Queila Ariadne
Um alótropo de carbono pode fazer do mundo um
lugar muito mais simples e transformar Minas Gerais em referência na
cadeia de produção de um novo material com múltiplas aplicações: o
grafeno. Em três anos, o Estado terá a primeira planta do Brasil, para
produção em escala comercial. Gerado a partir de combinações de átomos
de carbono, ele é capaz de acelerar a velocidade da internet, filtrar o
sal da água do mar, carregar uma bateria de celular em segundos e até
ajudar no sequenciamento genético. O investimento será de R$ 21,3
milhões para desenvolver a tecnologia e implantar a produção em escala
piloto. Os recursos são da Companhia de Desenvolvimento Econômico de
Minas Gerais (Codemig).
Com tantas utilidades, a substância
vale ouro. Aliás, vale cerca de duas vezes e meia mais. Enquanto cada
grama de ouro custa R$ 143, a do grafeno é comercializada em torno de
US$ 100 no mercado internacional, ou seja, R$ 346. Hoje, a tonelada
métrica de grafeno custa US$ 1.000, cerca de 500 vezes mais do que a de
grafite. "O desafio da planta piloto é produzir em escala maior, com
qualidade e preço mais competitivo”, explica a coordenadora do projeto
na Codemig, Valdirene Peressinotto.
Segundo a pesquisadora
Adelina Pinheiro, do laboratório de química de nanoestruturas de carbono
do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear/Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CDTN/CNEN), o ideal é que grafeno chegue a custar
apenas dez vezes mais do que o grafite. "As vantagens são mais da
eficiência do que financeiras. Ele tem propriedades muito específicas,
como isolar bem a umidade e o oxigênio, facilitando a conservação de
alimentos, por exemplo, podendo ser usado em embalagens e revestimentos.
Pode ser usado em sensores que ajudarão a detectar doenças por meio do
sangue ou saliva”, ressalta.
O professor do departamento de
física da UFMG, Daniel Cunha Elias, participa de pesquisas do grafeno
desde 2006, quando se obteve a primeira mostra no Brasil. "Não existe
nenhum material conhecido no mundo que ofereça tamanha impermeabilidade e
resistência. Os elétrons se movem com uma velocidade muito maior do que
no silício, o que vai permitir uma eletrônica muito mais rápida”,
afirma.
Elias destaca que Minas já é referência em grafeno, o
que será ampliado com a instalação da planta. "O Estado possui minas de
grafite, de onde pode ser obtido o grafeno. No entanto, mais importante
do que isso é o know-how, pois aqui está uma grande concentração de
pesquisadores na área”, destaca.
Unidade vai gerar 28 empregos diretos
A planta piloto de grafeno em Belo Horizonte só deve entrar em
funcionamento daqui a um ano e meio, mas o processo de contratações de
pesquisadores já começou. "Vamos contratar 28 profissionais, das áreas
de física, química e engenheiros como de áreas química e de materiais”,
afirma a coordenadora do projeto na Codemig, Valdirene Perissotto.
Em julho, a companhia vai promover um encontro para lançar o projeto à
comunidade acadêmica e empresarial. Diante da versatilidade do grafeno, a
lista de possíveis clientes também é abrangente. "Podem ser indústria
automotiva, onde ele tem uma infinidade de utilidade, além de
metal-mecânica, microeletrônica, celulose, têxtil, baterias e
aeroespacial”, afirma Valdirene.
Dos R$ 21,3 milhões de
investimento, 45% serão alocados em laboratórios e equipamentos e o
resto em recursos humanos e ações complementares. (QA)