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- 05/07/2020 - Engenharia Nuclear é novo curso da USP a partir de 2021Fonte: Defesa.TVO ano de 2021 trará novas oportunidades para quem busca cursar o ensino superior na USP. Além do curso de Ciência de Dados, a Universidade passará a oferecer também a habilitação em Engenharia Nuclear pela Escola Politécnica (Poli), no campus Cidade Universitária. Com duração de cinco anos em período integral, o ingresso poderá ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Apesar do país possuir muitas atividades relacionadas à energia nuclear em aplicações industriais, biomédicas e agrícolas, há falta de profissionais com formação especifica no setor. Ou seja, existem poucas pessoas capacitadas para trabalhar na área e necessidade de se renovar a mão de obra qualificada. Por isso, surgiu a necessidade da criação de uma graduação capaz de suprir essa demanda em alguns anos, conforme destacou o coordenador do novo curso, professor Cláudio Schön.
A nova formação fará parte da carreira Engenharia de Materiais, Metalúrgica e Nuclear, que terá 55 vagas disponíveis no vestibular. Os estudantes terão grade curricular comum, podendo optar pela especialização em Engenharia Nuclear ao fim do terceiro ano. A partir desta fase, passam a estudar disciplinas específicas da área, "como processamento de combustíveis nucleares e experimentos no reator nuclear. Esta, oferecida pelo Ipen de maneira optativa para todos os cursos da USP”, explicou o professor, referindo-se ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), parceiro da Poli na criação do curso e cuja sede fica dentro da Cidade Universitária, no bairro do Butantã.
Segundo ele, a Engenharia Nuclear não é restrita à produção de energia elétrica ou à produção de bombas, como muitos acreditam. Muito além desses aspectos, ele explica que esse tipo de engenharia está relacionado à vida cotidiana em áreas biomédicas, industriais e agrícolas. "Pouca gente percebe que ao fazer um exame de imagem, por exemplo, está utilizando um equipamento que foi produzido em um reator nuclear. Boa parte da operação de reatores é dedicada à produção de radioisótopos para a medicina nuclear”.
Desse modo, os engenheiros formados nesta carreira poderão atuar em diversas áreas, tanto na indústria, como em setores governamentais. Atividades como projetar instalações nucleares, delinear processos de fabricação de combustíveis nucleares, operar e gerenciar reatores ou instalações que fazem uso de fontes radioativas, além de laboratórios de controle de qualidade com acesso a materiais radioativos, também especificar e selecionar materiais e efetuar a análise de falhas em equipamentos que estão em serviço num ambiente nuclear.
"Será um curso muito bom. Esperamos que os alunos interessados na área respondam ao nosso chamado. Eles não irão se arrepender, pois iremos nos dedicar muito à formação deles”, afirmou Cláudio Schön.
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- 03/07/2020 - A resposta dos governos à COVID-19 poderá deixar cicatrizes políticas, afirmam pesquisadoresFonte: Agência FapespClaudia Izique | Agência FAPESP– Além de milhares de vítimas fatais e de um desastre econômico sem precedentes em todo o planeta, a COVID-19 poderá deixar outra cicatriz profunda nas nações cujos líderes não ofereceram resposta adequada à pandemia: a perda de confiança nas instituições.
Esse cenário, formulado por três pesquisadores – Cevat Giray Aksoy, do European Bank for Reconstruction and Development; Orkun Saka, da University of Sussex, ambos do Reino Unido; e Barry Eichengreen, do Department of Economics, da University of California, Berkeley, dos Estados Unidos –, está descrito no artigo The political Scar of epidemics, ainda não revisto por pares, e sintetizado no portal Vox CEPR Policy Portal. O tema também foi debatido em webinar da London School of Economics and Political Science, em 17 de junho.
O pressuposto é que a confiança nos governantes é fundamental para limitar a propagação de uma epidemia, mas que políticas de saúde pública precárias acionam uma espiral circular de desconfiança que mina ainda mais a eficácia das políticas de saúde pública, deixando um legado negativo, sobretudo entre os jovens.
Estudos anteriores sobre o impacto de epidemias em 140 países demonstram que indivíduos com idade entre 18 e 25 anos, expostos a epidemias, são menos propensos a acreditar na honestidade das eleições (-7,2 pontos percentuais em relação a indivíduos não expostos), a confiar no governo nacional (-5,1 pontos percentuais) ou a aprovar o desempenho de lideranças políticas (-6,2 pontos percentuais). Os autores sublinham que comportamentos e atitudes moldados nesse período, que vai do final da adolescência até o início da vida adulta – conhecido como impressionable years (anos impressionáveis) –, persistem por pelo menos duas décadas e "decaem apenas gradualmente”.
A magnitude da perda de confiança varia na razão inversa da força do governo de dar resposta aos desafios de saúde. "Quando indivíduos vivenciam epidemias sob governos fracos, o impacto negativo na confiança é maior e mais persistente. Isso é consistente com a ideia de que esses governos são menos capazes de responder efetivamente a epidemias, levando a uma queda de longo prazo na confiança política”, afirmam.
A quebra de confiança será ainda maior em países democráticos, em que a expectativa de resposta adequada do poder público, eles supõem, deva ser maior do que nas "autocracias”. Além disso, como os regimes democráticos são abertos, "podem permitir uma cacofonia de visões oficiais conflitantes, resultando em um impacto maior na confiança”.
E exemplificam: "Depois que o presidente Jair Bolsonaro descartou pública e enfaticamente os riscos associados ao vírus COVID-19 e desaconselhou o isolamento, o distanciamento social dos residentes em localidades pró-governo caiu em relação a lugares em que o sentimento pró-governo era mais fraco”, afirmam, citando o artigo Leaders' speech and risky behaviour during a pandemic, assinado por Nicolas Ajzenman e Daniel Da Mata, da Fundação Getúlio Vargas, e Tiago Cavalcanti, da Universidade de Cambridge.
O impacto negativo da exposição a epidemias é maior nos países de renda média e alta. "Os indivíduos com menor escolaridade respondem mais fortemente, adotando atitudes ainda mais negativas em relação às instituições e líderes políticos. Moradores de áreas urbanas respondem mais negativamente do que os que residem em áreas rurais. As mulheres exibem queda maior de confiança.”
A falta de confiança contamina também o sistema público de saúde e a segurança e eficácia da vacinação. "Esse achado sugere que a adequação ou não das intervenções governamentais relacionadas à saúde durante epidemias, tanto farmacêuticas quanto não farmacêuticas, é importante para a confiança no governo em geral.”
O impacto na campanha de vacinação
"O artigo oferece lições e recomendações importantes para o futuro”, diz Elize Massard da Fonseca, professora do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas e coordenadora do estudo Enfrentamento ao COVID-19: Brasil em Perspectiva Comparada, apoiado pela FAPESP e desenvolvido em parceria com a Universidade de Michigan, que avalia estratégias de diferentes países no enfrentamento da pandemia.
Fonseca se mostra particularmente temerosa de que a falta de confiança comprometa também uma futura campanha de vacinação contra a COVID-19. "O governo fez uma campanha forte em favor do uso da cloroquina no tratamento da doença, sem comprovação científica da eficácia do medicamento. Seu uso, aliás, foi desaconselhado pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS). Como confiar na autoridade sanitária que apoia um medicamento tão controverso?”, ela indaga. "Isso pode ser um problema no momento em que tivermos uma vacina.”
A mesma preocupação – lastreada em razões semelhantes – já mobiliza autoridades sanitárias nos Estados Unidos, país que também sofre os efeitos da falta de confiança nas autoridades sanitárias. Robert R. Redfield, diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), afirmou em audiência recente no Congresso que a agência vinha há três meses desenvolvendo um plano para reconstruir a "confiança da vacina", numa tentativa de conquistar uma grande fatia dos americanos ainda hesitante sobre a inoculação, conforme noticiou o jornal The New York Times no dia 30 de junho.
Na mesma reportagem, o The New York Times menciona pesquisas recentes que dão conta de que sete em cada 10 americanos afirmam que receberiam vacinas contra o vírus se as imunizações fossem gratuitas e disponíveis para todos, um número que as autoridades de saúde temem que não seja suficiente para alcançar a "imunidade do rebanho": pelo menos 70% precisam estar imunes ao vírus para chegar a esse ponto, segundo pesquisadores da Universidade Johns Hopkins.
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- 03/07/2020 - Quarentena e uso de máscara reduziram em 15% o contágio da COVID-19 em SP no início da epidemiaFonte: Agência FapespElton Alisson | Agência FAPESP – O isolamento social combinado com o uso de máscaras de proteção facial diminuíram em 15% o contágio do vírus SARS-CoV-2 em São Paulo e 25% em Brasília no início da epidemia de COVID-19 no país.
As constatações foram feitas por pesquisadores vinculados ao Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) em um estudo publicado na plataforma bioRxiv, ainda sem revisão por pares.
Sediado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), campus de São Carlos, o CeMEAI é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.
"Verificamos que a decretação de quarentena pelos estados combinada com a recomendação do uso de máscara pelo governo federal foram medidas de saúde pública eficazes, que contribuíram para a diminuição da transmissão do vírus na fase inicial da epidemia de COVID-19 no país, em que as taxas de contágio cresciam exponencialmente”, disse à Agência FAPESP Zhao Liang, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores do estudo.
Os pesquisadores chegaram a essas conclusões por meio de análises feitas por um modelo matemático que permite estimar as taxas de transmissão do SARS-CoV-2 em cada cidade do país.
Desenvolvido por meio de um projeto apoiado pela FAPESP, o modelo é baseado em uma abordagem de rede de transmissão de doenças entre cidades chamado SIR – sigla em inglês de Susceptible Infectious Recovered.
As cidades são representadas na rede como vértices e os possíveis contágios pelo SARS-CoV-2 entre cidades comolinks, estimados a partir de dados reais de infectados em cada município do país por meio de algoritmos de aprendizado de máquina e de análise de redes complexas.
O modelo foi aplicado para analisar e comparar quantitativamente a efetividade de duas medidas de saúde pública implementadas sucessivamente para conter a disseminação do novo coronavírus no início da epidemia de COVID-19 no país. A primeira medida foi a decretação de quarentena pelos estados no final de março e a segunda a recomendação do uso de máscara pelo governo federal no início de abril.
Os resultados indicaram que, no caso de São Paulo – o primeiro estado a decretar quarentena, no dia 24 de março, sete dias após o primeiro registro de óbito causado pela COVID-19 no Brasil, quando já era o epicentro da doença no país, registrando 745 casos confirmados e 30 mortes –, essa medida contribuiu para diminuir a taxa média de crescimento de casos da doença nas cidades paulistas.
A diminuição mais substancial, contudo, ocorreu após a recomendação do uso de máscaras pelo governo federal, sobretudo em cidades de São Paulo com baixas medidas de distanciamento social no início da epidemia.
"Isso pode ser devido ao fato de que essas cidades apresentavam um contato entre pessoas maior e, portanto, o uso de máscaras foi crucial para deter a transmissão do novo coronavírus”, explica Zhao.
A fim de ter uma noção mais exata do impacto dessas medidas de saúde pública, os pesquisadores simularam cenários contrafactuais para analisar o que aconteceria se a quarentena e o uso de máscaras não tivessem sido implementados.
Os resultados das simulações feitas pelo modelo SIR em redes apontaram que a eficiência do isolamento social e do uso de máscaras difere significativamente entre as cidades do país, uma vez que as taxas de transmissão e de mortalidade por COVID-19 entre elas são muito diferentes.
Com base em dados de casos de infecção confirmados nos municípios até 8 de maio, o modelo indicou que a decretação da quarentena seguida da recomendação do uso de máscara resultaram em uma redução de, em média, 15% no pico da epidemia da COVID-19 na cidade de São Paulo, por exemplo, e de quase 25% em Brasília.
"Esperamos que essa metodologia para quantificar a eficácia de políticas públicas de saúde possa contribuir para demonstrar a importância do isolamento social e do uso de máscara como medidas de contenção da propagação do novo coronavírus para os governos e a sociedade”, afirma Zhao.
Política controversa
Alguns países ainda resistem a adotar medidas de isolamento social por duvidar de seu nível de eficácia. Essa situação cria discrepância entre as políticas municipais, estaduais e federal, como é o caso do Brasil.
"Ainda hoje estamos vivendo esse impasse em relação à continuidade do isolamento social no país, com a pressão por medidas de flexibilização, como a reabertura de comércios”, diz Zhao.
Naturalizado brasileiro e originário da China, onde se graduou em 1988 em ciência da computação na Universidade de Wuhan – província que foi o primeiro epicentro da COVID-19 no mundo –, o pesquisador avalia que, além do nível de controle muito mais rígido em seu país de origem, outro fator que contribuiu para a alta eficácia do isolamento social foi o uso de tecnologias de big data para rastrear rapidamente pessoas que tiveram contato com infectados e isolá-las, de modo a conter o contágio.
"A realidade da China é muito diferente e o país adotou alguns critérios de controle rígidos que não poderiam ser aplicados no Brasil. Mas, sem dúvida, o nível de controle do isolamento social com o uso de tecnologias de big data permitiu que a China contivesse o contágio na fase inicial da epidemia no país”, avalia.
O artigo Quantitative Analysis of the Effectiveness of Public Health Measures on COVID-19 Transmission (DOI: 10.1101/2020.05.15.20102988), de Thiago Christiano Silva, Leandro Anghinoni e Liang Zhao, pode ser lido na plataforma bioRxiv em www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.05.15.20102988v1.
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- 30/06/2020 - Ação germicida do sol tem baixo poder para impedir transmissão de coronavírus, aponta estudoRadiação ultravioleta mais potente para eliminar vírus é absorvida pela atmosfera antes de chegar ao solo
Radiação ultravioleta mais potente para eliminar vírus é absorvida pela atmosfera antes de chegar ao solo
Fonte: Folha de São PauloEverton Lopes Batista
SÃO PAULOUm grupo de pesquisadores que usou dados de mais de 200 cidades chinesas durante a pandemia não encontrou efeito da temperatura ou da radiação solar na eliminação do novo coronavírus ou na diminuição do contágio.A descoberta contraria artigos publicados nos últimos meses que apresentaram essa possibilidade com base em cálculos teóricos e experimentos em laboratório.A ação germicida do sol existe porque a estrela emite radiação ultravioleta. Existem alguns tipos desses raios, divididos pelo comprimento de onda com que viajam pelo ambiente. O ultravioleta do tipo C (UVC) é o mais potente e pode eliminar mais de 90% do novo coronavírus alojado em superfícies em poucos segundos, de acordo com experimentos realizados em diversos laboratórios com lâmpadas especiais.A radiação ultravioleta age no material genético do vírus, causando um dano que impede a multiplicação do microrganismo, fazendo com que ele não seja capaz de iniciar uma infecção.Mas o UVC emitido pelo sol fica retido na atmosfera, antes de atingir o solo. E ainda bem: esse tipo de radiação é prejudicial para pessoas, animais e plantas que recebem os raios diretamente por um período mais prolongado, podendo causar de queimaduras a câncer.Aparelhos que usam o UVC artificial emitido por lâmpadas especiais para desinfecção de ambientes já são vendidos no Brasil e usados em diferentes partes do mundo para a eliminação de microrganismos no transporte público e em ambientes fechados.Vindos do sol, chegam até a superfície do planeta os raios ultravioleta do tipo A e B (UVA e UVB). O UVB, que chega em menor quantidade ao solo, tem alguma ação germicida, ainda que com potência milhares de vezes inferior à dos raios UVC.Cientistas dos Estados Unidos realizaram uma simulação em laboratório com lâmpadas que imitam a luz do sol no nível do mar em um dia claro. Os pesquisadores lançaram a radiação sobre uma substância semelhante a uma saliva contendo o Sars-CoV-2 e sobre uma cultura de células contendo o vírus.De acordo com os resultados do experimento, 90% dos vírus foram inativados em cerca de 7 minutos na saliva falsa e em aproximadamente 14 minutos na cultura de células. O estudo foi publicado em maio na revista científica The Journal of Infectious Diseases, ligado à sociedade americana de doenças infecciosas (IDSA).Esses resultados foram obtidos em condições ideais, não levando em consideração a presença de nuvens ou bloqueios causados pela poluição, presentes em situações reais.Um outro artigo publicado no início deste mês por pesquisadores dos Estados Unidos no periódico Photochemistry and Photobiology usou cálculos teóricos para estimar a desativação do novo coronavírus pela luz do sol em diferentes localizações do planeta. Em média, mais de 90% do vírus estaria inativada em até 34 minutos para a maioria das cidades recebendo luz do sol de meio-dia no verão.
Segundo a estimativa dos pesquisadores, a desativação do vírus em São Paulo num dia de inverno levaria cerca de 41 minutos, para um sol de meio-dia.
Os autores do texto, dois pesquisadores aposentados, não fizeram nenhum experimento com o Sars-CoV-2 e usaram um modelo desenvolvido por eles mesmos há mais de dez anos para calcular a inativação de diferentes vírus pela luz do sol. O modelo para os cálculos usa dados da sensibilidade à radiação ultravioleta apresentada por diversos vírus.
No texto, que usa uma página da Wikipédia como uma de suas referências, algo incomum em artigos científicos, os autores argumentam que o distanciamento social e a quarentena imposta por governos para minimizar a transmissão do novo coronavírus podem ter causado mal à população por impedir maior exposição ao sol.
Os cientistas não responderam às perguntas enviadas pela Folha pedindo detalhamento sobre o estudo, mas Jose-Luis Sagripanti, um dos autores, enviou um artigo de opinião assinado no qual questiona os efeitos da quarentena imposta pelos governos.
Pesquisadores brasileiros da área que analisaram o artigo encontraram um forte viés no estudo.
Para Tania Mateus Yoshimura, pós-doutoranda do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) na área de aplicação da luz para a saúde, é problemático levar esse resultado ao pé da letra.
"É uma estimativa. Para sabermos de fato se o vírus tem aquela sensibilidade à luz solar precisamos de experimentos. Ainda não existe consenso sobre a dose necessária de UVC para inativar o vírus. Para a sensibilidade ao UVB, temos menos ainda”, afirma a pesquisadora.
As partículas virais estão no ar geralmente envoltas em matéria orgânica, como saliva ou secreção nasal, por exemplo, que atuariam para proteger o vírus de receber a radiação diretamente sobre o material genético, lembra Yoshimura. "O estudo foi feito com a suposição de uma ação direta no material genético”, acrescenta.
"Ainda que a inativação pelo sol seja possível, não adianta muito estar do lado de fora e alguém tossir ou espirrar por perto; o vírus não vai ficar esperando meia hora no ar até ser inativado”, afirma a cientista.
Além disso, ela lembra que as pessoas que andam pelas ruas não ficam debaixo do sol o tempo todo. "Elas vão pegar transporte público, entrar em ambientes fechados. Nesses casos, a ação germicida do sol não faz diferença”, diz.
Para Caetano Padial Sabino, doutorando na USP e pesquisador das aplicações da luz para a saúde, a afirmação que circula nas redes sociais de que o risco de infecção pelo novo coronavírus é menor em dias ensolarados é perigosa e pode causar riscos à saúde.
"O Brasil tem uma taxa de incidência solar que está entre as maiores do mundo, e mesmo assim somos o epicentro da pandemia”, afirma o cientista, que também é fundador de uma empresa que produz equipamentos de ultravioleta para desinfecção de ambientes.
Pesquisadores de universidades chinesas cruzaram dados de disseminação do Sars-CoV-2, temperatura e radiação solar de mais de 200 cidades da China. Os resultados, publicados em abril na revista científica European Respiratory Journal, indicam que radiação solar e temperatura não influenciaram nas taxas de contágio.
"Nosso estudo não dá suporte à hipótese de que altas temperaturas e índices de radiação ultravioleta podem reduzir a transmissão da Covid-19. É prematuro contar com o clima mais quente para controlar a doença”, escrevem os autores no artigo.
Ainda que os banhos de sol possam estimular a produção da vitamina D, que tem um potencial benéfico para o sistema imunológico, os cientistas descartam uma suposta função terapêutica do sol para casos de Covid-19, uma vez que a radiação atua apenas na superfície sobre a qual incide e os vírus se multiplicam dentro das células, no interior do corpo.
"A luz do sol traz vários benefícios, incluindo a descontaminação. Mas para concluir que pode diminuir o contágio pelo vírus é necessário analisar outras variáveis”, conclui Yoshimura, do Ipen.
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- 23/06/2020 - Ipen recebe inscrições para mestrado profissional em tecnologia das radiações na SaúdeFonte: Agência FapespAgência FAPESP – O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, recebe até quinta-feira (25/06) inscrições para o curso de mestrado profissional stricto sensu em Tecnologia das Radiações na Saúde.
Neste ano haverá a concessão de duas bolsas, por meio de edital interno, para os alunos aprovados que tenham dedicação integral ao programa.
O curso é direcionado a graduados em medicina, farmácia, bioquímica, biomedicina, radiologia, física médica, biologia, medicina veterinária e áreas afins. O objetivo das aulas é capacitar profissionais da área de saúde no uso das radiações ionizantes e não ionizantes para diagnóstico, terapia e demais aplicações.
São oferecidas duas linhas de pesquisa: "Processos de Radiação na Saúde”, com foco em pesquisas relativas a técnicas de aplicação de radiações ionizantes e não ionizantes em saúde, e "Medicina Nuclear e Radiofarmácia”, voltada a pesquisas relacionadas ao desenvolvimento, fabricação e aplicação clínica dos radiofármacos.
Com duração de dois anos, o mestrado tem período letivo semestral, de quartas-feiras às sextas-feiras, das 14 às 20 horas.
Para se inscrever, os candidatos devem enviar formulário de inscrição preenchido, diploma do curso de graduação registrado (frente e verso), histórico escolar do curso de graduação, documento de identificação, CPF e link do currículo Lattes para o e-mail smp@ipen.br.
O processo seletivo, que será on-line, consistirá de comprovação da proficiência na língua inglesa, análise do currículo Lattes e entrevista com a comissão avaliadora. O resultado final será divulgado no dia 8 de julho, no site do Ipen.
As aulas estão previstas para começar em 5 de agosto de 2020, também no sistema de ensino a distância.
Mais informações em: www.ipen.br/portal_por/portal/interna.php?secao_id=2947.
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- 23/06/2020 - Estudo identifica fatores que contribuíram para disseminação inicial da COVID-19Fonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Quando deixou a província chinesa de Hubei rumo à Europa e aos vizinhos asiáticos – entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020 – o coronavírus SARS-CoV-2 encontrou em algumas regiões do globo condições particularmente favoráveis à sua disseminação.
Após analisar dados de 126 países, entre eles o Brasil, pesquisadores das universidades de Campinas (Unicamp) e de Barcelona identificaram um conjunto de fatores que teriam favorecido o espalhamento rápido do vírus na fase inicial da epidemia, ou seja, antes que fossem adotadas políticas públicas para conter o contágio.
Segundo o estudo, apoiado pela FAPESP, entre os fatores que contribuíram para a maior taxa inicial de crescimento da COVID-19 estão: temperatura baixa e, consequentemente, população menos exposta aos raios ultravioleta do sol e com menor nível de vitamina D no sangue; maior proporção de idosos e, portanto, maior expectativa de vida; maior número de turistas internacionais nos primeiros dias da epidemia; início precoce do surto (países onde a doença chegou primeiro demoraram mais para tomar medidas de prevenção); maior prevalência de câncer de pulmão, de câncer em geral e de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica); maior proporção de homens obesos; maior taxa de urbanização, maior consumo de álcool e tabaco; e hábitos de saudação que envolvem contato físico, como beijo, abraço ou aperto de mão.
"Escolhemos como ponto de partida de nossa análise o dia em que cada país registrou o 30º caso de COVID-19 e analisamos os dias seguintes [entre 12 e 20 dias, dependendo do país]. O objetivo era entender o que ocorreu na fase em que a doença cresceu livremente, de forma quase exponencial”, explica à Agência FAPESP Giorgio Torrieri, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW-Unicamp) e coautor do artigo divulgado na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares.
Segundo o pesquisador, a proposta era aplicar análises estatísticas comumente usadas na área de física – entre elas a regressão linear simples e o cálculo do coeficiente de determinação – para tentar entender o que ocorreu no início da pandemia. Os dados usados nas análises vieram de fontes diversas – boa parte de um repositório público conhecido como Our World in Data.
"A ideia era avaliar o seguinte: caso não fosse feito nada para conter a doença, com qual velocidade o vírus se espalharia nos diferentes países ou nos diferentes grupos sociais? Fatores como temperatura, densidade demográfica, urbanização e condições de saúde da população influenciam a velocidade do contágio?
Fontes confiáveis
Alguns estudos sugerem que a vacina BCG, contra tuberculose, pode ter algum efeito protetor no caso da COVID-19. As análises feitas pelos pesquisadores da Unicamp e da Universidade de Barcelona indicam a existência de uma correlação fraca entre as duas variáveis (taxa de imunização contra tuberculose e taxa de contágio pelo SARS-CoV-2). Segundo Torrieri, porém, é possível que o resultado tenha sido prejudicado pela falta de dados confiáveis em países onde a vacinação não é obrigatória.
"Quando excluímos os países sem dados de vacinação, a correlação fica fraca. Mas quando incluímos esses locais na análise e assumimos que têm uma taxa baixa de imunização, a correlação se torna mais forte”, conta o pesquisador.
Para alguns dos fatores analisados – entre eles a prevalência de doenças como anemia, hepatite B (nas mulheres) e hipertensão – os pesquisadores identificaram uma correlação negativa. Ou seja, nos países com maior proporção de hipertensos, por exemplo, a taxa de contágio inicial do SARS-CoV-2 foi menor.
"Podemos imaginar que nesses locais há mais doença cardiovascular e, portanto, menor expectativa de vida”, avalia Torrieri.
Entre os fatores analisados que não apresentaram correlação com o contágio (nem positiva e nem negativa) estão: número de habitantes; prevalência de asma; densidade populacional; cobertura vacinal para poliomielite, difteria, tétano, coqueluche e hepatite B; prevalência de diabetes; nível de poluição do ar; quantidade de feriados; e proporção de dias chuvosos. No caso do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, como explicou Torrieri, a correlação se mostrou positiva apenas em valores acima de 5 mil euros.
"O PIB está relacionado com a qualidade da infraestrutura pública. Quanto maior é o PIB per capita de um país, melhor é a infraestrutura de saúde e de moradia, por exemplo. Mas abaixo de 5 mil euros não fez diferença provavelmente porque a infraestrutura é de baixa qualidade”, avalia o pesquisador.
Como destacam os autores no texto, diversas variáveis analisadas estão correlacionadas entre si e, portanto, é provável que tenham uma interpretação comum e não é fácil separá-las. "A estrutura de correlação é bastante rica e não trivial, e incentivamos os leitores interessados a estudarem as tabelas [do artigo] em detalhes”, afirmam.
Segundo os pesquisadores, algumas das correlações apontadas são "óbvias", por exemplo, entre temperatura, radiação UV e nível de vitamina D. "Outras são acidentais, históricas e sociológicas. Por exemplo, hábitos como consumo de álcool e tabagismo estão correlacionados com variáveis climáticas. De forma semelhante, a correlação entre tabagismo e câncer de pulmão é muito alta e, provavelmente, contribui para a correlação deste último [o câncer] com o clima. Razões históricas também explicam a correlação entre clima e o PIB per capita”, dizem os pesquisadores.
Embora seja impossível para os países alterar algumas das variáveis estudadas, como o clima, a expectativa de vida e a proporção de idosos, por exemplo, sua influência na disseminação da doença deve ser levada em conta na formulação de políticas públicas, ajudando a definir estratégias de testagem e de isolamento social, defendem.
Outras variáveis, segundo os autores, podem ser controladas pelos governos: testagem e isolamento de viajantes internacionais; restrição de voos para regiões mais afetadas pela pandemia; promoção de hábitos de distanciamento social e de campanhas visando reduzir o contato físico enquanto o vírus estiver se espalhando; e campanhas voltadas a estimular na população a suplementação de vitamina D, a redução do tabagismo e da obesidade.
"Enfatizamos ainda que algumas variáveis apontadas são úteis para inspirar e apoiar a pesquisa na área médica, como a correlação do contágio com câncer de pulmão, obesidade, baixo nível de vitamina D e diferentes tipos sanguíneos e diabetes tipo 1. Isso definitivamente merece estudo mais aprofundado, com dados de pacientes”, concluem os cientistas.
O artigo COVID-19 transmission risk factors pode ser lido em https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.05.08.20095083v1.full.pdf.
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- 22/06/2020 - Descoberta de mecanismo imune envolvido na COVID-19 abre caminho para novo tratamentoFonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Pacientes com a forma grave da COVID-19 desenvolvem uma resposta inflamatória descontrolada e lesiva ao organismo muito similar à observada em casos de sepse. Experimentos conduzidos no Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID) da Universidade de São Paulo (USP) comprovam que, nessas duas enfermidades, o mesmo mecanismo imunológico está envolvido.
Detalhada em artigo divulgado na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares, a descoberta abre caminho para novas abordagens terapêuticas, entre elas o reposicionamento de um fármaco hoje usado contra fibrose cística – cujo princípio ativo é uma enzima chamada DNase – para o tratamento da infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
"Nos testes in vitro, feitos com o plasma sanguíneo de pacientes internados com COVID-19 grave, a DNase se mostrou capaz de desativar esse mecanismo imunológico que pode causar lesões em órgãos vitais. Agora estamos avaliando com o laboratório farmacêutico que produz o medicamento a viabilidade de iniciar um ensaio clínico”, conta Fernando de Queiroz Cunha, coordenador do CRID – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).
Embora seja conhecida como infecção generalizada, a sepse é, na verdade, uma inflamação sistêmica geralmente desencadeada por uma infecção bacteriana localizada que saiu de controle. Na tentativa de combater os patógenos, o sistema imune acaba prejudicando o próprio organismo. Nas formas mais graves, os pacientes desenvolvem lesões que comprometem o funcionamento de órgãos vitais.
"Por ser uma infecção viral, o processo inicial da COVID-19 é diferente. Mas, a partir de certo momento, o quadro se torna muito semelhante ao da sepse. Os mediadores inflamatórios são os mesmos e observamos que, nos dois casos, há participação das NETs [armadilhas extracelulares neutrofílicas, na sigla em inglês]”, diz Cunha.
Como o próprio nome sugere, a NET é uma estratégia de defesa usada principalmente pelo neutrófilo, um tipo de leucócito capaz de fagocitar bactérias, fungos e vírus e que compõe a linha de frente do sistema imune. Em algumas situações, por motivos ainda não compreendidos, ocorre a ativação de uma enzima conhecida como PAD-4, que migra para o núcleo do neutrófilo e induz um aumento da permeabilidade da membrana nuclear. Esta enzima é fundamental para que o material genético contido no núcleo se descondense e forme redes, que são lançadas pela célula para o meio extracelular com o objetivo de prender e matar potenciais invasores.
Esse mecanismo imunológico já foi observado em pacientes com doenças autoimunes e nos infectados pelo vírus da febre chikungunya – uma arbovirose que também produz lesões em tecidos. "O grande problema é que a NET é tóxica para os patógenos e também para as células humanas. A boa notícia é que nossos estudos mostram que a enzima DNase é capaz de picotar essa rede lançada pelo neutrófilo, evitando danos aos tecidos”, afirma Cunha.
Ensaios pré-clínicos
Estudos recentes mostraram que a infecção pelo SARS-CoV-2 pode causar lesões nos pulmões, coração, rins, nervos e até na pele. Para confirmar a suspeita de que as NETs estariam envolvidas na agressão aos tecidos, os pesquisadores do CRID analisaram amostras do plasma sanguíneo de 32 pacientes internados por COVID-19 e compararam com o plasma de indivíduos saudáveis.
No caso dos 17 participantes do estudo que estavam internados em unidades de terapia intensiva (UTIs) e conectados a respiradores artificiais, foi possível coletar também amostras da secreção que é expelida pelos pulmões e fica armazenada no aparelho. O trabalho contou com a colaboração de professores da FMRP-USP da área básica e também da clínica. O grupo clínico é liderado pelo professor Paulo Louzada Junior. Participaram ainda diversos doutorandos e pós-doutorandos, entre eles Flavio Protássio Veras, primeiro autor do trabalho.
"Vimos que o plasma sanguíneo das pessoas internadas por COVID-19 está repleto de NETs e que a quantidade dessas armadilhas neutrofílicas na secreção pulmonar é ainda 10 vezes maior. Isso sugere que neutrófilos estão produzindo NETs por todo o organismo, mas a produção é concentrada nos pulmões”, conta Cunha à Agência FAPESP.
O achado foi confirmado nas análises feitas com amostras de tecido pulmonar de pessoas que morreram em decorrência da COVID-19, graças a uma parceria com o grupo liderado pelo professor Paulo Saldiva na Faculdade de Medicina da USP em São Paulo. Por um método conhecido como imunofluorescência, o grupo do CRID mostrou que as NETs estão presentes em grandes quantidades nos focos de inflamação existentes no órgão.
"Em um dos experimentos, isolamos neutrófilos do sangue de indivíduos saudáveis e incubamos com o SARS-CoV-2. Foi possível observar que, assim que foram infectadas, as células de defesa começaram a produzir NETs”, diz Cunha.
Em seguida, esses neutrófilos infectados foram colocados em culturas de células epiteliais originárias de tecido pulmonar humano, que morreram após algumas horas de interação. O mesmo efeito letal ocorreu quando os neutrófilos isolados de pacientes internados por COVID-19 foram colocados na cultura de células epiteliais pulmonares.
"No entanto, foi possível evitar a morte das células epiteliais quando tratamos os neutrófilos infectados com a enzima DNase antes de colocá-los no meio de cultura”, conta o pesquisador.
Além da DNase, que atua para desestruturar a armadilha neutrofílica depois que ela é lançada pela célula de defesa, os pesquisadores também testaram um composto capaz de inibir a ação da enzima PAD-4 e, portanto, capaz de evitar a formação da NET. Também nesse caso o tratamento preveniu a morte das células derivadas do epitélio pulmonar, mas a substância testada ainda não foi aprovada para uso em humanos.
"Esse trabalho apresenta evidências de que a DNase hoje indicada para tratar fibrose cística pode ser testada no combate à forma grave da COVID-19. Mas o fato de o fármaco ser administrado por via inalatória dificulta o tratamento de pessoas intubadas. Talvez o ideal seja tratar o paciente em uma fase mais precoce, quando começar a baixar o nível de oxigenação no sangue”, avalia Cunha.
O pesquisador ressalta, porém, que ainda será necessário fazer um ensaio clínico para testar a dose ideal e o momento certo de começar a terapia.
Em parceria com pesquisadores do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), a equipe do CRID também trabalha no desenvolvimento de um novo composto capaz de inibir a enzima PAD-4, cuja ação é essencial para a produção da NET dentro do neutrófilo. Os resultados da pesquisa, cujo objetivo inicial era tratar sepse, devem ser divulgados em breve.
O artigo SARS-CoV-2 triggered neutrophil extracellular traps (NETs) mediate COVID-19 pathology pode ser lido em www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.08.20125823v1.full.pdf.
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- 22/06/2020 - Site do Hospital das Clínicas da USP mostra tecnologias usadas no combate à COVID-19Fonte: Agência FapespAgência FAPESP – Com o intuito de divulgar algumas iniciativas tecnológicas feitas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP), a equipe de Tecnologia da Informação do HC criou um site relatando essas implantações.
A intenção é mostrar o apoio das equipes de TI ao combate da COVID-19, em particular do Núcleo Especializado de Tecnologia de Informação do HC-FM-USP.
O site informa sobre os equipamentos que têm sido utilizados pelas equipes do HC e descreve suas várias utilizações, como na comunicação com familiares para passagem de boletim e visita virtual, entretenimento de pacientes infantis, apoio à equipe de enfermagem nos processos de checagem e aferição de sinais vitais, evitando também a circulação de papéis, que são vetores de transmissão de vírus no caso da COVID-19.
Mais de 300 dispositivos móveis foram distribuídos no complexo para apoiar processos relacionados ao cuidado e à interação. Eles foram recebidos por meio de parceiros como Samsung, Multilaser, Dedalus, Logitech e pessoas físicas.
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- 17/06/2020 - Empresa paulista desenvolve tecido capaz de eliminar o novo coronavírus por contatoFonte: Agência FapespElton Alisson | Agência FAPESP – Pesquisadores da empresa paulista Nanox, apoiada pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), desenvolveram um tecido com micropartículas de prata na superfície que demonstrou ser capaz de inativar o coronavírus SARS-CoV-2.
Em testes de laboratório, o material foi capaz de eliminar 99,9% da quantidade do vírus após dois minutos de contato.
O desenvolvimento do material teve a colaboração de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), da Universitat Jaume I, da Espanha, e do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais(CDMF) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.
"Já entramos com o pedido de depósito de patente da tecnologia e temos parcerias com duas tecelagens no Brasil que irão utilizá-la para a fabricação de máscaras de proteção e roupas hospitalares”, diz à Agência FAPESP Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox.
O tecido é composto por uma mistura de poliéster e de algodão (polycotton) e contém dois tipos de micropartículas de prata impregnadas na superfície por meio de um processo de imersão, seguido de secagem e fixação, chamado pad-dry-cure.
A Nanox já fornecia para indústrias têxteis e de diversos outros segmentos essas micropartículas, que apresentam atividade antibacteriana e fungicida, e em tecidos evitam a proliferação de fungos e bactérias causadoras de maus odores (leia mais em agencia.fapesp.br/30037/).
Com o surgimento do novo coronavírus e a chegada da pandemia no Brasil, os pesquisadores da empresa tiveram a ideia de avaliar se esses materiais também eram capazes de inativar o SARS-CoV-2, uma vez que já havia sido demonstrado em trabalhos científicos a ação contra alguns tipos de vírus.
Para realizar os ensaios, a empresa se associou a pesquisadores do ICB-USP, que conseguiram logo no início da epidemia no Brasil isolar e cultivar em laboratório o SARS-CoV-2 obtido dos dois primeiros pacientes brasileiros diagnosticados com a doença no Hospital Israelita Albert Einstein (leia mais em agencia.fapesp.br/32692/).
Amostras de tecido com e sem micropartículas de prata incorporadas na superfície foram caracterizadas por pesquisadores da Universitat Jaume I e do CDMF por espectroscopia e colocadas em tubos contendo uma solução com grandes quantidades de SARS-CoV-2, crescidos em células.
As amostras foram mantidas em contato direto com os vírus em intervalos de tempo diferentes, de dois e cinco minutos, para avaliar a atividade antiviral.
Os experimentos foram feitos duas vezes, em dois dias diferentes e por dois grupos diferentes de pesquisadores, de modo que a análise dos resultados fosse feita de forma cega.
Os resultados das análises por quantificação do material genético viral por PCR indicaram que as amostras de tecido com diferentes micropartículas de prata incorporadas na superfície inativaram 99,9% das cópias do novo coronavírus presentes nas células após dois e cinco minutos de contato."A quantidade de vírus que colocamos nos tubos em contato com o tecido é muito superior à que uma máscara de proteção é exposta e, mesmo assim, o material foi capaz de eliminar o vírus com essa eficácia”, diz Lucio Freitas Junior, pesquisador do laboratório de biossegurança de nível 3 (NB3) do ICB-USP.
"É como se uma máscara de proteção feita com o tecido recebesse um balde de partículas contendo o vírus e ficasse encharcada”, comparou o pesquisador.
Além de testes para avaliação da atividade antiviral, antimicrobiana e fungicida, o material também passou por ensaios para avaliação do potencial alérgico, fotoirritante e fotossensível, para eliminar o risco de causar problemas dermatológicos.
Aplicação em outros materiais
A empresa pretende avaliar agora a duração do efeito antiviral das micropartículas no tecido. Em testes relacionados à propriedade bactericida, os materiais foram capazes de controlar fungos e bactérias em tecidos mesmo após 30 lavagens, afirma Simões.
"Como o material apresenta essa propriedade bactericida mesmo após 30 lavagens, provavelmente mantém a atividade antiviral por esse mesmo tempo”, estima.
De acordo com o pesquisador, as micropartículas podem ser aplicadas em qualquer tecido composto por uma mistura de fibras naturais e sintéticas. Além de tecidos, a empresa está testando agora a capacidade de inativação do novo coronavírus pelas micropartículas de prata incorporadas à superfície de outros materiais, como filmes plásticos e um polímero flexível, semelhante a uma borracha, que utilizou para desenvolver uma máscara de proteção contra o novo coronavírus em parceria com a fabricante de brinquedos Elka (leia mais em agencia.fapesp.br/32982/).
"O tecido foi o primeiro resultado da aplicação das micropartículas de prata para inativar o novo coronavírus. Mas, em breve, devemos ter vários outros”, afirma Simões.
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- 16/06/2020 - USP prevê continuidade das aulas de forma remota no segundo semestre de 2020Atividades acadêmicas presenciais deverão ser retomadas em janeiro do próximo ano
Atividades acadêmicas presenciais deverão ser retomadas em janeiro do próximo ano
Fonte: Jornal da USPPor Adriana Cruz
O grupo de trabalho coordenado pelo vice-reitor da Universidade, Antonio Carlos Hernandes, apresentou, no dia 16 de junho, o plano de readequação das atividades acadêmicas para o segundo semestre deste ano. O documento foi apresentado durante a Reunião de Dirigentes, que contou com cerca de 130 diretores e vice-diretores da Universidade.
De acordo com o planejamento, elaborado a partir da sistematização das propostas enviadas pelas Unidades de Ensino e Pesquisa e Órgãos da Universidade, tanto as aulas de graduação quanto de pós-graduação deverão continuar sendo ministradas de forma remota a partir do mês de agosto. Para a elaboração do relatório, o grupo também considerou documentos publicados pelo Governo de São Paulo.
"Nossa premissa básica está fundamentada na proteção e na preservação da saúde de nossa comunidade universitária”, destacou o reitor Vahan Agopyan.
Segundo o pró-reitor de Graduação, Edmund Chada Baracat, o primeiro semestre letivo deverá ser encerrado no dia 18 de julho, com posterior período de férias, e início das aulas não presenciais do segundo semestre no dia 18 de agosto. As aulas e atividades práticas de 2020 deverão ser repostas no período de janeiro a março do próximo ano. "É importante destacar que esse calendário poderá ser revisto no momento em que a situação epidemiológica for favorável”, ressaltou Baracat.
Atualmente, das quase seis mil disciplinas teóricas que seriam oferecidas presencialmente no primeiro semestre, 92% foram ministradas a distância com a utilização das plataformas e-Aulas e e-Disciplinas. As atividades presenciais estão suspensas na USP desde o dia 17 de março.
"Novo normal”
No caso da pós-graduação, o pró-reitor adjunto da área, Márcio de Castro Silva Filho, explicou que as aulas não presenciais também deverão ser mantidas, com os mesmos procedimentos adotados no primeiro semestre. Nesse período, 1.116 disciplinas estão sendo oferecidas na modalidade não presencial e já foram realizados 631 exames de qualificação, 431 defesas de mestrado e 295 defesas de doutorado.
"Nosso novo normal será diferente. Não teremos de volta a mesma realidade do início do ano e estamos no comando de uma instituição exemplar mundialmente e com muita responsabilidade. Temos de dar respostas às demandas internas e externas e teremos muitos desafios pela frente. A mudança cultural não é simples, pois estamos rediscutindo conceitos e precisamos decisões diante das incertezas”, considerou o reitor.
Também ficou definido que os campi da Universidade devem continuar com restrição de acesso e atividades como viagens nacionais e ao exterior, recebimento de estrangeiros, trabalhos de campo, eventos científicos, artísticos, culturais e esportivos presenciais devem continuar suspensos.
Além disso, restaurantes, bibliotecas, centros esportivos e culturais e auditórios e anfiteatros devem permanecer fechados e o desenvolvimento das atividades administrativas permanecer de forma remota.
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- 16/06/2020 - As universidades públicas paulistas e os desafios da pandemiaFonte: Agência FapespClaudia Izique | Agência FAPESP – A pandemia da COVID-19 e o isolamento social colocaram um duplo desafio para as universidades públicas paulistas: exigiram que elas mobilizassem todos os recursos de pesquisa para responder a uma demanda urgente de saúde e, ao mesmo tempo, reorientassem a formação presencial de alunos para o ensino a distância.
Na Universidade de São Paulo (USP), cerca de 200 grupos de pesquisas de diversas áreas do conhecimento iniciaram estudos relacionados à COVID-19, enquanto a instituição rapidamente redirecionava 90% das disciplinas para o ensino a distância, de acordo com o reitorVahan Agopyan ."Em duas semanas passamos a oferecer quase todas as disciplinas remotamente, de aulas a estudo de caso. Na pesquisa, reuniram-se grupos que nunca tinham trabalhado juntos e laboratórios se uniram para fazer diagnósticos. Aprendemos a multidisciplinaridade.”
Agopyan e os reitores de outras cinco universidades públicas estaduais e federais participaram ontem (15/06) do webinar "As crises de 2020 e a nova era em construção”, que inaugurou o 3º Fórum Desempenho Acadêmico e Comparações Internacionais, organizado no âmbito do projeto "Indicadores de desempenho nas universidades paulistas", vinculado ao Programa FAPESP de Pesquisa em Políticas Públicas. A programação do 3º Fórum prevê a realização de outros cinco webinars até o dia 18 de junho.
Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) a resposta também foi rápida: além de mobilizar uma força-tarefa para pesquisas e implementar aulas virtuais, a instituição organizou, em uma semana, a campanha Unicamp Solidária, que angariou entre parceiros mais de R$ 1 milhão a serem convertidos em cestas básicas e em tecnologias como, por exemplo, um aplicativo para a avaliação de vulnerabilidades sociais, contou o reitor Marcelo Knobel. "A universidade pública estava sendo atacada e tínhamos que manter posição de defesa. A pandemia nos ofereceu a oportunidade de estreitar laços com a sociedade”.
A Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) também adotou o ensino remoto em suas 34 unidades e nos três centros administrativos espalhados por todo o estado, disse o reitor Sandro Valentini. "As universidades caminharão para o ensino híbrido no pós-pandemia”, previu.
A Universidade Federal do Estado de São (Unifesp), além de digitalizar suas atividades, criou um comitê de enfrentamento da pandemia e buscou convergir projetos de pesquisa para o enfrentamento da doença, de acordo com a reitora Soraya Soubhi Smaili. "Hoje temos 100 projetos de pesquisa voltados para o enfrentamento da COVID-19.”
A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) trocou as aulas presenciais por atividades remotas, criou um calendário suplementar para estágios de conclusão de curso e direcionou a pesquisa para atender aos desafios da doença. "Oferecemos à comunidade testes, produzimos protetores faciais, desenvolvemos projetos de respiradores, cartilhas e apoiamos grupos em isolamento e empresas em dificuldades”, elencou a reitora Wanda Machado Hoffmann.
Na Universidade Federal do ABC (UFABC), um dos desafios foi incluir parte dos alunos no programa de educação digital. "Mapeamos e estabelecemos auxílio emergencial para promover a inclusão digital”, afirmou o reitor Dácio Matheus.
O advento da "nova era”
Jacques Marcovitch, pesquisador responsável pelo projeto "Indicadores de desempenho nas universidades paulistas", prevê que as crises de 2020 – sanitária, econômica, política e social – conduzirão o país para uma "nova era”. "O imprevisível será parte de nosso futuro.”E perguntou aos reitores como cada um deles vê a "nova era” em formação.
Knobel, da Unicamp, acredita que as ferramentas de comunicação on-line vieram para ficar. "Na questão educação, evoluiremos para o ensino híbrido”, afirmou.
"Será impossível planejar o ensino sem incluir uma nova visão de formação de alunos”, disse Agopyan, da USP. "Como universidade de pesquisa temos obrigação de fazer o remoto em ambiente de pesquisa. Apesar da redução da mobilidade, a globalização vai continuar com muita ênfase.”Para Valentini, da Unesp, as instituições terão que ser "mais leves e ágeis”. "A mobilidade virtual será uma destas ferramentas.”
A "conscientização do protagonismo da ciência e da tecnologia” será uma das lições para o futuro, disse Hoffmann. "Teremos que usar a tecnologia para melhorar a qualidade de vida e a sustentabilidade. A pandemia colocou a economia financeira sob o jugo da economia real e das leis da natureza”, completou Matheus, da UFABC.
Para Smaili, a contribuição da Unifesp para o futuro se traduz nas pesquisas clínicas que a universidade começa a realizar com duas vacinas contra a COVID-19, desenvolvidas pela Universidade de Oxford e pelo Instituto Nacional de Doenças Infecciosas da Itália. "O Brasil não foi escolhido por acaso ou porque a pandemia aqui está em ascensão. Foi escolhido porque temos capacidade instalada para dar resposta à sociedade. Esta será a contribuição para a nova era”.
A íntegra dos debates pode ser assistida no endereço:https://www.youtube.com/watch?v=Arx9omr6DxA.
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- 15/06/2020 - COVID-19 já tinha se disseminado pelo Brasil quando medidas de contenção foram adotadasFonte Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Mais de 100 diferentes linhagens do novo coronavírus (SARS-CoV-2) chegaram ao Brasil entre os meses de fevereiro e março de 2020, mas apenas três delas – muito provavelmente vindas da Europa – continuaram a se expandir no país e originaram os mais de 805 mil casos de COVID-19 confirmados até 12 de junho.Essas três linhagens emergiram nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro entre 22 e 27 de fevereiro e sua transmissão comunitária já estava estabelecida no início de março, bem antes de os órgãos de saúde recomendarem a restrição de viagens aéreas e a adoção de "intervenções não farmacológicas” (NPIs, na sigla em inglês) para conter a disseminação do vírus. O Ministério da Saúde regulamentou em 13 de março os critérios de isolamento social e quarentena, que foram implementados por governadores e prefeitos cerca de uma semana depois. As fronteiras terrestres só foram fechadas em 19 de março e a entrada de estrangeiros por voos internacionais só foi restringida no dia 27 do mesmo mês.As conclusões são de um estudo apoiado pela FAPESP e divulgado na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares."Nossos resultados evidenciam a existência de duas fases da epidemia no país. A primeira é de transmissão a curta distância, dentro das fronteiras estaduais de São Paulo e Rio. No início de março teve início a fase dois, de longa distância. Ou seja, as pessoas contaminadas nesses dois estados já estavam levando o vírus para as demais regiões do país quando foram adotadas as NPIs”, conta a pesquisadora Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP), uma das coordenadoras da pesquisa.Para chegar a essas conclusões, os cientistas usaram um modelo de transmissão orientada pela mobilidade da população. Informações sobre viagens aéreas e sobre as mortes confirmadas por COVID-19 entre fevereiro e abril foram cruzadas com dados genômicos do SARS-CoV-2 obtidos pelo sequenciamento de quase 500 isolados virais de pacientes diagnosticados em 21 dos 27 estados brasileiros (contando o Distrito Federal). O trabalho foi conduzido no âmbito do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE).Apesar da queda acentuada nas viagens aéreas nacionais após meados de março, os pesquisadores detectaram um aumento de 25% na distância média percorrida por passageiros aéreos no período. Tal fato, segundo os autores, coincidiu com a disseminação do SARS-CoV-2 dos grandes centros urbanos para o resto do país."Nossos resultados lançam luz sobre o papel de grandes centros populacionais altamente conectados na ignição rápida e no estabelecimento do SARS-CoV-2 e fornecem evidências de que as atuais intervenções permanecem insuficientes para manter a transmissão do vírus sob controle no Brasil”, afirmam no texto.O impacto da quarentenaAntes das medidas de isolamento social serem adotadas, a taxa de contágio do SARS-CoV-2 no Brasil estava em torno de 3. Isso significa que cada infectado transmitia o vírus, em média, para três outras pessoas, o que favorecia o crescimento exponencial da doença.Embora tenham sido implementadas quando a transmissão comunitária já estava estabelecida e o vírus já havia cruzado as fronteiras paulistas e fluminenses, as restrições da quarentena conseguiram – em um primeiro momento – conter significativamente a disseminação da doença.O modelo de transmissão orientada pela mobilidade mostra que a taxa de contágio chegou a ficar abaixo de 1 nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro logo após a adoção das NPIs, o que evitou o crescimento exponencial do número de casos e o colapso dos hospitais.Mas, à medida que a adesão da população ao isolamento diminuiu, a taxa de contágio foi lentamente aumentando para valores entre 1 e 1.3 e não mais baixaram. Especialistas em epidemiologia afirmam que somente quando a taxa de contágio se estabiliza abaixo de 1 durante algumas semanas o crescimento no número de casos e de mortes começa a desacelerar.Por meio de análises de filogeografia – que combinam os dados de sequenciamento do genoma viral com as informações do local em que ocorreu a transmissão – os pesquisadores identificaram que 104 linhagens do SARS-CoV-2 entraram no Brasil, a maioria oriunda dos Estados Unidos.Do total de genomas sequenciados no Brasil, 75% pertencem a três linhagens ou clados de origem europeia: 186 genomas (38%) correspondem ao "clado1"; 161 (33%) são do "clado 2”; e 19 (4%) se inserem no "clado 3”."É possível que as outras linhagens que identificamos não tenham conseguido se expandir porque quando elas entraram no Brasil já haviam sido implementadas as medidas de isolamento social. Mas é bem provável que, à medida que mais isolados virais forem sequenciados no país, clados diferentes sejam identificados. No Reino Unido, onde já foi feito o sequenciamento de mais de 20 mil amostras de pacientes com COVID-19, já foram identificadas mais de mil entradas do novo coronavírus”, conta Sabino.Como explica a pesquisadora, o genoma do SARS-CoV-2 tem cerca 30 mil pares de bases (que formam as cadeias do RNA viral). Caso o vírus que infecta um indivíduo sofra uma mutação na posição 200 da cadeia de RNA, por exemplo, todas as pessoas que se contaminarem a partir desse paciente vão carregar a mesma marca no genoma viral. "Ao cruzar esses dados com informações sobre a data e o local em que as amostras foram coletadas conseguimos traçar a trajetória da epidemia, que ainda está apenas no começo”, afirma Sabino.Segundo a pesquisadora, ainda será preciso sequenciar mais amostras da região Norte do país para determinar, por exemplo, a origem da linhagem que se disseminou fortemente por estados como Amazonas e Pará. "O que já sabemos é que os deslocamentos fluviais entre as cidades amazônicas contribuíram muito para espalhar o vírus”, diz.Na avaliação de Sabino, esse tipo de estudo ajuda a entender como uma epidemia evolui e quais são as principais rotas de transmissão. "Esse conhecimento talvez sirva de lição para que em uma situação futura as medidas sejam tomadas mais precocemente e de forma mais efetiva.”O artigo Evolution and epidemic spread of SARS-CoV-2 in Brazil pode ser lido em https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.11.20128249v1. -
- 15/06/2020 - Fármaco desenvolvido para tratar câncer acelera a recuperação de casos graves de COVID-19Fonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Um medicamento desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para estimular o sistema imune a combater o câncer – ainda em fase de testes clínicos – pode se tornar uma arma importante contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2).
Em testes feitos com cinco pacientes que desenvolveram a forma grave da COVID-19 enquanto lutavam contra tumores na bexiga, a associação do imunoterápico com antibióticos e corticoides amenizou a resposta inflamatória desregulada no pulmão e reduziu o tempo médio de internação de 18 para 10 dias, sem a necessidade de intubação.
O caso mais emblemático foi o de um paciente de 78 anos, que contraiu a infecção durante um cruzeiro pela costa brasileira e foi tratado no Hospital Municipal de Paulínia, cidade próxima a Campinas. Os detalhes foram descritos em artigo publicado no repositório Social Science Research Network, ainda sem revisão por pares. A pesquisa é apoiada pela FAPESP.
"Esse paciente chegou ao hospital com 50% do pulmão comprometido, febre de 38,3o C, dor de cabeça, falta de apetite, dificuldade para respirar e nível de oxigenação no sangue abaixo do normal [87%, quando deveria estar acima de 94%]”, conta Wagner José Fávaro, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e coordenador do estudo.
A despeito da recomendação médica, o paciente resistiu à ideia de "ir para o tubo”, conta o pesquisador. Tabagista de longa data e portador de várias doenças crônicas, temia não sair vivo da ventilação mecânica. "Após conversar com a família, decidimos fazer apenas a suplementação de oxigênio por cateter intranasal e administrar o imunoterápico associado aos antibióticos e corticoides do protocolo padrão do hospital. Após 72h de internação, os marcadores inflamatórios no sangue tinham diminuído significativamente, a saturação de oxigênio estava em 95%, a coriza havia diminuído e a febre, sumido. No sétimo dia, já sem o cateter intranasal, o nível de oxigênio no sangue atingiu 98%. No décimo dia ele teve alta.”
O exame de tomografia feito antes da alta hospitalar revelou que as lesões pulmonares tinham cicatrizado e, no teste sorológico, foi detectada a presença de anticorpos do tipo IgG (imunoglobulina G), que são específicos contra o SARS-CoV-2 e conferem imunidade duradoura, até onde se sabe.
Resultados semelhantes foram observados em outros quatro pacientes submetidos à imunoterapia, todos portadores de câncer de bexiga e outras doenças crônicas e com idade superior a 65 anos. "O que chama a atenção é que indivíduos nessas condições tendem a piorar nos primeiros dias de internação por COVID-19. Mas todos que tratamos com esse protocolo – que consiste em administrar antibióticos e corticoides durante seis dias e o imunoterápico por duas semanas – apresentaram sinais de melhora desde o início”, afirma Fávaro.
Mecanismo de ação
Patenteado pela Unicamp com o nome "OncoTherad”, o imunoterápico começou a ser desenvolvido há cerca de 13 anos com o objetivo de estimular o sistema imune a combater doenças infecciosas e tumores. "Trata-se de uma nanopartícula totalmente sintética capaz de induzir no organismo uma resposta imune de células T, ou seja, de ativar determinados tipos de linfócitos que produzem uma proteína chamada interferon [IFN], importante tanto para combater o câncer como também alguns vírus e bactérias”, explica Fávaro.
A segurança do fármaco já foi comprovada na primeira etapa de testes clínicos. Atualmente, os pesquisadores buscam confirmar sua eficácia contra o câncer de bexiga avançado. "O estudo começou com 30 pacientes (19 homens e 11 mulheres) que já tinham sido submetidos sem sucesso aos tratamentos disponíveis no mercado. Mas temos recebido muitos pedidos de inclusão de novos participantes. Há poucas opções terapêuticas para esse tipo de tumor”, diz o pesquisador.
Todos os integrantes do estudo tinham indicação para a remoção cirúrgica da bexiga e, após o tratamento com o imunoterápico, iniciado há dois anos, quase 80% ficaram livres do tumor. "Nos demais, a doença voltou com menor agressividade, o que permitiu a retirada localizada da lesão”, conta o pesquisador.
Quando veio a pandemia, o grupo da Unicamp observou que alguns dos voluntários do ensaio clínico mantiveram contato próximo com pessoas infectadas pelo novo coronavírus. E, embora todos integrem o grupo de risco da COVID-19, nenhum apresentou sintomas da infecção. "Teve participante que mesmo com o PCR [teste que detecta o RNA do vírus no sangue] positivo permaneceu totalmente assintomático”, conta Fávaro.
A suspeita de que o imunoterápico poderia reduzir a agressividade da infecção pelo SARS-CoV-2 começou a ganhar corpo entre os pesquisadores da Unicamp quando grupos internacionais divulgaram evidências de que o vírus era capaz de inibir no organismo humano a resposta de células T, conta Fávaro.
"Ao que parece, quando as células do pulmão são infectadas pelo novo coronavírus tem início uma tempestade de citocinas [proteínas com ação pró-inflamatória secretadas por células de defesa] que inibe a ação das células T produtoras de interferon. E o OncoTherad é justamente um ativador da produção de interferon”, explica.
Segundo o pesquisador, a falta de um modelo animal adequado para o estudo da COVID-19 tem dificultado a prova de conceito. Ratos, camundongos e outros animais usados nesse tipo de experimento não se infectam naturalmente pelo SARS-CoV-2. Existe apenas um modelo importado de roedor modificado geneticamente para expressar a enzima ACE2 humana – molécula à qual o vírus se liga para invadir as células.
Alterações metabólicas
Para entender por que os pacientes tratados com o OncoTherad se recuperaram mais rapidamente do que a média dos casos graves de COVID-19, pesquisadores do Laboratório Innovare de Biomarcadores, sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, analisaram amostras de sangue e compararam o conjunto de metabólitos (diversos produtos de processos metabólicos que estão ativos, principalmente lipídios e ácidos orgânicos) presentes no fluido antes e depois da imunoterapia.
As amostras foram analisadas por um espectrômetro de massas, aparelho capaz de identificar substâncias em fluidos biológicos de acordo com o peso molecular de cada uma. A interpretação dos resultados contou com auxílio de técnicas de inteligência artificial. Essa parte da pesquisa foi conduzida pela doutoranda Jeany Delafiori, com apoio da FAPESP e orientação do professor Rodrigo Ramos Catharino.
"O que já sabemos é que a infecção causa um estresse oxidativo muito forte no organismo. Nas amostras de sangue coletadas antes do tratamento observamos muitas moléculas oxidadas e muitas moléculas associadas à inflamação, o que corrobora a existência de uma tempestade inflamatória”, diz Catharino.
Já nas amostras coletadas após o tratamento o conjunto de metabólitos era mais parecido com o existente no sangue de um indivíduo saudável. "No futuro, talvez seja possível usar esse padrão de metabólitos ‘sadio’ para determinar a recuperação do paciente”, avalia o pesquisador.
Além de incluir mais pacientes no estudo para melhor compreender o mecanismo de ação da imunoterapia na COVID-19, o grupo de Catharino pretende comparar amostras de pacientes que se recuperaram da doença sem receber o OncoTherad e ver se há diferenças.
Made in Brazil
Caso novos estudos confirmem o potencial do imunoterápico de acelerar a recuperação dos casos graves de COVID-19, os benefícios para o Sistema Único de Saúde (SUS) serão imensos, avalia Fávaro. "Os custos com internação em Unidade de Terapia Intensiva [UTI] diminuiriam significativamente e, na medida em que se reduz a necessidade de ventilação mecânica, amplia-se o número de pacientes graves que podem ser tratados com sucesso”, afirma.
Para isso, segundo o pesquisador, o ideal seria iniciar o tratamento no momento em que o nível de oxigênio no sangue ficar abaixo de 94% e o paciente começar a sentir dificuldade para respirar ou cansaço. "Estamos acrescentando o uso contra COVID-19 na patente, que é fruto de ciência 100% brasileira, financiada com recursos públicos. Caso o medicamento seja aprovado nas últimas fases do ensaio clínico, a patente será licenciada para uma empresa farmacêutica, que deverá fornecê-lo gratuitamente para pacientes do SUS”, diz Fávaro.
Antes disso, porém, será necessário ampliar os estudos clínicos para outros pacientes com quadros moderados ou graves de COVID-19, independentemente de serem pacientes oncológicos. Um estudo com 140 participantes está tramitando na Comissão de Ética em Pesquisa (Conep) para uso da imunoterapia OncoTherad associada ao tratamento clínico padrão no Hospital Municipal de Paulínia. O estudo tem duração prevista de um ano.
O artigo A 78-Year Old Urothelial Cancer Patient with Faster Recovery from COVID-19: Potential Benefit from Adjuvant Active Immunotherapy pode ser lido em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3609259.
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- 09/06/2020 - Mais de 500 substâncias serão testadas contra o novo coronavírus na USPFonte: Agência FapespJosé Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Mais de 500 substâncias bioativas serão testadas para eventual uso no combate ao novo coronavírus. O material é fruto de cinco anos de pesquisa realizada pelo Grupo de Química Medicinal e Biológica do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP), voltada para o tratamento da doença de Chagas. Coordenado por Carlos Alberto Montanari, o projeto teve o apoio da FAPESP.
A possibilidade de que alguma dessas substâncias possa destruir o coronavírus será investigada agora em nova pesquisa coordenada por Montanari: "Planejamento Molecular e Síntese de Inibidores da Principal Protease do Coronavírus SARS-CoV-2 Mpro”. O estudo é apoiado pela FAPESP no âmbito do edital "Suplementos de Rápida Implementação contra COVID-19". "Nosso objetivo é encontrar uma substância que seja capaz de inibir a molécula SARS-CoV-2 Mpro, principal enzima que o coronavírus utiliza para se replicar. Se encontrarmos essa substância, teremos um potencial agente antiviral”, diz Montanari à Agência FAPESP.
O pesquisador explica. "O vírus não é um ser vivo. Para se reproduzir, precisa entrar em uma célula e utilizar a estrutura celular como mecanismo de replicação. Nesse processo, as enzimas desempenham um papel-chave, porque são elas que rompem as ligações químicas das moléculas, liberando energia. Nós também dependemos de enzimas para digerir os alimentos. E algumas das enzimas dos vírus são muito parecidas com as nossas. Se conseguirmos inibir a protease Mpro, que é a principal enzima usada pelo SARS-CoV-2, sem inibir as proteases de seres humanos, teremos um caminho para impedir a replicação do vírus. É isso que pesquisadores do mundo inteiro estão procurando”, afirma Montanari.
Testar uma substância em sistemas celulares "vivos” é o que os pesquisadores chamam de ensaio fenotípico. Se o resultado for positivo, o passo seguinte é identificar o mecanismo molecular envolvido no processo, para que as propriedades da substância possam ser otimizadas – um objetivo que também faz parte do projeto. "São muitas etapas até chegar a um medicamento que possa ser utilizado com segurança pela população”, enfatiza Montanari. "Mas elas são factíveis dentro do elevado grau de rigor científico em desenvolvimento tanto em nosso quanto em outros laboratórios, no Brasil e no mundo”, continua.
Os testes serão realizados pelos pesquisadores Lucio Freitas-Junior e Carolina Borsoi Moraes no laboratório de biossegurança de nível 3 (NB3) do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB-USP), em São Paulo.
Nesta fase inicial, o processo inclui a curadoria de ensaios clínicos relacionados à COVID-19, pois há mais de 1.500 estudos em andamento em diferentes países. E também o mapeamento das interações gene-doença-fármaco para identificar medicamentos já usados no tratamento de outras doenças que possam também ser empregados para a COVID-19. "Isso é extremamente importante porque já conhecemos esses medicamentos e sabemos como o organismo humano responde a eles”, explica Montanari.
O trabalho nesta fase atual inclui ainda o mapeamento molecular alvo-molécula, utilizando aprendizado de máquinas com emprego de um sistema digital inteligente (IDS). E, também com o emprego de aprendizado de máquinas, o cruzamento de dados e informações entre a biblioteca de substâncias do Grupo de Química Medicinal e Biológica da USP e alvos proteicos e celulares relacionados com a COVID-19.
Outra tarefa que está sendo realizada pelo grupo é a docagem molecular das substâncias da biblioteca na principal enzima do coronavírus, a Mpro. A docagem é um método que prevê a orientação preferencial de uma molécula em relação a outra, quando as duas se ligam para formar um complexo estável.
"Como resultado desses estudos, nosso grupo já identificou nove candidatas inéditas, e as sínteses dessas substâncias estão sendo realizadas”, conclui Montanari.
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- 08/06/2020 - No mundo todo, 153 fármacos são testados em pacientes com COVID-19Fonte: Agência FapespAndré Julião | Agência FAPESP – Levantamento feito nas principais bases de dados sobre ensaios clínicos do mundo revela que 153 fármacos estão sendo testados em 1.765 estudos com pacientes que contraíram COVID-19. O número revela a dimensão do esforço científico global em curso para combater a doença, que conta ainda com outras frentes, como a compreensão dos mecanismos moleculares da infecção, o desenvolvimento de vacinas e a geração de dados epidemiológicos sobre a pandemia, por exemplo.
Pesquisas relacionadas à busca de medicamentos e vacinas contra o novo coronavírus serão o tema do seminário on-line "Vetores saudáveis: Desenvolvimento de Medicamentos e Vacinas para a COVID-19 e os Desafios em Saúde no Brasil”, que será realizado nesta quarta-feira (10/06) pela Universidade de São Paulo (USP) e a Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp).
O evento terá como expositores o médico Drauzio Varella; o pesquisador Adriano D. Andricopulo, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e diretor executivo da Aciesp; e Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan e pesquisador do Centro de Terapia Celular (CTC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).
"Uma análise cuidadosa dos 1.765 estudos em andamento revelou algumas surpresas e curiosidades. Entre as 153 substâncias químicas registradas nos testes clínicos há antivirais, antiparasitários e medicamentos desenvolvidos para diferentes condições”, diz Andricopulo, responsável pelo levantamento.
Foram analisados dados das quatro principais bases on-line de estudos clínicos do mundo: Clinical Trials, mantida pelos National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos (1.001 registros); EU Clinical Trials Register, da União Europeia (51 registros); ISRCTN, que segue diretrizes da Plataforma Internacional de Registro de Ensaios Clínicos (ICTRP), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas ICMJE (39 registros), e Chinese Clinical Trial Registry, da China (674 registros). Estudos brasileiros e de outros continentes são registrados em algumas dessas bases.
Andricopulo é pesquisador e coordenador de transferência de tecnologia do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um CEPID apoiado pela FAPESP no IFSC-USP. O centro busca atualmente potenciais antivirais para o tratamento de COVID-19 entre compostos sintéticos e produtos naturais da biodiversidade brasileira, além de realizar estudos voltados ao reposicionamento de fármacos já existentes (leia mais em: agencia.fapesp.br/33270/).
Diversidade de medicamentos
Pela metodologia conhecida como reposicionamento de fármacos, são testadas moléculas já aprovadas para outras doenças ou que estão em fase avançada de testes clínicos. Por isso, entre as 153 moléculas que estão sendo avaliadas para a COVID-19, há uma grande diversidade de classes terapêuticas. Os antivirais aparecem na liderança, com 26 candidatos. Outros 18 são medicamentos anticâncer, 14 imunossupressores, 13 anti-hipertensivos, 12 antiparasitários e 12 anti-inflamatórios.
Entre os outros 58 candidatos estão antibióticos diversos, antiulcerosos, anticoagulantes, antidepressivos, antipsicóticos, vasodilatadores, antidiabéticos, corticosteroides e redutores de colesterol.
Um dos mais promissores, até agora, é o antiviral remdesivir, desenvolvido originalmente para combater o vírus ebola. O medicamento, no entanto, tem a desvantagem de só poder ser administrado na forma injetável. Por isso, duas outras moléculas têm se destacado como alternativas superiores a ele.
A EIDD-2801 ataca a mesma enzima viral que o remdesivir, mas pode ser administrada por via oral, em comprimidos. Além disso, os testes realizados até agora mostram que ela pode ser mais eficaz contra as formas mutantes do vírus, evitando a criação de resistência ao medicamento. Outra molécula semelhante e mais simples, a EIDD-1931, atrapalha o processo de transcrição do material genético do vírus, levando à interrupção da replicação.
O pesquisador ressalta, porém, que não há vacina nem medicamento específico aprovado para a COVID-19 e que, por isso, o levantamento acende um sinal de alerta. "Ainda estamos distantes de alcançar um tratamento com 100% de eficácia e é pouco provável que isso ocorra no curto prazo. E a pouca eficácia dos medicamentos em investigação clínica sugere que o tratamento da COVID-19 deva ser feito com uma combinação de fármacos, de acordo com a avaliação do quadro e das condições de cada paciente”, diz.
O webinar terá abertura de Sylvio Canuto, pró-reitor de pesquisa da USP; Vanderlan Bolzani, professora do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (IQ-Unesp) e presidente da Aciespe Guilherme Ary Plonski, diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. A mediação do debate será do jornalista Herton Escobar.
O evento poderá ser acompanhado pelo site do IEA: www.iea.usp.br/aovivo.
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- 05/06/2020 - Potencial vacina brasileira contra COVID-19 começa a ser testada em animaisFonte: Agência FapespElton Alisson | Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) começaram a testar em camundongos formulações de uma potencial vacina contra a COVID-19.
O objetivo dos ensaios pré-clínicos é identificar um imunizante, em uma determinada formulação e concentração, capaz de induzir uma resposta rápida e duradoura do sistema imunológico dos animais. Tal feito possibilitará avançar para as próximas etapas da pesquisa, que é apoiada pela FAPESP.
"Já conseguimos desenvolver três formulações de vacinas que estão sendo testadas em animais. Em paralelo, estamos formulando diversas outras para identificar a melhor candidata”, diz à Agência FAPESP Gustavo Cabral, pesquisador responsável pelo projeto.
A estratégia utilizada para desenvolver a vacina é baseada no uso de partículas semelhantes a vírus (VLPs, na sigla em inglês de virus like particles).
Essas partículas possuem características semelhantes às de peptídeos e proteínas de vírus, como a de superfície do SARS-CoV-2 – chamada spike –, usada pelo novo coronavírus para se conectar a um receptor nas células humanas – a proteína ACE2 – e infectá-las. Por isso, são facilmente reconhecidas pelas células do sistema imune. Porém, não têm material genético do patógeno, o que as torna seguras para o desenvolvimento de vacinas.
A fim de permitir que sejam reconhecidas pelo sistema imunológico e gerem uma resposta contra o coronavírus, as VLPs são inoculadas juntamente com antígenos – substâncias que estimulam o sistema imune a produzir anticorpos. Dessa forma, é possível unir as características de adjuvante das VLPs com a especificidade do antígeno. Além disso, as VLPs, por serem componentes biológicos naturais e seguros, são facilmente degradadas, explica Cabral.
"Com essa estratégia é possível direcionar o sistema imunológico para reconhecer as VLPs conjugadas a antígenos como uma ameaça e desencadear a resposta imune de forma eficaz e segura”, afirma o pesquisador (leia mais em: agencia.fapesp.br/32743/).
Acompanhamento de longo prazo
As três primeiras formulações de vacinas testadas em camundongos são compostas por peptídeos semelhantes aos que compõem a proteína spike do SARS-CoV-2 e que induzem especificamente células B – linfócitos que estimulam a produção de anticorpos capazes de neutralizar a entrada do vírus nas células.
Além desses peptídeos, também estão sendo formuladas vacinas com peptídeos que induzem especificamente células de defesa do tipo T – linfócitos que induzem a autodestruição (apoptose) de células invadidas pelo vírus, com o objetivo de interromper a replicação do microrganismo.
Os pesquisadores também pretendem elaborar outras formulações com proteínas inteiras semelhantes à spike do novo coronavírus que, ao contrário dos peptídeos, que induzem especificamente células B ou T, estimulam vários tipos de células de defesa.
"Tivemos de importar essas proteínas e nossa expectativa é que cheguem esta semana. Mas a ideia é sintetizá-las e produzi-las no nosso laboratório, assim como já fazemos com os peptídeos”, conta Cabral.
Nos ensaios iniciais, as vacinas são injetadas nos camundongos em diferentes concentrações. A cada semana serão colhidas amostras do plasma sanguíneo dos animais para avaliar a produção de anticorpos induzidos pela vacina.
Ao acompanhar a evolução da resposta imunológica ao longo de meses, será possível identificar qual formulação de vacina, e em que concentração, é capaz de induzir a imunidade do animal ao longo do tempo e neutralizar o vírus.
"Esse acompanhamento contínuo também permitirá sabermos quantas doses da vacina serão necessárias para conferir imunidade”, explica Cabral.
A formulação de vacina que apresentar o melhor desempenho em termos de indução de resposta imunológica será injetada em camundongos transgênicos, que carregam o receptor ACE2 das células humanas, com o qual a proteínaspikedo SARS-CoV-2 se liga. O objetivo é avaliar por quanto tempo a vacina confere imunidade e se é segura para a realização de testes em humanos.
A expectativa dos pesquisadores é que os testes pré-clínicos sejam concluídos no final deste ano.
"Estamos sendo muito cuidadosos com a realização dos testes e tentando responder ao máximo de questões possíveis para conseguirmos avançar com o rigor necessário no desenvolvimento de uma vacina realmente eficaz contra a COVID-19”, afirma Cabral.
"Além da vacina, também estamos produzindo conhecimento e uma plataforma tecnológica que poderá ser útil para o desenvolvimento de vacinas para outras doenças, como a causada pelos vírus zika e chikungunya”, ressalta o pesquisador.
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- 05/06/2020 - Empresa brasileira aprimora tecnologia de ventiladores pulmonaresFonte: Agência FapespEduardo Geraque | Agência FAPESP – A pandemia de COVID-19 deflagrou uma corrida mundial para o desenvolvimento rápido de ventiladores pulmonares eficientes e de baixo custo para o tratamento de pacientes em estado grave.
Para atender a essa demanda e requisitos, a empresa Setup Automação e Controle de Processos, situada em Campinas, está desenvolvendo um projeto apoiado pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas(PIPE) com o objetivo de desenvolver dois novos modelos de ventiladores portáteis.
A proposta foi uma das seis primeiras selecionadas em um edital lançado pelo PIPE-FAPESP em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para apoiar o desenvolvimento de produtos, serviços ou processos criados por startups e pequenas empresas de base tecnológica no Estado de São Paulo, voltados ao combate da COVID-19.
"O objetivo é, no final dos três primeiros meses de trabalho, estarmos com os dois protótipos de respiradores prontos”, afirma William Robert Heinrich, um dos sócios da empresa.
Um dos ventiladores será direcionado para utilização em hospitais de campanha, e o outro modelo, para Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
A diferença básica entre os dois tipos de equipamentos em desenvolvimento está no conjunto de funções que terão. Enquanto os respiradores mais simples, para uso em leitos de enfermaria e hospitais de campanha, visam dar suporte à vida do paciente, ou seja, encher os pulmões de ar, os aparelhos voltados para as UTIs precisam ser mais robustos e ter um preço igualmente acessível.
"Os ventiladores para UTIs também devem ter a função de acompanhar vários indicadores vitais para os pacientes, como controle de fluxo e de volume de oxigênio, de modo a auxiliar os médicos no diagnóstico e na escolha por uma ou outra terapia”, explica Heinrich.
A empresa pretende desenvolver respiradores de simples operação, que possam ser utilizados em regiões mais afastadas dos grandes centros urbanos.
"Temos uma boa experiência em todas as áreas de engenharia envolvidas na construção de um respirador”, afirma o engenheiro.
Com 24 anos de atuação em projetos de inovação na área de automação industrial, com desenvolvimento em áreas mais específicas como pneumática, mecânica, hidráulica e controle em malha fechada, a Setup também está desenvolvendo uma estação automatizada para a realização de testes de calibração de qualquer tipo de respirador.
"Hoje, uma calibração demora entre quatro e oito horas. Queremos baixar esse tempo para minutos”, diz Heinrich.
Adaptações tecnológicas
Os pesquisadores pretendem produzir os equipamentos em escala comercial em menos de sete meses e disponibilizá-los para hospitais públicos e privados.
A fim de acelerar o desenvolvimento e superar obstáculos como a falta de componentes necessários para a fabricação de ventiladores pulmonares no mercado, a empresa tem buscado fazer o máximo de parcerias possíveis com indústrias nacionais para substituir itens importados.
Uma das possibilidades, por exemplo, é usar os bicos injetores feitos para motores flex de automóveis nos respiradores, produzidos em larga escala no Brasil a um custo acessível.
"Por causa das exigências da indústria automobilística, esses componentes já são produzidos em salas limpas, um requisito importante para a utilização em respiradores”, afirma Heinrich.
O equipamento também poderá ser adaptado para utilização em medicina veterinária, para a realização de cirurgias complexas em animais, indicou o pesquisador.
"A adaptação do projeto para uso em animais de pequeno ou grande porte é muito simples de ser feita”, garante.
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- 01/06/2020 - Pesquisadores defendem economia ambientalista para superar a crise causada pela COVID-19Fonte: Agência FapespElton Alisson | Agência FAPESP – A construção de novas rotas de desenvolvimento econômico baseadas na valorização e na valoração da biodiversidade e dos serviços prestados pela natureza (ecossistêmicos), como o fornecimento de água e a regulação climática, será crucial não só para evitar crises desencadeadas por novas pandemias como para superar a atual.
A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do seminário on-line "Biodiversidade, crise climática, economias e pandemias”, que aconteceu em 22 de maio por ocasião do Dia Internacional da Biodiversidade.
O encontro foi realizado por iniciativa da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos BPBES e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, com apoio do Programa BIOTA-FAPESP e da Academia Brasileira de Ciências ABC.
"É fundamental a compreensão de que a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico não são processos antagônicos, mas interdependentes. Desenvolvimento não é viável sem uma base de sustentação dos processos naturais que geram os serviços ecossistêmicos, também conhecidos como contribuição da natureza para o bem-estar humano”, disse Cristiana Seixas, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação da BPBES.
A produção em larga escala de alimentos, fibras têxteis e madeira, entre outros itens, pela rota atual, tem impactado diretamente na expansão de áreas de cultivo agrícola e de pastagem para áreas naturais em biomas brasileiros, como a Amazônia.
Além de possuírem uma grande diversidade de animais, plantas e microrganismos, cuja interação gera os serviços ecossistêmicos, essas áreas de floresta estocam carbono e são reservatórios de vírus, bactérias e outros microrganismos, presentes em espécies selvagens de animais e com potencial de serem transmitidos para o ser humano, como ocorreu com o novo coronavírus, o SARS-CoV-2.
Dessa forma, a destruição dessas áreas naturais causa a perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, agrava a crise climática e aumenta o risco de novas pandemias, ressaltou Seixas.
"Está claro que a escolha de consumo que fazemos hoje de alimentos, roupas ou utensílios domésticos tem implicações diretas na conservação ou destruição de áreas naturais e no risco de novas pandemias”, afirmou a pesquisadora.
A fim de desacelerar a perda de áreas naturais, minimizar as mudanças climáticas e favorecer o desenvolvimento sustentável em longo prazo, será preciso promover mudanças em políticas públicas, nos padrões de consumo e investir em novos modelos de produção agropecuária que conservem a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.
Além disso, será necessário desenvolver sistemas de produção industrial que operem em uma lógica de economia circular, evitando a poluição ambiental; investir na produção de energia renovável, saneamento básico e tratamento de efluentes, de modo a evitar a poluição de corpos d’água; e valorar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos nos processos econômicos, apontou Seixas.
"Em geral, os serviços ecossistêmicos, que são gerados pela interação de animais, plantas, fungos e microrganismos, não são contabilizados nos custos de produção”, disse a pesquisadora.
O serviço de polinização de culturas agrícolas de grande importância para a agricultura brasileira, como a soja (Glycine max) e a laranja (Citrus sinensis), realizado por abelhas e outros polinizadores, foi estimado em 2018 em R$ 43 milhões (leia mais em agencia.fapesp.br/29730).
Já o valor total dos serviços ecossistêmicos prestados pela natureza nas Américas equivale ao PIB do continente, de mais de US$ 24 trilhões por ano, exemplificou Seixas.
Estímulo à economia verde
A crise econômica gerada pela COVID-19 deve resultar em uma retração de 5% a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, que em 2019 foi de US$ 87 trilhões.
Essa redução da atividade econômica global – da ordem de US$ 5 trilhões a US$ 10 trilhões – é equivalente a perda de três a cinco vezes o PIB do Brasil, o nono maior do mundo, estimado em US$ 1,8 trilhão, comparou Carlos Eduardo Frickmann Young, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em economia ambiental.
"Teremos uma crise de desemprego que certamente não tem paralelo no mundo pós Segunda Guerra Mundial”, disse Young.
As crises econômica e fiscal – marcada pela queda de arrecadação de impostos – geradas pela pandemia devem resultar em um aumento dos gastos públicos dos países, voltados a apoiar atividades que contribuam para a recuperação de suas economias.
Os critérios para a concessão desses incentivos devem levar em contar atividades que contribuam para o desenvolvimento de uma economia verde ou de baixo carbono, que não piorem as condições socioeconômicas atuais, avaliou Young.
"O risco agora é que, em vez de ser desenhado um conjunto de incentivos econômicos que melhorem as condições socioeconômicas, se regresse ao modelo econômico anterior à pandemia, que é predatório e gera desemprego”, disse Young.
De acordo com o pesquisador, o modelo econômico adotado pelo Brasil, por exemplo, baseado na agropecuária e na extração mineral, é pouco inclusivo.
O setor agropecuário tem apresentado um déficit de 3,6 milhões de empregos nas últimas duas décadas, apontou.
"O modelo econômico em vigor no Brasil não gera empregos, dinamismo e crescimento econômico desejáveis. É fundamental ter, nesse momento, outra forma de incentivar a recuperação da atividade econômica do país”, avaliou Young.
Na opinião de Eduardo Brondizio, professor da Indiana University, dos Estados Unidos, o momento atual representa uma janela de oportunidades para repensar a trajetória de desenvolvimento econômico e social do planeta.
"Estamos em um momento crítico em que, de maneira sem precedentes, os países vão começar a investir, subsidiar e ajudar a recuperar vários setores da sociedade. Temos a oportunidade de escolher novos caminhos ou reforçar os existentes e que só servem aos interesses de grupos particulares”, avaliou.
O pesquisador brasileiro, radicado há mais de 20 anos nos Estados Unidos, foi um dos coordenadores da primeira avaliação global da biodiversidade, publicada em 2019 pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
O relatório produzido pelo órgão, que inspirou a criação da BPBES, indicou que a extinção de espécies de plantas e de animais tem ocorrido em uma escala sem precedentes e anteviu a possibilidade de surgir uma pandemia (leia mais em agencia.fapesp.br/30430).
"O relatório mostrou que progressivamente estamos erodindo a fundação mais básica da nossa economia, que garante a saúde, segurança alimentar, disponibilidade de água e o bem-estar humano, que é a biodiversidade”, disse Brondizio.
"É preciso dar incentivos para inovações tecnológicas que possam ajudar a baixar a emissão de carbono, a poluição ambiental e os impactos negativos de atividades econômicas em ecossistemas e nas populações humanas”, avaliou.
Falta de governança
Segundo Bráulio Dias, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-secretário da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), os avanços da ciência nas últimas décadas permitiram o desenvolvimento de soluções para reverter o processo de perda da biodiversidade global.
O que é preciso é ter boa governança, que assegure o cumprimento de leis ambientais, o funcionamento de instituições voltadas à preservação do meio ambiente e a tomada de decisões fundamentadas na razão e na ciência, avaliou.
"Infelizmente, hoje, no Brasil, por exemplo, estamos vendo um desmonte das instituições e das políticas ambientais e uma tentativa de subverter e reverter a legislação, sem dar ouvidos aos argumentos da razão e da ciência. Obviamente que esse comportamento vai resultar em grandes prejuízos coletivos, para a sociedade brasileira e para o mundo, especialmente porque o país é o detentor da maior biodiversidade no mundo”, avaliou Dias.
O Brasil era reconhecido por ter políticas na área ambiental consideradas como as mais avançadas no mundo, disse Carlos Joly, professor da Unicamp e coordenador do Programa BIOTA-FAPESP.
"Estamos vivendo um momento crítico de uma sequência de destruição da legislação ambiental, assim como de todas as instituições responsáveis por gerenciar, fiscalizar e monitorar o meio ambiente no Brasil”, afirmou.
Atualmente está sendo discutido no Congresso Nacional o projeto de lei 2.633/20, que trata da regulamentação fundiária na Amazônia, conhecido como "PL da grilagem”, e que representa uma ameaça à preservação da biodiversidade brasileira, apontou Ildeu Moreira, presidente da SBPC.
"Todas as entidades ligadas ao meio ambiente e preocupadas com a questão da biodiversidade brasileira estão atuando neste momento contra a votação desse projeto de lei. A biodiversidade é uma riqueza imensa dos brasileiros e devemos defendê-la em particular neste momento crítico da vida no país, em que temos uma crise sanitária, econômica e social muito intensa”, afirmou Moreira.
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- 28/05/2020 - Epidemia de COVID-19 avança de forma heterogênea e ainda sem controle no BrasilFonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – A quarentena decretada em março por prefeitos e governadores de todas as regiões brasileiras promoveu uma queda substancial na taxa de contágio do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Mas, ao contrário do observado em países asiáticos e europeus que também adotaram medidas de isolamento social, o achatamento da curva epidemiológica no Brasil não foi suficiente para fazer o número de casos e de mortes por COVID-19 parar de crescer.
Segundo estimativa feita por pesquisadores do Imperial College London (Reino Unido), no final de fevereiro, o número de reprodução (Rt) do SARS-CoV-2 em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Amazonasestava entre 3 e 4. Isso significa que, nesses locais, cada indivíduo infectado transmitia o vírus para mais de três pessoas em média, fazendo a epidemia avançar rapidamente. No início de maio, estima-se que o Rt havia caído para valores entre 1 e 2.
"Houve uma redução acentuada na intensidade da transmissão, o que significa que o isolamento social ajudou a salvar muitas vidas e das pessoas mais vulneráveis da sociedade. Mas em nenhum estado o Rt caiu abaixo de 1. E somente quando isso ocorrer poderemos dizer que a epidemia está sob controle. O número de infecções diárias cairá significativamente, seguido pelo número de mortes”, disse Thomas Mellan, primeiro autor de um estudo que buscou descrever a evolução da COVID-19 em 16 estados brasileiros por meio de modelagem matemática. Ainda em versão preprint (sem revisão por pares), o artigo foi postado na plataforma medRxiv em 18 de maio.
Na avaliação do pesquisador, a adesão insuficiente da população ao isolamento social parece ser um dos fatores que explicam a menor eficácia dessa "intervenção não farmacológica” na contenção da doença no Brasil. "O motivo exato não está claro, mas ao analisar o Relatório de Mobilidade Comunitária do Google [baseado em dados de localização de usuários em 131 países] observamos que a redução da mobilidade da população brasileira durante a quarentena é menor do que a registrada na maioria dos países europeus”, contou Mellan à Agência FAPESP.
Alternativas metodológicas
A metodologia do estudo foi apresentada por Mellan e por seu colega do Imperial College London Samir Bhat no dia 21 de maio, durante o webinar "COVID-19 - Epidemiological monitoring and measurement of infectivity rates in key countries”, organizado pela FAPESP e transmitido ao vivo pelo canal da Agência FAPESP no Youtube.
Na ocasião, Bhat explicou que o objetivo do trabalho foi estimar a taxa de ataque (número de pessoas infectadas) e o Rt do novo coronavírus no Brasil, usando como referência o número de mortes por COVID-19 confirmado pelo Ministério da Saúde.
"Há várias estratégias para determinar esses indicadores epidemiológicos: vigilância populacional de infecções [testagem em larga escala para detectar casos sintomáticos e assintomáticos], análises genéticas [inferir o Rt com base em linhagens virais sequenciadas], inquéritos de soro prevalência [avaliar por amostragem o porcentual da população que tem anticorpos contra o vírus], estimar com base no número de casos reportados [método fortemente influenciado pela quantidade de testes realizados no local] ou estimar a partir do número reportado de mortes, que julgamos ser a forma mais segura para países como o Brasil, mas não é livre de erro”, ponderou Bhat.
Os resultados do estudo britânico indicam que cinco estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Amazonas – concentram 81% das mortes relatadas até o momento no país. Estima-se que, nesses locais, a porcentagem de pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 varie de 3,3% (com intervalo de confiança de 95%, podendo variar de 2,8% a 3,7%) em São Paulo para 10,6% (de 8,8% a 12,1%) no Amazonas. O estado com a segunda maior taxa de ataque foi o Pará (5,05%), seguido por Ceará (4,46%) e Rio de Janeiro (3,35%). Entre os 16 estados estudados, Minas Gerais apresentou menor proporção de infectados (0,13%), seguido por Santa Catarina (0,23%) e Paraná (0,25%).
Considerando a margem de erro da pesquisa, os números estimados pelo grupo do Imperial College London para São Paulo e Paraná estão próximos do encontrado nas capitais desses estados por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) na primeira fase do estudo EPICOVID19-BR: 3,1% na cidade de São Paulo e 12,5% em Manaus (AM). Realizado entre os dias 14 e 21 de maio, o inquérito sorológico abrangeu coleta e análise de amostras de sangue de mais de 25 mil pessoas, em 133 cidades. O objetivo foi calcular o porcentual da população que já desenvolveu anticorpos contra o SARS-CoV-2. O trabalho foi coordenado pelo reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, que foi um dos palestrantes do seminário on-line promovido pela FAPESP na semana passada.
Nas principais cidades do Pará, o estudo apontou que o índice de infectados chega a 24,8% na cidade de Breves, 15,4% em Castanhal e 15,1% na capital Belém. Em Tefé, município do interior do Amazonas, a taxa de soroprevalência foi de quase 20%.
No conjunto das 90 cidades em que o grupo do EPICOVID19-BR conseguiu testar mais de 200 pessoas (número mínimo para fazer as análises), a taxa de soroprevalência foi estimada em 1,4%, podendo variar de 1,3% a 1,6% pela margem de erro da pesquisa. Segundo os autores, os resultados não devem ser extrapolados para todo o país, nem usados para estimar o número absoluto de casos no Brasil, pois são cidades populosas, com circulação intensa de pessoas e que concentram serviços de saúde. De qualquer modo, a comparação dos números estimados pelo grupo da UFPel e os números oficiais do Ministério da Saúde aponta que, para cada caso confirmado de COVID-19 nesses municípios, existem sete casos reais na população.
Várias epidemias em uma
Os resultados do EPICOVID19-BR indicam que a região Centro-Oeste é a menos afetada do país até o momento. Nenhum teste positivo foi registrado nas nove cidades estudadas, embora já existam casos e óbitos notificados nesses locais. No Rio Grande do Sul, onde já foram concluídas, entre abril e maio, três ondas de testes sorológicos em nove cidades, a taxa de soroprevalência encontrada também foi baixa: variando entre 0,05% (primeira coleta) e 0,22% (terceira coleta).
A região Norte, por outro lado, tem hoje o cenário epidemiológico mais preocupante do país, segundo a pesquisa brasileira, abrigando 11 das 15 cidades com maior proporção de infectados.
A conclusão vai ao encontro dos resultados do modelo britânico, que mostram uma ampla heterogeneidade nas taxas de ataque dos estados estudados, sendo que as regiões Norte e Nordeste parecem estar em um estágio avançado da epidemia, que, em escala nacional, ainda pode ser considerada incipiente.
"Apesar dessa heterogeneidade, no entanto, em nenhum estado a imunidade de rebanho parece estar próxima de ser alcançada”, afirmam os pesquisadores do Imperial College, referindo-se à taxa necessária de infectados (estimada entre 60% e 70%) para que o vírus não consiga mais se propagar na população. "Dado o estágio inicial da epidemia no Brasil, há perspectiva de agravamento da situação caso outras medidas de controle não sejam implementadas”, concluiu o estudo.
Em busca de soluções
Além de Hallal e dos pesquisadores britânicos, o rol de palestrantes do seminário on-line contou com Cécile Viboud, pesquisadora do Centro Internacional Fogarty, vinculado aos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, e Michael Levitt, ex-professor da Universidade Stanford (Estados Unidos) hoje baseado em Israel e vencedor do Nobel de Química em 2013. A mediação foi feita pelo professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Rui Maciel.
"Este é o primeiro de uma série de seminários on-line que a FAPESP pretende promover na tentativa de contribuir para a busca de soluções contra a COVID-19, instigando cientistas nacionais e internacionais e trazendo à tona perguntas e discussões relevantes”, afirmou durante a abertura Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fundação.
Em sua apresentação, Viboud apresentou resultados de estudos de modelagem que buscaram avaliar o impacto de diversas intervenções adotadas no início de janeiro para conter a epidemia na China, principalmente nas cidades de Xangai e de Wuhan.
"Uma das primeiras coisas que nos interessamos foi quantificar as mudanças no número de reprodução. Inicialmente, vemos um período de rápido crescimento da epidemia, com Rt de 2,5. Após 23 de janeiro muitas intervenções foram feitas, incluindo forte distanciamento social, e o Rt cai rapidamente abaixo de 1, e assim permanece até agora”, contou a pesquisadora.
Já Levitt, que tem sido um crítico contundente das políticas de isolamento social, argumentou que, ao contrário do que sugerem os principais modelos epidemiológicos – entre eles o do Imperial College London –, a COVID-19 não cresce exponencialmente, ainda que nenhuma medida de contenção seja implementada.
"Este seria um fenômeno realmente aterrorizante, pois saltaríamos de três casos para 1 milhão em um período de duas semanas caso houvesse crescimento exponencial puro”, disse.
Após avaliar as informações sobre os casos confirmados na China, Levitt concluiu que a curva epidemiológica da doença segue o padrão da chamada curva de Gompertz ou função Gompertz, modelo matemático em que o crescimento é menor no começo e no fim do período temporal.
"Essa coisa toda sobre achatar a curva não tem sentido, pois a curva começa a se achatar sozinha desde o primeiro dia da epidemia”, argumentou.
Na avaliação de Hallal, de fato a taxa de crescimento de novos casos e de mortes começou a baixar em países como Itália, Espanha e Inglaterra bem antes de ser atingido o porcentual de infectados necessário para a imunidade de rebanho.
"Com as medidas de isolamento, o vírus acaba circulando menos e o número de pessoas suscetíveis que ele encontra não é tão grande. A boa notícia é que não é preciso haver tanta gente infectada para os casos começarem a cair. Por outro lado, como a maior parte da população ainda não tem imunidade, é bem provável que daqui a algum tempo venha outra onda da doença. Não podemos subestimar o valor do distanciamento social”, disse à Agência FAPESP.
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- 27/05/2020 - International research collaboration highlights benefits of partnershipsIn 2019, Chancellor Ronnie Green charged the University of Nebraska-Lincoln to become a transformative, world-leading university.
In 2019, Chancellor Ronnie Green charged the University of Nebraska-Lincoln to become a transformative, world-leading university.
Fonte: site da Universidade de Nebraska Lincoln
by Courtney Van Hoosen | Office of Global Strategies
Nebraska continues to take meaningful steps towards this bold vision through multiple aims outlined in the N2025 Strategic Plan, including increasing the impact of research activity and broadening its global partnerships. Dr. Sudeep Banerjee’s collaboration with Dr. Nilson Vieira of the Nuclear and Energy Research Institute (IPEN) in São Paulo, Brazil is one such example of an international collaboration creating benefits for Nebraska and Brazil.
"Our partnership is complimentary,” Banerjee said. "They have a lot of expertise in things like laser machining, which we don’t have. On the other hand, we have some of the best laser systems, which they don’t have. So you can tie the two areas together and try to get something more from it.”
Banerjee, a research associate professor in the Department of Physics and Astronomy and Nebraska’s Extreme Light Laboratory, has been working with the team at IPEN since January 2019 through a São Paulo Researchers in International Collaboration (SPRINT) award. His award is co-funded by the university and the São Paulo Research Foundation (FAPESP).
"The overall goal of this project is to generate high-energy electron beams using very low energy laser pulses,” Banerjee explained. IPEN’s lasers are low-power systems that aren’t typically used to create high-energy electron beams. However, through the design of novel supersonic nozzles and a series of low-energy laser pulses, the teams hope to achieve high-energy acceleration for lower-cost alternatives to laser-driven medical therapy.
Unfortunately, the spread of COVID-19 and the global pandemic have put parts of Banerjee’s and Haden’s research on hold. Although the Nebraska team was able to bring back some gas jet nozzles to test pulse operation with the low-energy Archimedes laser at UNL, the final design of the new supersonic nozzle array is pending the reopening of labs in Brazil and Nebraska.
Still, both sides look forward to resuming collaboration hopefully in the fall, as restrictions put in place during the pandemic begin to ease up. Next steps in the joint proposal include testing the final nozzle array and preparing papers summarizing the results of the experiments for future publication and conferences. IPEN also hopes to send a team to Nebraska to conduct experiments on electron acceleration using UNL’s Archimedes laser and a visiting graduate researcher to work on additional collaborative projects.
Both Banerjee and Haden agree the international collaboration has been exciting and beneficial for the project, as well as the cultural exchange. Banerjee, who’s originally from India, believes the visit to Brazil highlighted the importance of diverse perspectives.
"If you have a person from a different culture, it brings a very new perspective into how you do things. And sometimes, they’ll change my approach,” Banerjee said.
Haden, who’s originally from Aurora, Nebraska, is grateful he had a chance to participate in the research trip and project to become more exposed to the world.
"Coming from a small town, you don’t really get to experience what the world is like,” Haden explained. "But science is pretty universal. Even though it’s a large world, we’ve got people working towards a common cause and that unites us all, no matter where we’re from.”
Dr. Sudeep Banerjee is a 2019 SPRINT awardee funded by Nebraska’s Office of Research and Economic Development, the Department of Physics and Astronomy, and the São Paulo Research Foundation (FAPESP). Proposals for the next round of SPRINT funding are due June 15, 2020.
For more information about the SPRINT awards or upcoming deadlines, please contact Liana Calegare, IANR Global Engagement Senior Global Programs Manager, at lcalegare2@unl.edu.