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- 07/07/2021 - Brasil pode perder conquistas se não voltar a investir em ciência, aponta relatório da UnescoFonte: Agência FapespAndré Julião | Agência FAPESP – O Brasil conquistou um papel relevante na ciência mundial nas últimas quatro décadas, mas cortes de bolsas e queda em número de patentes e gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) pelas empresas desde 2015 ameaçam o futuro do sistema nacional de ciência e tecnologia como um todo. Essa é uma das conclusões do capítulo sobre o Brasil do Relatório de Ciências da Unesco – A corrida contra o tempo por um desenvolvimento mais inteligente.
O documento, publicado a cada cinco anos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), avalia o estado da ciência, tecnologia e inovação no mundo e teve a mais recente edição lançada em junho.
Entre os destaques brasileiros desde 2015 estão os estudos sobre zika. O país foi o segundo que mais produziu artigos científicos sobre o vírus, atrás apenas dos Estados Unidos. Os cientistas brasileiros responderam por 28% das publicações mais citadas sobre o assunto. De modo geral, o Brasil vem aumentando progressivamente o número de publicações há mais de 30 anos.
"Até 2018, continuávamos produzindo mais a cada ano. Além disso, a quantidade total de dinheiro investido em ciência e tecnologia tinha caído relativamente pouco. A ciência brasileira havia aumentado o número de artigos publicados e alcançado feitos fantásticos. Ao mesmo tempo, o número de patentes era muito pequeno quando comparado ao resto do mundo e os maiores patenteadores eram as universidades, quando em qualquer lugar do mundo desenvolvido são as empresas que têm essa liderança”, conta Hernan Chaimovich, um dos coautores do estudo, professor emérito do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e ex-assessor da Diretoria Científica da FAPESP.
Um ponto positivo que o relatório ressalta é que tem havido contínuo crescimento da participação feminina nas ciências e nas áreas tecnológicas, como engenharias. "As mulheres já representam 54% dos doutorados concedidos no país e 34% daqueles nas engenharias. Esse último dado é muito mais alto do que o encontrado na maioria dos países, mesmo nos industrializados. Por exemplo, a taxa de mulheres formalmente empregadas em engenharias é mais alta no Brasil do que nos Estados Unidos e Reino Unido”, comenta o outro coautor do estudo, Renato Pedrosa, professor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (IG-Unicamp) e coordenador do projeto "Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo”, financiado pela FAPESP.
Segundo a publicação, a recessão de 2015 no país impactou drasticamente os gastos em pesquisa e desenvolvimento. Apesar do aumento do número de empresas do setor de transformação que relatava ter uma equipe dedicada ao tema entre 2014 e 2017, os gastos com essas atividades diminuíram de US$ 18 bilhões em 2015 para US$ 15 bilhões em 2017. Além disso, o relatório observa que houve queda no depósito de patentes pelo setor privado, enquanto cresceu entre universidades.
"O Brasil tem uma capacidade científica instalada, associada a um forte sistema de pós-graduação, que causa inveja à maioria dos países emergentes. O que não temos é a absorção dessa ciência pela nossa indústria, que não é muito inovadora. Isso acontece porque ela não é competitiva internacionalmente. O setor agrícola e empresas como a Embraer, que competem nos mercados externos, são muito inovadores e vão muito bem lá fora. Mas a maior parte das empresas sediadas no Brasil é voltada apenas para o mercado interno, importando ou simplesmente deixando de lado a inovação”, diz Pedrosa.
Alerta
Apesar das dificuldades estruturais, no entanto, o período contou com o projeto Sirius, que inaugurou neste ano uma das primeiras fontes de luz síncrotron de quarta geração no mundo, no Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas.
O relatório destaca ainda a implementação do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas, capaz de proporcionar acesso à internet de banda larga em regiões remotas do país. Na área de tecnologia da informação, o país introduziu o sistema de pagamentos on-line PIX, uma das primeiras iniciativas do tipo no mundo.
O relatório lembra que o Brasil aumentou consideravelmente a publicação de artigos científicos desde 2011 e que enfrentou duas epidemias, a de zika e a de COVID-19, tendo se unido a esforços internacionais para o desenvolvimento de vacinas contra esta última. O Brasil foi o segundo país que mais publicou artigos científicos sobre zika em 2016 e 2017, com alto índice de citações (leia mais em: revistapesquisa.fapesp.br/publicacoes-cientificas-sobre-zika-e-microcefalia/)
O estudo destaca ainda os polos de inovação nas universidades, berços de startups que impulsionaram a geração de patentes e a colaboração científica entre indústria e academia. Por outro lado, a proteção ambiental piorou nos últimos dois anos, como ficou evidente nos rompimentos de barragens de rejeitos de mineração e na crescente incidência de incêndios no Pantanal e na Amazônia, indicando que os sistemas de monitoramento e prevenção são insuficientes.
Além da queda nos gastos de P&D pela indústria, os autores alertam que a pós-graduação, até então a maior produtora de ciência no país, está entrando em estagnação, com cortes em nível federal ocorrendo desde 2015.
"O sistema de ciência e tecnologia brasileiro pode ser destruído. Isso é muito mais perigoso do que somente diminuir investimento. A resiliência tem limite. Se as bolsas para a pós-graduação continuarem diminuindo, vamos parar de formar cientistas e, com isso, a pesquisa acaba. Nossos competidores internacionais, por sua vez, continuarão pesquisando. Deixaremos de ser uma nação independente intelectual, científica e comercialmente”, encerra Chaimovich.
O sumário executivo e o capítulo sobre o Brasil (em português) do Relatório de Ciências da Unesco podem ser lidos em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377250_por.
O relatório completo (em inglês) está disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377433.
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- 06/07/2021 - Bateria nuclear promete revolucionar o fornecimento de energia no futuroFonte: CanalTechCientistas do MIT, nos EUA, apostam nas "baterias nucleares” para criar uma fonte de energia sustentável livre de carbono. Esses sistemas compostos por uma nova geração de reatores compactos e mais baratos poderiam operar de forma autônoma para fornecer calor ou eletricidade sem supervisão por períodos de cinco a dez anos.
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Os microrreatores seriam transportados em caminhões, como geradores comuns de energia, para uma determinada região onde permaneceriam em uso até precisarem ser recarregados com combustível nuclear. Essa operação plug-and-play poderia oferecer eletricidade no local, sem a necessidade de uma grande infraestrutura de transmissão de longa distância.
"Propostas anteriores analisaram reatores na faixa de 100 a 300 megawatts de produção elétrica, que são 10 vezes menores do que os grandes reatores nucleares tradicionais na escala de gigawatts. Este conceito de bateria nuclear é realmente diferente por causa da escala física e da produção de energia dessas máquinas — cerca de 10 megawatts. É tão pequeno que toda a usina é construída em uma fábrica e cabe em um contêiner padrão”, explica o professor de ciências e engenharia nuclear do MIT Jacopo Buongiorno.
Microrreatores
Uma única bateria nuclear é capaz de abastecer entre 7 mil e 8 mil residências, um shopping em uma grande cidade ou um data center de médio porte. Além disso, esse sistema pode ser utilizado para gerar a energia usada na produção de água potável dessalinizada suficiente para mais de 150 mil pessoas.
Os microrreatores possuem um design relativamente simples e padronizado, podendo ser produzidos em escala industrial. Eles combinam um pequeno reator nuclear e uma turbina capazes de fornecer quantidades significativas de energia com baixa pegada de carbono. Outra vantagem, é que uma unidade pode ser instalada e colocada em operação em questão de dias ou semanas.
"Isso oferece vários benefícios do ponto de vista econômico. A implantação dessas baterias nucleares não envolve o gerenciamento de um grande canteiro de obras, o que tem sido a principal fonte de atrasos no cronograma e estouros de custos para projetos nucleares nos últimos 20 anos”, lembra o professor Buongiorno.
Segurança
A tecnologia utilizada na fabricação das baterias nucleares permitiriam uma operação com monitoramento remoto e totalmente seguro, garantem seus idealizadores. Os microrreatores usam urânio pouco enriquecido como combustível e podem ser resfriados rapidamente para transporte e reabastecimento.
Os engenheiros também garantem que não existe qualquer tipo de manuseio ou armazenamento de lixo radioativo de alto nível no local onde os reatores estão instalados. Além disso, não há liberação de forma descontrolada de materiais nocivos na biosfera, reduzindo a possibilidade de acidentes como os ocorridos em Chernobyl, na Ucrânia, e Fukushima, no Japão.
"O pequeno tamanho físico ajuda na segurança de várias maneiras. A quantidade de calor residual que deve ser removida quando o reator é desligado é pequena. O núcleo menor do reator torna mais fácil manter o combustível nuclear resfriado sem qualquer intervenção externa. O reator também tem uma estrutura de contenção de aço muito compacta e forte em torno dele para proteger contra a liberação de radioatividade”, tranquiliza o professor Buongiorno.
Energia do futuro
A NASAe o Laboratório Nacional de Los Alamos, ambos nos EUA, já apresentaram projetos promissores de aplicação de microrreatores para missões espaciais com custo aproximado de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões na conversão direta). Os valores aqui são muito menores do que os bilhões de dólares gastos para construção de usinas nucleares tradicionais que podem levar até uma década para ficarem prontas.
A empresa Westinghouse também trabalha no desenvolvimento de uma bateria nuclear que usa tecnologia de tubo de calor para resfriamento dos reatores e que deve estar pronta nos próximos três anos. A IBM é outra companhia que aposta na criação de microrreatores para abastecer data centers portáteis de forma mais eficiente.
Além disso, esse sistema poderia ser utilizado em países pobres ou em desenvolvimento, com instalações em comunidades carentes de energia elétrica ou que dependem da queima de combustíveis fósseis, escassos e altamente poluentes para gerar eletricidade durante a maior parte do tempo.
"Essas baterias nucleares são ideais para criar resiliência em todos os setores da economia, fornecendo uma fonte estável e confiável de eletricidade e calor que pode ser instalada apenas onde sua produção é necessária, reduzindo assim a necessidade de infraestrutura de transmissão e armazenamento. Se elas se tornarem realidade, poderão dar uma contribuição significativa para a redução das emissões mundiais de gases de efeito estufa”, completa o professor Buongiorno.
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- 06/07/2021 - Ante crises hídricas e eletricidade cara, qual será papel de Angra 3 na matriz energética do Brasil?Parada desde 2015, até o momento Angra 3 está cerca de 64% pronta. A estimativa é avançar na seleção do consórcio da obra ainda neste bimestre para recomeçar as construções, disse o especialista Celso Cunha, falando à Sputnik Brasil.
Parada desde 2015, até o momento Angra 3 está cerca de 64% pronta. A estimativa é avançar na seleção do consórcio da obra ainda neste bimestre para recomeçar as construções, disse o especialista Celso Cunha, falando à Sputnik Brasil.
Fonte: Sputnik BrasilEm meio aos recentes aumentos na conta de luz e da anunciada crise hídrica, que já atinge parte do território nacional por conta de uma das maiores secas das últimas décadas, os brasileiros têm sido confrontados com questões sobre a geração de energia elétrica.
Com isso, voltou à tona o controverso projeto de retomada da construção da usina nuclear de Angra 3, na região sul fluminense, que caso concluída, terá uma potência de 1,4 gigawatt e poderá atender 4,5 milhões de pessoas. As construções tiveram início ainda durante a ditadura militar, em 1984, mas foram totalmente paralisadas em 2015, por suspeitas de desvios financeiros.
Obras paralisadas
Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), explicou à Sputnik Brasil que a parada das obras se deu quando a usina estava com 64% do andamento concluído porque o empreendimento teve um grande problema desde a origem no seu orçamento.
"Você tinha uma composição em dólar pesada e lá atrás aconteceu um descasamento do orçamento, com a supervalorização do dólar que prejudicou a continuidade das obras", conta. "As pessoas podem tentar especular que as questões de compliance foram determinantes [para a paralisação das obras], mas o determinante mesmo foram as questões orçamentárias", explica.
Ele desmistifica ainda outra questão, de que os equipamentos guardados por tantos anos estariam estragados, dizendo que são armazenados de forma apropriada e que por isso estão como novos. Segundo a Eletrobras, estatal do setor de energia elétrica, mais de 20 empresas mostraram interesse na conclusão de Angra 3, dentre elas a norte-americana Westinghouse, a francesa EDF, a russa Rosatom e também as companhias chinesas CNNC e SNPTC.
Cunha conta que agora, dados os avanços na seleção, há apenas sete consórcios em análise, boa parte de agências nacionais na disputa, segundo ele. A estimativa é que o ganhador deva ser anunciado entre fim de julho e agosto. Os planos são de que "em 2026 [a usina] seja finalizada para ser ativada em 2027".
A retomada da obra física ainda precisa de vários passos jurídicos e ambientais a serem seguidos e tem apoio do BNDES para captação dos investimentos que visam a conclusão da usina. "Falta fechar o que a gente chama de sala do reator e colocar parte dos grandes equipamentos. [...] por ano se gasta mais de R$ 300 milhões só em manutenção", revela.
A energia nuclear é segura?
O especialista desmente ainda que a usina nuclear não seja uma fonte de energia segura:"Estamos falando de um dos sistemas mais seguros do mundo", e compara: "Só existe uma coisa mais segura do que uma usina nuclear em termos de acidente, é o elevador", aponta o presidente da ABDAN.
Ele adiantou que uma pesquisa pública feita pela Eletrobras demonstrou dados positivos da percepção pública acerca da energia nuclear, porém as informações ainda não foram reveladas. "Como qualquer coisa tem o lado bom e lado mau", comparando a incidentes recentes da usina petroleira. Mas garante que usinas nucleares são seguras.
Sobre os recursos nacionais, Cunha conta que o Brasil domina todas as fases e tecnologias de enriquecimento de urânio, o que o diferencia de outros países como a França, que não tem o minério em território nacional, por exemplo.
Reciclagem do 'lixo nuclear'
"Se é lixo é porque alguém vai jogar fora, se alguém vai jogar fora, dá pra mim que eu vou ficar bilionário", brincou Celso Cunha, para explicar que no caso dos resíduos recicláveis nucleares, não devemos chamar de lixo, mas sim de combustível empobrecido.
O presidente da ABDAN relata que a Eletronuclear optou por armazenar os resíduos operacionais das usinas nucleares e não pela reciclagem e explica que quando se recicla combustível empobrecido, surge como subproduto o plutônio, que é usado para armas nucleares."Hoje, o Brasil optou pelo armazenamento do combustível empobrecido e não de fazer a reciclagem ainda. Pode ser que no futuro a gente faça isso, existe muito estudo acadêmico [em andamento]", também confirmando que uma empresa norte-americana construiu recentemente unidades de armazenamento para estes combustíveis empobrecidos das usinas de Angra.Plano Nacional de Energia (PNE)O ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, defende a energia nuclear como alternativa para minimizar crises hídricas, como a atravessada pelo Brasil atualmente. No entanto, críticos e ambientalistas apontam riscos altos frente à capacidade de geração de energia que a sequência de Angra 2 poderia gerar. Se concluída, a terceira unidade terá uma potência de 1,4 gigawatts e poderá atender 4,5 milhões de pessoas.Celso Cunha enfatiza que a prioridade do PNE é a energia nuclear, visto que energias renováveis como solar e eólica são intermitentes e "não são capazes de manter um sistema sozinhas"."Elas [as energias renováveis] precisam de alguém que gere a energia de base. As hidrelétricas faziam esse papel e regulavam o sistema", segundo ele.O especialista afirma ser inviável construir novas hidrelétricas e recorda o fator da seca hídrica. Como o sistema brasileiro é interligado, Cunha aponta que as únicas alternativas de alta capacidade de geração de energia que podem abastecer o sistema como um todo acabam sendo as termelétricas, energia a gás ou termonuclear.
O presidente da ABDAN é um grande defensor da energia nuclear como a mais limpa das alternativas e aposta nela como a melhor solução para ter uma "bateria" com capacidade de armazenamento de energia para o Brasil.
Eletronuclear pós privatização da Eletrobras
A Eletronuclear, responsável pelas usinas nucleares de Angra dos Reis, é uma das subsidiárias da Eletrobras, que está em processo de privatização. A Eletronuclear e a Itaipu foram poupadas. No caso da primeira, o motivo é que a exploração do urânio, de acordo com a Constituição Brasileira é monopólio da União, e não pode ser privatizada.
Cunha vê como caminhos "a criação de uma holding para administrar as duas" ou a própria "Eletronuclear virar uma holding" e assim administrar as usinas nucleares e Itaipu. Celso Cunha não vê com maus olhos a participação da iniciativa privada no processo de viabilização dos empreendimentos, mas acredita que a administração precisa ser do Estado.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação da Sputnik
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- 03/07/2021 - Relatório técnico sobre Angra 3 deve ser apresentado até o final deste anoEquipes do Brasil, Bélgica e Espanha que integram o consórcio para a conclusão das obras na usina iniciaram a avaliação no último dia 30 de junho
Equipes do Brasil, Bélgica e Espanha que integram o consórcio para a conclusão das obras na usina iniciaram a avaliação no último dia 30 de junho
Fonte: CNN BrasilO consórcio Angra Eurobras NES, vencedor da concorrência para estruturação do projeto de retomada e término das obras daUsina Nuclear Angra 3, apresenta, até o final deste ano, relatório da avaliação técnica de todo o conjunto construído até hoje e o que falta construir naquela unidade da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), localizada em Angra dos Reis, município da Costa Verde fluminense.
A CNAAA é composta por mais duas usinas (Angra 1 e Angra 2), já em operação comercial. Angra 3 terá potência instalada de 1.405 megawatts (MW) e cerca de 82 mil metros quadrados (m²) de área construída, o equivalente a dez campos de futebol.
O consórcio Angra Eurobras NES tem como líder a Tractebel Engineering Ltda. e é formado também pelas empresas Tractebel Engineering S.A. e Empresários Agrupados Internacional S.A.
Para o presidente da Tractebel na América Latina, Cláudio Maia, "a parte mais intensa do trabalho está nos primeiros seis meses”. As equipes do Brasil, Bélgica e Espanha que integram o consórcio iniciaram os trabalhos no último dia 30, um dia após a assinatura do contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Maia assegurou que o relatório que será entregue ao final de seis meses é a parte mais crucial desse projeto. O contrato com o BNDES tem prazo de execução de 24 meses.
De acordo com o banco, a contratação do consórcio faz parte dos serviços técnicos que a instituição presta desde 2019 à Eletronuclear, subsidiária da Eletrobrasque cuida da administração e operação das usinas nucleares, com o objetivo de estruturar o modelo jurídico, econômico e operacional de parceria junto à iniciativa privada, para a construção, manutenção e exploração de Angra 3.
Mobilização
"É um time internacional”, destacou Cláudio Maia em entrevista ontem (2) à Agência Brasil, referindo-se às equipes do Brasil, da Tractebel Bélgica e da Empresários Agrupados, da Espanha. Maia explicou que esse conjunto de expertise domina a tecnologia nuclear há muitos anos. "São empresas de referência não atreladas a uma única tecnologia nuclear, ou seja, são empresas que conhecem todas as tecnologias nucleares. Os times já estão mobilizados, desde o dia da assinatura do contrato”, afiançou.
O consórcio vai estruturar as ações que levarão à conclusão de Angra 3, cuja construção foi iniciada em 1984 e interrompida duas vezes, a última das quais em 2015. A usina está paralisada, com as obras apresentando avanço físico entre 50% e 60%. "Isso significa que, para a retomada, é necessário que se conheça, por meio de uma diligência técnica, a avaliação de tudo que já foi construído e o que ainda falta construir”. Essa é a primeira etapa do trabalho, estimada em seis meses, do total de 24 meses do contrato. "Para construir, você precisa de complemento de projeto, complementos de precificações, etc”, disse Maia.
O primeiro semestre do contrato considera também estimativas de custo e prazo para realizar as obras remanescentes. O presidente da Tractebel na América Latina explicou que é preciso que a diligência técnica aconteça nos próximos seis meses, para atender o cronograma necessário à contratação de epecistas, ou empresas construtoras, que se encarreguem da construção e comissionamento da usina, dentro do que está estabelecido na programação da Eletrobras/Eletronuclear. Nos empreendimentos em regime EPC (do nome em inglês ‘Engineering, Procurement & Construction’), o contrato prevê fornecimento de equipamentos, materiais e serviços de construção, além do projeto básico e do executivo.
O BNDES indicou, por meio de sua assessoria de imprensa, que Angra 3 poderá ter um ou mais contratos de EPC, dependendo das recomendações técnicas a serem feitas pelo consórcio contratado.
Propostas
Após essa fase, será realizada uma etapa de trabalhos mais associada ao atendimento às necessidades do contratante do consórcio, que é o BNDES, e que deverão estar atreladas às propostas das construtoras que vão chegar nesse período. "Avaliação, comparação, equiparação das diversas ofertas para os pacotes de obras que, inclusive, vão ser definidos ao longo dos estudos do consórcio”. Maia afirmou que o consórcio Angra Eurobras NES vai auxiliar a contratante Eletronuclear na análise das propostas que serão apresentadas. "Esse é um outro momento da retomada de Angra 3. As propostas precisam estar aderentes aos requisitos que vão ser levantados durante a diligência técnica”.
Segundo Cláudio Maia, o escopo principal do consórcio é determinar os aspectos técnicos que serão necessários para incorporar nas propostas dos epecistas, visando atender às características desse projeto, que é muito particular, tendo em vista que a tecnologia da época da origem do projeto está ultrapassada e é necessário incorporar o melhor da tecnologia recente e mais avançada. Essas diretrizes que a diligência técnica do consórcio vai fornecer serão repassadas às potenciais empresas construtoras candidatas à conclusão da usina, para que elas tenham total segurança.
Disputa
O presidente da Tractebel na América Latina informou ainda que, em paralelo, haverá o processo de disputa das construtoras, durante o qual o time técnico do consórcio poderá auxiliar o BNDES e a Eletrobras/Eletronuclear na comparação das propostas, identificação se elas atendem aos requisitos necessários apontados, "para que essas ofertas possam ser analisadas à luz da mesma base”. A estimativa de investimentos faz parte do trabalho do consórcio.
Angra 3 tem previsão de entrada em operação no fim de 2026 e vai gerar mais de 10 milhões de megawatts (MWh) por ano, energia suficiente para atender em torno de 6 milhões de residências. O BNDES destacou que, "além disso, como se trata de geração sem dependência de condições climáticas, a usina contribuirá para o aumento da confiabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN)”.
Cláudio Maia não tem dúvida de que Angra 3 é importante para evitar risco de novo apagão no país. "É uma usina muito próxima do centro consumidor do Brasil e, certamente, ela terá importância fundamental para mitigar futuras questões climáticas de seca, que pressionam os reservatórios. Certamente, não somente Angra 3, mas qualquer geração adicional que venha a se incorporar na nossa matriz, vai ajudar a mitigar qualquer problema de seca no futuro”.
O diretor de Privatizações do BNDES, Leonardo Cabral, avaliou que "a contratação do consórcio, composto por empresas com vasta experiência em assessoramento à implementação de usinas nucleares no mundo, permitirá que se projete ao mercado a confiança necessária para atrair parceiros construtores de primeira linha e uma ampla gama de agentes financiadores no Brasil e no mundo”.
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- 03/07/2021 - Irã diz que só enviará imagens de usinas nucleares à ONU após acordo com EUAPaís gera tensão ao não disponibilizar imagens de instalações nucleares para Agência Internacional de Energia Atômica e compromete renovação de acordo com EUA
País gera tensão ao não disponibilizar imagens de instalações nucleares para Agência Internacional de Energia Atômica e compromete renovação de acordo com EUA
Fonte: CNN BrasilO Irã planeja impedir que os inspetores da agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) revisem as imagens de vídeo de algumas instalações nucleares até que haja uma adesão para salvar o acordo nuclear com o Irã, disse um alto funcionário iraniano à CNN.
A decisão pressiona as negociações em andamento em Viena, sede da ONU, na Áustria, que buscam fazer com que os Estados Unidos e o Irã voltem a cumprir o acordo de 2015, que ficou conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês).
"Se as negociações derem certo, o Irã certamente mostrará as fitas para a AIEA", disse o oficial. "O compartilhamento das fitas depende da forma como as negociações vão prosseguir. A chave da questão é o acordo. Se eles concordarem em algo que abrirá as portas para cooperação e melhor entendimento inclusive na área de transparência”.
O acordo entre a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e o Irã para permitir a revisão de vídeos em algumas instalações nucleares iranianas expirou há mais de uma semana, deixando um ponto cego para a comunidade internacional no que diz respeito a certos elementos do programa nuclear iraniano.
O secretário de Estado Tony Blinken disse que os EUA têm sérias preocupações sobre o lapso do acordo, e essas preocupações foram compartilhadas com o Irã. No mês passado, um alto funcionário do Departamento de Estado disse que não prorrogar o acordo da AIEA tornaria "muito mais complicado" voltar ao acordo.
Quando questionado sobre a decisão do Irã, um porta-voz do Departamento de Estado disse que os EUA "deixaram claro que o Irã deve continuar tomando as medidas necessárias para preservar as informações de monitoramento do JCPOA", acrescentando que "qualquer falha em fazê-lo seria inconsistente com o desejo expresso do Irã de um retorno mútuo para Conformidade com JCPOA o mais rápido possível. "
A AIEA não se pronunciou a respeito.
Embora a sétima rodada de negociações ainda não tenha sido anunciada, as autoridades americanas e iranianas reconhecem discretamente que as negociações estão entrando em um período crítico.
Quando o presidente eleito do Irã, considerado linha dura, Ebrahim Raisi, assumir suas funções em agosto, será muito mais difícil fechar um acordo, a menos que já haja concordâncias entre si, disseram fontes e especialistas regionais à CNN.
O Irã não tem intenção de destruir as imagens de vigilância nas instalações nucleares enquanto as negociações em Viena continuarem, de acordo com o oficial que acrescentou que Teerã decidiu manter as imagens escondidas da AIEA agora porque eles estão permitindo a diplomacia proceder.
Mas há preocupações sobre o Irã cumprir esse compromisso, especialmente entre os céticos do país. Na semana passada, de acordo com relatórios, o presidente do parlamento do Irã adotou um tom mais absolutista: alegando que nenhuma das informações registradas "jamais" será compartilhada com a AIEA.
"Se as negociações progredirem e um acordo começar a se solidificar, acho que o escrutínio político se intensificará entre os republicanos e os democratas agressivos, e a incerteza sobre o progresso nuclear do Irã nos últimos meses fará parte dessa preocupação", disse Henry Rome, analista da Eurasia Group.
A autoridade iraniana rejeitou qualquer ideia de que impedir o acesso da AIEA agora poderia impedir um acordo, citando o fato de que a AIEA eventualmente seria capaz de ver a filmagem completa assim que um acordo que trouxesse os EUA de volta ao cumprimento do JCPOA fosse fechado.
Mesmo assim, dada a natureza delicada do próximo mês, há alguns temores de que a decisão do Irã de impedir a AIEA de acessar as imagens de vídeo possa colocar as negociações em perigo em um momento crítico.
Outros dizem que, embora seja um momento perturbador, não é motivo para pânico, especialmente devido ao desafio de analisar a motivação do Irã.
"Isso coloca uma pressão adicional de tempo nas negociações porque há algumas semanas disso não é bom e há alguns meses é um grande problema. Também é preocupante ver os iranianos assumirem esta posição e o que isso pressagia para negociações mais amplas. Mas pode ser apenas uma postura iraniana antes de voltar ao acordo nuclear ", disse Ilan Goldenberg, diretor de segurança do Oriente Médio do CNAS.
Nas últimas semanas, o governo Biden disse que ainda há diferenças significativas nas negociações e deixou claro que está de olho no relógio à medida que as negociações continuam. Ainda não está claro quando, precisamente, os EUA sairão das negociações, mas Blinken disse na semana passada que esse ponto viria se o Irã continuasse a desenvolver seu programa nuclear além do que é permitido no acordo nuclear iraniano.
"Se isso continuar, se eles continuarem a girar centrífugas cada vez mais sofisticadas em níveis cada vez mais altos, chegaremos a um ponto onde será muito difícil do ponto de vista prático" voltar ao negócio como foi inicialmente acordado, disse ele ao jornal The New York Times.
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- 29/06/2021 - "Energia nuclear é limpa e segura", declara ministro a Rodrigo ConstantinoFonte: Rede TVDurante o "Opinião no Ar" desta terça-feira (29), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pontua que a energia nuclear é uma fonte limpa e segura. E esclarace que ela tem uma outra grade vantagem que é a sua capacidade de geração na casa dos 90%.
Segundo o ministro, apostar em energia nuclear é importante para preservar o reservatório hídrico. Bento Albuquerque também fala sobre as usinas Angra 1, 2 e do edital de Angra 3.
Lacombe pergunta sobre o uso do nióbio em energia. Ministro explica que o governo já estuda o uso de minerais estratégicos no setor elétrico e em outros. #OpiniaonoAr
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- 29/06/2021 - BNDES contrata consórcio para elaborar projeto de conclusão de Angra 3A usina tem previsão de entrar em operação no final de 2026
A usina tem previsão de entrar em operação no final de 2026
Fonte: CNN BrasilO Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinou contrato com o consórcio Angra Eurobras NES para a estruturação do projeto de retomada e conclusão das obras da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, informou o banco de fomento nesta terça-feira (29).
Formado pelas empresas Tractebel Engineering (líder) e Empresários Agrupados Internacional, o consórcio terá a atribuição de definir a projeção dos investimentos necessários à implementação do projeto, o cronograma detalhado da obra e a especificação de como se dará a contratação de uma ou mais construtoras para a realização dos trabalhos.
Iniciada em 1984, a construção da unidade pela Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, foi interrompida duas vezes --a última em 2015, quando pouco mais de 60% do empreendimento já tinha sido concluído.
Atualmente, a entrada em operação de Angra 3 está prevista para o fim de 2026, com capacidade para gerar mais de 10 milhões de MWh por ano, energia suficiente para atender aproximadamente 6 milhões de residências.
A Eletronuclear, assim como a subsidiária Itaipu, deixarão de ser subsidiárias da Eletrobras, que será privatizada. O governo criará uma nova estatal que irá reunir as duas empresas.
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- 28/06/2021 - Brasil volta a apostar em energia nuclearGoverno Bolsonaro tenta finalizar controversa usina de Angra 3, projeto dos anos 1970 atualmente paralisado. Central essencialmente idêntica na Alemanha foi desativada por questões de segurança.
Governo Bolsonaro tenta finalizar controversa usina de Angra 3, projeto dos anos 1970 atualmente paralisado. Central essencialmente idêntica na Alemanha foi desativada por questões de segurança.
Fonte: DW BrasilO governo Jair Bolsonaro retoma nesta semana o controverso projeto de construção da usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro. As obras foram iniciadas ainda durante a ditadura, em 1984, mas estão paralisadas desde 2015, após escândalo de corrupção.
Até o momento,65% das obras estão finalizadas, ao custo de R$ 7,8 bilhões. Para o resto, estima-se que serão necessários mais 15 bilhões. O edital já foi lançado, e o processo continua nesta terça-feira (29/06), com a abertura de propostas do setor privado.
O objetivo é adiantar as atividades de construção antes mesmo da contratação da empresa que fará a obra em sua totalidade. Segundo a Eletrobras, estatal do setor de energia elétrica, mostraram interesse na conclusão de Angra 3 mais de 20 empresas, como a Westinghouse (EUA), EDF (França) e Rosatom (Rússia), além de CNNC e SNPTC (China).
No Brasil, a exploração da energia nuclear é monopólio da União, segundo a Constituição. O governo Bolsonaro quer, com o edital, atrair um parceiro para a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras responsável pela usina.
O ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, defende a construção de usinas nucleares como alternativa para minimizar crises hídricas como a atravessada pelo Brasil atualmente.
Se concluída, a unidade terá uma potência de 1,4 GWe poderá atender4,5 milhões de pessoas. Para críticos, o custo é muito alto frente àcapacidade de geração da usina.
Projeto dos anos 1970
A retomada das obras gera, além disso, apreensão entre especialistas, que veem Angra 3 como um projeto obsoleto. Uma usina essencialmente idêntica na Alemanha, parceiro histórico do Brasil no desenvolvimento de energia nuclear, foi desligada devido aos riscos.
"A tecnologia de Angra 3 é basicamente a mesma do projeto original, definido há mais de 40 anos", diz Célio Bermann, professor associado do Instituto de Energia e Ambiente da USP. "As mudanças alegadas pelo governo são superficiais, não atingem os equipamentos mais importantes. Essa é uma pseudomodernização."
O Ministério das Minas e Energia (MME) não vê problema no fato de a usina ter sido planejada nos anos 1970. Procurada pela DW Brasil, a pasta disse que foram feitas "mudanças na concepção original"e incorporadas "modernizações tecnológicas" ao longo do tempo.
Várias alterações ainda estão previstas, segundo o ministério, que cita "a adoção de controles digitais"e "um reforço na resistência a terremotos e maremotos", desenvolvido depois do desastre de Fukushima, em 2011, no Japão.
Angra 3 foi planejada no âmbito do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, assinado em 1975. As obras foram paralisadas após descoberta de um esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. As investigações levaram à prisão de executivos da Eletronuclear, como o almirante Othon Pinheiro da Silva, ex-chefe da companhia.
Alemanha não aprovaria Angra 3 hoje
Com uma experiência de quase 40 anos em vários ministérios alemães na área de segurança nuclear e proteção contra a radiação, o engenheiro Dieter Majer diz à DW Brasil que hoje uma usina baseada no modelo previsto para Angra 3 não seria aprovada na Alemanha, "por não corresponder à situação atual no campo da ciência e da tecnologia".
Em 2012, protesto na Alemanha pedia o fim de Angra 3: um ano antes, Merkel decretara o fim da energia nuclear no paísPouco depois da catástrofe na usina nuclear japonesa de Fukushima, em 2011, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, se comprometeu a desligar todas as usinas nucleares do país. À época, os planos determinaram a paralisação das oito unidadesmais antigas do país, além do fechamento de outras nove, até 2022.
Majer lembra que a usina de Grafenrheinfeld - "essencialmente idêntica às unidades de Angra 2 e Angra 3"- teve que ser retirada precocemente da rede, depois do acidente de Fukushima. O motivo foram "déficits de segurança relevantes", mesmo após ser modernizada ao longo dos anos.
Para atingir os atuais padrões internacionais tecnológicos e científicos, Angra 3 teria que ser totalmente replanejada, segundo o especialista alemão: "Uma reforma apropriada não é possível em termos de tecnologia de construção e maquinário."
Na contramão da Alemanha, o governo Bolsonaro promete agora voltar a investir no setor, considerado prioritário. Entre os motivos para a retomada, o Ministério das Minas e Energia cita "os grandes recursos de urânio"e o "pleno domínio do ciclo do combustível nuclear"já alcançado pelo Brasil, além da necessidade de instalação "de 8 a 10 GW de fonte nuclear".
A Eletrobras destaca que Angra 3 vai produzir "energia limpa", "ao contrário das termelétricas movidas a combustíveis fósseis",que precisam ser acionadas para aliviar hidrelétricas em caso de estiagem.
Especialista denuncia falta de transparência
Autora de três livros sobre a questão nuclear no Brasil, entre eles,Bomba atômica! Pra quê? Brasil e energia nuclear, recém-lançado em versão ebook, a jornalista Tania Malheiros diz que o acesso a informações sobre o setor ficou mais difícil no governo Bolsonaro.
Segundo Malheiros, há cerca de um ano, a usina de Angra 2 precisou ser desligada"depois que foram detectados problemas de ferrugem nos tubos das varetas de combustível nuclear". Mas, apesar de seus inúmeros pedidos de explicação, "nada foi divulgado". "Não há transparência", afirma.
A jornalista lembra que o histórico da usina é marcado por "denúncias de corrupção e sangria de recursos provocada por má gestão", e lamenta a dívida acumulada pela Eletronuclear, gestora de Angra 3, que ainda deve R$ 6,6 bilhões ao BNDES e à Caixa Econômica Federal. "Só por causa de uma única usina, o Brasil produziu uma dívida dessa ordem. Como chegamos a esse ponto?", indaga.
Acordo com a Alemanha em xeque
Assinado nos anos 1970, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha prevê uma cooperação bilateral para "uso pacífico da energia nuclear". Pelo acordo, oito usinas nucleares seriam construídas - mas apenas Angra 2 virou realidade. Angra 3 deve entrar em operação em 2026, se os planos do governo Bolsonaro derem certo.
Até lá, no entanto, é possível que o acordo não esteja mais em vigor. Renovado a cada cinco anos, ele expira em 2025. Ele poderá ser torpedeado pelo Partido Verde alemão, que, segundo pesquisas, tem chances de fazer parte de uma coalizão de governo após as eleições gerais de setembro na Alemanha. Para os verdes, o país deveria se tornar um modelo mundial para o abandono da energia nuclear.
O governo alemão admite que a situação mudou. Em resposta à DW Brasil, o Ministério do Meio Ambiente disse que, com a mudança de atitude do governo federal da Alemanha em relação ao uso de energia atômica, "os acordos e arranjos de cooperação bilateral da década de 1970"na área do uso pacífico da energia atômica com o Brasil "tornaram-se, em grande parte, obsoletos".
Mas, para o governo alemão, eles ainda podem ser úteis em termos de cooperação bilateral, para melhorar a segurança das instalações nucleares por meio de trabalho técnico e científico conjunto. O que não significa um sinal verde para novas instalações: "A Alemanha se recusará a trabalhar em conjunto para construir novas usinas nucleares"com o Brasil, disse o Ministério.
Segundo o Ministério de Minas e Energia brasileiro, o acordo nuclear com a Alemanha "ainda é relevante para o Brasil". Tanto Angra 2 quanto Angra 3, segundo o ministério, "contam com tecnologia alemã Siemens/KWU (hoje, Framatome ANP), que continua a fornecer suporte técnico"para as duas usinas.
Para o professor Bermann, com ou sem acordo, o Brasil corre o risco de ficar sem a consultoria técnica alemã. "Com o tempo, não haverá mais ninguém na Alemanha com capacidade para dar esse suporte. Mesmo que os competentes institutos do setor queiram dar assistência, eles não estarão mais trabalhando com essa tecnologia, que já está superada."
Obra seria mais barata que o desmonte
Do investimento total de R$ 15 bilhões previstos para Angra 3, a Eletrobras já liberou R$ 1,052 bilhão em 2020, e tem previstos mais R$ 2,447 bilhões para 2021, segundo o Ministério das Minas e Energia. A usina é vista como "fundamental"para o fornecimento de energia para a região Sudeste.
O professor de Engenharia Nuclear da Coppe/UFRJ ee ex-presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) Aquilino Senra defende a conclusão de Angra 3. Para ele, "seria necessário arcar com um prejuízo de cerca R$ 15 bilhões de reais para o desmonte da estrutura já existente, a quitação de empréstimos já realizados, multas contratuais e a desativação completa do canteiro de obras".
Para críticos, porém, o alto custo do desmonte "é um argumento a mais" para se abrir mão da energia nuclear. "Isso, sem falar na questão da segurança e do lixo atômico, até hoje sem uma solução definitiva", diz Bermann. "Temos alternativas, como a eólica, a solar e a biomassa – que são intermitentes, mas podem ser gerenciadas em conjunto com a hidráulica, e assegurar energia o tempo todo", resume.
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- 28/06/2021 - Defesa Civil inova em curso de produtos químicos e abrange instituições de 14 unidades da federaçãoFonte: Governo do Estado de Mato Grosso do SulEntre os dias 22 à 28 de junho a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Mato Grosso do Sul (CEDEC/MS) em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) e Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) promoveu o curso "Atendimento de 1ª Resposta com Produtos Químicos, Biológicos, Radiológicos e Nucleares (QBRN)”.
Realizado pela primeira vez na modalidade EaD (Ensino à Distância), o curso contou com 471 inscritos de todas as regiões do País: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Minas Gerais (MG), Amazonas (AM), Pernambuco (PE), Paraná (PR), Santa Catarina (SC), Sergipe (SE), Alagoas (AL), Ceará (CE), Paraíba (PB), Pará (PA), Espírito Santo (ES) e Distrito Federal (DF).
O Coordenador Estadual de Defesa Civil, Fábio Santos Catarinelli, explica que o curso na modalidade presencial limitava o número de participantes, mas que as medidas restritivas da pandemia de Covid-19 fizeram com que o curso tivesse a formatação virtual,possibilitando a ampliação para outros estados brasileiros com número recorde de participantes.
"O formato online é uma inovação e foi muito positivo. A Defesa Civil no País abre a possibilidade para outras instituições que trabalham com produtos químicos participem do curso. A ideia para o futuro é manter o treinamento disponível na rede”, avalia.
Proteção radiológica; Fontes de Radiação Ionizante; Transporte de Material Radioativo; Segurança Radiológica e Nuclear em grandes eventos públicos; Atendimento resposta com produtos Químicos e Biológicos; Atendimento Pré-Hospitalar e Radioacidentados; e Uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) foram os conteúdos abordados no conteúdo programático.
O curso foi definido diante da necessidade de aprendizagem e atualizações de protocolos existentes para prevenção e resposta à desastres QBRN, por todas instituições nacionais, estaduais e municipais, levando em conta o crescente número de Indústrias, hospitais de radioterapia, medicina nuclear e laboratórios no Estado.
As instituições participantes foram: Corpo de Bombeiros Militar, Cruz Vermelha Nacional, Guarda Civil Metropolitana de Campo Grande e Dourados, Polícia Militar, Polícia Militar Ambiental, Guarda Civil Ambiental de Campo Grande e Dourados, Defesa Civil dos municípios de Campo Grande, Dourados, Três Lagoas, Corumbá, Naviraí, Paranaíba e Nioaque, Instituto de Meio Ambiente (Imasul), Vigilância Sanitária, Secretarias Municipais de Saúde, Força Tarefa Brasileira, Centro de Proteção Ambiental do CBMMS e Comando Militar do Oeste (CMO).
O curso teve a organização da Comissão Estadual do Plano de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida a Emergências Ambientais com Produtos Químicos Perigosos (CE P2R2/MS) e teve como palestrantes o Carlos Alberto Rodrigues dos Santos, José Francisco Pereira, Raul dos Santos, Vanessa de Bonis, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e Carlos Roberto de Assis Filho, consultor especialista em QBRN.
Mireli Obando, Subcom (com informações da Cedec/MS)
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- 26/06/2021 - Entenda a criação da Autoridade Nacional de Segurança NuclearA autarquia vai fiscalizar todas as atividades nucleares no país
A autarquia vai fiscalizar todas as atividades nucleares no país
Fonte: TV BrasilO Ciência é Tudo desta semana fala sobre a criação da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN). A autarquia tem o objetivo de fiscalizar todas as atividades nucleares realizadas no Brasil. Vamos entender os motivos que levaram à criação da ANSN e saber como ela vai realizar essa missão.
A Autoridade Nacional de Segurança Nuclear atende aos anseios da comunidade internacional do setor nuclear, assim como várias solicitações do Tribunal de Contas da União (TCU) e de outras organizações do Brasil, a respeito da necessidade da separação entre a fiscalização e a execução de atividades no setor.
Vamos ver também como a energia nuclear é utilizada, quais os destinos mais comuns dela e suas vantagens para o país, além de entender o que é o Programa Nuclear Brasileiro e os tipos de pesquisa que estão sendo realizados na área.
O Ciência é Tudo vai ao ar todos os sábados, às 9h30, na TV Brasil. É possível assistir aos episódios também no site e no canal do Youtube da TV Brasil.
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- 24/06/2021 - Radiados do OlímpicoEstádio da Copa América em Goiânia serviu de campo de refugiados no maior acidente radiológico do mundo
Estádio da Copa América em Goiânia serviu de campo de refugiados no maior acidente radiológico do mundo
Fonte: UOLFoi uma das primeiras coisas que ouvi quando cheguei ao estádio Olímpico, em Goiânia — onde a seleção joga no domingo (27). Enviado para cobrir a Copa América, tinha estudado sobre a história: o maior acidente radiológico do mundo acontecera ali, em 1987.
Naquela ocasião, o gramado do Olímpico servira como abrigo. Era um acampamento para as vítimas primárias da abertura da cápsula contendo 19,26 gramas de césio-137, substância radioativa.
A passos apertados, saí do estádio rumo ao (mal)dito terreno. O local fica em um bairro residencial. Pessoas circulam pelas ruas e, muitas vezes, nem sabem que foi ali que tudo ocorreu — constatei isso ao tentar me informar.
Quando cheguei, a primeira coisa que chamou atenção foi o concreto — você pode ver na foto acima. Vazio até hoje, o terreno da rua 57 não tem grama alta ou lixo, como seria comum a terrenos baldios, apenas uma imensidão concretada (até três metros para dentro do solo, como contaram depois). Tudo para evitar que a radiação se propague.
No muro ao fundo, um grafite conta a terrível história daquele lugar: um homem azul, cor do césio-137, eleva em sua mão uma pedra, representada por uma caveira cercada por raios — que você vê na foto abaixo. Naquele momento, há 34 anos, os catadores Roberto dos Santos Alves e Wagner Mota Pereira ainda não sabiam o mal que estavam libertando da pesada peça de chumbo que tinham encontrado.
O que é césio-137?
A cápsula encontrada em Goiânia era a fonte radioativa de um aparelho de radioterapia abandonado. o equipamento era usado para bombardear células cancerígenas e destruí-las sem afetar os tecidos próximos. O césio estava dentro do aparelho e de uma blindagem.
Quando essa cápsula blindada foi rompida, o césio-137, um pó azulado que brilha no escuro, foi liberado. O problema é que materiais radiativos como esse emitem radiações ionizantes, feixes de partículas ou de ondas eletromagnéticas capazes de atravessar corpos sólidos, afetando estruturas atômicas. Radiações assim podem provocar lesões nas células e tecidos vivos, causando uma série de efeitos nocivos — esses efeitos caracterizam o envenenamento por radiação.
Tapumes
Roberto e Wagner eram simples catadores que buscavam objetos de valor para vender. "A verdade é que eles invadiram uma propriedade e roubaram a peça", disse um ex-jogador muito conhecido na cidade, mas que pediu para não ter seu nome divulgado na reportagem.
De fato, a dupla invadiu um terreno abandonado para ter acesso a uma enorme, e, para eles, valiosa, peça de chumbo. A culpa, no entanto, não fora dos catadores, mas de quem abandonou o material ali. Os donos do antigo Instituto Goiano de Radioterapia seriam mais tarde responsabilizados.
Coletaram a peça onde hoje fica o Centro de Convenções da cidade. De lá, transportaram até a rua 57 por um trajeto curto, de menos de 1 km.
No quintal da casa de Roberto, a dupla tentava de tudo para separar o chumbo. As marretadas foram ouvidas pela vizinhança. Daniel de Lemes, 42, subiu no muro para ver o que estava acontecendo.
"Eles tentavam quebrar e, lembro, tinham um pastor alemão que latia, latia, latia. Depois que tudo foi descoberto, também por sobre o muro, eu vi darem a injeção para sacrificar o cachorro, que tinha se tornado fonte de radiação", contou Lemes enquanto fritava um pastel no estabelecimento da família, a mais antiga pastelaria de Goiânia.
O que talvez o amigo de quatro patas tentava avisar era que aquela peça representava perigo mortal a todos. Dias depois, quando tudo foi revelado, Daniel acordou com tapumes isolando a rua.
"Eles entravam nas casas e levavam tudo. Um amigo tinha acabado de comprar um som, e o exército levou por causa da radiação. Se o Roberto tivesse conseguido abrir na casa dele, teria trazido pro mercado e seria ainda pior."
Daniel de Lemes, dono de uma pastelaria a meia quadra de onde tudo aconteceu, em região movimentada na época.A triagem
Sem conseguir abrir o objeto da forma que gostariam, Roberto e Wagner venderam a peça ao ferro-velho de Devair Alves Ferreira. Foi Daniel quem me explicou o curto caminho de cerca de 700 metros da rua 57 até o antigo estabelecimento.
Já acostumado à ideia do concreto, o terreno da rua 26 não me surpreendeu com isso, mas sim com o tamanho. Era três vezes maior que o primeiro e muito mais "malcuidado". A grama crescia nos espaços entre o concreto e até uma árvore se arriscava a ocupar um lugar ao fundo (o terreno e o detalhe na imagem acima) —me informaram, depois, que medições constantes são feitas no local e que não há perigo na vegetação.
Ali, tudo se intensificou. Se na casa de Roberto as primeiras partículas foram liberadas, foi no ferro-velho de Devair que as primeiras pessoas que morreram no acidente foram contaminadas: sua esposa, Maria Gabriela, e seus funcionários, Israel e Admilson. A quarta e emblemática vítima foi a menina Leide das Neves, de 6 anos, que se alimentou com a mão suja e acabou ingerindo césio-137.
A demora em identificar o acidente fez com que partículas de césio-137 fossem distribuídas por Devair, maravilhado com o brilho azulado do material, para várias pessoas e se espalhassem pela cidade. Isso fez com que, voltando para a nossa sede da Copa América, filas enormes se formassem ao redor do complexo onde se encontra o estádio Olímpico para triagem: uma medição mostrava quem estava ou não infectado.
112 mil pessoas passaram por ali. Quem tinha um nível de radiação "acima do normal" era encaminhado a hospitais. No início, porém, houve quem passou pelos banhos de descontaminação.
Lembranças da tragédia
Eles passam a máquina em torno de seu corpo, como se fosse para detectar metais. Ela tem um barulho constante. Um 'tec-tec-tec'. Quando há radiação acima da média, esse barulho tem o ritmo acelerado. Então, o aparelho identifica até em distâncias maiores. Ela pode não estar com a saúde comprometida, mas naquele momento é uma fonte de radiação. Por isso a necessidade da limpeza especial."
Rogério Borges, jornalista que tinha dez anos na época. Ao lado, a máquina de detecção de radiação."Monitoraram minha mão e falaram que tinha contaminação. Me deram um banho humilhante, a gente com as mãos na parede, nu, uma mangueira bem forte e com uma vassoura mergulhada em um balde com produtos. Quando me liberaram, mandaram tomar cerveja porque a contaminação interna sairia na cerveja. O banheiro do boteco que frenquentava foi demolido por contaminação."
Odesson Ferreira, uma das principais vítimas, em entrevista ao jornal "O Popular""Tinha que fazer essa medição a cada semana. Uma vez o aparelho apitou comigo. Aí pediram pra eu tirar a camisa e era só a camisa. Lembro que meus pais me mandaram pro interior, pra morar com um tio por uns dias, mas ninguém queria andar comigo. Tinham medo. As mães diziam que eu era 'lá do césio' e não deixavam os filhos andarem comigo. Não demorou muito e eu voltei pra cá."
Daniel de Lemes, dono de uma pastelaria a meia quadra de onde tudo aconteceuDrama longe dos filhos
Sentada na mureta que impede que carros invadam o terreno da rua 26, Sueli Lina, presidente da associação das vítimas do césio-137, revela o dia em que levou o filho para tal triagem. Filas quilométricas davam voltas no local e pessoas se aglomeravam para saber se estariam elas próprias emitindo radiação.
Naquele dia, a roupa do filho de Sueli estava contaminada.
"Tiraram a roupa dele todinha, voltou pra casa só de cuequinha. Tinha seis anos na época. Mandaram dar banho de vinagre", lembrou.
Ela não perdeu tempo e levou seus filhos para longe do local onde morava, perto do ferro-velho de Devair. Quem morava por ali ou muito próximo da casa de Roberto tinha sido removido de suas residências e levado ao estádio Olímpico.
"Foi urgência no Olímpico. Tinha que tirar as pessoas das casas que estavam contaminadas e ninguém aceitava recebê-las, com medo. O estádio foi provisório até que encontraram a Febem (antiga sigla de Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor), que abrigou o pessoal por mais tempo."
Quem não pôde ficar ao lado dos filhos foi Luiza Odete. O contato direto do césio com sua pele a fez sofrer duplamente: mãe de quatro filhos, ela logo foi levada ao Rio de Janeiro para tratamento e perdeu qualquer tipo de contato direto com os filhos acampados no estádio. A caçula tinha apenas seis meses de vida.
"Eles (os filhos) não gostam nem de lembrar disso, por isso não querem falar do episódio. Pra mim foi muito difícil, porque fiquei sem informação deles. Perguntava aos técnicos da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) até que um dia arrumaram um rádio para que eu pudesse falar com eles."
Luiza Odete, uma das vítimas da tragédia em GoiâniaRadiados
Marcos Alexandre, 45, era da turma de Daniel. Seu pai era administrador do estádio Olímpico naquela época, e o muro dos fundos de sua casa era o mesmo do complexo que abriga a Copa América hoje.
Então com 11 anos, ele lembra de um telefonema na madrugada que tirou seu pai da cama e alertou para a gravidade da situação.
"Ligaram para ele e pediram para acender as luzes porque o exército estava vindo para Goiânia. O relógio de luz do Olímpico ficava dentro do nosso quintal", conta.
Pelo menos uma vez por semana, Marcos passava pela triagem para medir sua radiação. Ele não se mudou dali.Hoje treinador e professor de basquete, Marcos sofreu bastante com preconceito por causa do acidente. Quando viajava com um time, pessoas evitavam contato por saberem que ele era de Goiânia. "Diziam que eu estava radiado".
E o medo da população não era exclusividade de quem vivia fora de Goiânia. A região do acidente viu os preços de imóveis despencarem. Ninguém queria os "radiados" por perto, chegando a apedrejar o velório das vítimas, enterradas em caixões de chumbo de 700 kg com auxílio de um guindaste. Os túmulos foram revestidos de concreto e colocados no lado mais afastado do Cemitério Parque.
A história conta que só a mãe de Leide das Neves conseguiu se aproximar do caixão da filha sem ser agredida após apelo de Sônia Santillo, primeira-dama do Estado na época, que implorou: "Deixem a mãe enterrar sua filha".
Futebol contra o preconceito
O jornalismo tem desses momentos em que você se vê falando com a própria história. Foi assim que me senti ao ligar para Walter Mendes, físico — e posteriormente técnico da CNEN — que identificou o acidente em 1987. Ele explicou como e por que o estádio Olímpico, hoje reformado, como mostra a foto acima, fez parte disso tudo.
"Me chamaram pra identificar se o material poderia ser radioativo ou não. Eu identifiquei e falei com o governador do estado de Goiás e com a CNEN. Começamos a isolar a área e tirar as pessoas contaminadas. Nisso, foi escolhido o estádio Olímpico. A defesa civil armou barracas e essas pessoas ficaram ali e no outro dia de manhã foram para o hospital para verificar a situação delas", explicou.
As oito barracas e 26 moradores próximos aos locais do acidente que foram removidos para o gramado criaram na população uma aversão ao local. Não foram poucas as declarações que ouvi durante minhas andanças por Goiânia de que o local estava contaminado. Walter, por outro lado, explica que não e conta o que foi feito para provar isso à população: o bom e velho futebol.
"Se criou uma 'psicorradiofobia', e era perfeitamente natural, você não pode culpar a população porque não tinha informação. Estabeleceu-se um pânico. Criou-se uma celeuma desnecessariamente que estádio estava contaminado. E não estava. Toda a monitoração radiométrica mostrava que não estava. Para comprovar, foi feita uma partida de futebol no estádio entre os técnicos da CNEN na época e convocou-se a mídia para mostrar que não tinha nada."
O esquecimento
Eu sei, essa história não tem exatamente um final feliz. Mas o que podemos fazer? Nem tudo na vida é um conto de fadas. No entanto, pior que isso é esquecer, sabe? Nos mais de dez lugares que visitei para contar essa história para vocês, em todos eles eu procurei algo que só encontrei na última visita: uma homenagem às vítimas.
O quadro da Leide das Neves (ao lado) é a única menção. Ele fica no Cara (Centro de Assistência aos Radioacidentados) que conta com médico, enfermeiro, psicólogo e assistente social. As vítimas passam ali ao menos uma vez ao ano para monitoramento.
Além de atender mais de 1300 pessoas divididas em grupos de exposição, o local ainda conta com um centro de memória, onde Suely Barreto, 62, não deixa a história morrer.
"Foram 249 pessoas identificadas na triagem no Olímpico. 120 foram para casa e 129 tiveram que ficar em observação: 79 na Febem, casos mais leves, 30 no albergue, casos de contaminação maior, e 20 no hospital, mais graves. Dos 20, 14 foram para o Rio de Janeiro, em uma área da Marinha, para receberem cuidados especiais. E se você errar algum número eu vou puxar sua orelha!", me ameaçou a Suely, em tom de brincadeira.
Sua xará, Sueli Lina, presidente da associação das vítimas, contou que havia um projeto de memorial que seria erguido no terreno da rua 26. Segundo ela, a maquete era "muito bonita", mas a pandemia acabou paralisando tudo. Luiza Odete, tia de Leide das Neves, reconhece a importância da história não cair no esquecimento.
"Foi terrível, muito triste. Eu me emociono em falar no assunto. Eu falo porque sei que não pode cair no esquecimento. Mas eu sofri muito com a ausência dos meus filhos. Na época, eu fiquei lá no Rio e meus filhos aqui em mão de pessoas estranhas. Chegou momento de eu pensar que eu ia morrer, não ver mais meus filhos."
Para lamentar e homenagear sempre é necessário não esquecer jamais.
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- 23/06/2021 - Bolsas BEA - edital 03/2021Fonte: CNENA Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) divulga o Edital de Bolsa de Estudos Avançados (BEA) 03/2021. O objetivo é selecionar um bolsista para a execução do projeto "Certificação do Laboratório de Radiometria da Divisão de Radioproteção - DIRA/IRD junto ao CTBTO (Comprehensive Nuclear Test Ban Treaty Organization)"As inscrições, que podem ser feitas entre os dia 24 de junho e 5 de julho, deverão ser encaminhadas à Secretaria de Formação Especializada (SEFESP) da CNEN exclusivamente pelo e-mail sefesp@cnen.gov.br, tendo como assunto: "Edital BEA CNEN 03/2021 – Inscrição”.Para ler a íntegra do edital e os seus anexos, acesse o endereço eletrônico: http://antigo.cnen.gov.br/editais-de-concessao-de-bolsas -
- 23/06/2021 - Pós-doutorado em aceleração a laser no Instituto de Pesquisas Energéticas e NuclearesFonte: Agência FapespAgência FAPESP – Uma oportunidade de pós-doutorado com bolsa da FAPESP está disponível para o projeto "Capacitação científica, tecnológica e em infraestrutura em radiofármacos, radiações e empreendedorismo a serviço da saúde (PDIp)”. O prazo de inscrição termina em 9 de julho de 2021.
Conduzido no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), o projeto trabalha com aceleradores de prótons/elétrons a laser e suas aplicações e tem como objetivo acelerar prótons e/ou elétrons para atingir energias cinéticas de 10 milhões de elétrons-volt.
O candidato deve ter conhecimento experimental em uma ou mais das seguintes áreas: "Lasers”, "Plasmas induzidos por lasers, tanto em meios sólidos quanto em líquidos e gasosos”, "Produção de alvos para interações laser-plasma com perfil de densidade controlado e ajustável” e "Métodos de detecção de feixes de partículas”. Os feixes formados nesses plasmas serão caracterizados em sua divergência e monocromaticidade.
O candidato deve ter doutorado em lasers e instrumentação de detecção, com forte histórico de publicações.
Os interessados devem enviar e-mail para egp02@ipen.br com o título "Bolsa - PD Temático - Aceleração - LPA”, anexando currículo Lattes, MyCitation (Google Scholar) e projeto de no máximo duas páginas.
A seleção será feita por análise curricular, avaliação do perfil e da trajetória do candidato e análise de aderência às linhas de pesquisa do projeto. O resultado do processo seletivo será divulgado até 20 de julho de 2021.
Mais informações sobre a vaga em: www.fapesp.br/oportunidades/4329.
A oportunidade de pós-doutorado está aberta a brasileiros e estrangeiros. O selecionado receberá Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP no valor de R$ 7.373,10 mensais e Reserva Técnica equivalente a 10% do valor anual da bolsa para atender a despesas imprevistas e diretamente relacionadas à atividade de pesquisa.
Caso o bolsista de PD resida em domicílio fora da cidade na qual se localiza a instituição-sede da pesquisa e precise se mudar, poderá ter direito a um auxílio-instalação. Mais informações sobre a Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP estão disponíveis em www.fapesp.br/bolsas/pd.
Outras vagas de bolsas, em diversas áreas do conhecimento, estão no site FAPESP-Oportunidades, em www.fapesp.br/oportunidades.
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- 22/06/2021 - Entrevista | RMB: grande centro de pesquisa nuclear e um projeto estruturante e de arrasteFonte: ABENÀ frente do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), um empreendimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), sob responsabilidade e coordenação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), contando com parcerias técnicas da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul) e do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e do apoio do Governo do Estado de São Paulo, o coordenador técnico José Augusto Perrotta ressalta que o futuro reator de pesquisa dará início a um projeto estruturante e de arraste para o desenvolvimento da tecnologia nuclear no País. Em seu entendimento, o mesmo ocorreu nas décadas de 1950 e 1960, quando os reatores IEA-R1, TRIGA IPR-R1 e Argonauta entraram em operação, respectivamente, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) e Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), todas instituições vinculadas à Cnen.
"Os reatores de pesquisa desempenharam um papel muito importante no Brasil, pois geraram institutos de pesquisa e desenvolvimento da tecnologia nuclear. Eles formam gerações de técnicos, desenvolvem tecnologia e propiciam a manutenção do conhecimento. Tudo isso proporciona inovação, produtos e serviços para a sociedade. O RMB é mais um desses institutos que vai ser erguido. Começamos com um reator de pesquisa de 30 megawatts (MW), mas haverá toda uma infraestrutura técnico-científica por trás", explica.
Como estampado no nome, o RMB terá muitas finalidades: produção de radioisótopos para Saúde (tornando o Brasil autossustentável na Medicina Nuclear), Indústria e Meio Ambiente; teste e qualificação de materiais e combustíveis para reatores de potência; e estudos científicos e tecnológicos com feixe de nêutrons em materiais, dentre tantas outras. Sua infraestrutura contará com laboratório de processamento de radioisótopos, laboratório de feixe de nêutrons, laboratório de análise pós irradiação, laboratório de radioquímica e análise por ativação com nêutrons. No futuro poderá contar, por exemplo, com laboratórios dedicados a pesquisas de utilização das radiações em benefício da sociedade, laboratórios de lasers de alta potência, laboratório para estudo de tecnologia da fusão nuclear, bem como aceleradores de partículas com alta energia para produção de radioisótopos e pesquisas.
Para construir o RMB em um prazo de cinco anos, contudo, é necessária a garantia de fluxo de caixa na ordem de R$ 500 milhões por ano - o montante total para sua conclusão é de US$ 500 milhões. Investimento não apenas pelo viés social e aplicações científico-tecnológicas, mas também porque o empreendimento tem potencial de ser autossustentável financeiramente, ou seja, independente de recursos do Tesouro Nacional. Confira a entrevista com o coordenador técnico José Augusto Perrotta abaixo.
Como o RMB irá se inserir dentro do Programa Nuclear Brasileiro (PNB)?
Será um grande centro de tecnologia nuclear da Cnen em Iperó/SP, construído ao lado do Centro Experimental Aramar da Marinha do Brasil. O RMB não será apenas um reator que produzirá alguns produtos, é efetivamente um projeto estruturante e de arraste para o desenvolvimento da tecnologia nuclear do País. Será um dos principais reatores dessa classe no mundo, com possibilidade de atender autonomamente o País em radioisótopos e dar suporte à tecnologia do combustível nuclear aplicado às usinas nucleares e aos reatores de propulsão nuclear.
Em média, o Brasil realiza dois milhões de procedimentos de Medicina Nuclear por ano, entre tratamento e diagnóstico. Qual a expectativa de aumento com o RMB em operação?
Hoje importamos radioisótopos da Rússia, Europa, África do Sul. O principal deles - cerca de 80% - é o molibdênio-99 (99Mo), que gera o tecnécio-99m (99mTc). Outros radioisótopos são importados para terapia, como, por exemplo, o Iodo-131 (I-131) e Lutécio-177 (Lu-177). Produzindo no RMB, o material terá uma atividade específica muito maior se comparado com o mesmo material que chega importado, pela questão de tempo gasto com a logística de entrega. Seremos mais efetivos e poderemos oferecer uma quantidade muito maior de radioisótopos. A Medicina Nuclear será expandida no País. Além disso, o preço do radioisótopo produzido pelo RMB não estará sujeito à variação cambial ou a políticas internacionais. Em torno de um quarto dos dois milhões de procedimentos de Medicina Nuclear no Brasil são feitos no SUS e três quartos na iniciativa privada. Queremos mudar essa lógica. É um papel social do RMB, que democratizará o acesso à Medicina Nuclear no Brasil. Nossa intenção, como ente do governo, é atender a sociedade. Importamos hoje cerca de 500 Curies (Ci) de 99Mo por semana, e o projeto está se estruturando para iniciar com o volume de mil Curies/semana, podendo expandir para dois mil Curies/semana. Estamos falando em até quadruplicar. A produção mundial é de cerca de 10 mil Curies/semana. Assim, também poderemos eventualmente exportar radioisótopos. Hoje dependemos de orçamento do governo, mas com o RMB poderemos mudar a governança. O recurso gerado além cobrir os custos operacionais poderia ser reinvestido em pesquisa, criando um ciclo virtuoso de ciência, tecnologia e inovação. Realizamos um estudo de viabilidade econômica que demonstra que geramos produtos à sociedade com autossustentabilidade financeira. Podemos ser independentes do Tesouro Nacional.
Em sua visão, o RMB será uma ferramenta de formação e de manutenção de recursos humanos no setor nuclear brasileiro?
Será importantíssimo para manter o conhecimento da tecnologia nuclear no Brasil. Muito investimento foi feito lá atrás e não pode ser perdido. O Ipen, por exemplo, já teve 1.600 funcionários em atividade e hoje tem menos de 600, sendo que metade pode se aposentar. Eu mesmo tenho 42 anos de experiência. Não se forma pessoas de uma hora para outra. Temos alunos de pós-graduação, mas não podemos fixá-los no instituto, só mediante a realização de concurso público, mas não se abrem concursos há muitos anos. Nós somos patrimônio do Estado e da sociedade. A ciência e tecnologia nuclear são estratégicas e fundamentais para o desenvolvimento do País. O RMB é um elo para o futuro. Temos que mudar a forma de gestão. O foco é atender a sociedade. Infelizmente, altos dirigentes muitas vezes não têm a assessoria correta para demonstrar isso. O RMB motivaria a área nuclear, com toda essa estrutura de pesquisa e desenvolvimento e atendimento à sociedade. Mas, infelizmente, estamos perdendo tempo. Falta, portanto, um olhar estadista para a questão.
Em que passo está o RMB e quanto investimento precisa ser feito para construí-lo?
O projeto começou em 2008 e deveria ter terminado em 2014. Mas não tivemos recursos até 2010 e nem a disponibilidade necessária a partir de 2014. Em paralelo, fizemos um acordo com a Argentina. Ela está construindo o Reator RA-10, que é semelhante ao RMB. Os argentinos fizeram o investimento e o reator RA-10 estará totalmente pronto em dois anos. O Brasil é detentor do domínio do ciclo do combustível. Um bom exemplo dessa nossa capacidade é o reator de pesquisa, unidade crítica, IPEN/MB-01, que entrou em operação em 1988, e teve o núcleo trocado para simular os parâmetros do RMB. Isso é pura Física de Reatores. Fizemos o enriquecimento do urânio no laboratório do CTMSP em Aramar, fabricamos 19 elementos combustíveis no Ipen/Cnen-SP, projetamos e licenciamos o novo núcleo do reator com a capacidade técnica do Ipen/Cnen-SP. O novo núcleo do reator ficou crítico em 2020. É pura tecnologia nacional! São poucos países que conquistaram tudo isso. O RMB terá também a capacidade de irradiar tipos de combustíveis HALEU para pequenos reatores modulares, os SMRs. Para construção do RMB são necessários US$ 500 milhões. No fim deste ano terminaremos o projeto detalhado do reator e já elaboramos o projeto básico de todo o empreendimento. Desde 2008, gastamos R$ 280 milhões, empregados na fase de projeto de concepção, projeto básico, projeto detalhado, licenciamento nuclear e ambiental e desenvolvimento das instalações para fabricação dos combustíveis para o reator. Temos a Licença de Instalação (LI) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), fizemos Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) e audiências públicas. No órgão regulador nuclear (Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear - DRS/Cnen), obtivemos a Licença de Local (LL) e agora discutimos a Licença de Construção (LC) do reator e esperamos obtê-la até o fim do ano, no mais tardar no início de 2022. Já temos o terreno de dois milhões de m² à disposição em Iperó/SP. Poderíamos ter começado a terraplanagem no local, mas infelizmente não recebemos os recursos financeiros.
Qual a previsão de entrada em operação do RMB?
Com todo o recurso disponível, em cinco anos finalizamos o RMB, ou seja, seria 2026. Contudo, não tivemos aporte em 2021. Se em 2022 a situação for a mesma, não faremos nada. O MCTI depende do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Dos R$ 280 milhões que investimos, R$ 250 milhões vieram desse fundo. O RMB custa o mesmo que custou o Estádio de Manaus utilizado na Copa do Mundo de 2014. Dificilmente você vai para Manaus assistir um jogo, mas com certeza usará algum radiofármaco na vida. E esse radiofármaco pode faltar quando você precisar, porque não tem o RMB. O FNDCT começou a diminuir seus repasses em 2014 e agora está fortemente contingenciado. Ele representa recursos de R$ 5 a R$ 6 bilhões por ano ao MCTI. O RMB precisa de R$ 500 milhões anuais para ter fluxo de caixa contínuo, para ser construído em cinco anos. Anualmente, é um décimo do valor do FNDCT. A verba do MCTI deveria ser também concentrada em grandes projetos. Havia uma promessa de aporte de R$ 750 milhões do Ministério da Saúde no governo passado, mas não se concretizou. Outras pastas têm interesse no RMB: Defesa, Minas e Energia, Agricultura, Indústria. As aplicações nucleares são inúmeras, mas o maior interesse certamente é dos ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia. Eles dão o apoio político, mas não se traduz em apoio financeiro.
Gostaria de dar uma palavra final?
Não podemos esmorecer. Eu estava na reunião de criação da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) ocorrida em 1982 no Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro. Na época, trabalhava em Furnas. Participei das equipes de avaliação da criticalidade de Angra 1. É importante a Aben participar desse processo. Associações como ela são as guardiãs da área nuclear brasileira. Se nós do setor não lutarmos, ninguém vai lutar pela tecnologia nuclear. Não podemos abrir mão do conhecimento da ciência e da aplicação da tecnologia nuclear de maneira autônoma no País. É um erro muito grave não considerar essa tecnologia como de importância e de sustentabilidade para o futuro. A ação da Aben e das demais instituições da área é fundamental. O RMB vai ser mais um instituto da Cnen. Um centro de arraste, de sustentabilidade do conhecimento e estruturante para o futuro da área nuclear no Brasil. Mantendo e expandindo o conhecimento que adquirimos até hoje.
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- 21/06/2021 - Webminicursos da SBPCFonte: Agência FapespAgência FAPESP – Estão abertas até 30 de junho de 2021 as matrículas para os 34 webminicursos oferecidos no âmbito da 73ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Com o tema "Todas as ciências são humanas e essenciais à sociedade”, o evento será realizado de forma virtual, com a parceria da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), entre os dias 18 e 24 de julho. Todas as informações sobre as inscrições estão disponíveis no site da Reunião Anual.
Em 2020, foram oferecidos 27 webminicursos e neste ano serão 34. Outra novidade é a possibilidade de cada aluno poder se inscrever em até cinco deles. Isso é possível porque seis horas dos cursos serão gravadas e disponibilizadas por um mês, de sexta-feira (25/06) a 25 de julho.
O aluno poderá assisti-los quantas vezes quiser dentro de sua disponibilidade de tempo. A forma virtual também permite que os interessados, em qualquer lugar do país ou até mesmo no exterior, possam frequentá-los.
Os minicursos abrangerão temas de várias áreas do conhecimento. Para quem se interessa por exatas, serão ofertados, por exemplo, os seguintes cursos: "O uso dos experimentos mentais como uma possível metodologia de ensino para matemática”, "Modelagem matemática e computacional na COVID-19″ e "Recursos e estratégias para o ensino on-line e ativo da química”.
Em divulgação científica, os cursos apresentam os temas "Divulgação científica: o desafio de incluir diferentes públicos”, "Metodologia e divulgação científica” e "Redes sociais para divulgação da ciência”.
Na área de educação, os webminicursos são os seguintes: "Ensino de ciências como brinquedos científicos de baixo custo”, "Educação na prisão – formação de professores para atuação em contextos de privação de liberdade” e "Movimentos sociais populares e educação no campo”.
Cada matrícula dará direito a um certificado de oito horas, desde que a pessoa tenha presença total nas aulas. O controle da frequência será feito por meio da Plataforma Moodle. Esses certificados têm sido validados como atividades extracurriculares na maioria das universidades.
Os webminicursos contam com quatro aulas, sendo as três primeiras videoaulas gravadas e disponibilizadas para os inscritos. A última será ao vivo, pelo Zoom.
Os interessados poderão se inscrever em até cinco minicursos. A lista completa está em https://reunioes.sbpcnet.org.br/73RA/lista_mc.php.
A Reunião Anual da SBPC é realizada ininterruptamente desde 1949, em um Estado brasileiro a cada ano. Em 2020, pela primeira vez, precisou ser adaptada para o formato virtual, devido ao agravamento da pandemia de coronavírus, decisão que será mantida em 2021. O objetivo é debater políticas públicas nas áreas de ciência, tecnologia, inovação e educação edifundir os avanços da ciência nas várias áreas do conhecimento para toda a população.
Mais informações no site oficial do evento.
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- 19/06/2021 - The IAEA’s response and assistance network grows to 36 countriesFonte: IAEA
Brazil is the latest country to join the Response and Assistance Network (RANET), strengthening this global network’s capacity to provide international assistance in nuclear and radiological emergencies, irrespective of their cause. Through its designated Competent Authority, the Directorate for Radiation Protection and Nuclear Safety of the National Nuclear Energy Commission (CNEN), Brazil formalized its participation in RANET by becoming the latest Assistance Convention State Party to register National Assistance Capabilities (NACs). Following Argentina and Mexico, Brazil becomes the third South American country to join RANET."This only means a more robust nuclear emergency response between State Parties,” said Rodrigo Bonifácio, researcher and quality manager at CNEN’s Laboratório de Poços de Caldas (LAPOC), and NAC Coordinator for Brazil. "Brazil is in a position to support other countries because of the expertise that we have developed and acquired from participating in different international networks (including the IAEA’s ALMERA network) and based on the experience gained by our professionals, both nationally and internationally.”
RANET is an integrated network of States whose assistance capabilities help mitigate the emergencies’ actual or potential consequences to human health, the environment, and property by promptly mobilizing experts and providing equipment and materials. If a country determines that an effective response to nuclear or radiological emergencies requires resources beyond its national capacity, a request for international assistance is sent through RANET.
Brazil’s registration bolsters RANET’s National Assistance Capabilities that currently include radiation survey, radiation sampling and analysis, expertise in several measurement techniques, as well as tools such as measuring systems and radiation survey instruments. LAPOC’s laboratories also have the capability to provide analytical support in measuring the presence of radiation in food and in the environment.
RANET assistance capabilities
Like Brazil, all State Parties to the Assistance Convention can register a wide range of assistance capabilities, categorized into the following eight areas:
(Image: K. Vargas /IAEA)
Any State in the network can update their capabilities any time and, when required, can request these assistance capabilities. When a request arrives, the IAEA swiftly coordinates between the requesting and the assisting States an assistance agreement that addresses the specific needs of the requesting State.
RANET assistance was successfully coordinated and delivered recently in September 2020, when Lebanon sought assistance from the IAEA, following the explosion in Beirut’s port. In this assistance mission, Danish, French and IAEA experts conducted radiation surveys and analysis under pandemic conditions and confirmed that no hazard was presented by materials containing naturally occurring radionuclides stored at the port. French and Swiss laboratories analyzed samples collected by the Lebanese experts and confirmed that they did not contain elevated radiation levels. The Assistance Mission also provided expert recommendations and training of local authorities to promote nuclear safety and security in the country.
A global network with a regional strategy
"The ready availability of assistance capabilities in each region is key to ensuring timely delivery and effective response in an emergency,” said Kilian Smith, IAEA RANET Officer. "We want to achieve a broad deployment of expertise and capabilities around the world.” Communication and assistance delivery are accelerated when the requesting and assisting States lie in close proximity to each other, he added.
Brazil, for example, is an invaluable resource for RANET because it could provide timely assistance to its neighbors in Latin America. "At the regional level, Brazil has been asked to provide support regarding regulatory and radiological security,” Bonifácio said about their international track record.
What’s in it for State Parties
The Member States that offer assistance also benefit. These offers help Member States identify areas in their response capacities that can be strengthened. Bonifácio summarized the benefit Brazil derives from its RANET membership: "By contributing, we learn, and by giving assistance, we are presented with new challenges that can expand our capabilities.” He also added that, by joining RANET, "we can show that we have a good grasp of knowledge in nuclear power. We want this field to be more acceptable among our stakeholders; joining RANET is one of the rare opportunities we have to show them our expertise in this area.”
36 Strong and growing
Since its establishment in 2000, the assistance network has expanded to 36 State Parties: Argentina, Australia, Austria, Belarus, Belgium, Brazil, Bulgaria, Canada, China, Czech Republic, Denmark, Egypt, Finland, France, Germany, Hungary, India, Ireland, Israel, Japan, the Republic of Korea, Mexico, Nigeria, Norway, Pakistan, Romania, the Russian Federation, Slovenia, Spain, Sri Lanka, Sweden, Switzerland, Turkey, Ukraine, United Kingdom and the United States of America.
More information about RANET can be found on the IAEA website and through this EPR-RANET publication.
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- 18/06/2021 - PGR contesta norma do Ceará que proíbe ou restringe usinas e depósitos nuclearesA Procuradoria Geral da República pediu anulação de dispositivos presentes em 19 unidades da Federação
A Procuradoria Geral da República pediu anulação de dispositivos presentes em 19 unidades da Federação
Fonte: O PovoO procurador-geral da República, Augusto Aras, ajuizou Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) para requerer a anulação de dispositivos das Constituições de 18 estados, incluindo o Ceará, e da Lei Orgânica do Distrito Federal, que impedem ou restringem a implantação de usinas nucleares, o tratamento de material radioativo ou a construção de depósitos de lixo atômico em seus territórios.
Nas ações, a argumentação comum é a que a União tem competência privativa para editar leis que disponham sobre atividades nucleares de qualquer natureza, transporte e utilização de materiais radioativos e localização de usinas nucleares.
O procurador-geral aponta a Lei federal 4.118/1962, que instituiu a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), a Lei federal 6.189/1974, que regula as normas sobre instalações nucleares e transporte de material nuclear, e a Lei 10.308/2001, que regula aspectos relacionados aos depósitos de rejeitos radioativos e à seleção dos locais de armazenamento.
Segundo Aras, não há espaço legislativo para que estados, Distrito Federal e municípios editem normas paralelas sobre a matéria. A disciplina pelos entes subnacionais dependeria de prévia edição de lei complementar federal, ainda não editada. (Com STF)
As ações ajuizadas são
ADIs 6858 (AM)
6894 (MT)
6895 (PB)
6896 (GO)
6897 (PE)
6898 (PR)
6899 (MA)
6900 (DF)
6901 (BA)
6902 (AP)
6903 (AL)
6904 (AC)
6905 (RO)
6906 (RN)
6907 (RR)
6908 (RJ)
6909 (PI)
6910 (PA)
6913 (CE) -
- 17/06/2021 - Em solenidade online, Rogério Lins é empossado na Diretoria de Gestão Institucional (DGI)Fonte: Gov.br - MCTIEm cerimônia online realizada na manhã desta quinta-feira (17/6), tomou posse o novo titular da Diretoria de Gestão Institucional (DGI) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Rogério Felipe Lins Barbosa. A nomeação para o cargo foi publicada ontem no Diário Oficinal da União. O presidente da CNEN, Paulo Roberto Pertusi, empossou e deu as boas-vindas ao novo diretor.
Na solenidade estiveram presentes os outros dois diretores da CNEN: Madison Coelho de Almeida, da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), e Ricardo Fraga Gutterres, da Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS). Também participaram o diretor-substituto da DGI, Pedro Maffia, diretores de unidades e outras lideranças da CNEN e convidados pessoais do novo diretor.
Rogério Lins é Capitão de Mar e Guerra da Marinha do Brasil, instituição na qual ocupou postos de destaque. Engenheiro Mecânico, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Lins concluiu também mestrado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e Doutorado em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval.
Solenidade de posse onlineEm 2015, o novo diretor passou a atuar no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), onde ocupou os cargos de assessor técnico na Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação e de coordenador do Programa Técnico-Científico Nuclear. Desde abril de 2020, Rogério Lins colabora com a CNEN, onde vinha ocupando o cargo de coordenador-geral de Planejamento e Avaliação.
Durante a solenidade de posse, o presidente Pertusi destacou o papel fundamental da DGI para o bom desempenho das atividades finalísticas da CNEN e fez referência à boa formação e capacidade do novo diretor para conduzir a gestão desta área. Rogério Lins agradeceu Pertusi pela confiança depositada e manifestou sua satisfação em poder colaborar ainda mais com o desenvolvimento da CNEN.
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- 16/06/2021 - CERN, LAr and nEXO Experiments: Detectors for Astroparticles and Accelerator TechnologyFonte: Agência FapespAgência FAPESP – O Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) promove amanhã (17/06) o colóquio on-line "CERN, LAr and nEXO Experiments: Detectors for Astroparticles and Accelerator Technology”.
A palestrante será a pesquisadora Ibtesam Badhrees, primeira mulher saudita membro da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear e professora na Carleton University (Canadá). Ela falará sobre seu trabalho recente e sua experiência na área de física de partículas e astrofísica.
Os Colóquios do IF-USP são realizados por pesquisadores e especialistas que trazem novidades de sua área ou desenvolvimentos de seu último trabalho.
O evento será transmitido às 16 horas, pelo canal do IF-USP no YouTube e pela plataforma Zoom. Não há necessidade de inscrição prévia.
Mais informações: http://portal.if.usp.br/pesquisa/pt-br/node/2066.
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- 15/06/2021 - Nissan e IPEN seguem com acordo por uso bioetanolFonte: Garagem360
Erica FrancoA Nissan e o IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) assinaram um novo acordo, a fim de seguir no desenvolvimento do uso de bioetanol para veículos movidos à Célula de Combustível Célula de Combustível de Óxido Sólido (SOFC). O SOFC tem a capacidade de gerar energia elétrica a partir da utilização do bioetanol.A nova parceria foi oficializada por meio de uma cerimônia virtual. Estiveram presentes o presidente da Nissan Mercosul e diretor geral do Brasil, Airton Cousseau e o superintendente do IPEN, Wilson Calvo. O primeiro acordo entre a montadora e o Instituto aconteceu em 2019.
Acordo entre Nissan e IPEN prevê uso do bioetanol em escala comercial
O principal objetivo da parceria é a avaliar, além de viabilizar componentes. Assim, torná-los adequados para uso em possíveis projetos de escala comercial.
Um dos desafios, por exemplo, é estudar a possibilidade de integrar o reformador (peça importante do sistema) à célula de combustível. Além disso, demais estudos visam buscar soluções, a fim de reduzir o tamanho do sistema.
Com esta parceria, a Nissan se insere no conceito "Nissan Intelligent Mobility”. No caso, uma visão da marca para transformar a maneira como os carros são conduzidos e integrados na sociedade.
"Seguimos avançando com as pesquisas. E esse novo acordo representa um novo passo do projeto global de Célula de Combustível de Óxido Sólido da Nissan, que também é muito interessante para o Brasil. Isto, por se encaixar perfeitamente na nossa matriz energética”, esclarece o presidente da Nissan Mercosul e diretor geral da Nissan do Brasil, Airton Cousseau.
"Assim, pelo conhecimento técnico das instituições brasileiras, como o IPEN, as parcerias locais são fundamentais para contribuir com a iniciativa global da marca”, completa o presidente.
Já o superintendente do IPEN, Wilson Calvo, ressalta que o acordo firmado com a Nissan demonstra a excelência do Instituto e o compromisso em prol da sociedade. Dessa forma, promovendo a transformação do conhecimento científico em produtos e serviços de valor agregado ao mercado.
"O IPEN/CNEN tem a inovação em sua visão. Além disso, abriga a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo (USP/IPEN-CIETEC) que conta, atualmente, com 93 startups. Assim, consolidando um ecossistema de inovação e empreendedorismo”, completa Calvo.
Primeiros testes para o uso de bioetanol para veículos movidos a Célula de Combustível Célula de Combustível
De acordo com a montadora e o IPEN, o primeiro período de testes com o protótipo real do sistema foi realizado no Brasil entre 2016 e 2017. Dois veículos e-NV200 equipados com o sistema SOFC foram testados pela equipe de Pesquisa e Desenvolvimento da Nissan do Brasil.
Assim, demonstraram que a tecnologia se adapta perfeitamente ao uso cotidiano e ao combustível brasileiro. Ainda mais, pelo fato de o país ter infraestrutura já existente para abastecimento com etanol em todo o seu território.
Atualmente, de acordo com os parceiros, os testes seguem em evolução conduzida pela área de Pesquisa e Desenvolvimento da Nissan no Japão. Também, com constante colaboração da equipe brasileira e dos parceiros locais, como o IPEN/CNEN.
"É um prazer interagir com o time de pesquisa da Nissan. Além disso, poder colaborar com um desenvolvimento global da marca”, avalia o pesquisador do IPEN/CNEN, afirma Fabio Coral Fonseca.
"Eletrificar o etanol, um combustível renovável e estratégico para o país, tem um enorme potencial no contexto das novas energias sustentáveis. A Nissan tem a visão de que investir globalmente em pesquisa é um caminho para superar os desafios existentes para conquistar novas tecnologias. Ver os desenvolvimentos do IPEN participando desse processo é muito gratificante”, comemora Fonseca.
Sistema gerador de potência
Vale ressaltar que a tecnologia de Célula de Combustível de Óxido Sólido da Nissan conta com sistema gerador de potência. No caso, que se utiliza da reação química do íon oxigênio com diversos combustíveis. Por exemplo: o etanol e o gás natural. Assim, transformando os componentes em hidrogênio na célula, a fim de gerar eletricidade.
De acordo com a Nissan e o IPEN, o sistema é limpo, altamente eficiente e funciona 100% com etanol ou água misturada ao etanol. Além disso, suas emissões são tão limpas quanto à atmosfera. Inserindo-se, assim, como parte do ciclo natural do carbono e sendo absorvido durante a plantação da cana-de-açúcar.
O Parque Tecnológico de Itaipu (PTI) e o Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação (ITAI) integram mais uma parceria com a Nissan e o IPEN. Um dos focos, por exemplo, é no desenvolvimento nacional de carregadores bidirecionais para veículos elétricos.
Tais carregadores devem criar um novo ecossistema. Com isto, possibilitando que os carros funcionem como uma solução para compartilhamento de energia.
Nissan LEAF: elétrico com zero emissão de poluentes
Vale ressaltar, também, que a Nissan já tem o seu modelo com zero emissão – um dos ícones mundiais dos modelos elétricos: o Nissan Leaf. O modelo já superou a marca de mais de 500 mil unidades comercializadas globalmente.
No Brasil, no início de 2021, o elétrico da Nissan atingiu 150 unidades vendidas.Veja aqui.