores que, durante quatro meses, trabalharam juntos na construção desse Acordo de Inovação. O superintendente considera essa ação "estratégica” para a área nuclear do Brasil. Calvo agradeceu aos servidores e pesquisadores do IPEN e da CNEN participantes da reunião, mencionando o apoio recebido da DPD/CNEN, dos Centros de Pesquisa do Instituto, em especial o CQMA, ao qual Vega e equipe estão vinculados, e do Serviço do Núcleo de Inovação Tecnológica (SENIT).

O diretor superintendente da CBL, engenheiro Vinícius Alvarenga, comentou que a verticalização e o desenvolvimento tecnológico são os principais pilares da empresa, desde o seu início, há 30 anos. Lembrou que o projeto com o IPEN começou com a purificação do carbonato, cujo êxito motivou para essa nova fase de separação isotópica. "Esperamos, em breve, iniciar, com o time do Oscar, todo o plano de trabalho que foi desenhado há alguns meses. Não estamos poupando esforços para a sequência desse desenvolvimento tecnológico da cadeia do lítio no Brasil”.

Paulo Renesto, que segundo Alvarenga foi o "indutor” da parceria IPEN/CBL, relembrou as primeiras tratativas do químico Alcídio Abrão com o governo sobre o decreto e as rotas básicas do lítio, a fim de atender a área nuclear. "Essa parceria já nasceu de forma embrionária para atender a uma demanda das Usinas de Angra dos Reis, que precisam do isótopo 7 e estavam com problemas do abastecimento da Alemanha. Quero enaltecer bastante a equipe do IPEN, liderada pelo Dr. Vega, pelo excelente trabalho. Foram feitos quase mil testes de purificação de carbonato de lítio, que é a primeira fase da separação isotópica. Vencemos a etapa inicial e agora temos esse desafio que, tenho certeza, será bem-sucedido”.

Aguinaldo Couto, do Conselho Administrativo da CBL, fez um agradecimento a todos os envolvidos e desejou sucesso. Priscila Passos, analista de Negócios e Parcerias da FUNDEP, agradeceu a oportunidade de mais uma parceria que, segundo ela, caminha bem com a missão de gerar soluções para apoiar os pesquisadores no desenvolvimento de ecossistemas de pesquisa e inovação. "Estamos muito honrados por fazer parte deste momento, nos colocamos à disposição, nos comprometemos de ser um parceiro de relevância e contribuir para que seja uma plena execução com grandes resultados”.

Isolda Costa, diretora de Ensino, Pesquisa e Desenvolvimento do IPEN/CNEN, salientou que essa parceria é um modelo para que os outros convênios sejam estabelecidos no Instituto, "pois seguiu o caminho adequado e por isso e já começa com uma confiança mútua”. Fez questão de ressaltar o importante trabalho do SENIT/IPEN pontuando "muita dedicação e competência, que, junto com a equipe do CQMA, promoveu uma relação eficiente”. Por fim, agradeceu o apoio da CNEN e desejou sucesso. "Todos têm muito a ganhar com esse projeto”, disse.

Reconhecimento– A chefe do SENIT, Maria Helena Sampa, pontuou o "trabalho hercúleo” da área, agradecendo especialmente a Adriana Braz Vendramini e Cassiane Jaroszewski, a quem passou a palavra por ter acompanhado o projeto desde o início. "Para o NIT, é sempre uma alegria ter um acordo assinado. Esse projeto começou no final do ano passado, deu uma parada e voltou em 18 de maio. Hoje, quatro meses depois, a gente celebra esse Acordo e um processo que conta com 114 documentos, incluindo a publicação no D.O.U. Fiz questão de contar”, afirmou Jaroszewski.

Destacando cada um dos que participaram do projeto, em especial os alunos bolsistas e os técnicos do laboratório – "os estudantes nos dão energia para continuar nossos projetos” – Vega fez um breve retrospecto da cadeia do lítio e relembrou que Alcídio Abrão já dizia que o lítio seria o futuro. Por fim, comentou que a Biblioteca é o centro mais importante do IPEN porque é lá que estão todos os relatórios de Alcídio Abrão,  de quem guardou a frase que lhe marcou para a vida: "A gente vai avançando sem deixar morrer o estímulo científico”.

Madison Almeida encerrou a cerimônia mencionando a "justa homenagem” à memória de Alcídio Abrão e o legado que deixou para as gerações seguintes. Também participaram Marycel Cotrim, gerente do CQMA, Vanderlei Bergamaschi, Alexandre Temponi Scuotto, Rodolfo Politano, João Coutinho Ferreira, Valdirene Peressinotto, Marcelo Laosa, Carlos Ferreira e Vanessa Oliveira, estes da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMGE), empresa parceira da CBL.


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