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- 25/04/2022 - Desafio da nuclear é economia de escopo demonstrávelPara presidente da Eletronuclear, novos reatores modulares podem mudar paradigma da economia por escala, com ganhos em produção e no fluxo de caixa dos futuros projetos
Para presidente da Eletronuclear, novos reatores modulares podem mudar paradigma da economia por escala, com ganhos em produção e no fluxo de caixa dos futuros projetos
Fonte: Canal EnergiaCom o tripé de acontecimentos envolvendo crise climática, pandemia e guerra na Ucrânia, a discussão sobre dependência energética aos combustíveis fósseis acelerando a adoção de outros mercados voltou à tona no debate energético global, com os pequenos e micro reatores modulares estando no centro da discussão por seus potenciais ganhos de eficiência, segurança e custo em relação aos modelos nucleares tradicionais.
Na visão do presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, a transição energética demonstra um gap que poderia ser suprido pela fonte nuclear, sobretudo com as novas tecnologias vindas a partir dos SMRs – Small Modular Reactors, os quais podem ser alocados perto dos centros de carga por seu espaço físico mínimo, diferentemente do que acontece com renováveis como a eólica, solar ou hidráulica.
"Esses reatores mudam o paradigma da economia por escala pela busca pelas economias de escopo. Ao invés de uma usina maior podemos fazer sete menores, com ganhos em produção, fluxo de caixa do projeto e na geração individual”, disse o executivo durante o Nuclear Summit 2022 nessa segunda-feira, 25 de abril, afirmando que o desafio no momento é demonstrar de forma clara que essa metodologia de negócio compensa a de escala desenvolvida no passado.
Guimarães lembra que a crise hídrica foi um fator de percepção de que a energia nuclear pode desempenhar, com elevados fatores de capacidade, uma pequena ocupação de espaço físico para aproximação de grandes centros consumidores, não dependendo também de condições climáticas. Até por isso ele credita um "aumento tímido” da participação da fonte no PDE 2031, com a novidade Angra 4, e no PNE 2050, que prevê de 8 GW a 10 GW, o que no futuro não representará uma mudança significativa frente aos 2,7% atuais na matriz.
"No passado já foram feitos estudos para novas centrais e que precisam ser retomados para seleção dos melhores locais, sejam centrais de grandes potências ou pequenos reatores operando em clusters”, refere, salientando o momento de oportunidades que dependem de aproveitamento, citando também os usos não elétricos da energia nuclear, como no mercado de calor ou dessalinização de águas salgadas ou salobras e como produtora de hidrogênio.
Brasil deve ser exportador de energia e urânio
Ademais Guimarães vê o Brasil com significativo espaço para crescer também como fornecedor e exportador de urânio e seus enriquecimentos a médio e longo prazo, sobretudo com a inserção dos pequenos reatores modulares que exigem um elemento combustível diferenciado e que o país poderá fornecer.
"Em termos econômicos é difícil competir com preço em relação a outras fontes mas utilizando as tecnologias atuais a história é diferente, com até mais condições de reciclagem de combustível”, complementa.
Essa mesma oportunidade foi ressaltada pelo diretor de Engenharia da Chesf, Reive Barros, que afirmou que o mundo reencontrou na geração termonuclear oportunidades para consumidores tradicionais e processos industriais dada as características da fonte, inclusive permitindo no futuro a exportação do hidrogênio para o exterior.
"Com escala será desenvolvida toda estratégia para o combustível vocacionado ao mercado interno e externo, com uma visão de médio e longo prazo há cada 10 anos permitindo uma reavaliação do passado e o que pode ser incorporado para o futuro, sendo essa é a principal diferença do planejamento brasileiro em relação a outros países”, salientou o especialista, lembrando que o país possui a nona maior reserva de urânio no mundo.
Segundo ele, as políticas públicas estão definidas por aqui, assim como a estabilidade jurídica e regulatória, nesse caso precisando aprofundar para a questão nuclear, criando as condições necessárias e um modelo institucional para competição e participação da iniciativa privada na expansão da fonte nos próximos anos.
"Não tem país no mundo que tem contratos de longo prazo como o Brasil, o que é música para os ouvidos do investidor, com a garantia de recebíveis”, destaca Barros, ressaltando também a previsibilidade do MME quanto a definição dos leilões pelos próximos três anos, um arcabouço legal que dá ao Brasil competividade e atratividade aosplayers.
Para Barros, o tema dos pequenos reatores é importante num conceito de Geração Distribuída mais próximo aos centros de carga, atendendo não só ao mercado mas ampliando a segurança energética, além do que a retomada de Angra 3 e 4 poderá colocar o país na liderança do protagonismo da geração nuclear na América Latina, visto ter a tecnologia, o conhecimento e o combustível.
"O desafio do Brasil hoje é gerenciar as oportunidades das renováveis administradas no sistema. Nossa oferta é quase que o dobro da necessidade e devemos ter uma estratégia de exportador de energia”, pontua Reive Barros, da Chesf, afirmando ser necessário aproveitar a vocação das fontes limpas para exportação de energia, via H2 ou interligações por toda América Latina.
EUA investe US$ 6 bilhões
Já no contexto da recente estratégia norte-americana, que prevê US$ 6 bilhões na área de energia nuclear, Reive Barros entende que o Brasil pode importar a ideia de aproveitamento desse tipo de geração para os sítios que utilizam ainda carvão, ajudando também na questão do desemprego após o abandono da atividade, o que pode acontecer no médio e longo prazo.
Sobre esse pacote anunciado nos Estados Unidos, a presidente-executiva do Nuclear Energy Insitute (NEI), Maria Korsnick, disse que um dos projetos pilotos do programa, o Tera Power, será construído na localidade de uma mina de exploração de carvão, demonstrando sinergia entre a frota nuclear para regiões onde haviam apenas estações de combustíveis fósseis.
"A vantagem competitiva desses reatores modulares é a simplicidade, podendo ser implementados de forma eficiente com relação a custos”, sustenta, afirmando que a nova tecnologia pode melhorar os preços atuais de US$ 35 a US$ 40 MWh e promover parcerias de complementaridade com eólica e solar.
Na avaliação da especialista o Brasil tem na mão uma oportunidade de demonstrar ao restante do mundo que está revigorando seu interesse na energia nuclear e começar a pensar em fornecer o combustível após o contexto da guerra, visto ter também a capacidade de enriquecimento e fabricação de elementos derivados do urânio.
Por sua vez a diretora-geral da World Nuclear Association, Sama Bilbao y Leon, destacou que a indústria nuclear precisa acelerar seu desenvolvimento para a matriz energética mundial, o que envolve muitos aspectos, como governos pragmáticos e determinados em criar planos efetivos para o mercado de baixo carbono investir na escala apropriada para cumprir os objetivos.
"Essa governança assertiva deve dar os sinais que vão guiar as políticas, mercados e estruturas financeiras que vão ajudar a criar a base para as fontes de baixo carbono”, define.
Nuclear é verde, mas tema é politizado
Ela citou também a recente atualização da taxonomia europeia reconhecendo a fonte como uma tecnologia verde, mas entende faltar ainda alguns passos para a efetiva implementação, esperando que tudo seja concluído da melhor forma. "Tem sido um processo frustrante e uma questão politizada, sem examinar o que importa mesmo, que é sustentabilidade da energia nuclear”, aponta a executiva.
Para Sama, esse movimento pode ser influente para outros que estão sendo desenvolvidos ao redor do mundo, com a associação realizando no momento um mapeamento das atividades nessa área, afirmando existir mais de 20 taxonomias de fornecimento sustentável sendo delineadas e que se diferenciam muito entre si.
Pensando na parte dos problemas, o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética e atual Professor Titular da COPPE-UFRJ, Maurício Tolmasquim, falou em dois pontos centrais. O primeiro seria o histórico atraso de construção e em como o planejamento do setor poderia ser feito com esse grau de incerteza, como nos 13 anos para erguer Angra 1 e 25 anos para Angra 2, sem falar nos 37 anos que se arrastam para a terceira unidade.
"Outra questão fundamental é o custo. Se temos R$ 349/MWh para Angra 1 e 2, são 60% a mais que uma térmica a gás e mais do que o dobro da eólica e solar. Mas o planejador não pode ter preconceito com nenhuma das fontes, devendo analisar todos os pontos e suas externalidades”, ressalta, citando a confiabilidade da nuclear como fonte de base e a confiabilidade, podendo funcionar sem interrupção por um ano ou mais, em 93% do tempo.
Entre outros problemas à vista o professor cita que o urânio é um elemento esgotável, apesar das reservas no país, e que a questão do resíduo nuclear ainda é um ponto sem resolução à nível mundial. "Outro fator é que o risco de ocorrer uma falha é muito baixo, mas quando ocorrem os acidentes podem ter dimensões catastróficas, o que fica na cabeça de todo mundo”, completa Tolmasquim.
Por outro lado, ele lembra da leitura de analistas que apontam os pequenos reatores modulares como equipamentos mais seguros, com argumentos de serem menos propensos ao aquecimento com os eventos de calor, podendo reduzir também outros riscos de engenharia como falhas nas bombas, além de ter menos peças móveis do que os reatores tradicionais. O quarto argumento é que depende mais de sistemas passivos, não dependendo de intervenção humana em caso de alguma ocorrência.
"Não tenho dúvidas de que a descarbonização vai ditar a política energética daqui em diante. A experiência com a pandemia e da crise climática reforça o quão importante é enfrentar as questões globais com antecedência”, finaliza Mauricio Tomasquim, da COPPE/UFRJ.
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- 25/04/2022 - Medicina nuclear: IPEN inaugura laboratório com microscópio capaz de visualizar câncer cervicalFonte: Blog Tania MalheirosO Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN-SP) inaugura nesta sexta-feira (29/4), às 14h30, o seu primeiro laboratório com microscópio que terá capacidade de visualizar câncer cervical em áreas grandes, além de outras atividades como a realização de análise dos modos de vibração de uma molécula. O microscópio sub-nano a laser com tecnologia francesa: o SNOM (Near-field Scanning Optical Microscopy), se destina a desenvolver novos radiofármacos (insumos utilizados no diagnóstico e combate ao câncer). O IPEN obteve cerca de R$ 16 milhões através de edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), com o projeto "Capacitação cientifica, tecnologia e em infraestrutura em radiofármacos e radiações a serviço da Saúde”.Segundo o coordenador responsável pelo projeto, Marcelo Linardi, o IPEN, Instituto da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) será a terceira instituição a adquirir o equipamento SNOM deste tipo no mundo, e o mínimo que se espera do equipamento são resultados de ponta. "Para termos ideia do alto nível de caracterização que o equipamento fornece, os grupos de pesquisa que o utilizam publicam com relativa frequência na Nature, uma das mais prestigiadas revistas científicas, com grande fator de impacto. Agora o IPEN terá condições técnicas para produzir trabalhos na área e radiofarmácia e nanotecnologia de alto nível", avaliou Linardi.
UMA INFINIDADE DE APLICAÇÕES
Os pesquisadores Anderson Zanardi de Freitas, coordenador do projeto Multiusuário FAPESP no qual esse equipamento foi enquadrado; e Niklaus Ursus Wetter, do Centro de Lasers e Aplicações, que abriga o laboratório, são os responsáveis pelo equipamento SNOM. Segundo Wetter, são inúmeras as possibilidades de aplicações. "Fica até difícil mencionar as vantagens desse equipamento, tamanha a sua diversidade, desde visualização de câncer cervical em áreas grandes até a visualização de uma única molécula e análise dos modos de vibração desta molécula", informou.
Ao destacar a importância do IPEN, Linardi lembrou também que o Centro de Radiofarmácia (CECRF) é uma área estratégica do Instituto, que desenvolve e produz radioisótopos e radiofármacos para a realização de diagnósticos e terapia em medicina nuclear. "Para ser uma instituição de vanguarda na pesquisa, desenvolvimento e produção de radiofármacos em prol da qualidade de vida humana, o IPEN deverá estar preparado para atender à demanda de comercialização dos radiofármacos, mesmo que crescente, e preparar-se para a introdução de novos produtos, mantendo o estado da arte no desenvolvimento de radiofármacos”, comentou.
O IPEN E A NANOTECNOLOGIA - No mesmo evento está programado o lançamento do livro institucional "O IPEN e a Nanotecnologia” da autoria de Linardi, pesquisador emérito do Instituto. A publicação resume todas as atividades do Instituto no campo da ciência e tecnologia, que permeia as inúmeras e diversificadas atividades do IPEN, nas áreas de saúde, energia, materiais e ensino.
O livro foi prefaciado pelo professor Ado Jorio de Vasconcelos do Laboratório de Nano-Espectroscopia, do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Nos últimos dois séculos, economia mundial tem exibido ciclos de crescimento ligados às revoluções industriais. Estas revoluções são precedidas por desenvolvimentos técnico-científicos disruptivos que mudam significativamente a nossa forma de vida. A primeira revolução industrial deu-se com o aparecimento da máquina a vapor, seguida de revoluções geradas pela introdução do sistema ferroviário, da energia elétrica, da indústria petroquímica e, por último, da tecnologia da informação. A próxima revolução tecnológica já exibe suas facetas, e apresenta-se relacionada ao desenvolvimento da nanotecnologia.”.
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- 25/04/2022 - Nuclear Summit 2022 reúne grandes nomes da indústria e oferece curso sobre SMRsEntre os dias 25 e 28 de abril, a Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) realizará a primeira edição do Nuclear Summit. O encontro foi pensado como um grande fórum para discutir as tendências do setor nuclear brasileiro à luz dos grandes movimentos mundiais. O evento foi idealizado pela ABDAN e conta com a parceria da Associação Nuclear Mundial (WNA, na sigla em inglês) e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Entre os dias 25 e 28 de abril, a Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) realizará a primeira edição do Nuclear Summit. O encontro foi pensado como um grande fórum para discutir as tendências do setor nuclear brasileiro à luz dos grandes movimentos mundiais. O evento foi idealizado pela ABDAN e conta com a parceria da Associação Nuclear Mundial (WNA, na sigla em inglês) e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Fonte: ABDAN
A lista de convidados já conta com nomes de peso, como o diretor da AIEA, Rafael Grossi e outros. As inscrições para o evento são gratuitas e podem ser realizadas neste link.
Além das palestras de personalidades de renome do setor, outro grande ponto alto do evento será o inédito curso sobre pequenos reatores modulares (SMRs). Com um novo design, e menores custos de implantação, essa tecnologia tem sido apontada como o futuro da indústria nuclear. Adicionalmente, por oferecerem flexibilidade, os SMRs também podem ser usados como complemento às usinas movidas por fontes variáveis, como eólica e solar.
Além disso, o Nuclear Summit abrirá uma janela de discussão sobre as oportunidades de negócios na geração nuclear nos próximos anos no Brasil. A Eletronuclear trabalha para avançar junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para a extensão por 20 anos do prazo da operação de Angra 1. Ao mesmo tempo, a empresa avança na retomada das obras de Angra 3. Em paralelo, o Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 indicou a construção de mais 10 GW de geração de energia nuclear, o que representaria cerca de oito novas usinas dentro desse horizonte.
O Nuclear Summit também vai debater a presença de mulheres no segmento. A participação feminina no setor nuclear vem crescendo e é incentivada internamente pela própria indústria. As informações sobre a programação do evento, bem como a lista completa dos palestrantes está disponível no site oficial do encontro.
Saiba mais e se inscreva em https://nuclearsummit2022.com/
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- 20/04/2022 - Em fórum sobre medicina nuclear, MCTI aponta desafios que permeiam o setorEvento organizado pelo Conselho Federal de Medicina debateu sobre a medicina nuclear
Evento organizado pelo Conselho Federal de Medicina debateu sobre a medicina nuclear
Fonte: MCTIA concentração no centro-sul do País de unidades de saúde que atuam na área de medicina nuclear e também no setor privado foram apontados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) como desafios que precisam de atenção da sociedade, durante o I Fórum Virtual de Medicina Nuclear. O evento foi realizado na terça-feira (19) pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e reuniu mais de 400 profissionais da área. Outro ponto destacado durante o evento foi a necessidade de manutenção regular de recursos para a produção nacional de radioisótopos e radiofármacos. "É desejo do ministério contribuir com o crescimento do setor, de forma a oferecer serviços de ponta à população brasileira via Sistema Único de Saúde”, afirmou o secretário de Pesquisa e Formação Científica (SEPEF/MCTI), Marcelo Morales, representou o ministro no fórum.
Atualmente, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, o Brasil possui 436 serviços de medicina nuclear, entre clínicas, hospitais e centros de pesquisa, que realizam cerca de 2 milhões de procedimentos por ano, utilizando radiofármacos. No entanto, cerca de 80% dessas unidades encontram-se nas regiões Sul e Sudeste e, apenas 25% dos atendimentos são realizados pelo sistema público de saúde.
Outro aspecto envolve o abastecimento regular de radiofármacos no País. O Projeto de Lei Orçamentária aprovado no Congresso Nacional para o ano de 2021 destinou recursos insuficientes para operação anual do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), unidade que produz 85% dos radiofármacos consumidos no País, o que causou problemas no fornecimento. À época, a Anvisa aprovou a importação temporária e excepcional para evitar o desabastecimento nacional. Logo, o governo solucionou o fato com aporte de recursos adicionais.
Além disso, encontra-se em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) nº 517/2010 para autorizar a produção, a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e uso médicos. Na prática, a proposta da legislação que aguarda promulgação, visa a autorizar a produção privada de radioisótopos de uso médico e deve fortalecer a cadeia de produção, hoje concentrada no Governo Federal, por meio do IPEN.
O secretário destacou que o instituto, ligado ao MCTI, tem papel central para o desenvolvimento da medicina nuclear no País, atuando em vários setores da atividade nuclear, como as aplicações das radiações e radioisótopos, em reatores nucleares, em materiais e no ciclo do combustível, em radioproteção e dosimetria. "Todas essas iniciativas têm proporcionado avanço significativos no domínio de tecnologias, na produção de materiais e na prestação de serviços de valor econômico e estratégico para o país, possibilitando estender os benefícios da energia nuclear à segmentos maiores de nossa população”, afirmou Morales.
Outra iniciativa mencionada pelo secretário foram os esforços no sentido de viabilizar o Reator Multipropósito Brasileira, cuja execução está sob a responsabilidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), autarquia vinculada ao MCTI. Este é o principal empreendimento de base científica e tecnológica da área nuclear do país e permitirá dobrar imediatamente o número de procedimentos anuais realizados em medicina nuclear; garantirá a estabilidade no fornecimento de radioisótopos; contribuirá para ampliação do número de clínicas e hospitais que oferecem serviços de medicina nuclear; e promoverá economia de mais de U$15 milhões ao ano com custos de importação de insumos.
Segundo a Câmara Técnica de Medicina Nuclear do CFM, os dados da Demografia Médica de 2020 apontam que o País tem pouco mais de mil médicos titulados especialistas em medicina nuclear. De acordo com um levantamento divulgado pelo NewsLab, o número de clínicas dedicadas à medicina nuclear cresce cerca 5% ao ano no Brasil.
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- 19/04/2022 - Emenda que quebra monopólio sobre radioisótopos será promulgada na terçaFonte: Agência SenadoO Congresso Nacional se reúne na próxima terça-feira (26) para promulgar a Emenda Constitucional 118. O texto quebra o monopólio do poder público e permite a fabricação pela iniciativa privada de todos os tipos de radioisótopos de uso médico. A sessão solene está marcada para as 15h30, no Plenário do Senado.
Essa mudança foi sugerida pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 100/2007, do senador Alvaro Dias (Podemos-PR). A matéria autoriza a produção, a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e uso médicos. Após ser aprovado pelo Senado, o texto também foi analisado na Câmara, onde foi renumerado como PEC 517/2010. Os deputados federais aprovaram a proposição em abril deste ano.
Antes da Emenda Constitucional 118, a produção e a comercialização dos radioisótopos no Brasil só eram realizadas por intermédio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e de seus institutos, como o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo. A produção por empresas privadas só era permitida no caso de radiofármacos de curta duração (meia-vida igual ou inferior a duas horas).
Radioisótopos ou radiofármacos são substâncias que emitem radiação e são usadas no diagnóstico e no tratamento de diversas doenças, principalmente o câncer. Um exemplo é o iodo-131, que emite raios gama e permite diagnosticar doenças na glândula tireoide.
Na medicina, os radioisótopos de vida longa são utilizados no estudo, diagnóstico e tratamento de diversas doenças. Na agricultura, os isótopos radioativos são aplicados aos adubos e fertilizantes a fim de se estudar a capacidade de absorção desses compostos pelas plantas. Na indústria, esses elementos são utilizados na conservação de alimentos, no estudo da depreciação de materiais, na esterilização de objetos cirúrgicos e na detecção de vazamentos em oleodutos.
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- 18/04/2022 - Reitoria divulga comunicado sobre continuidade do uso de máscaras nos campiTambém foi definido o aumento do limite da taxa de ocupação nos refeitórios da Universidade para até 75% de sua capacidade
Também foi definido o aumento do limite da taxa de ocupação nos refeitórios da Universidade para até 75% de sua capacidade
Fonte: Jornal da USP
Por Adriana Cruz
A Reitoria divulgou, no dia 18 de abril, um comunicado a respeito da manutenção da obrigatoriedade do uso de máscaras nos ambientes fechados da Universidade. O tema deverá ser reavaliado pela Comissão Assessora de Saúde da USP nas próximas semanas. Também foi definido o aumento do limite da taxa de ocupação nos refeitórios para até 75% de sua capacidade. Leia, a seguir, a íntegra do comunicado.
Comunicado da Reitoria
São Paulo, 18 de abril de 2022.
Conforme dados do Boletim Epidemiológico USP-Covid, divulgado no dia 13 de abril e disponível no site USP Retorno Seguro, a situação da pandemia da covid-19 no Estado de São Paulo continua melhorando.
Apesar dessa melhora consistente nos indicadores da pandemia, o uso de máscaras permanece obrigatório no transporte público e nos serviços de saúde, por determinação do Estado, e em todos os ambientes fechados da USP, por recomendação da Comissão Assessora de Saúde da Reitoria. A justificativa para isso é que as atividades acadêmicas exigem que os alunos permaneçam longos períodos próximos uns dos outros em ambientes fechados, o que favorece a transmissão do vírus — mesma lógica que o Estado utiliza para manter a obrigatoriedade no transporte público.
A Comissão Assessora de Saúde da USP debateu o tema na última quarta-feira, 13 de abril, e, por cautela, decidiu manter a obrigatoriedade das máscaras em ambientes fechados e reavaliar essa regra nas próximas semanas. O uso de máscaras também é recomendado em ambientes abertos dos campi, sempre que houver maior concentração de pessoas.
A Comissão também optou por aumentar o limite da taxa de ocupação dos refeitórios da Universidade para até 75% de sua capacidade, visto que esses locais sãoa única opção da alimentação para grande parte dos alunos e que não foi detectado nenhum surto de transmissão de covid-19 em decorrência douso desses ambientes até o momento.
Vale lembrar que apenas pessoas vacinadas estão autorizadas a frequentar a Universidade e reforçamos a importância de que todos tomem as doses de reforço para proteção adicional.
Solicitamos colaboração para o cadastro dos comprovantes de imunização nos sistemas corporativos para que eles sejam validados pelas autoridades competentes, pois esses dados permitem o maior controle de eventuais surtos e a adoção de medidas sanitárias pertinentes.
Carlos Gilberto Carlotti Junior
reitor da USP
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- 09/04/2022 - Homens são presos após suspeita de que estariam armazenando urânioPolícia Civil de São Paulo investiga se material apreendido é radioativo
Polícia Civil de São Paulo investiga se material apreendido é radioativo
Fonte: SBT News
Dois homens foram presos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, após os agentes descobrirem que dupla armazenava pedras que podem conter urânio. A polícia investiga se o material seria vendido para integrantes de uma facção criminosa.A apreensão foi feita após os policiais receberem uma denúncia de que o material era oferecido por um homem. Uma amostra das duas toneladas estaria disponível para ser vista na casa, em Guarulhos. Os agentes, se passando por compradores, foram até o imóvel, onde prenderam Rodrigo Tarssios Coelho do Amaral e Clodoaldo de Oliveira Santos.
Na delegacia, ambos deram versões diferentes sobre o caso. Clodoaldo, por sua vez, afirmou que recebeu uma caixa com urânio em uma rodoviária no Acre. O produto deveria ser trazido a São Paulo, para ser entregue a um homem de nome "Souza". Pelo serviço, ele receberia R$ 10 mil. Já Rodrigo, disse que extraiu o material radioativo da fazenda de um tio em Rondônia, e que a facção criminosa PCC providenciaria a vinda dele até São Paulo.
O urânio é um material radioativo, usado na produção de energia, na medicina e agricultura. Em grandes quantidades, é utilizado na fabricação de bombas nucleares. De acordo com Madison Almeida, diretor da Comissão Nacional de Energia Nuclear, tecnologia, no entanto, não está disponível no Brasil. "O urânio pode ser utilizado para fins bélicos. Ele precisa ser enriquecido em uma taxa muito alta, acima de 90%. O Brasil, por tratados e convenções internacionais, só aplica o urânio em fins pacíficos que são os medicinais, na agricultura, meio ambiente e indústria", disse em entrevista ao SBT.
O caso é investigado pela Polícia Civil, que não descarta a possibilidade de golpe. Os policiais aguardam o laudo do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares do Governo Federal (IPEN), que vai atestar se a pedra é ou não radioativa.
Assista aqui a reportagem.
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- 07/04/2022 - IPEN contesta acusações da SBMN sobreFonte: Blog Tania Malheiros
A nota oficial do presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), médico George Coura Filho, com "acusações” ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IPEN-CNEN), responsabilizando a entidade por "interrupções frequentes" do fornecimento de radioisótopos para tratar pacientes com câncer, gerou mal estar. Ele diz na nota que recebeu com "muita satisfação” a aprovação, pela Câmara dos Deputados da PEC-517-2010, que autoriza a privatização da produção de radioisótopos (medicamentos com radiação para combater o câncer). Até aí, tudo bem, segundo os servidores - "é questão de opinião". Nos bastidores, contudo, contam que pode haver dificuldade na execução das parcerias entre as duas instituições. A SBMN tem convênio com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com repasses de verbas através do IPEN.O blog contatou o gerente do Centro de Radiofarmácia do IPEN, o farmacêutico Emerson Bernardes, que tem mestrado e doutorado em Imunologia Básica e Aplicada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Segundo ele, foram aportados recursos pela AIEA da ordem de 755 mil EUROS (cerca de RS 4 milhões), divididos de forma igualitária entre o IPEN, CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) e SBMN. "Os recursos repassados para a SBMN, através da parceria com o IPEN-AIEA, serão utilizados para produção de Lutécio-177-PSMA, um novo radiofármaco para tratamento de um tipo de câncer de próstata mais agressivo (câncer de próstata metastático resistente à castração)”, informou, ao descartar o rompimento da parceria, que vem sendo comentada nos bastidores do IPEN..
Quanto às acusações da SBMN, não desculpou: "O que deixou perplexa a maioria dos servidores do Centro de Radiofarmácia não foi o posicionamento da SBMN a favor da PEC 517-2010, mas sim a forma desrespeitosa com a qual se referiram ao IPEN. É uma inverdade, para não dizer leviandade, afirmar categoricamente que interrupções frequentes de fornecimento pelo IPEN prejudicaram a população brasileira”.
Emerson Bernardes assegura que, nos últimos cinco anos, a única interrupção na produção de geradores foi devido à pandemia, a partir de 2020. Mesmo assim, afirmou, a instituição foi afetada apenas nas primeiras semanas quando não havia voos para o transporte de radioisótopos vindo do exterior. (O Brasil importa radioisótopos da Rússia, África do Sul e Holanda).
"Nessa situação de pandemia, qualquer grupo privado que já estivesse estabelecido no Brasil sofreria as mesmas consequências. Fora a pandemia, tivemos o problema recente com a falta de orçamento para o IPEN em setembro de 2021, que já não vem ao caso neste momento. Portanto, sinto muito dizer que a SBMN e a sociedade brasileira dependem da importação da maior parte dos radioisótopos necessários para produção dos radiofármacos utilizados em cerca de 80% dos procedimentos de medicina nuclear e não há grupo privado que vá alterar essa situação de dependência internacional”, comentou.
Na avaliação do gerente do Centro de Radiofarmácia, a falta de conhecimento leva a afirmações que acabam colocando a população brasileira contra o Instituto. "Nesse sentido, gostaria de destacar que o IPEN trabalha há mais de 60 anos, tendo sido pioneiro na produção e introdução de novos radiofármacos no Brasil. Se agora o momento for de abertura, se o Congresso Nacional entendeu isso - não pelos motivos corretos-, se a população brasileira e a SBMN apoiam essa decisão, então que venham os novos tempos”, comentou.
E foi adiante: "Por que acusar o IPEN, que vem sobrevivendo sem investimentos, e não questionar os grupos políticos, partidos políticos que deixaram esquecida a PEC por 10 anos? Além de ter seus servidores se aposentando, sem a devida reposição, mantendo a produção com trabalhos aos finais de semana e feriados atendendo a sociedade”.
Sobre os preços que serão praticados pela iniciativa privada, questionou: "não serão os mesmos preços praticados pelo IPEN; obviamente serão muito mais altos. Ora, se é consenso que os preços serão mais altos, por que então a SBMN diz estar preocupada com o SUS (Sistema Único de Saúde)”?
FUTURO DO IPEN: PROJETO PARA QUATRO MIL PACIENTES
Sobre o futuro do IPEN, ele garantiu que o Instituto continuará buscando reafirmar a sua marca na inovação. "Hoje mesmo estávamos (alguns de nós) participando de um encontro científico promovido pela AIEA e tivemos a oportunidade de mostrar nosso trabalho, coordenado pelo IPEN e com a parceria do CNPEM e da própria SBMN!
"Estamos trabalhando num projeto. O IPEN planeja demonstrar a viabilidade de produzir o radionuclídeo Actínio-225 a partir de materiais contidos em rejeito radioativo. O Actínio-225 tem mostrado resultados melhores em casos onde o radionuclídeo Lutécio-177 não foi efetivo em eliminar o tipo de câncer de próstata mais agressivo (câncer de próstata metastático resistente à castração)”.
A boa notícia é que já fizemos os cálculos. "Em princípio, temos rejeito radioativo material suficiente para produzir o Actínio -225, capaz de tratar mais de quatro mil pacientes, pensando em 4 ciclos de tratamento por paciente. Obviamente, os desafios são imensos, mas temos expertise, interesse, e financiamento da AIEA para buscar soluções para os desafios. E qual a finalidade maior disso tudo? Voltarmos a ser pioneiros em pesquisa e desenvolvimento, onde a atividade privada ainda não vislumbra lucro, ou seja: função de estado, função do IPEN”.
Mas afinal, o que são esses rejeitos que poderão ser tão bem utilizados? "São agulhas de Rádio-226 que eram usadas para braquiterapia há décadas, mas que foram descartadas. São fontes radioativas seladas deixadas em depósitos de rejeito radioativo. O Rádio-226 tem meia vida muito longa (1600 anos), e pode ser usado como alvo para produção de um outro radionuclídeo (Actínio-225) de muito interesse atual na medicina nuclear.
CARTA DA SBMN
A SBMN – Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, recebe com muita satisfação a aprovação da PEC 517/2010, em seu inteiro teor, que autoriza a produção privada de radioisótopos de uso médico. Nos últimos cinco anos, muitos pacientes deixaram de realizar exames de cintilografia e tratamentos com radioisótopos por interrupções frequentes de fornecimento pelo IPEN - Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares.
A possibilidade da produção destes insumos pela iniciativa privada é um alento para milhares de pacientes e uma esperança para inúmeros serviços de medicina nuclear, que oferecem esses exames a pacientes do SUS - Sistema Único de Saúde e das operadoras de saúde, bem como geram empregos diretos e indiretos. Reforçamos o entendimento do caráter autorizativo da medida, o que não exclui que a União continue a investir tanto no IPEN, como nos diversos institutos da CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear, visando não apenas a manutenção da produção atual, o retorno de insumos que não estão sendo produzidos, bem como o desenvolvimento de pesquisas na área, objetivo que está no DNA da fundação do próprio Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares.
Esperamos que as empresas interessadas na produção de radiofármacos possam trabalhar lado a lado com o IPEN, complementando o mercado de radioisótopos para fins médicos onde ele está deficitário. A quebra do monopólio estatal permitirá o crescimento da Medicina Nuclear como especialidade médica, a exemplo do que ocorreu previamente na questão dos radiofármacos de meia vida curta. Desta forma, a SBMN não acredita que a PEC 517/2010 represente o fim do IPEN, que continuará fundamental, como sempre foi, no desenvolvimento da medicina nuclear brasileira. (Presidente George B. Coura Filho).
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- 06/04/2022 - CNEN lança edital para seleção de candidato à Bolsa BEAFonte: CNEN
O Edital para o Programa de Concessão de Bolsas para a realização de processo seletivo de candidato à Bolsa de Estudos Avançados (BEA) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) foi lançado em 05/04/2022 e as inscrições seguem até o dia 15/04/2022.
Há uma vaga para a área de Análise de risco de sistemas de instrumentação e controle digitais de instalações nucleares: Desenvolvimento de metodologia e sua aplicação na Análise Probabilística de Segurança (APS) do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB).
O candidato deve ter graduação nas áreas de engenharia elétrica ou engenharia mecânica, relacionado com controle e instrumentação de sistemas e doutorado nessas áreas, com no mínimo 12 (doze) anos de experiência após a obtenção do título; ou grau de Mestre, com no mínimo 15 (quinze) anos de experiência subsequente.
Para saber mais sobre o processo de seleção confira o edital.
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- 05/04/2022 - Reatores a tório, menos perigosos, podem ser o futuro da energia nuclearEuclydes Marega Júnior explica que os reatores a tório, além de terem sua estrutura mais facilitada, não são radioativos e têm vantagens que os tornam econômicos e sustentáveis
Euclydes Marega Júnior explica que os reatores a tório, além de terem sua estrutura mais facilitada, não são radioativos e têm vantagens que os tornam econômicos e sustentáveis
Fonte: Jornal da USPA energia nuclear é um modo de se gerar grande quantidade de energia por meio da fissão, quando um núcleo pesado é bombardeado por nêutrons, como o que ocorre com o urânio-238. A partícula se divide em outras duas mais leves e produz energia.
No entanto, esses núcleos pesados são altamente radioativos e duram muito tempo na natureza. Caso ocorra um desastre, uma área inteira pode ficar inabitável por dezenas de anos, como os casos de Chernobyl e Fukushima.
Os reatores a tório, ao contrário, são menos perigosos e esse elemento não é radioativo. O professor e pesquisador do Instituto de Física de São Carlos da USP, Euclydes Marega Júnior, explica que o interesse nesse tipo de reator também ocorre devido ao tório-232 ser "encontrado em maior abundância na natureza que o urânio”.
Funcionamento de um reator a tório
Júnior explica que, "como o tório não é um elemento radioativo, precisa de nêutrons para que ele vire um urânio”. Nesse sentido, não é possível fazer um reator apenas com tório. Com a sua transformação para o urânio-233, é possível realizar a fissão nuclear, que irá produzir calor e, com isso, rodar uma turbina que produzirá energia elétrica.
Outro ponto abordado pelo pesquisador sobre os reatores a tório é a não utilização de água pressurizada — em alta pressão —, o que diminui os riscos de explosões. Por causa disso, os reatores têm sempre uma forma arredondada e, lá dentro do núcleo, a água fica resfriando, para que haja um controle da reação.
O professor destaca que, "no caso do reator a tório, seria um sal que resfria o núcleo do reator. Esse sal não é de alta pressão”. Sendo assim, não há necessidade de se construir uma estrutura muito complexa. "Eu posso fazer com que a construção seja bem mais simplificada”, ressalta.
Vantagens
Apesar de produzir menos energia em relação aos movidos a urânio, os reatores a tório, além de terem sua estrutura mais facilitada e não precisarem de um sistema sofisticado de água para fazer seu resfriamento, têm vantagens que os tornam econômicos e sustentáveis.
A primeira delas diz respeito ao tempo de vida mais curto do tório na natureza. "Praticamente todo o combustível, ou seja, todo o tório se transforma em urânio e, a partir daí, em elementos mais leves”, que têm um "tempo de vida radioativo muito mais curto”, pondera o pesquisador.
Além dele ser mais seguro porque produz menos resíduos radioativos, o professor destaca que "ele também é bem mais econômico do que os reatores atuais e necessita de uma menor quantidade de combustível nuclear para funcionar”.
O plutônio, um dos subprodutos das reações nucleares com urânio, é um problema, pois, nesse caso, não tem destinação. Mas, nos reatores a tório, esse resíduo pode ser utilizado no formato de óxido-plutônio para enriquecer o tório — juntos formam tório-MOX — e, sendo assim, reciclado. O professor explica que o plutônio "vai fornecer o nêutron para o tório para que ele vire um urânio-233”, este que é fissível, possibilitando a reação nuclear.
Reator a tório como uma das novas matrizes energéticas da China
A China está desenvolvendo um reator a tório para poder se tornar neutra em carbono até 2060 e, assim, não depender de combustíveis fósseis. No país há grande quantidade de terras raras que, se processadas, têm como um dos subprodutos o tório, conforme explica o professor. "A China tem um interesse muito grande porque ela é extremamente dependente de energia para que se mantenha hoje a infraestrutura que criou nos últimos 30, 40 anos.”
Ele prossegue explicando que a China não é produtora de gás natural nem de petróleo. Logo, desenvolver uma matriz energética tão vantajosa, não só do ponto de vista ambiental, mas do econômico, com a independência de combustível, seria uma estratégia interessante aos chineses.
É viável construir uma usina nuclear movida a tório no Brasil?
De acordo com o professor, é inviável, na atualidade, a construção de uma usina nuclear a tório no Brasil. "Não tem nenhum tipo de pesquisa baseada nessa parte de reatores. Ou seja, a nossa pesquisa é muito pequena”. Além disso, não haveria como utilizar as estruturas contidas em Angra dos Reis, pois já foram projetadas para resfriamento com água pressurizada.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica, a Faculdade de Medicina e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 10h45, 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.
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- 05/04/2022 - Câmara conclui votação de PEC que autoriza produção privada de material radioativo para uso médicoNo ano passado, órgão responsável pelos insumos suspendeu a produção. Defensores do texto falam em ‘restrição’ de produção no país, já oposição critica medida e responsabiliza corte de verbas.
No ano passado, órgão responsável pelos insumos suspendeu a produção. Defensores do texto falam em ‘restrição’ de produção no país, já oposição critica medida e responsabiliza corte de verbas.
Fonte: G1
A Câmara dos Deputados concluiu nesta terça-feira (5) a votação, em dois turnos, de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que permite a produção privada de material radioativo (radioisótopos) para uso médico. A matéria segue para promulgação.
O texto-base foi aprovado em primeiro turno em março, mas ainda faltava a análise dos destaques (sugestões de alteração) e a aprovação em segundo turno. Nesta terça (5), os destaques foram rejeitados e o texto-base aprovado em segundo turno por 334 votos a 116.
Os radioisótopos de uso médico são materiais radioativos usados, por exemplo, para a fabricação de radiofármacos terapêuticos ou de diagnóstico de doenças.
A Constituição já permite a comercialização e a utilização, sob regime de permissão, de radioisótopos para uso médico. Contudo, a produção pela iniciativa privada só pode ser feita nos insumos de curta duração (meia-vida igual ou inferior a duas horas).
Atualmente, a produção e comercialização de radiofármacos no Brasil são realizadas por intermédio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) por meio de institutos como o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo.
Os defensores da proposta afirmam que, com a legislação atual, há uma restrição de produção, com equipamentos defasados e quantidades inferiores ao recomendado.
Já a oposição, crítica à matéria, justificou que o problema da falta de insumos é decorrente da falta de recursos enviada pelo governo federal.
Em setembro do ano passado, o IPEN, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia do governo federal, anunciou a suspensão da produção de produtos radiofármacos e radioisótopos usados para o tratamento de câncer no Brasil.
Na ocasião, o órgão justificou a suspensão com base em um grande corte no orçamento federal em 2021.
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- 01/04/2022 - Grupo estuda como transformar moléculas orgânicas em eletricidade, combustível e matéria-prima industrialExperimentos conduzidos no Centro de Inovação em Novas Energias (CINE) visam promover a transformação de glicerol e metanol por meio de uma reação eletroquímica conhecida como eletroxidação
Experimentos conduzidos no Centro de Inovação em Novas Energias (CINE) visam promover a transformação de glicerol e metanol por meio de uma reação eletroquímica conhecida como eletroxidação
Fonte: Agência FAPESPPesquisadores do Centro de Inovação em Novas Energias (CINE) e colaboradores utilizaram um tipo de reação eletroquímica conhecido como eletroxidação para promover a transformação de moléculas orgânicas, como glicerol e metanol, e gerar hidrogênio, eletricidade e outras substâncias que podem servir de matéria-prima para a indústria.O CINE é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell. Tem sedes na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na Universidade de São Paulo (USP) e no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).Mais conhecido por glicerina, seu nome comercial, o glicerol é um composto derivado de óleos e gorduras, usado na indústria química. Atualmente, é obtido principalmente a partir da produção de biodiesel. A cada mil litros de combustível gerados a partir de óleos vegetais ou gordura animal, sobram cerca de 100 litros de glicerol. Diante de um possível aumento na produção de biocombustíveis no futuro, torna-se necessário encontrar novos usos para o glicerol, que pode se converter em importante poluente se descartado no ambiente.Nos estudos coordenados por Elton Sitta, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), foram realizados experimentos em células eletroquímicas, dispositivos formados por dois eletrodos e uma solução chamada de eletrólito. Os pesquisadores utilizaram platina em um dos eletrodos, onde ocorrem as reações de eletroxidação, um processo escalável, possível de gerar eletricidade e novas moléculas.No primeiro trabalho, publicado na revista Electrochimica Acta em 2021, os autores estudaram em detalhe a eletroxidação do glicerol em sistemas com diferentes eletrólitos alcalinos.Por meio do uso de técnicas que estão sendo aprimoradas por pesquisadores do CINE, sob coordenação do professor da Unicamp Pablo Sebastián Fernández, foi possível coletar amostras da superfície do eletrodo enquanto as reações ocorriam e identificar e quantificar as substâncias. Dessa forma, os autores observaram a formação de glicerato e lactato, compostos utilizados nas indústrias farmacêutica, cosmética e têxtil.O segundo trabalho trata dos fenômenos complexos que geram oscilações na eletroxidação do metanol. A pesquisa conseguiu identificar, mapear e explicar essas oscilações. Totalmente realizado na UFSCar, o trabalho foi destaque de capa da revista Physical Chemistry Chemical Physics. O metanol é um álcool que pode ser extraído da madeira ou de sobras de reflorestamento, mas atualmente é fabricado a partir do gás natural.Por meio da compreensão dos fenômenos fundamentais que ocorrem na eletroxidação dessas substâncias, as pesquisas podem contribuir para o desenvolvimento de tecnologias de produção de combustíveis, eletricidade e matérias-primas a partir de fontes renováveis usando processos limpos e escaláveis."O uso de moléculas orgânicas como glicerol e metanol é uma alternativa interessante à oxidação da água na produção de hidrogênio”, explica o professor Sitta. "Em geral, é mais fácil oxidar essas moléculas do que a água para fornecer os elétrons necessários para a formação de hidrogênio.”O hidrogênio é utilizado na indústria alimentícia e também em veículos ainda experimentais com células a combustível, equipamentos que extraem elétrons do hidrogênio e fornecem energia a motores elétricos.O artigo Glycerol electro-oxidation at Pt in alkaline media: influence of mass transport and cations pode ser encontrado em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S001346862101608X?via%3Dihub.Já o estudo Oscillatory dynamics during the methanol electrooxidation reaction on Pt pode ser lido em: https://pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2021/CP/D1CP02490F.* Com informações da Assessoria de Imprensa do CINE. -
- 31/03/2022 - O Instituto de Radioproteção e Dosimetria comemora 50 anos de fundação. Leia a entrevista exclusiva da niteroiense que comanda o IRDFonte: Blog Tania Malheiros
O Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), na Avenida Salvador Allende, 3773, Barra da Tijuca (RJ), comemora seu cinquentenário, com uma trajetória internacional, mas pouco conhecida dos brasileiros. Participou de estudos de impacto ambiental das explosões atômicas ocorridas no Hemisfério Norte na década de 60; de pesquisas para detectar a presença de radionuclídeos provenientes de explosões nucleares francesas, no Atol de Mururoa, no Sul do Oceano Pacífico, em 1968; e de trabalhados envolvendo o acidente com uma cápsula de césio-137, em Goiânia (GO),em setembro de 1987, por exemplo. É de pouco conhecimento também que o IRD está sob a direção da niteroiense Maria Angélica Vergara Wasserman, graduada em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1982), com mestrado em Geociências (Geoquímica) pela Universidade Federal Fluminense (1985) e doutorado em Geoquímica pela Universite de Bordeaux (1991). Pesquisadora da CNEN desde 1995, Maria Angélica foi contratada em concurso e hoje comanda 179 funcionários. Em entrevista exclusiva ao BLOG, ela fala sobre a história do IRD, e de sua própria. Preconceito em ambiente predominantemente masculino, ela garante que não enfrentou. Eis a entrevista:BLOG: De acordo com as informações oficiais, o IRD teve sua origem na década de 60, em um pequeno laboratório de dosimetria do Departamento de Pesquisas Científicas e Tecnológicas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), situado nas dependências da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Como foi o início?
MARIA ANGÉLICA: O começo teve a participação de Edgard Meyer e Anna Maria Campos de Araújo, os primeiros diretores do Laboratório de Dosimetria. Inicialmente com apenas quatro servidores, tinha como atribuição básica efetuar calibração de monitores de radioproteção utilizando fontes de referência e monitoração ambiental do impacto das explosões atômicas ocorridas no Hemisfério Norte.
BLOG: O IRD continua realizando esses trabalhos?
MARIA ANGÉLICA: Não resta dúvida de que as atividades realizadas hoje no IRD/CNEN foram nucleadas nas ações do Laboratório de Dosimetria. Os desafios técnicos e relevância dos temas propiciaram seu crescimento e a criação de um novo espaço, em 1972, que já refletia a complexidade e a extensão da Radioproteção e Dosimetria, em um cenário que permitiu o crescimento - eu diria que quase em paralelo - das áreas de pesquisa e diversas atividades relacionadas à metrologia, à física médica, à biofísica, à emergência, à radioecologia e demais ciências correlatas, além do apoio à elaboração de normas.
BLOG: O que pode relembrar sobre as pesquisas do Laboratório de Dosimetria da PUC- Rio?
MARIA ANGÉLICA: Podemos citar o trabalho do próprio Edgar Meyer, com o artigo "Espectrometria da radioprecipitação causada por bombas francesas, em 1968”, de 1971, que versa sobre o uso de espectrometria gama para detectar a presença de radionuclídeos provenientes de explosões nucleares francesas, no Atol de Mururoa, no sul do Oceano Pacífico, em 1968. As amostras analisadas foram coletadas da atmosfera. Há artigos anteriores, como o de Gross, B., Meyer, E., Aron, A., (1958), Trends of Long Range Fallout Activities in Rio de Janeiro 1956-1958.
BLOG: E agora, como está o IRD?
MARIA ANGÉLICA: Hoje mantemos uma estação de monitoramento global que detecta e identifica partículas radioativas e gases nobres também radioativos liberados na atmosfera provenientes de explosões nucleares. A estação integra rede de dados ligada à Organização das Nações Unidas (ONU) mantida pela Comissão Preparatória para a Organização do Tratado para a Proibição Total de Testes Nucleares, assinado em 1996, e envia regularmente dados via satélite para um centro internacional de dados, em Viena, Áustria. O IRD também realiza importantes pesquisas científicas e desenvolvimento tecnológico sobre dispersão de radionuclídeos em diferentes compartimentos ambientais, modelagem de transporte de contaminantes, modelos ambientais integrados, além de desenvolvimento de ferramentas para análise de radioproteção, com banco de dados e projeção de riscos.
BLOG: O que há sobre radioatividade ambiental no Brasil?
MARIA ANGÉLICA: O IRD disponibiliza a pesquisadores e interessados em geral um banco de dados ambiental. E um outro projeto que produz dados sobre radioatividade em amostras originarias de uma malha nacional de amostras de solo, sendo que alguns dos radionuclídeos mensurados são oriundos de fallout. Assim, ambos contribuem para o conhecimento da magnitude do que foi o fallout no Brasil.
BLOG: O que se apresenta no Espaço Memória da Radioproteção?
MARIA ANGÉLICA: O Espaço Memória da Radioproteção quer mostrar por meio de objetos, materiais audiovisuais, conteúdos diversos o que significa trabalhar em prol da proteção radiológica do público, dos trabalhadores e do meio ambiente. Temos muitas formas de trazer isso para as pessoas, seja por painéis, por objetos como detectores de radiação, sistemas de rastreamento que mapeiam o perfil de um local do ponto de vista de leitura de níveis de radiação, seja uma construção coletiva de reunir palavras associadas à radioproteção, seja constando fatos da nossa história no IRD/CNEN.
BLOG: Desafio?
MARIA ANGÉLICA: Nosso maior desafio é promover uma sólida cultura de segurança, treinar, capacitar pessoas e demonstrar o espírito pela ciência nuclear de qualidade que nos une. Nossas entregas à sociedade nos motivam e têm orientado nosso planejamento, as demandas que são apresentadas e como podemos fazer mais e melhor unindo nossas competências. O IRD tem essa tradição de trabalhar em conjunto, de forma sistêmica. A pesquisa de excelência nos move.
BLOG: Conte sobre a experiência em relação ao acidente de Goiânia?
MARIA ANGÉLICA: A nossa atuação ocorreu junto com os demais institutos da CNEN. Todos estiveram envolvidos. Foi um aprendizado técnico e humano gigantesco para quem respondeu a esse evento. Saímos mais fortes, melhores como profissionais e como seres humanos, acredito. Damos ainda mais valor ao que fazemos, ao vivenciarmos na prática o significado desse serviço para a sociedade! Essa motivação nos faz avançar. Os profissionais diretamente ligados ao atendimento à emergência contam como foi extenuante, mas reconfortante poder fazer algo para entregar às pessoas uma situação em que elas pudessem retomar suas histórias de vida.
BLOG: O acidente serviu de escola?
MARIA ANGÉLICA: Sim. Muitos trabalhos técnicos foram publicados, projetos foram desenvolvidos com organismos internacionais e muito se aprendeu também com esse acidente, em termos de trabalho conjunto. Creio que o legado foi de amplo espectro, desde o aperfeiçoamento de estruturas, como o desenvolvimento de laboratório móvel de bioanálises, com o detector de corpo inteiro e análises in vivo e in vitro, assim como de ações de pronta resposta a acidentes nucleares e radiológicos, até a integração de toda a força de trabalho do Instituto, seus domínios de atuação, ferramentas computacionais e laboratoriais, permanentemente revistos em exercícios internos e externos.
BLOG: Destaques?
MARIA ANGÉLICA: Creio que também mereçam destaques a popularização do símbolo da radioatividade. Indivíduos do público passaram a entender que o material com o símbolo exige manuseio adequado, como se deve buscar informação, caso se deparem com material sinalizado em local inesperado.
BLOG: Em sua gestão, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), aumentou em 50% o número de bolsas de doutorado do Programa de Pós-Graduação, indicativo de excelente avaliação do Programa.
MARIA ANGÉLICA: Sim. Houve um aumento de 50% do número de bolsas de doutorado concedidas pela Capes. Com esse incremento da Capes, passaram a ser 15 bolsas de doutorado. Para o mestrado Capes, existem oito bolsas. Há outras bolsas concedidas por agências de fomento e pela própria CNEN. Temos no total 30 bolsas, sendo 17 de doutorado e 13 de mestrado. A maior procura pela nossa pós-graduação é de alunos do Rio de Janeiro, bolsistas ou não, mas temos alunos na Pós-Graduação em Radioproteção e Dosimetria que são de outras regiões além da Sudeste, quais sejam Norte, Nordeste, Sul e alunos oriundos de países da América Latina.
BLOG: O IRD está participando de um consórcio internacional para a elaboração de programa de mestrado em Descomissionamento e Remediação Ambiental? O projeto conta com a participação de instituições de Portugal, Bélgica, Noruega, e EUA, e foi apresentado para financiamento, pelo programa Erasmus da Comunidade Europeia?
MARIA ANGÉLICA: Assim que soubemos que uma proposta de um programa de mestrado em consórcio internacional estava sendo submetida para o Erasmus, manifestamos o interesse em participar. Só teremos esse convênio com o Erasmus caso essa proposta consorciada seja aprovada e todos os desafios posteriores a essa aprovação sejam vencidos. Ainda estamos aguardando o resultado, mas nos sentimos orgulhosos em poder oferecer essa expertise à comunidade científica e trabalharmos em conjunto em tema tão relevante para a radioproteção. Vamos torcer e nos empenhar para tudo dar certo.
BLOG: Como tem sido o reconhecimento do IRD como centro nacional e mundial em proteção radiológica.
MARIA ANGÉLICA: Nossos profissionais são convidados a ministrarem cursos e treinamentos como especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), trabalhamos em parceria com outros centros nacionais importantes para a radioproteção no país. Temos representantes em comitês técnicos de importância como a Unscear (Comitê Cientifico das Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica) e a ICRP (Comissão Internacional de Proteção Radiológica). Lembro ainda que sediamos o Laboratório Nacional de Metrologia das Radiações Ionizantes, assim designado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO).
BLOG: Outros exemplos?
MARIA ANGÉLICA: Sim. As atividades deste laboratório contribuem para a confiabilidade das medições no país nas áreas médica, ambiental, industrial e nas pesquisas. Além disso, desde 1996, o IRD é o Instituto de Ligação com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no contexto da Rede de Preparação e Assistência Médica a Radioacidentados. Esses são alguns exemplos de reconhecimento que reforçam nossa atuação em radioproteção. O trabalho com instituições científicas nacionais como o Instituto Nacional de Câncer (INCA), universidades e centros de excelência nacionais e muitos outros parceiros, o que só nos motiva a seguir firmes em prol da proteção do público, trabalhadores e do meio ambiente.
BLOG: Qual a participação do IRD na atuação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)?
MARIA ANGÉLICA: Recebemos especialistas do organismo, enviamos alguns dos nossos profissionais para atuar como especialistas da AIEA, por solicitação da Agência, além da participação em projetos coordenados pela AIEA... enfim, há um intercâmbio bastante profícuo. O IRD fornece suporte de proteção radiológica, dosimetria e monitoração individual interna no tratamento médico a radioacidentados, como ocorreu na resposta ao acidente de Goiânia. Nos acidentes radiológicos ocorridos na Bolívia (2001), Chile (2005), Equador (2009) e Peru (2014), o médico brasileiro de renome internacional, Nelson de Lima Valverde, integrou um grupo de peritos internacionais que, convidados pela AIEA, realizam avaliações dos indivíduos radioacidentados naqueles países. No caso específico do acidente radiológico de Ventanilla, Peru, o IRD, como Instituto de Ligação com a OMS, coordenou uma série de reuniões com especialistas do País que culminou com a decisão de prestar assistência internacional ao Peru no tratamento médico de um profissional acidentado. O tratamento foi realizado no Hospital Naval Marcílio Dias, com o apoio de médicos do INCA e do Centro de Medicina das Radiações Ionizantes.
BLOG: Outras parcerias e cursos?
MARIA ANGÉLICA: Em parceria com a AIEA, possuímos o curso de Especialização Lato Sensu em Proteção Radiológica e Segurança de Fontes Radioativas, no qual recebemos com frequência alunos de outros países de língua portuguesa. Além disso, formamos mestres e doutores em nosso Programa de Pós-Graduação em Radioproteção e Dosimetria. Ministramos regularmente cursos para órgãos de saúde, do país e do exterior, órgãos de segurança e defesa e demais públicos que aderem ao tema oferecido. O perfil multidisciplinar do nosso instituto nos capacita para atuações diversas no quesito treinamento e formação de recursos humanos.
BLOG: Em que momento a metrologia das radiações ionizantes, no Brasil, teve um grande impulso?
MARIA ANGELICA: A partir da doação a este laboratório, pelo INCA, do primeiro irradiador de cobalto para a calibração de dosímetros clínicos, em 1969. Os pesquisadores Günter Drexler, do GSF/Alemanha, e Martin Oberhofer, do Joint Research Centre (JRC/Itália), foram seus principais colaboradores no início da criação do instituto.
BLOG: Qual o balanço na trajetória do IRD?
MARIA ANGÉLICA: A designação do Laboratório Nacional de Metrologia das Radiações Ionizantes, pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), a participação de pesquisadores em comitês, me parecem alguns exemplos significativos de um balanço positivo.
BLOG: Desafios?
MARIA ANGÉLICA: A área da metrologia das radiações ionizantes sofre uma pressão muito forte e permanente para manter instalações, equipamentos e materiais totalmente adequados para atendimento às exigências das normas do nosso sistema de qualidade e para atender aos nossos compromissos nacionais e internacionais. Também em relação às necessidades de mantermos nossos recursos humanos alinhados com o estado da arte. Não tem sido fácil, mas com a visão sistêmica da alta direção CNEN, incentivando o trabalho em rede, o diálogo entre os diferentes agentes, temos conseguido superar desafios e também aproveitar oportunidades. Com a dinâmica evolutiva da ciência e tecnologia, a modernização sempre urge, mas trabalhamos para otimizar nossos recursos e focar em soluções para demandas da sociedade. Em metrologia, por exemplo, estamos modificando nossos sistemas de analógicos para digitais.
BLOG: Em termos práticos, qual a sua maior experiência?
MARIA ANGÉLICA: Em radioecologia tropical. Imagino que adquiri uma visão sistêmica pelo fato de realizar vários experimentos com radionuclídeos em sistemas aquáticos e terrestres, além de interpretar e conectar dados que integram relações complexas, do micro ao macro.
BLOG: Liderança?
MARIA ANGÉLICA: Trabalho com um grupo de pesquisa na área de radioecologia que tem por objetivo gerar subsídios técnicos e científicos para a tomada de decisão, nas áreas contaminadas por atividades industriais ou em decorrência de acidentes nucleares ou radiológicos. Essa liderança foi construída com a evolução de algumas atividades, como a orientação de alunos de doutorado, mestrado e iniciação científica, coordenação de projetos de pesquisa com a IAEA, por mais de 10 anos.
BLOG: Seu maior desafio?
MARIA ANGÉLICA: Desenvolver e manter um perfil acadêmico em um universo de poucos recursos, limitações de natureza diversas e trabalhar com experimentos que podem levar anos para gerar informações consistentes, validadas e significativas é um grande desafio. Nem todas as áreas conseguem gerar dados e publicações, na métrica e timings exigidos para obter recursos por editais, por exemplo. Manter o perfil acadêmico tem sido desafiador. Trabalhar como diretora do IRD/CNEN tem sido também um desafio, algo único, e extremamente compensador.
BLOG: Balanço da trajetória.
MARIA ANGÉLICA: Conhecer o IRD/CNEN foi um verdadeiro presente, pois ali consegui integrar toda minha formação e dar um significado maior para tudo. Nossa contribuição para a sociedade é tão visível e tão apaixonante que foi a minha virada de chave para optar pelo IRD e desistir da universidade. No mesmo dia do concurso para a CNEN, teve o concurso para professor na UFF. Eu tinha um domínio maior em geoquímica do que em radioproteção, mas já estava apaixonada pela área e pelo ambiente de trabalho, então aceitei o desafio. Aliás vivo saindo da minha zona de conforto. Os desafios sempre fizeram parte da minha vida.
BLOG: Como analisa o mercado de trabalho na sua área? Mulheres têm oportunidades iguais?
MARIAANGÉLÌCA: Acho fabuloso. Acredito que a demanda será crescente e cada vez mais oportunidades irão surgir para bons e qualificados profissionais. Minha experiência tem sido restrita ao IRD, CNEN, AIEA e nesses espaços não tenho identificado barreiras de gênero, ao contrário. A AIEA mantém oportunidades interessantes para mulheres, que as encoraja a se candidatarem. A história do IRD/CNEN sempre foi marcada pelo respeito ao protagonismo das mulheres.
BLOG: Uma das únicas mulheres a ocupar cargo de chefia, como se define? Já sofreu preconceito?
MARIA ANGÉLICA: Na verdade, no IRD/CNEN, dos 12 diretores que passaram pela casa, cinco são mulheres, minha substituta é mulher, dos seis chefes de divisão, três são mulheres, o que reflete equilíbrio nos valores. Desde o início temos uma história muito bonita, com muitas mulheres que se destacaram. Não tenho nenhum registro significativo de preconceito na vida profissional.
BLOG: Como analisa o futuro da Radioproteção e Dosimetria no Brasil?
MARIA ANGÉLICA: Precisamos fortalecer a radioproteção no país, popularizar o tema, carregar de significado a palavra, trazer a cultura de segurança cada vez mais para o nosso cotidiano, pois as aplicações da radiação estão muito presentes, quando fazemos um exame médico utilizando radiação ou quando conseguimos obter produtos melhores por conta do uso da radiação em processos de controle de qualidade ou mesmo na produção. Alimentos e até bens de patrimônio histórico e cultural podem ser preservados graças à radiação. Tudo isso só é possível porque muita gente trabalha para promover segurança no uso da tecnologia das radiações. Além, é claro, da tecnologia nuclear que gera energia e envolve todo um sistema de radioproteção, profissionais, equipamentos, enfim, ambientes que integram as mais diversas áreas de conhecimento, fundamentais para que a sociedade usufrua, com segurança, de todos os benefícios da área nuclear.
BLOG: O que representou a sua nomeação, a partir de processo de Comitê de Busca para seleção de diretores das seguintes unidades técnico-científicas da CNEN: IEN - CDTN - CRCN/NE - IRD, referente ao Edital nº 004?
MARIA ANGELICA: Uma grande alegria. Colocar minha experiência, minha vontade, contribuir um pouco mais para uma área que aprendi a valorizar, respeitar, admirar. Trabalho com pessoas incríveis, competentes e dedicadas. Esse ambiente me motiva demais para buscar todas as condições necessárias, para materializar projetos de impacto e relevância para a sociedade brasileira e também garantir o desenvolvimento das nossas atividades no cotidiano.
BLOG: Planos para o futuro?
MARIA ANGELICA: Continuar servindo à sociedade da melhor maneira possível.
BLOG: Qual a sua mensagem às mulheres?
MARIA ANGÉLICA: A mesma que ouvi da minha mãe: o conhecimento que adquirimos é nosso maior patrimônio, nossa maior arma e herança ... Em um mundo em que o direito à educação é negado em muitos países, aproveitem toda a oportunidade de aprendizagem, pois é o conhecimento que nos ajuda a modificar nosso futuro, superar desafios, ultrapassar barreiras e adquirir respeito, visibilidade e parcerias em tudo na vida.
PERFIL Maria Angélica Vergara Wasserman
A Diretora do IRD possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1982), mestrado em Geociências (Geoquímica) pela Universidade Federal Fluminense (1985) e doutorado em Geoquímica pela Universite de Bordeaux (1991). Desde 1995 é pesquisadora da CNEN. Tem experiência na área de Química Ambiental, com ênfase em Análise de Traços e Química Ambiental, e na área de Radioecologia, atuando principalmente nos seguintes temas: radioecologia de ecossistemas tropicais, transferência solo-planta de radionuclídeos, mecanismos de sorção de poluentes radioativos e estáveis em solos e sedimentos, extração sequencial, proteção radiológica ambiental e avaliação de risco.
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- 31/03/2022 - Paulo Alvim é empossado como novo ministro da Ciência, Tecnologia e InovaçõesDurante a transmissão de cargo, astronauta Marcos Pontes detalhou entregas e desafios da pasta nos últimos anos
Durante a transmissão de cargo, astronauta Marcos Pontes detalhou entregas e desafios da pasta nos últimos anos
Fonte: Site MCTI
Nomeado para o cargo de ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações pelo presidente Jair Bolsonaro, o engenheiro Paulo Alvim assumiu o posto em cerimônia realizada na tarde desta quinta-feira (31), em Brasília. O ex-ministro, astronauta Marcos Pontes, transmitiu o cargo depois de participar da cerimônia de despedida de ministros no Palácio do Planalto pela manhã.
Desde 2019, Alvim exerce o cargo de secretário de Empreendedorismo e Inovação do MCTI, responsável pelas políticas que ajudam a tirar ideias do papel e fomentam a inovação no país. Em discurso, Paulo Alvim destacou que o investimento em ciência e tecnologia e educação é estratégico para o Brasil e que o MCTI avançou na área graças à convergência de objetivos do governo federal.
"Nós só vamos transformar esse país se a gente avançar de forma coesa, integrada e convergente em ciência, tecnologia e educação. Não existe outro caminho. Esse país precisa dar um salto por meio de um processo com cooperação, convergência e fortalecimento da ciência, tecnologia e inovação. Esse é um dos maiores legados dessa gestão: foco e compromisso com resultados”, afirmou.
Alvim também apontou também o diálogo do ministério com o setor empresarial e acadêmico na superação dos desafios dos últimos anos, assim como a maior integração da pasta com as instituições vinculadas, como CNPq, EMBRAPII e FINEP. "Nós precisamos trabalhar cada vez mais juntos. Ainda vamos transformar muita coisa em nosso ciclo”.
O evento de transmissão de cargo contou com a participação de embaixadores, parlamentares, representantes de ministérios, dirigentes de entidades vinculadas do ministério, assim como do setor empresarial e comunidade acadêmica.
O ex-ministro astronauta Marcos Pontes lembrou a trajetória à frente do MCTI desde a transição de governo em 2018 incluindo o período em que a pasta abrigou as políticas de comunicações. Ele listou os desafios dos últimos anos, como o orçamento e a pandemia, e destacou as entregas que há décadas estavam sem resolução.
"Foram 20 anos o país esperando o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas com os Estados Unidos para permitir fazer os lançamentos em Alcântara, em 6 meses a gente conseguiu aprovar no Congresso Nacional; Foram 34 anos esperando para ter a separação da fiscalização da execução no programa nuclear, nós criamos a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear; Outros 15 anos de espera por uma instituição para cuidar dos nossos oceanos, hoje temos o Instituto Nacional do Mar; mais 13 anos a comunidade científica aguardando a participação do Brasil no CERN, em Genebra. Essa é uma gestão que resolve problemas de décadas”, detalhou.
Pontes também listou os avanços da gestão no Congresso, como o PLC 79, antes da recriação do Ministério das Comunicações; a mudança na Lei de Informática; o Marco Legal das Startups e a liberação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o FNDCT. O ex-ministro também deu destaque à independência do país na produção de imunizantes.
"Hoje eu tenho um orgulho muito grande de falar que o Brasil tem, a partir desse ano, independência na produção de vacinas, no ano do Bicentenário da Independência, o que foi feito graças aos nossos cientistas no Brasil. Um feito histórico. Nunca o Brasil teve uma vacina desde o início feita por cientistas nacionais”, disse.
Currículo
Paulo César Rezende de Carvalho Alvim é engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UnB).; Atuou também na Secretaria de Ciência e Tecnologia da presidência da República; Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio; Governo do Distrito Federal; FINEP/MCTI, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT/MCTI); e SEBRAE Nacional.
Veja abaixo como foi a cerimônia:
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- 28/03/2022 - SBPC pede a deputados para votaremFonte: Blog Tania Malheiros
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) enviou nesta segunda-feira (28/3) carta aos deputados federais solicitando que votem ‘não’ à Proposta de Emenda à Constituição (PEC 517/10) que trata da produção de radioisótopos de uso médico pela iniciativa privada. A votação está prevista para ocorrer amanhã (29/3).No documento, a entidade lista alguns argumentos importantes e reafirma que o IPEN, instituição pioneira e responsável pelo desenvolvimento da Radiofarmácia no País, continue fornecendo produtos essenciais para a população brasileira, especialmente a atendida pelo SUS.
Eis a carta aos parlamentares:
Temos certeza do seu compromisso com a saúde da população do nosso país, já tão debilitada. Pedimos seu apoio para votar NÃO na segunda votação da PEC 517/2010 agendada para a próxima semana.
Confiamos no seu voto fundamentado no interesse público. Entretanto, pedimos sua atenção para argumentos importantes, mas desconhecidos pela relatoria até o momento:
O monopólio da União em vigor restringe-se somente à importação de molibdênio-99 (99Mo) para industrialização dos geradores de 99Mo/99mTc em território nacional, papel exclusivo e desempenhado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN/SP). Portanto, as instituições públicas e privadas podem produzir e comercializar os demais radiofármacos, desde que os mesmos sejam registrados na ANVISA.
Atualmente, o preço do gerador de 2 Curies de99Mo/99mTc produzido pelo IPEN é de R$ 6.835,00 e o importado pela iniciativa privada é de R$ 17.200,00. Mesmo com correções de variação cambial do99Mo, o preço do gerador do IPEN não passaria de R$ 8.885,50.
Há possibilidade de autonomia nacional na produção de radioisótopos com a construção e operação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) viabilizando a ampliação e democratização da oferta de diagnósticos e terapias pelo SUS. Atualmente, de cerca de dois milhões de procedimentos/ano, somente 25% são destinados ao sistema público.
O IPEN possui um plano de ação com a ANVISA e, com recursos públicos, vem trabalhando para modernizar as instalações da produção de geradores de99Mo/99mTc no Centro de Radiofarmácia até 2025, capacitando-se para duplicar sua produção. A iniciativa privada, ao registrar seus produtos na ANVISA, poderá provocar a interrupção do IPEN, fato já ocorrido com alguns produtos do Instituto. Isso pode acarretar desperdício de recursos públicos.
Nesse sentido, a Sociedade solicita seu voto NÃO à PEC 517/2010 para que o IPEN, uma instituição pioneira e responsável pelo desenvolvimento da Radiofarmácia no país, continue fornecendo produtos essenciais para a população brasileira, especialmente à atendida pelo SUS.
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- 27/03/2022 - Brasil tem arma nuclear ou já quis desenvolver? Conheça os planosFonte: UOLDesde que a Rússia invadiu a Ucrânia, a ameaça de armas nucleares paira no ar e preocupa o mundo inteiro. Na terça-feira (22), o porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitry Peskov, disse que o país ainda não atingiu nenhum de seus objetivos militares com a guerra e não negou que Moscou poderia usar as armas nucleares.Em entrevista concedida à CNN, quando Peskov foi questionado sobre em quais condições Putin usaria a capacidade nuclear do país, o diplomata simplesmente respondeu: "se é uma ameaça existencial para o nosso país, então pode ser".Essa não é a primeira vez que o presidente russo ameaça usar os recursos extremos na guerra. No mês passado, Putin sugeriu que usaria as armas nucleares contra nações que representassem riscos à Rússia. "Não importa quem tente ficar em nosso caminho ou ainda mais criar ameaças para nosso país e nosso povo, eles devem saber que a Rússia responderá imediatamente, e as consequências serão como você nunca viu em toda a sua história."Com a tensão nuclear no ar, surge uma dúvida: e o Brasil? Temos armas nucleares só esperando para serem usadas? Existe alguma reserva do material em solo verde e amarelo? Em algum momento da história o tema já foi debatido? Confira mais informações sobre o assunto.Armas nucleares e o BrasilO Brasil não tem nenhuma arma nuclear, mas se cogitasse criar, provavelmente teria capacidade tecnológica e conhecimento para a produção, de acordo com os peritos do Laboratório Nacional de Los Alamos, do Departamento de Energia dos Estados Unidos.Ainda segundo os especialistas, o desenvolvimento do armamento pesado poderia ser feito em um ano no país, até mesmo em uma pequena usina de enriquecimento, como a de Resende. As centrífugas da INB (Indústrias Nucleares Brasileiras) - fundadas em 1988 para impulsionar a produção da energia nuclear no país - só precisariam ser reconfiguradas para fabricar urânio altamente enriquecido para criar as bombas nucleares.Se o governo brasileiro decidisse começar a fazer as armas, sofreria retaliações importantes de outras nações. Isso acontece porque o Brasil passou a ser um dos Estados participantes do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear) em 1988. O documento, que entrou em vigor em 1970, tinha como objetivo limitar o armamento nuclear de EUA, Rússia, Reino Unido, França e China. Também dizia que as nações não poderiam transferir essas armas para os países não nucleares, nem auxiliá-los a obtê-las.Para Lucas Carlos Lima, professor de Direito Internacional da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o TNP posiciona os Estados detentores de armas nucleares numa posição privilegiada. "Não por acaso é comumente referenciado como um tratado iníquo. Aos detentores, cabe a obrigação de não permitir a proliferação. Aos não-detentores, a obrigação de não receber e não desenvolver."A promulgação da Constituição Federal de 1988 e o fim da Guerra Fria, pressionaram o Brasil para aderir ao tratado, segundo Ival de Assis Cripa, doutor em Teoria e História Literária e professor do curso de extensão de história da América Latina da PUC (Pontífice Universidade Católica). Por isso, em 7 de dezembro de 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso decretou a adesão do Brasil ao TNP.Ao começar a participar do TNP, o Brasil passou a estar alinhado com normas e tendências globais, e se comprometeu a não adquirir esse tipo de arma. Mas continuou com o direito a pesquisar e desenvolver energia nuclear para fins pacíficos, desde que os estudos fossem monitorizadospor inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). A adesão passou a ser vista pelos governos civis como uma forma de levar uma imagem positiva ao mundo do Brasil em termos de confiabilidade.Na época, a proibição de criar armas nucleares também entrou na Constituição de duas formas. No artigo 21: toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional. E no parágrafo 2 do 5º artigo: os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte."Se o governo tentar construir armas nucleares estará desrespeitando a Constituição e terá problemas internos por não respeitar a carta magna. E também sofrerá sanções e embargos externos, pois assinou o TNP", conta Assis Cripa.Programa nuclear brasileiroNo final dos anos de 1930, a pesquisa teórica sobre energia nuclear começou na USP (Universidade de São Paulo). Em 1947, foi escrita a primeira política nuclear por Álvaro Alberto da Mota e Silva, oficial da marinha e entusiasta do tema. A norma foi aprovada pelo CSN (Conselho de Segurança Nacional) e começou a ser implementada no início em 1951, com o estabelecimento do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas).Além de promover pesquisas científicas e tecnológicas, o CNPq também deveria desenvolver estudos sobre recursos minerais relevantes e expandir a industrialização da energia nuclear.Durante a década de 1950, o presidente Getúlio Vargas se mostrou um grande incentivador do desenvolvimento da capacidade nuclear nacional e independente. Em 1956, o Brasil recebeu dos EUA um reator de pesquisa alimentado por urânio enriquecido em 90%. O equipamento do programa 'Atoms for Peace', foi instalado na Universidade de São Paulo, sob a jurisdição do governo federal.Entre os anos 1970 e 1980 (período da ditadura militar), o Brasil e a Argentina embarcaram em uma competição nuclear, com a transferência de tecnologia da Alemanha Ocidental, que não exigia amparo da AIEA. Por um tempo, o Brasil seguiu com programas paralelos de armas nucleares, geridos pelo Exército, Marinha e Aeronáutica.O programa da Marinha, instalado no Centro Experimental de Aramar, em Iperó-SP, que era destinado à construção de um submarino nuclear brasileiro, foi o que mais prosperou, obtendo urânio enriquecido em 20% por ultracentrifugação."O tema do armamento nuclear apareceu com alguma frequência na pauta brasileira. O Brasil demorou a aderir ao TNP e os tomadores de decisão, principalmente no período militar, sempre se viram diante dessa escolha. Havia também certa tensão em relação a uma possível competição com a Argentina na matéria, resolvida num acordo em que é criada uma agência conjunta. Depois da adesão ao Brasil ao TNP, o debate público foca em outras questões", contou Lima.Com o tempo, o tema do armamento nuclear foi deixado de lado. Três anos antes de assinar o TNP, a primeira usina nuclear brasileira começou a funcionar, a Angra 1. O local foi feito para gerar energia e não armas, com um reator dede água pressurizado, o mais utilizado no mundo. Angra 1 foi desenvolvida para ter uma vida útil de 40 anos, por isso, para que a unidade continue trabalhando, em 2024 a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) precisará dar uma nova autorização para a Eletronuclear.Demonstrando estar longe de querer construir qualquer tipo de armamento nuclear, em 1991, o Brasil assinou um acordo para o Uso Exclusivamente Pacífico da Energia Nuclear com a Argentina. A ação deu início a criação da ABACC (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares).Com o mesmo objetivo da primeira usina, Angra 2 começou a funcionar em 2000 e na sequência passou a ser desenvolvida Angra 3. Mas a construção, que começou há 38 anos, ainda não foi totalmente concluída.Políticos que já pediram pelas armas nuclearesMesmo depois da assinatura do tratado, diversas autoridades já pediram para que as armas nucleares fossem construídas em solo brasileiro.Em 2019, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, enquanto ocupava o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, defendeu o desenvolvimento do armamento pesado. "São bombas nucleares que garantem a paz ali no Paquistão. Como seria a relação do Paquistão com a Índia se só um dos dois tivesse bombas nucleares? Será que seria da mesma maneira do que hoje? Claro que não."Vendo em retrocesso, em 2003, Roberto Amaral, então ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula, defendeu a mesma ideia do deputado federal durante o primeiro ano de mandato do petista.No final da década de 1990, Enéas Carneiro, político que chegou a se candidatar três vezes à Presidência da República, chegou a pedir a criação da bomba atômica para proteger o Brasil de possíveis inimigos.Para Lucas, que além de professor da UFMG trabalhou como advogado nos casos do Desarmamento Nuclear na Corte Internacional de Justiça, é inevitável que no debate público algumas autoridades mais extremadas só levem argumentos defendendo uma nuclearização do arsenal brasileiro.Mas o importante é diferenciar o desenvolvimento e aproveitamento de energia nuclear do desenvolvimento de armamento nuclear. "Soberania energética é diferente do desenvolvimento de armas que podem acabar com a vida de milhares de pessoas em segundos", completou Lima. -
- 23/03/2022 - Deputados aprovam em primeiro turno texto principal da proposta sobre radioisótoposDeputados divergiram sobre a atuação do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN)
Deputados divergiram sobre a atuação do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN)
Fonte: Agência Câmara de Notícias
A Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, a Proposta de Emenda à Constituição 517/10, do Senado, que quebra o monopólio governamental para permitir a fabricação pela iniciativa privada de todos os tipos de radioisótopos de uso médico. Ainda falta analisar três destaques apresentados pelos partidos ao texto principal na tentativa de retirar trechos da redação, todos pretendem reverter a intenção da PEC de quebrar o monopólio da produção, mesmo teor do destaque apresentado pelo PT que foi rejeitado. A proposta ainda será analisada em segundo turno.
Saiba mais sobre a tramitação de propostas de emenda à constituição
A matéria foi aprovada com o parecer favorável da comissão especial, de autoria do deputado General Peternelli (União-SP).
Atualmente, a produção e a comercialização desses fármacos no Brasil são realizadas por intermédio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e seus institutos, como o de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo.
A Constituição já autoriza, sob regime de permissão, a comercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso médico. A produção por empresas privadas, no entanto, só é permitida no caso de radiofármacos de curta duração (meia-vida igual ou inferior a duas horas).
Radioisótopos ou radiofármacos são substâncias que emitem radiação usadas no diagnóstico e no tratamento de diversas doenças, principalmente o câncer. Um exemplo é o iodo-131, que emite raios gama e permite diagnosticar doenças na glândula tireoide.
IPEN
Durante a discussão da PEC 517/10, deputados divergiram sobre a atuação do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), atual fornecedor desses medicamentos.Relator da proposta, o deputado General Peternelli afirmou que a produção dessas substâncias em quantidade suficiente à demanda depende da abertura de empresas privadas e fim do monopólio do IPEN. "A importância desse tema é muito grande, a ideia não é prejudicar nada, mas ampliar o acesso”, disse. Ele afirmou que a produção do IPEN é voltada a hospitais privados e, com a entrada de atores privados, poderá ser totalmente dedicada ao Sistema Único de Saúde. Ele defendeu ainda que o órgão governamental será o regulador do mercado para impedir o aumento dos preços.
Peternelli sugeriu que os deputados preocupados com a atuação do IPEN diante da concorrência indiquem recursos de suas emendas parlamentares ao Orçamento para fortalecer o órgão.
Presidente da comissão especial que analisou a proposta, o deputado Zacharias Calil (União-GO) avalia que a quebra do monopólio vai ampliar o acesso a tratamentos pela população. "As vantagens que teremos com esta aprovação é promover a segurança sanitária com o fornecimento adequado de radiofármacos, possibilitar maior acesso da população a diagnósticos de câncer e de doenças cardiovasculares”, disse.
O deputado Hiran Gonçalves (PP-RR), favorável à proposta, disse que o IPEN não consegue suprir a demanda e que a produção só foi suficiente porque algumas especialidades médicas foram comprometidas com a pandemia. "Dizer que o IPEN, durante a pandemia, satisfez a necessidade do Brasil é uma meia verdade. Por quê? Porque durante a pandemia tudo parou. Os tratamentos eletivos pararam. As pessoas pararam de fazer tratamentos oncológicos e exames, porque elas saíram dos hospitais”, disse.
Para o deputado Neucimar Fraga (PSD-ES), a quebra do monopólio é benéfica para o setor. "Nós estamos aprovando e permitindo a ampliação da produção desse material e quebrando o monopólio existente, já que é feito por um único fabricante no Brasil. Em um país do tamanho do Brasil, um assunto de tamanho interesse não pode ficar sob a custódia de um único produtor porque, se ele tiver problema, o País todo para”, disse.
Já a deputada Adriana Ventura (Novo-SP) afirmou que a quebra do monopólio permitirá eficiência e modernização do setor.
O deputado José Nelto (PODE-GO) afirmou que a medida vai incentivar o investimento em ciência. "Temos, sim, que quebrar este monopólio, dar oportunidade para que novos cientistas possam realmente trabalhar para fornecer medicamentos, tratamentos e novos aparelhos para aos pacientes em tratamento de câncer no nosso País”, disse.
Para o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), no entanto, o investimento em radiofármacos deveria passar pelo fortalecimento do IPEN. "Como é que se vai reaparelhar e melhorar o IPEN, se as prerrogativas exclusivas que ele tinha serão tiradas? Não se consegue melhorar um órgão se diminuírem a sua estrutura. Então, é uma contradição a colocação desse termo”, criticou.
O deputado André Figueiredo (PDT-CE) também afirmou que o IPEN sofreu um processo de desgaste e não terá infraestrutura para lidar com a entrada do setor privado. "Entregar o setor à mercê da iniciativa privada num ambiente de competitividade sem o IPEN ser dotado da infraestrutura necessária é acabar com o órgão, é acabar com mais uma estatal extremamente imprescindível para a saúde do povo brasileiro e para a pesquisa de radioisótopos”, disse.
Para o deputado Ivan Valente (Psol-SP), a votação não ocorreu em momento oportuno, diante da demissão do diretor do IPEN, Wilson Aparecido Parejo Calvo no início do mês.
Já a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que haverá aumento de preços. "Nós queremos, sim, tratar as neoplasias, queremos tratar todas as doenças que necessitam de diagnóstico precoce, de radiofarmácia, de radioisótopo, mas essa PEC vai triplicar o preço desses insumos em saúde, porque vai quebrar o monopólio, o IPEN vai perder sua possibilidade de sustentação”, disse.
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- 23/03/2022 - Câmara aprova autorização para produção privada de material radioativo para uso médicoTexto-base de proposta de emenda à Constituição passou por 363 votos a 112. Órgão federal suspendeu produção devido a corte orçamentário. Oposição vê intenção de privatizar setor.
Texto-base de proposta de emenda à Constituição passou por 363 votos a 112. Órgão federal suspendeu produção devido a corte orçamentário. Oposição vê intenção de privatizar setor.
Fonte: G1
Por 363 votos a 112, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (23) o texto-base de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que permite a produção privada de radioisótopos para uso médico.
Os radioisótopos de uso médico são materiais radioativos usados, por exemplo, para a fabricação de radiofármacos terapêuticos ou de diagnóstico de doenças.
A conclusão da votação em primeiro turno está prevista para a próxima semana, após a análise dos destaques (propostas de alterações pontuais no texto principal). Em seguida, haverá votação em segundo turno. Se não sofrer alterações em relação ao texto aprovado em 2010 pelo Senado, a proposta será promulgada pelo Congresso Nacional.
A Constituição já permite a comercialização e a utilização, sob regime de permissão, de radioisótopos para uso médico. Contudo, a produção pela iniciativa privada só pode ser feita nos insumos de curta duração (meia-vida igual ou inferior a duas horas).
Atualmente, a produção e comercialização de radiofármacos no Brasil são realizadas por intermédio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) por meio de institutos como o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo.
Segundo o relator da matéria, deputado General Peternelli (União-SP), a situação do Brasil "mostra alta restrição, com equipamentos defasados e em quantidade bem inferior ao recomendado, que é bem visível no comparativo com os demais países”.
"Nós já tivemos, nos últimos cinco anos, 39 notificações de interrupção de funcionamento, e isso ocorre mesmo em administrações anteriores [de produção de radioisótopos]”, disse Peternelli em discurso no plenário.
"É importante que nós votemos e que nós possamos propiciar à população o acesso a esse diagnóstico que é fundamental, que traz precisão, que traz clareza, que permite um diagnóstico do câncer com muito mais antecedência.”
Em setembro do ano passado, o Ipen, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia do governo federal, anunciou a suspensão da produção de produtos radiofármacos e radioisótopos usados para o tratamento de câncer no Brasil.
Na ocasião, o órgão justificou a suspensão com base em um grande corte no orçamento federal em 2021.
A oposição criticou a medida, justificando que o problema da falta de insumos no ano passado está relacionado exclusivamente à falta de recursos.
"Como os brasileiros foram atendidos com todos os radioisótopos necessários durante 40 anos?", questionou o deputado Henrique Fontana (PT-RS). "O que o Ipen precisa é que o governo Bolsonaro invista no Ipen e não sucatear o Ipen para depois sugerir a privatização de mais esse setor estratégico", declarou.
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- 23/03/2022 - Doutorado direto em eletrocatálise no Centro de Inovação em Novas EnergiasProjeto desenvolvido no Ipen busca uma rota sustentável para a conversão de metano com tecnologias eletroquímicas avançadas
Projeto desenvolvido no Ipen busca uma rota sustentável para a conversão de metano com tecnologias eletroquímicas avançadas
Fonte: Agência FapespAgência FAPESP – Uma Bolsa FAPESP de Doutorado Direto é oferecida no âmbito do projeto "Rota sustentável para a conversão de metano com tecnologias eletroquímicas avançadas”. O prazo de inscrição se encerra em 30 de março.
A pesquisa é desenvolvida no âmbito do Centro de Inovação em Novas Energias (CINE), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) financiado por FAPESP e Shell, com sedes na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na Universidade de São Paulo (USP) e no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
O objetivo principal da pesquisa é caracterizar eletrocatalisadores para a conversão eletroquímica de metano em outros produtos, com ênfase em experimentos de nanopartículas individuais. O estudante trabalhará com técnicas eletroquímicas e realizará vários estudos in situ.
Exige-se nível avançado de inglês, obrigatório para desenvolver parte do projeto no exterior. É desejável experiência em eletroquímica.
Os candidatos devem enviar currículo resumido e carta de interesse para o e-mail do coordenador do projeto, Fabio Coral Fonseca (fabiocf@usp.br).
Mais informações sobre a vaga em: www.fapesp.br/oportunidades/4901.
A Bolsa de Doutorado Direto fornecida pela FAPESP tem duração de 48 meses e valor mensal de R$ 2.349,60 no primeiro ano, R$ 2.494,20 no segundo ano, R$ 3.462,42 no terceiro ano e R$ 4.285,50 no quarto ano. Um auxílio financeiro equivalente a 30% do valor anual da bolsa será concedido para despesas diretamente relacionadas às atividades de pesquisa. Os requisitos e benefícios estão disponíveis em fapesp.br/bolsas/dd.
Outras vagas de bolsas, em diversas áreas do conhecimento, estão no site FAPESP-Oportunidades, em www.fapesp.br/oportunidades.
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- 23/03/2022 - Os novos desafios para a pesquisa no paísFonte: Agência FapespClaudia Izique e Elton Alisson | Agência FAPESP – A FAPESP e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) reuniram dirigentes de agências de fomento, de instituições de pesquisa e de universidades para debater um tema que ganha cada vez mais importância nas agendas de financiamento à pesquisa em todo o planeta: a pesquisa orientada a missão.
Às vésperas de completar 60 anos, a FAPESP define seu plano estratégico e o apoio a pesquisas orientadas a missões poderá ser incorporado como modalidade de fomento. O tema já está na pauta do Conselho Superior da Fundação. "A implementação dessa temática é um desafio novo. Exige examinar tendências mundiais e locais e consultar a sociedade, empresários e diferentes níveis de governo. É crítico ouvir a área pública e as empresas, reavaliar fluxos de análises e propostas. Há necessidade de assumir outra postura. E essa outra maneira de financiar a pesquisa exige uma mudança de postura de toda a instituição”, sublinhou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.
Essa mudança, continuou, passa pela escolha da temática e até pelo método de apresentação do projeto de pesquisa. "A FAPESP está e continuará envolvida com isso. Temos a prevenção das epidemias que virão, regularmente. A FAPESP e outras instituições terão que colocar recursos para melhorar vacinas, apoiar a transição para a economia de baixo carbono, estimular o desenvolvimento de metodologias de avaliação de ensino, entre outras iniciativas.”
"As missões não priorizam a pesquisa aplicada e a inovação em relação à pesquisa fundamental, básica: são uma nova maneira de enquadrar o diálogo entre elas, galvanizando novas formas de colaboração”, explicou Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP.
Apesar de ter um importante componente de pesquisa e de novo conhecimento – o que as conecta com as agências de fomento – as missões são amplas – "às vezes muito mais amplas”, sublinhou Pacheco – e exigem também o que se denomina desenvolvimento, de provas de conceitos e outras medidas para atingir os objetivos, como, por exemplo, forte adesão do setor público, regulamentação específica e novas formas de governança. "Envolvem, portanto, uma ampla gama de atores.”
A pesquisa direcionada a uma missão já pauta algumas iniciativas da FAPESP como, por exemplo, as duas chamadas para a constituição de Centros de Ciência para o Desenvolvimento, a chamada para o Programa PROEDUCA, desenvolvidos em parceria com diversas secretarias de governo, entre outros parceiros, e a iniciativa Amazônia+10, que envolve São Paulo e nove Estados da Amazônia Legal. "Transformamos em realidade o conceito de projeto voltado amissão. O trabalho mais importante é o de aproximação da ciência da solução de problemas da sociedade, da vida real”, afirmou a secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo, Patricia Ellen.
Um novo contrato social entre parceiros
O seminário organizado pela FAPESP e pelo CNPq, que teve como título "O impacto da ciência na sociedade e no avanço do conhecimento: os novos desafios da pesquisa orientada a missão”, teve exatamente como objetivo ampliar o debate e colher contribuições para a formulação dessa nova política de fomento.
Mariana Mazzucato, professora de economia da inovação e valor público da University College London, no Reino Unido, uma das formuladoras do conceito de políticas orientadas a missões, abriu o seminário com uma apresentação on-line. "Os problemas econômicos que muitos países estão tentando superar, agravados com a pandemia, estão ocorrendo ao mesmo tempo que outra crise muito urgente, que é a das mudanças climáticas”, ela observou.
Em sua avaliação, esse cenário, que exige soluções urgentes, poderia ser a oportunidade para que os países buscassem novas formas de investimentos, promovessem mudanças nas administrações públicas e estabelecessem um novo contrato social entre atores, compartilhando riscos e recompensas. "É preciso mudar de um projeto político muito reativo a crises para outro mais proativo, orientado a missões para enfrentar os problemas, com os ambientais ou de saúde”, afirmou.
Mazzucato deu o exemplo do programa Apollo, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), que levou o homem à Lua, em 1969. O programa começou com o redesenho do sistema de compras da Nasa e a redação de um contrato com fornecedores privados. "Eles sabiam que precisariam trabalhar não apenas com empresas do setor aeroespacial, mas também dos setores de materiais, software, computação, nutrição, entre outros”, disse.
Reconhecendo tratar-se de uma criação coletiva de valor, com riscos e benefícios compartilhado sem vez de custos fixos, os contratos estabeleciam recompensas pela inovação e melhorias na qualidade dos produtos, processos e serviços e que o retorno dos investimentos teria que ser justo. "Sabiam, no entanto, que, no início, a Nasa e o Estado tinham de assumir maiores riscos e fazer investimentos mais intensivos de capital.”
Além de levar o homem à Lua, o programa Apollo gerou enorme valor econômico e criou diversas oportunidades de comercialização de produtos como telefones com câmera, cobertores com isolamento térmico, fórmulas alimentares para bebês e softwares, entre outros. "Esse transbordamento só foi possível devido a todos os problemas que precisaram ser resolvidos.”
Essa estratégia de transformar desafios em missão, sugeriu, deveria orientar os governos na solução de problemas elencados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs, propostos pela Organização das Nações Unidas na Agenda 2030), exemplificou. "Precisamos de uma maneira nova de pensar a capacidade de nossas organizações públicas.”
Ao final da apresentação de Mazzucato, Evaldo Vilela, presidente do CNPQ, comentou: "Mariana nos trouxe a responsabilidade de trabalhar com empresas e com a sociedade. Sem o poder público podemos muito pouco. Estamos implementando no CNPq um plano de atualização para fazer frente às profundas transformações em um mundo que pede mais. Abraçamos a ideia da pesquisa orientada a missão por ser ela capaz de mover a fronteira do conhecimento."
Novos desafios: urgência e escala
Os novos desafios que se colocam para a pesquisa e as recomendações de Mazzucato pautaram os debates que seguiram a apresentação da economista. "Uma questão relevante é saber como as agências de fomento podem ir além do que tradicionalmente fazem”, afirmou Pacheco na mesa "Os desafios da pesquisa orientada a missão no Brasil”, que teve como moderador Jerson Lima Silva, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj).
"Sabemos fazer e fazemos bem o financiamento à pesquisa que se intitula investigator initiative [de iniciativa do pesquisador]. Mas não vamos além disso. Projetos complexos são mais difíceis. FAPESP e CNPq têm experiência em pesquisas dessa natureza. Mas projetos que combinam iniciativas de pesquisadores e propostas institucionais não são comuns. Projetos que vão além da pesquisa, ingressando no terreno do desenvolvimento como produção e prova de conceito, também não são frequentes”, afirmou Pacheco, citando como exemplo desafios nas áreas de educação básica, sustentabilidade, mudanças climáticas e questões relacionadas à Amazônia.
"Creio que um dos grandes desafios do Brasil em relação às pesquisas orientadas por missão é justamente posicionar a Amazônia como um dos locais prioritários”, disse Márcia Perales, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam). "Precisamos de estrutura científica, fomento, recursos humanos, fluxos interativos producentes, universidades e institutos de tecnologias”, listando recursos que, neste momento, "estão aquém do necessário”.
Para Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Conselho Nacional de Educação, o Brasil entrou no século 21 sem ter cumprido a agenda do século 20. "Estamos, desde a Constituição de 1988, tentando organizar e superar os problemas de 47 milhões de alunos da educação básica, 85% deles em escolas públicas, e 2,2 milhões de professores”, disse. "É importante a FAPESP ter lançado o edital PROEDUCA, em conjunto com a Secretaria da Educação de São Paulo, já que a maioria das pesquisas é feita pelo terceiro setor e não pelas universidades.”
Pedro Passos, cofundador da Natura e membro do Conselho Superior da FAPESP, observou que a pesquisa orientada a missão "vai além da pesquisa”. "A busca de soluções para os problemas do país exige a reorganização das instituições, sentido de urgência e escala.”Ele considera que, no caso da transição para a economia de baixo carbono, o Brasil tem vantagens comparativas. "Partimos de um estágio mais avançado no que se refere à energia limpa.”Adverte, no entanto, que é preciso acelerar o marco regulatório e buscar soluções de mercado para alinhar o Brasil ao que já acontece em outros países e ter competitividade no mercado internacional. "Precisamos de muita pesquisa para encontrar solução inovadora de maneira mais rápida. Há aí uma oportunidade que o Brasil não pode perder.”
O Brasil no pós-pandemia
O impacto econômico e social da pesquisa orientada à missão, sobretudo quando o país busca se recuperar dos efeitos da pandemia, exige a definição de metas claras e métricas para avaliar os resultados de sua implementação. E esse foi o tema da segunda mesa do seminário – "O impacto da ciência pós-pandemia” –, coordenada por Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
De acordo com Davidovich, a pandemia amplificou problemas, "principalmente o da desigualdade”, o que levou a uma reflexão crítica do país. "É preciso pensar num sistema que envolva ciência básica e suas aplicações e eleger prioridades para focar investimentos”, afirmou, sugerindo três pautas que considera prioritárias: Amazônia, Energia Renovável e Educação Básica. E recomendou ainda: "É importante pensar na divulgação científica, que não deve ser baseada apenas na utilidade, mas também em motivar os jovens a seguir uma carreira científica”.
Para Fernanda De Negri, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), num país em que os recursos humanos e financeiros para pesquisa são escassos, a saída é fazer escolhas, "com critério e transparência”. A ciência de impacto é aquela que tem efeito na vida das pessoas, vira referência para o cientista e fomenta o desenvolvimento de novas tecnologias. Depende, portanto, de inovação e do setor produtivo. "Mas não se faz ciência de impacto sem um grande laboratório de pesquisa. E, fora das universidades, temos poucos no país”, afirmou, elencando o Centro de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) – onde está instalado o acelerador de partículas Sirius –, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).
Maurício Lopes, da Embrapa, disse que o Brasil precisa urgentemente investir em inteligência estratégica e modelagem de futuros. Deu o exemplo da crise dos fertilizantes. "Sabíamos que era preciso acabar com a dependência da importação há 40 anos. Guiamo-nos, no entanto, pela lógica econômica, já que temos fornecedores que nos vendem pelo preço básico. Isso até a próxima crise.”
A falta de visão estratégica comprometeu também a resposta do Brasil à pandemia causada pelo SARS-CoV-2. "E esse cenário não vai mudar. Sabíamos do risco de uma pandemia. Temos uma lista de vírus prontos para causar epidemias. O Brasil tem dados, tem sistema de saúde; não deve ficar a reboque das prevenções internacionais”, afirmou Manoel Barral Netto, da Fiocruz.
Para Marcos Lisboa, do Insper, o Brasil deveria utilizar metodologias e técnicas já testadas em outros países para orientar políticas públicas. "Discutimos educação sem discutir ciência”, exemplificou. "Enquanto o Chile gasta muito tempo tratando da gestão da política pública, nós não estudamos detalhes técnicos, não tratamos da evidência empírica, da avaliação de impacto e nem do grupo de controle.”
A íntegra do evento está disponível no canal da Agência FAPESP no YouTube.