De volta ao Brasil com diploma na mão, três estudantes relatam experiências e ganhos após aceitar o desafio de estudar sobre tecnologia nuclear em outro país por meio de intercâmbio
Os resultados de uma parceria firmada pela Internacionalização
do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) envolvendo o
intercâmbio de estudantes brasileiros do Programa de Pós-Graduação em
Tecnologia Nuclear do IPEN-USP com o Instituto de Física de Moscou (MEPhI) – Universidade
de Engenharia Nuclear, na Rússia, já são uma realidade.
Três alunos da Pós-Graduação, João Vitor Soares, orientado
por Almir Oliveira Neto, do Centro de Células a Combustível e Hidrogênio
(CECCO); Júlio de Oliveira, orientado por Roberto Vicente, do Serviço de Gestão
de Rejeitos Radioativos (SEGRR) e Levy Scalise, orientado por Artur Wilson
Carbonari, do Centro do Reator de Pesquisa (CERPQ), todos do IPEN, retornaram
ao Brasil trazendo na bagagem, além da experiência única de estudar sobre as
tecnologias nucleares na Rússia, um diploma de mestrado internacional para
enriquecer os currículos.
Para diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Ensino (COPDE)
do IPEN-CNEN, Niklaus Wetter, que acompanhou o processo de implantação do mestrado
sanduiche desde 2019, enquanto era gerente de Internacionalização, esta foi uma
oportunidade que certamente estes estudantes souberam aproveitar.
"A ideia inicial era que os estudantes ficassem apenas um
ano estudando fora do Brasil, mas a partir de um acordo, eles conseguiram
renovar as bolsas por mais um ano o que lhes garantiu obter o diploma de
mestrado da Universidade de MEPhI, independente do diploma deles da Pós-Graduação
no IPEN. Isso, certamente, facilitará na hora em que forem buscar empregos
nacionais ou internacionais. Além de mostrar que eles têm um conhecimento um
pouco maior em tecnologia nuclear e do mundo”, afirma Niklaus Wetter.
Para ficarem dois anos fora do Brasil os estudantes contaram
com bolsas de estudos integrais oferecidas pela Companhia Estatal de Energia
Nuclear da Rússia (ROSATOM). Eles fazem questão de destacar o quanto esta
experiência foi benéfica para cada um deles tanto na área acadêmica quanto na
área cultural.
Novas experiências
Aluno do programa de doutorado direto do IPEN na área de
Aplicações de Tecnologia Nuclear, Júlio de Oliveira destaca que aceitou o
desafio porque a Rússia é um país referência em tecnologias de bateria nuclear,
que é parte do tema do seu projeto de doutorado aqui no Brasil.
"Apesar de, na Rússia, eu não poder trabalhar com bateria
nuclear, por ser um assunto restrito e estratégico deles, eu desenvolvi uma
pesquisa sobre os reatores espaciais que usam um sistema de baterias parecido.
Boa parte dos sistemas são os mesmos usados na bateria nuclear, então consegui
tirar proveito para me aprofundar na aplicação da tecnologia em si, o que já me
ajudou muito”, destaca Júlio de Oliveira.
O estudante defende ainda que agora ele tem um leque mais
amplo de temas em que pode atuar, pois aprendeu mais sobre reatores, tendo
contato com os processos que trabalham com os rejeitos dos reatores. Agora ele se
sente apto para trabalhar em usinas nucleares.
O outro estudante, Levy Scalise, explica que ter ido estudar
na Rússia foi uma experiência muito boa, porque mesmo nunca tendo saído do
Brasil, sabia que estudar fora daria a ele a oportunidade de enriquecer seu
currículo enquanto pesquisador com experiência internacional, sem falar no
ganho cultural.
"Ver como funciona a cultura de outro país serve para
valorizarmos o que aqui no Brasil é melhor. Ter conhecido pessoas de várias
nacionalidades foi uma troca tão boa quanto o conhecimento técnico e científico
adquirido. Percebi que a nossa formação aqui no Brasil também é muito boa e
isso deu um upgrade na minha formação. Agora, tenho certeza que com esta
experiência internacional no currículo eu posso fazer a diferença no mercado de
trabalho cada vez mais globalizado”, afirmou Levy Scalise.
O estudante destaca ainda que a Rússia é referência mundial
na área nuclear e isso tornou a experiência muito proveitosa, pois lá existem
profissionais muito bem preparados, com o know-how
na área nuclear tanto na academia quanto nas organizações particulares.
Ele explica que lá na universidade russa pesquisou os
impactos da radiação no meio ambiente com destaque para o controle e o
monitoramento constante de áreas onde existem instalações nucleares, sendo esta,
segundo ele, uma área de estudo essencial por estarem expansão no Brasil.
O terceiro aluno a retornar com o título de mestrado, João
Vítor Soares, é formado em Engenharia de Controle e Automação e agora tem também
um mestrado em Engenharia Nuclear e Física Térmica. Ele destaca a forma e os
métodos como os professores russos ensinam.
"Os professores russos foram essenciais para o meu
aprendizado, até porque eles têm uma metodologia muito diferente dos professores
brasileiros para ensinar. Eles fazem o aluno pesquisar e aprender de fato.
Posso afirmar que comecei a aprender a pesquisar mais por conta deles. De forma
geral, ter um mestrado internacional me permitiu tomar um rumo enquanto
pesquisador, porque eu aprendi russo, fiquei fluente em inglês e treinei o
alemão, então isso foi muito bom para mim”, enfatiza João Vitor.
Em termos acadêmicos o estudante pretende continuar a
pesquisar a área de Engenharia de Controle e Automação. Na prática, ele
pretende se especializar em equipamentos como os geradores de vapor que
necessitam de monitoramento e controle constante para evitar danos e também
melhorar a performance. "O
controlador pode permitir uma eficiência melhor. Diferentes de sistemas
automatizados, trabalhamos com a ideia de um controle mais humanizado, não apenas
com lógica de 0 e 1 ou baixo e alto ou quente e frio, sempre existe um meio
termo. Um controlador experiente pode ter respostas variadas, mais rápidas e mais
humanas, isso permite uma eficiência melhor e não deixa acontecer o estresse
mecânico”, explicou João Vitor.
Continuidade
Segundo Niklaus Wetter é grande a possibilidade dessa
parceria continuar, pois há um claro desejo do Itamarati e Brasília, a continuação
das parcerias com a Rússia. "A previsão é que haja a seleção de novos alunos em
outubro de 2024. Desta vez os alunos podem conquistar um diploma com dupla
nacionalidade, terminando um curso no IPEN com dois mestrados e sem ter que
ficar os dois anos na Rússia. Com esta facilidade esperamos conseguir mais alunos
se dispondo a participar desta experiência”, finalizou.
Ouça a entrevista dos alunos na seção de podcasts da Rádio IPEN
Ulysses Varela
Bolsista BGE-DA/IPEN-CNEN
com supervisão