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- 08/05/2020 - Pesquisadores estimam haver mais de 1,6 milhão de casos de COVID-19 no BrasilFonte: Agência FAPESPMaria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Estimativa realizada por pesquisadores brasileiros e publicada no site COVID-19 Brasil aponta mais de 1,6 milhão de casos da doença causada pelo novo coronavírus no país, sendo 526 mil só no Estado de São Paulo. O número, referente ao dia 4 de maio, é 14 vezes maior que o registro oficial. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o país registrava 108 mil casos confirmados da doença, sendo 32 mil só no estado paulista.
A contabilização desses casos ocultados das estatísticas pela subnotificação colocaria o Brasil como o novo epicentro da doença, ultrapassando os 1,2 milhão de casos registrados nos Estados Unidos, país com população maior que a brasileira.
"É sabido que existe uma grande subnotificação de casos no Brasil todo, pois só se estão sendo testados os casos graves, de quem vai para os hospitais. Mas de quanto é essa distorção da realidade? A motivação deste estudo é, de alguma forma, contribuir para o planejamento da epidemia, pois com essa subnotificação tremenda só estamos vendo a ponta do iceberg”, diz Domingos Alves, integrante do grupo COVID-19 Brasil, formado por cientistas de mais de 10 universidades brasileiras para monitorar a epidemia por meio de técnicas de ciências de dados.
O pesquisador, que também é coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que uma estimativa mais realista do número de casos de COVID-19 permitiria que governos e população tivessem maior capacidade de planejar medidas de combate à pandemia.
"Para ter uma noção real da dimensão, o ideal seria testagem em massa. Como não temos testes disponíveis para todos, as estimativas podem servir de base para o gerenciamento de medidas de confinamento, necessidade de novos leitos e da abertura de hospitais de campanha”, diz Alves, que tem experiência em modelagem de epidemias de pneumonia.
Para chegar ao número de casos 14 vezes maior que o registro oficial, os pesquisadores se basearam nos dados epidemiológicos da Coreia do Sul e ajustaram fatores como pirâmide etária, porcentual de comorbidades e fatores de risco para COVID-19 na população brasileira. O ajuste contou ainda com informações sobre o número de óbitos.
"Aparentemente, o número de óbitos é um preditor para o número de casos. Já se sabe que a taxa de letalidade em diferentes países é mais ou menos fixa: 5,8% do total de casos”, diz.
No entanto, Alves ressalta que existe também grande subnotificação dos casos de morte. "Há uma discrepância. Em meio a uma epidemia, pessoas morrem com sintomas de COVID-19, mas permanecem como casos suspeitos, pois não foram e nem serão testados. Em muitas cidades já está acontecendo de as pessoas morrerem em casa, sem receberem nenhum atendimento. É a subnotificação das mortes. Trabalhamos com base apenas nas mortes confirmadas”, diz.
Dessa forma, ressalta o pesquisador, a realidade deve ser ainda mais grave que a estimativa. "É muito possível que seja 20 vezes pior do que os dados oficiais estão mostrando. A estimativa de a epidemia ser 14 vezes mais grave que o registrado já assusta e pode fazer com que as pessoas optem por um lockdown ou cobrem mais leitos e hospitais de campanha, mas é importante ressaltar que se trata de uma estimativa para baixo que estamos fazendo nesse estudo”, diz.
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- 07/05/2020 - Combate ao coronavírus: startup brasileira disponibiliza plataforma gratuita para estudos de células do pulmãoA tecnologia permite personalizar o tipo e origem das células que vão ser estudadas, visando entender como o vírus da COVID-19 atua e como as medicações interferem na sua evolução
A tecnologia permite personalizar o tipo e origem das células que vão ser estudadas, visando entender como o vírus da COVID-19 atua e como as medicações interferem na sua evolução
Fonte: Portal Nacional de Seguros SEGS
MatriWell™ - plataforma desenvolvida pela TissueLabs para fabricar barreiras epiteliais 3D in vitro.
Com a pandemia do coronavírus, há uma necessidade urgente da comunidade científica ampliar o seu conhecimento sobre o vírus e potenciais alvos terapêuticos, apesar dos diversos estudos sobre a eficácia de drogas já existentes. Diante deste cenário, a TissueLabs, startup da Incubadora USP/IPEN-Cietec, que atua na fabricação de órgãos e tecidos em laboratório, direcionou toda sua equipe científica para o desenvolvimento do MatriWell™, plataforma que permite estudar o COVID-19 no epitélio pulmonar, tecido afetado pelo vírus. A solução será distribuída gratuitamente aos pesquisadores que estão desenvolvendo estudos sobre a doença.
Como funciona
O MatriWell™, tecnologia tridimensional desenvolvida pela startup, possui matriz extracelular, tecido de suporte às células presentes no pulmão, permitindo que estas células fiquem expostas a um microambiente mimético, àquele encontrado no órgão dos pacientes. Além disso, a plataforma permite ao pesquisador personalizar o tipo e origem das células que serão estudadas.
Isso significa, por exemplo, que será possível utilizar células de pacientes com outras comorbidades como, asma e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), para criar tecidos tridimensionais personalizados, possibilitando compreender como o vírus atua nestes casos específicos e como as medicações utilizadas por esses pacientes interferem na evolução da COVID-19.
De acordo com Gabriel Liguori, CEO da TissueLabs, as atuais plataformas disponíveis para pesquisas in vitro do coronavírus no epitélio pulmonar não conseguem replicar o tecido encontrado no pulmão humano. "De maneira geral, as culturas bidimensionais, tradicionalmente utilizadas na pesquisa biomédica, submetem as células a um microambiente muito diverso daquele encontrado no organismo. Isso leva centenas de novos compostos a serem submetidos a testes pré-clínicos e clínicos com baixíssima taxa de sucesso, desperdiçando recursos que poderiam estar sendo aplicados para o desenvolvimento de compostos com maior chance de êxito", afirma o pesquisador.
Para solicitar a plataforma, o pesquisador deve acessar o site https://www.tissuelabs.com/covid-19 e preencher o formulário de requerimento.
Sobre a TissueLabs
A TissueLabs é uma startup de biotecnologia incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC), incubadora de empresas de base tecnológica localizada na Universidade de São Paulo (USP). Desenvolve pesquisas na área de fabricação de órgãos em laboratório e comercializa insumos e equipamentos para suporte à pesquisa nas áreas de medicina regenerativa e engenharia de tecidos. Atualmente, a TissueLabs oferece soluções em 16 diferentes tecidos e órgãos para pesquisadores trabalhando nas mais diversas áreas do setor de ciências da vida.
Sobre o Cietec
O Cietec - Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia, fundado em abril de 1998, tem como missão incentivar o empreendedorismo e a inovação tecnológica por meio da criação, fortalecimento e a consolidação de empresas de base tecnológica. O Cietec apoia a transformação de conhecimento em produtos e serviços para o mercado, a inserção no ecossistema de inovação, a capacitação técnica e de comercialização, contribuindo para o aumento da competitividade no Brasil.
O Cietec é a entidade gestora da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica USP/IPEN, onde são conduzidos processos de incubação de empresas inovadoras, em diferentes níveis de maturidade. Nesses processos, são oferecidos serviços de apoio para demandas nas áreas de gestão tecnológica, empresarial e mercadológica, aproximação com o investimento-anjo, capital semente e venture capital, recursos de fomento público, além de infraestrutura física para a instalação e operação dessas empresas.
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- 07/05/2020 - Unicamp estimula produção local de insumos para o principal teste de COVID-19Fonte: Agência FAPESPElton Alisson | Agência FAPESP – Considerado o padrão-ouro no diagnóstico da COVID-19, o teste de RT-PCR (transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase, na sigla em inglês) ainda tem sido pouco realizado no Brasil. A principal razão é a falta dos reagentes necessários para executá-lo – todos importados e escassos no mercado.
A fim de diminuir a dependência externa desses insumos e contribuir para aumentar a disponibilidade desse tipo de exame no país, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estão produzindo matérias-primas e estabelecendo protocolos para utilizar reagentes produzidos por startups de biotecnologia situadas em São Paulo nos testes de diagnóstico de COVID-19 por RT-PCR feitos na instituição.
"A ideia é conseguir usar insumos e reagentes produzidos no país em todas as etapas do teste de RT-PCR”, diz à Agência FAPESP André Schwambach Vieira, professor do Instituto de Biologia da Unicamp e integrante da força-tarefa formada por pesquisadores da instituição para combater o novo coronavírus (SARS-CoV-2).
O teste do tipo RT-PCR, também chamado de teste molecular, permite identificar o material genético do vírus em secreções da mucosa nasal e da garganta e tem sido usado massivamente em países considerados exemplos no controle da COVID-19, como a Alemanha e a Coreia do Sul.
Isso porque o exame possibilita identificar o vírus logo no início da infecção, a partir do terceiro até o sétimo dia do início dos sintomas, e isolar mais rapidamente os pacientes de modo a diminuir o contágio. Já testes sorológicos, que verificam a resposta imunológica ao coronavírus, são capazes de constatar a doença em uma fase mais tardia – a partir do décimo dia do início dos sintomas, quando já foram produzidos os anticorpos.
Para fazer a coleta da secreção do nariz ou da garganta é usado um cotonete estéril comprido (swab). Mas até esse insumo básico está em falta no mercado em função da corrida de vários países para realizar testes diagnósticos, afirma Vieira.
Em contato com os pesquisadores, a Braskem – empresa produtora de resinas plásticas – se dispôs a estudar uma forma de também produzir no país o insumo, composto por uma haste flexível de plástico e fibra sintética, como o náilon ou raiom, na ponta.
"Já fizemos algumas reuniões com representantes da empresa, que se incumbiram de analisar a viabilidade de produzir swabsno país”, diz Vieira.
As amostras de secreção coletadas são enviadas aos laboratórios de análises mergulhadas em solução salina (soro fisiológico). Lá são submetidas a um processo de extração e purificação do material genético do vírus – o RNA – de modo a eliminar o invólucro formado por proteínas (capsídeo) que protege o microrganismo, além de outras proteínas e enzimas presentes nas amostras.
"A purificação do RNA viral é uma etapa crítica, pois permite que o teste tenha a maior sensibilidade possível e garante a reprodutibilidade dos resultados”, explica Vieira.
Hoje, para realizar milhares de testes de PCR para diagnóstico da COVID-19 é necessário empregar partículas nanomagnéticas chamadas nanobits. Esses kits de extração de RNA, contudo, também são importados e estão em falta no mercado.
Um grupo de pesquisadores do Instituto de Química da Unicamp, coordenado pela professora Ljubica Tasic, conseguiu sintetizar partículas micromagnéticas para extração e purificação de RNA viral.
As micropartículas são compostas de magnetita revestida com silicato. Em contato com as partículas, o RNA se liga a elas por uma interação eletrostática e é absorvido pelo silicato. Ao lavar as partículas, o material genético do vírus é extraído para fazer a PCR.
"Testamos as partículas tanto com RNA viral como bacteriano e os resultados foram muito positivos. Se tudo correr bem, poderemos usá-las, agora, para fazer diversos testes simultaneamente”, afirma Tasic.
A quantidade de partículas magnéticas produzidas inicialmente pelos pesquisadores é suficiente para 10 mil extrações de RNA do novo coronavírus. A ideia é aumentar progressivamente a produção.
"Agora temos um produto substituto ao importado para fazer extração e purificação de RNA”, diz Tasic.
Substituição de importação
Outros insumos importados que os pesquisadores da Unicamp também já conseguiram substituir nos testes de RT-PCR são enzimas, primerse sondas usadas nas etapas seguintes às da extração e purificação.
Por meio de uma parceria com as startups Ecra Biotec e Exxtend, foram validados os reagentes produzidos pelas duas empresas de acordo com o protocolo para realização de diagnóstico de COVID-19 por teste de RT-PCR elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), explica Vieira.
As duas empresas foram apoiadas pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
"Já usávamos os reagentes produzidos por essas empresas em projetos de pesquisa anteriores. Agora, com a pandemia de COVID-19, decidimos compará-los com os importados para verificar se apresentam a mesma qualidade e eficiência. Os resultados foram muito positivos”, conta Vieira.
As enzimas desenvolvidas pela Ecra Biotec, com apoio do PIPE-FAPESP, chamadas transcriptase reversa, são usadas para converter o genoma do vírus SARS-CoV-2 de RNA para DNA.
"Fizemos uma série de testes comparativos com as enzimas comercializadas hoje e constatamos que apresentam resultados superiores”, diz Fábio Trigo Raya, sócio-fundador da empresa.
Já a Exxtend produz sequências curtas de DNA, chamada sprimerse sondas, que auxiliam na amplificação e na detecção do material genético do vírus em uma amostra.
Se o vírus estiver presente na amostra, seu material genético será replicado milhões de vezes e a luz emitida por moléculas fluorescentes ligadas às sequências de DNA será registrada pelo sensor do equipamento de análise como um sinal da infecção. Dependendo da intensidade dessa luz, é possível até estimar a quantidade de vírus presente no paciente.
"Temos planos de aumentar nosso portfólio e produzir uma série de outros insumos necessários para apoiar o desenvolvimento de testes diagnósticos no país”, diz Paulo Roberto Pesquero, diretor da empresa.
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- 03/05/2020 - Pesquisadores do Butantan combinam técnicas de biotecnologia para formular vacina contra COVID-19Fonte: Agência FAPESPMaria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto Butantan vão combinar técnicas inovadoras de biotecnologia para formular uma nova vacina contra COVID-19. O objetivo é induzir no organismo, de modo mais efetivo, diferentes tipos de resposta imune contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2).
A nova estratégia é inspirada em um mecanismo usado por certas bactérias para "despistar” nosso sistema imune: elas liberam pequenas esferas feitas com o material de suas membranas como iscas para desviar a defesa do organismo. Essas vesículas, denominadas membranas pelos pesquisadores, têm a propriedade de ativar intensamente o sistema imunológico e, por isso, atraem células e moléculas da defesa do organismo.
Os pesquisadores vão aproveitar esse artifício das vesículas de membrana e acoplar a elas proteínas de superfície do novo coronavírus. Criadas em laboratório, essas vesículas atrairiam a defesa imune contra as proteínas de superfície do SARS-CoV-2, induzindo uma memória a ser mobilizada no caso de uma eventual infecção. A formulação estimularia não só a produção de anticorpos, mas também de outras células ligadas ao sistema imune, como macrófagos e glóbulos brancos.
"Para essa abordagem, juntamos duas estratégias diferentes que já vínhamos utilizando no desenvolvimento de vacinas contra outras doenças. A nova técnica permite que as formulações contenham uma grande quantidade de um ou mais antígenos do vírus em uma plataforma fortemente adjuvante, induzindo uma resposta imune mais pronunciada”, diz Luciana Cezar Cerqueira Leite, pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan.
O estudo, apoiado pela FAPESP, integra uma plataforma de pesquisa que envolve o desenvolvimento de vacinas para coqueluche, pneumonia, tuberculose e esquistossomose, com base em técnicas desenvolvidas para a BCG recombinante (usada para prevenir formas graves de tuberculose em crianças). Recentemente, foi criada uma nova linha no projeto voltada ao desenvolvimento de uma vacina para a COVID-19.
"No mundo todo, e aqui no Brasil também, estão sendo testadas diferentes técnicas. Muitas delas têm como base o que já estava sendo desenvolvido para outros vírus, como o que causou o surto de SARS em 2001. Esperamos que funcionem, mas o fato é que ninguém sabe se vão realmente proteger. Neste momento de pandemia, não é demais tentar estratégias diferentes. A nossa abordagem vai demorar mais para sair, mas, se aquelas que estão sendo testadas não funcionarem, já temos os planos B, C ou D”, diz a pesquisadora.
Muitas vacinas consistem em soluções com o patógeno morto ou atenuado. São as chamadas vacinas celulares que, ao serem injetadas no indivíduo, têm por objetivo desenvolver a resposta imune contra o microrganismo, como anticorpos específicos e outras células de defesa de modo seguro, sem sofrer as consequências da doença. Dessa forma o indivíduo fica imunizado, tendo uma "memória de combate” do próprio sistema imune contra um determinado patógeno.
"As vacinas celulares são formas simples, e com frequência eficazes, de se obter um imunizante, porém, essas abordagens nem sempre funcionam, principalmente para patógenos com grande variabilidade antigênica ou organismos mais complexos, com mecanismos de evasão do sistema imune mais sofisticados”, diz a pesquisadora.
Estratégias combinadas
O grupo do Butantan propõe a combinação de duas estratégias para o desenvolvimento de uma vacina acelular. De um lado, tem-se as proteínas recombinantes de antígenos de superfície do novo coronavírus, que têm o papel de deflagrar a produção de anticorpos específicos contra o SARS-CoV-2. De outro lado, utiliza-se vesículas de membrana externa (Outer membrane vesicles conhecidos como OMVs) como matriz suporte dos antígenos, para que a partícula mimetize o vírus.
"As vesículas de membrana externa podem modular a resposta imunológica, em geral, aumentando e melhorando a proteção. Muitas vacinas têm o hidróxido de alumínio como principal adjuvante. No nosso caso, usaremos as OMVs para uma apresentação do antígeno com forte poder adjuvante embutido, que garante uma resposta melhor”, diz.
Para isso, a vacina em desenvolvimento no Butantan usará uma plataforma inovadora de apresentação de antígenos chamada Multiple antigen presenting system (MAPS), desenvolvida por um colaborador da Universidade de Harvard (Estados Unidos) e usada em uma formulação experimental contra o pneumococo.
Basicamente, o complexo molecular é montado por um sistema de acoplamento semelhante ao usado para detecção na reação de ELISA (ensaio de imunoabsorção enzimática), muito usada em diagnósticos. Esse tipo de teste de laboratório é usado para detectar anticorpos contra um determinado patógeno e assim diagnosticar doenças. No processo desenvolvido em Harvard, um ou vários antígenos são ligados a polissacarídeos das cápsulas das bactérias, como se fossem peças de encaixar.
"É uma plataforma que permite a ligação não-covalente de proteínas de forma muito eficiente, permitindo saturar a superfície da OMV com as proteínas do vírus, tornando-as bastante imunogênicas”, disse Cerqueira Leite à Agência FAPESP.
A ideia de usar as OMVs partiu da observação de uma estratégia que determinadas bactérias gram-negativas adotam para escapar do sistema de defesa do hospedeiro. "Quando infectam organismos, as bactérias produzem essas vesículas a partir de sua própria membrana externa. O intuito é atrapalhar a resposta do sistema imunológico. Anticorpos e outras células relacionadas ao sistema imune ficam tentando matar as vesículas em vez de atacar as bactérias, que ficam livres para se multiplicar no organismo”, diz.
Na nova formulação, a presença dessas vesículas extracelulares tem a função de estimular a resposta imunológica. "Elas são muito imunogênicas. Estudos recentes mostram que têm grande capacidade de ativar células dendríticas e macrófagos”, diz.
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- 02/05/2020 - Pesquisadores da USP desenvolvem aparelho que detecta presença de coronavírus no arPrevisão é a de que, se foram liberados, os aparelhos sejam montados em cinco hospitais da capital paulista nas zonas norte, oeste e centro nos próximos dias.
Previsão é a de que, se foram liberados, os aparelhos sejam montados em cinco hospitais da capital paulista nas zonas norte, oeste e centro nos próximos dias.
Fonte: SP 1a. edição - Portal G1
Por Renato Peters, SP1— São Paulo
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um aparelho que verifica a qualidade do ar e que consegue identificar a presença do coronavírus no ambiente. Pesquisas recentes realizadas por médicos de vários países mostram que o vírus pode ficar no ar por algumas horas, por isso, a tecnologia desenvolvida pela USP pode auxiliar no monitoramento de lugares onde há risco de contrair a doença.
O "amostrador", como foi batizado o aparelho, capta o ar do ambiente, inclusive micropartículas invisíveis a olho nu. Elas ficam presas em um tubo, o qual é levado para o laboratório, onde é analisado. A partir das amostras é possível dizer se o coronavírus está presente nos ambientes.
O instrumento também possui um sensor que é capaz de ler e transmitir, em tempo real, como está a qualidade do ar e se tem muita concentração de gás carbônico, o que ajuda a verificar, por exemplo, aglomerações de pessoas. A tecnologia utilizada no aparelho foi baseada em outros instrumentos já usados no exterior, mas é 100% nacional, o que a torna mais barata que similares importados.
"Esse mesmo amostrador foi usado em 2018 pra identificação do vírus influenza em transporte público em Singapura.", disse Aikawa.
O aparelho foi desenvolvido no Centro de Inovação e Tecnologia (Cietec) na USP, local onde empresas ficam "incubadas", ou seja, protegidas enquanto crescem e conseguem financiamento para projetos.
Nos próximos dias, se for liberado, os pesquisadores pretendem montar os instrumentos em cinco hospitais da capital nas Zonas Norte, Oeste e no Centro.
Coronavírus no ar
Gorenstein explica que esses estudos ainda estão sendo discutidos, mas, diz que eles reforçam a necessidade de algumas medidas de proteção.Estudos recentes, publicados em revistas científicas importantes, mostraram que partículas lançadas pelo espirro e pela tosse podem podem ficar suspensas no ar por até três horas.
Um desses estudos, publicado há poucos dias na revista Nature, foi feito em dois hospitais de Wuhan, na China, onde a epidemia começou, e também em áreas públicas da cidade. A pesquisa mostrou uma presença maior de partículas do vírus - o chamado RNA - no ar do banheiro dos pacientes, de áreas em que a equipe médica tirava as roupas de proteção e, principalmente, depositados em superfícies da UTI. O estudo também detectou a presença do vírus no ar de lojas de departamento.
A infectologista Rosana Richtmann afirma que as pesquisas revelam a presença do RNA viral do vírus no ar, mas isso não permite concluir que essa partícula genética seja infectante. Entretanto, ela reforça que é importante tomar os cuidados devidos.
"Esses estudos são super importantes para a gente entender cada vez mais o vírus, mas o que eles estão detectando é o RNA viral. O que é isso? É uma partícula genética do vírus, saber se o vírus está infectante a gente ainda não sabe, mas, na dúvida, a gente sempre fala que tem muitos estudos mostrando que sim, o vírus pode ficar no ar, pelo menos uns trinta minutos até três horas, e isso só reforça o que a gente sempre fala, ventilação do ambiente, higiene na hora de tossir e espirrar exatamente com o objetivo de não disseminar partículas no nosso ambiente e não contaminar superfícies", disse Richtmann.
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- 30/04/2020 - Tem início o mapeamento da população já infectada pelo novo coronavírus na capital 30 de abril de 2020Fonte: Agência FAPESPKarina Toledo | Agência FAPESP – Um projeto que visa determinar o porcentual da população paulistana que já foi infectada e desenvolveu anticorpos contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2) começou na quinta-feira(30/04) em seis bairros da capital. Essa informação é considerada crucial para a elaboração do plano de flexibilização da quarentena na cidade, onde se concentra a maioria dos casos de COVID-19 do país.
A iniciativa envolve pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de São Paulo (USP), além de colaboradores do Grupo Fleury, da consultoria Ibope Inteligência e da ONG Instituto Semeia. Conta ainda com apoio da Secretaria Municipal de Saúde e do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, criado pelo governo estadual.
"Nossa equipe fará, nesta etapa-piloto, a coleta domiciliar de dados, por meio de um questionário, e de amostras de sangue de 500 moradores, que serão levadas para análise em laboratório. Acreditamos que em no máximo seis dias após o início da coleta os primeiros resultados estejam disponíveis”, conta o médico Celso Granato, professor da Unifesp e diretor clínico do Grupo Fleury.
No momento, estão sendo selecionados os domicílios que serão visitados pela equipe do projeto. A fase de coleta deve começar na segunda-feira (04/05).
O material será analisado em uma unidade da rede Fleury localizada no bairro do Jabaquara, por um método conhecido como quimioluminescência – capaz de detectar tanto a presença de anticorpos IgM (imunoglobulina M), que é o primeiro tipo produzido pelo organismo e que pode ser detectado a partir do sétimo dia de infecção, como de anticorpos IgG (imunoglobulina G), produzidos mais tardiamente e considerados mais específicos e duradouros.
Foram incluídos na primeira fase de coleta os três bairros paulistanos com maior incidência cumulativa de infecção pelo novo coronavírus (número total de casos confirmados por 100 mil habitantes): Morumbi, Jardim Paulista e Bela Vista. E também os três bairros com maior incidência de óbitos por COVID-19 (número de mortes pela doença por 100 mil habitantes): Água Rasa, Belém e Pari.
"A seleção dos bairros foi feita com base nas estatísticas fornecidas pela Prefeitura. Em um futuro breve, pretendemos ampliar a área de coleta e também, oportunamente, voltar a esses seis bairros para medir a taxa de soro conversão [porcentual de moradores que no primeiro exame não tinham anticorpos e, no seguinte, passaram a ter]. Esses dados nos darão uma ideia de como a epidemia está evoluindo na cidade”, conta Granato.
O desenho da pesquisa seguiu a mesma técnica de amostragem probabilística usada nas pesquisas de opinião pública conduzidas pelo Ibope. O objetivo é obter uma amostragem representativa da população que reside nas regiões estudadas. Os resultados serão compartilhados com os gestores públicos.
Inquéritos seriados
Especialistas em epidemiologia estimam que as medidas de distanciamento social só poderão ser totalmente abandonadas em uma determinada região quando for atingida a chamada imunidade de rebanho, ou seja, quando aproximadamente 80% da população local já tiver sido infectada e apresentar anticorpos contra o novo coronavírus. Acredita-se que, nessa fase da epidemia, os casos graves seriam esporádicos e o sistema de saúde daria conta de atendê-los.
Na avaliação da médica e professora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP Beatriz Tess, esse processo deverá ocorrer de forma bastante heterogênea na capital paulista, ou seja, alguns bairros atingirão a imunidade de rebanho mais rapidamente, enquanto outros ainda terão a maior parte de sua população suscetível ao vírus e poderão levar mais tempo para sair da quarentena, dependendo da estratégia adotada pelos gestores da saúde.
"Por esse motivo, é importante repetir a metodologia deste piloto na forma de inquéritos domiciliares seriados, a cada três ou quatro semanas, em diversas regiões da cidade e em outros municípios do Estado de São Paulo. Assim, a evolução da epidemia poderá ser monitorada por meio da taxa de soroprevalência [porcentual de moradores que já desenvolveram anticorpos]”, conta Tess.
A fase-piloto do projeto está sendo custeada pelo Grupo Fleury e pelo Instituto Semeia. Para a ampliação e a continuidade do monitoramento, o grupo espera contar com novas fontes de financiamento. "Várias empresas manifestaram interesse em contribuir. Os resultados serão fundamentais para planejar a flexibilização do isolamento, a adequação dos serviços de saúde e outras políticas públicas relacionadas ao combate da COVID-19”, afirma Tess.
Um dos desafios, porém, será a importação dos reagentes necessários para analisar as amostras em laboratório. "Para os primeiros 500 testes já temos o material reservado, mas não está fácil a importação dos insumos”, conta Granato.
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- 30/04/2020 - Plataforma reúne gráficos interativos sobre a evolução da COVID-19 no BrasilFonte: Agência FAPESPAgência FAPESP* – Um grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) desenvolveu uma plataforma interativa que reúne dados epidemiológicos sobre a COVID-19 de todos os estados brasileiros. A iniciativa é liderada pela pós-doutoranda Pilar Veras,bolsista da FAPESP que atua no laboratório do professor Carlos Menck, do Departamento de Microbiologia do ICB-USP. Com dados obtidos no site do Ministério da Saúde, os cientistas montaram gráficos interativos que são atualizados diariamente.
A ideia, segundo a pesquisadora, veio da necessidade de organizar os dados de modo a possibilitar comparações entre os estados. Em três semanas, todos os gráficos foram colocados na plataforma para livre acesso. O grupo optou por usar gráficos interativos, em vez de estáticos, para que o usuário compreenda melhor os dados, podendo manipulá-los e escolher quais estados deseja comparar.
"Existem várias iniciativas que tentam fazer análises estaduais, mas os gráficos não reúnem todos os estados e não exploram todos os dados, como mortalidade, incidência de casos e letalidade”, explica Veras.
Os gráficos mostram a quantidade total de casos e óbitos confirmados, a incidência na população, a taxa de letalidade e o número de novos casos. Em cada um, é possível selecionar datas, regiões e estados, de acordo com a informação buscada. A região Sudeste, por exemplo, é a que registrou mais casos até o dia 27 de abril (31.077); em seguida, o Nordeste, com 17.531 casos da doença. Outro gráfico permite verificar se o número de novos casos está diminuindo em cada estado.
Além da publicação de informação gratuita e didática, outro ponto interessante da iniciativa é dar mais visibilidade a estados fora do eixo Rio-São Paulo. A pesquisadora lembra que o país tem dimensões continentais e abriga uma série de peculiaridades que podem influenciar na coleta de dados e até mesmo no destaque que cada lugar ganha na mídia.
O projeto está em constante aprimoramento e a equipe pretende elaborar mais gráficos com diferentes dados. Um deles será sobre a disponibilidade de leitos em cada estado, informação que ainda será coletada e, como destaca a pesquisadora, terá grande impacto no planejamento de políticas para frear o vírus. Outro gráfico fará uma relação entre os principais municípios do estado.
A plataforma com informações atualizadas sobre a epidemia de coronavírus em todo o Brasil está acessível no endereço public.tableau.com/profile/covid19estadosbr#!/.
*Com informações da Assessoria de Comunicação do ICB-USP.
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- 29/04/2020 - Novo coronavírus é capaz de infectar neurônios humanosFonte: Agência FapespKarina Toledo | Agência FAPESP – Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acabam de confirmar, por meio de experimentos feitos com cultura de células, que o novo coronavírus (SARS-CoV-2) é capaz de infectar neurônios humanos.
A infecção e o aumento da carga viral nas células nervosas foram confirmados pela técnica de PCR em tempo real, a mesma usada no diagnóstico da COVID-19 em laboratórios de referência. O grupo coordenado pelo professor do Instituto de Biologia Daniel Martins-de-Souza também confirmou que os neurônios expressam a proteína ACE-2 (enzima conversora de angiotensina 2, na sigla em inglês), molécula à qual o vírus se conecta para invadir as células humanas. Nos próximos dias, a equipe pretende investigar de que modo o funcionamento dessas células nervosas é alterado pela infecção.
A pesquisa está sendo conduzida no âmbito de um projeto aprovado pela FAPESP na chamada "Suplementos de Rápida Implementação contra COVID-19”, como parte da força-tarefa criada pela Unicamp (leia mais em agencia.fapesp.br/32861/).
"Vamos comparar as proteínas e demais metabólitos presentes nas culturas celulares antes e após a infecção. A ideia é observar como o padrão das moléculas muda e, com base nessa informação, tentar contar a história de como o vírus atua no sistema nervoso central”, explica Martins-de-Souza à Agência FAPESP.
No experimento, realizado pela pós-doutoranda Fernanda Crunfli, foram usados uma linhagem celular cerebral humana e também neurônios humanos obtidos a partir de células-tronco pluripotentes induzidas (IPS, na sigla em inglês).
O método consiste, inicialmente, em reprogramar células adultas – que podem ser provenientes da pele ou de outro tecido de fácil acesso – para fazê-las assumir estágio de pluripotência semelhante ao de células-tronco embrionárias. Esta primeira parte foi realizada no laboratório do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Stevens Rehen, no Instituto DOR de Pesquisa e Ensino. Em seguida, o time de Martins-de-Souza induziu, por meio de estímulos químicos, as células IPS a se diferenciarem em células-tronco neurais – um tipo de célula progenitora que pode dar origem a diversas células do cérebro, como neurônios, astrócitos e oligodendrócitos.
"Também estamos começando testes com astrócitos humanos e, em breve, saberemos se o vírus infecta essas células, que dão suporte ao funcionamento dos neurônios e são as mais abundantes do sistema nervoso central”, conta Martins-de-Souza.
Efeitos no cérebro
Como explica Martins-de Souza, estudos feitos em outros países sugerem que o SARS-CoV-2 tem tropismo pelo sistema nervoso central, ou seja, uma certa propensão a infectar as células nervosas. "Mas ainda não sabemos se o vírus realmente consegue atravessar a barreira hematoencefálica [estrutura que protege o cérebro de substâncias tóxicas e patógenos presentes na circulação sanguínea] e, caso consiga, que tipo de impacto pode causar no tecido nervoso. Tentaremos buscar pistas que ajudem a elucidar essas dúvidas”, diz o pesquisador.
Os experimentos in vitro com isolados virais estão sendo feitos no Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve) do Instituto de Biologia da Unicamp, que tem nível 3 de biossegurança (em uma escala que vai até 4) e é coordenado pelo pesquisador José Luiz Proença Módena.
Participam dos testes os pós-graduandos Gabriela Fabiano de Souza e Stéfanie Primon Muraro, orientandas de Módena, e Ana Campos Codo e Gustavo Gastão Davanzo, sob a orientação do professor Pedro Moraes Vieira.
Os testes de metabolômica e proteômica serão conduzidos no Laboratório de Neuroproteômica, coordenado por Martins-de-Souza, pelos pós-doutorandos Victor Corasolla Carregari e Pedro Henrique Vendramini. Para isso, será usado um espectrômetro de massas, equipamento capaz de discriminar diferentes substâncias presentes em uma solução com base no peso molecular de cada uma.
"Além de investigar se a quantidade de uma determinada proteína na amostra aumenta ou diminui após a infecção, também pretendemos avaliar como está o nível de fosforilação e de glicosilação das moléculas. Esses dois mecanismos bioquímicos são usados pela célula para ativar ou desativar rapidamente a função desempenhada pelas proteínas. Isso nos dará pistas sobre as vias metabólicas que são alteradas nos neurônios em resposta ao novo coronavírus”, conta Martins-de-Souza.
Manifestações neurológicas
Em um vídeo divulgado no site da Unicamp, o neurologista Li Li Min comenta as manifestações neurológicas já observadas em pacientes com COVID-19, entre elas perda de olfato e paladar, confusão mental, derrame e dor muscular (sem relação com alguma lesão no músculo).
Segundo o pesquisador, estima-se que até 30% dos infectados pelo novo coronavírus possam apresentar algum sintoma neurológico. Min é coordenador de Educação e Difusão do Conhecimento do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.
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- 27/04/2020 - Luiz Eugênio Mello assume a Diretoria Científica da FAPESPFonte: Agência FAPESPAgência FAPESP – Luiz Eugênio Araújo de Morais Mello assume hoje, 27 de abril, o cargo de diretor científico da FAPESP. Ele substitui Carlos Henrique de Brito Cruz, que ocupava o cargo desde 2005.
Empossado em meio à pandemia de COVID-19 e durante período de quarentena, Luiz Eugênio Mello afirma em vídeo que, em sua gestão, a FAPESP seguirá "trajetória de excelência” e de indutora de mudanças e que tem planos de otimizar processos, reduzir a burocracia e aumentar a capilaridade de atuação da instituição.
"O novo diretor científico assume com apoio unânime do Conselho Superior, em um momento extremamente delicado, em que a sociedade brasileira enfrenta uma crise sanitária, econômica e política sem precedentes. Nós temos certeza de que o professor Luiz Eugênio Mello será bem-sucedido nesse encargo, tendo em vista a sua liderança e sua experiência pregressa no mundo acadêmico, científico e tecnológico. Sabemos que os próximos meses exigirão cautela na execução das atividades-fim da FAPESP, para assegurar a viabilidade financeira da Fundação, ao mesmo tempo em que cumpre sua missão no panorama de ciência e desenvolvimento do Estado de São Paulo”, afirmou o presidente da Fundação, Marco Antonio Zago.
"Este é um momento muito importante para a FAPESP, pois pela primeira vez, em uma década e meia, passamos por uma transição na Diretoria Científica, e desejo tornar público, em nome do Conselho Superior, nosso reconhecimento à atuação do Prof. Carlos Henrique de Brito Cruz à frente da Diretoria Científica, marcada sempre pela seriedade, busca da qualidade e forte defesa da ciência para a solução dos problemas da sociedade”, completou o presidente da FAPESP.
Luiz Eugênio Mello é graduado em medicina pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) (1982), com mestrado (1985) e doutorado em biologia molecular (1988) pela mesma universidade e pós-doutorado em neurofisiologia na Universidade da Califórnia (UCLA) (1988-1991), nos Estados Unidos.
Livre-docente (1994) e professor titular de fisiologia (1998), Luiz Eugênio Mello foi membro do Comitê de Assessoramento de Biofísica, Bioquímica, Farmacologia, Fisiologia e Neurociências (CA-BF) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (2000-2003), coordenador adjunto da Diretoria Científica da FAPESP (2003-2006).
É membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) desde 2007 e da Academia Brasileira de Ciências (ABC) desde de 2010, no mesmo ano em que foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Integra o Conselho Deliberativo do CNPq, o Conselho Deliberativo do Sebrae-SP, o Conselho de Administração do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o Conselho Superior do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), o Conselho Consultivo do Centro de Inovação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGVIn), o Conselho da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), o Conselho da Tibet House Brasil e é editor setorial do Brazilian Journal of Medical and Biological Research.
Foi pró-reitor de Graduação da Unifesp (2005-2008), presidente da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) (2007-2011), conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) (2014-2017) e vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) (2016-2018).
Luiz Eugênio Mello foi também diretor de Tecnologia e Inovação da Vale (Vale S.A.) e responsável pela implantação do Instituto Tecnológico Vale (2009-2018); diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do IDOR (2018-2020) e diretor da Agência de Inovação Tecnológica e Social (AGITS) da Unifesp (2019-2020). Atua nas áreas de plasticidade neuronal, epilepsia, degeneração neuronal, gestão de C&T.
Escolhido por unanimidade pelo Conselho Superior da FAPESP, Luiz Eugênio Mello foi nomeado pelo governador João Doria em decreto publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo em 06 dezembro de 2019.
Leia a entrevista de Luiz Eugênio Mello à revista Pesquisa FAPESP.
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- 24/04/2020 - A única saída para a pandemia está na ciência, dizem pesquisadoresFonte: Agência FAPESPAgência FAPESP – A pandemia de COVID-19 está exigindo que a ciência brasileira mobilize seu arsenal de conhecimento e de recursos na busca de solução para um desafio até agora inédito. E as respostas têm sido positivas, de acordo com pesquisadores que participaram do webinar Ciência, Saúde e Políticas Públicas no Brasil: quais as iniciativas necessárias no futuro?, promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso nesta quinta-feira,23 de abril. O debate foi mediado pelo superintendente da Fundação FHC, Sérgio Fausto.
"Hoje temos um conjunto de cientistas capaz de dar respostas rápidas a desafios da pandemia”, afirmou Luiz Eugênio Mello, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto D´Or de Pesquisa e Ensino e que na segunda-feira, dia 27, assume a Diretoria Científica da FAPESP. "O apoio da FAPESP à estruturação de redes de pesquisas para o combate a arboviroses como zika, chikungunya e dengue, por exemplo, habilitou pesquisadores de São Paulo para o sequenciamento do vírus SARS-CoV-2 em tempo recorde, de 48 horas.”
"A Fiocruz trabalha dia e noite produzindo testes. E isso é a nossa fortaleza”, disse Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruze membro do grupo de especialistas do Ministério da Saúde para a pandemia causada pelo novo coronavírus.
"A ciência brasileira tem crescido nos últimos anos e com destaque. Com a COVID-19 a reação foi grande, desde o sequenciamento genético do vírus até os testes sorológicos e o desenvolvimento de vacinas”, afirmou Jorge Kalil, professor titular de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração.
Eles ressaltaram, no entanto, que a construção dessa competência brasileira para pesquisa não tem sido um processo fácil. "A nossa capacidade de produção e de adaptação vem da adversidade”, ressaltou Dalcolmo. A falta de apoio reduziu a capacidade do país de "reter recursos humanos qualificados”, completou Kalil. "O Brasil vinha melhorando no aporte de recursos para a C&T e para P&D, tendo atingido a ordem de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas, por razões econômicas e de disponibilidade de recursos, esse percentual caiu, estando agora perto de 1%, enquanto nos Estados Unidos, Europa, Japão e China esse percentual chega até 5% do PIB”, ponderou Mello.
À falta de recursos somam-se os excessos burocráticos. "A burocracia atrapalha e atrasa os testes clínicos”, diz Dalcolmo, citando o exemplo da dificuldade de importação de reagentes. Kalil agregou à lista de problemas a descontinuidade dos financiamentos. Deu o exemplo do Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) que, segundo ele, estão há anos sem financiamento. "Aqui em São Paulo recorremos à FAPESP que nos mantêm vivos, mas no plano nacional é complicado."
O fomento é instrumento estratégico para o desenvolvimento da ciência e para a solução de problemas que eclodiram com a pandemia. Mello cita o exemplo das empresas Magnamed e Timpel, que, como apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, desenvolveram tecnologia que estão a serviço do tratamento da COVID-19. Os ventiladores pulmonares da Magnamed, adquiridos pelo Ministério da Saúde, equiparão hospitais da rede pública, e os tomógrafos por impedância elétrica da Timpel já estão sendo utilizados em pacientes com a COVID-19 na Espanha e Itália.
Aos investimentos públicos em C&T e P&D, seria necessário que se somassem mais esforços de empresas. "O Brasil compra máscaras da China. É inacreditável que a nossa indústria têxtil não se habilite para produzir esse insumo mais simples”, diz Dalcolmo. "O Brasil também não produz princípios ativos para doenças endêmicas, apesar de ter uma indústria farmacêutica forte. Não há uma visão sanitarista na indústria farmacêutica. Somos dependentes da China e principalmente da Índia.”
A adesão das empresas deveria ser mais incentivada. "Os Estados Unidos têm legislação que fomenta aportes privados com abatimento do Imposto de Renda. Aqui esse estímulo é pequeno”, salientou Mello.
Outro grande desafio é o da educação. "Essa pandemia mostrou de forma cruel a falha estrutural de educação. As cenas horrorosas que temos visto poderiam ser evitadas se as pessoas não estivessem emprenhadas por bobagens. Sem educação não há como formular um pensamento científico e está aberto o espaço para propostas equivocadas”, diz Dalcolmo.
"O Brasil tem deficiências estruturais na educação. Há iniciativas em curso, mas a porcentagem de pessoas alfabetizadas, de 92% da população, é igual ao percentual de alfabetização dos Estados Unidos em 1910”, diz Mello. Essa situação se reflete no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), que coloca os estudantes brasileiros entre os últimos no que diz respeito à qualificação para a ciência.
A única saída para a pandemia, todos concordam, está na ciência. "Mas a ciência obedece a protocolos que devem ser seguidos, a solução não aparece da noite para o dia. A sociedade já reconhece que a ciência é importante. Os governantes têm que saber que isso exige investimento de longo prazo e que se trata de uma questão de segurança nacional. A ciência é fundamental para a soberania”, sublinhou Mello.
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- 24/04/2020 - Com planejamento e empenho CNEN mantém atividades essenciais e também aplica tecnologia nuclear no combate à pandemiaQuem passa em frente a sede da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) ou de suas unidades percebe claramente que o movimento de pessoas está menor, que o trânsito habitual de servidores e colaboradores diminuiu. Certamente, a instituição está com uma rotina afetada pelo distanciamento social adotado como estratégia de combate à pandemia da COVID-19. No entanto, um planejamento detalhado e a dedicação de seus colaboradores possibilitaram à CNEN manter a qualidade de suas funções essenciais e ainda desenvolver ações que contribuem diretamente para o combate à pandemia.
Quem passa em frente a sede da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) ou de suas unidades percebe claramente que o movimento de pessoas está menor, que o trânsito habitual de servidores e colaboradores diminuiu. Certamente, a instituição está com uma rotina afetada pelo distanciamento social adotado como estratégia de combate à pandemia da COVID-19. No entanto, um planejamento detalhado e a dedicação de seus colaboradores possibilitaram à CNEN manter a qualidade de suas funções essenciais e ainda desenvolver ações que contribuem diretamente para o combate à pandemia.
Fonte: site CNEN
A CNEN e suas unidades têm boa parte da força de trabalho exercendo funções remotamente. Manteve em atividade presencial quem realmente foi necessário. O trabalho, tanto de quem está em casa como de quem vai para seus postos, é acompanhado e coordenado de forma a suprir as necessidades e percalços que o período de distanciamento social tem gerado em toda a sociedade.
Periodicamente, reuniões online são realizadas entre dirigentes de unidades, diretores e presidente da instituição.Da mesma forma, recursos de comunicação à distância seguem sendo usados largamente por equipes e lideranças de diferentes setores da CNEN. O Gabinete de Crise analisa a situação da instituição e busca caminhos que possibilitem os melhores resultados dentro da situação atual. Neste contexto, a CNEN não deixou de exercer suas funções essenciais e ainda pode aplicar seu conhecimento e estrutura no combate à pandemia.
Desta forma, técnicas nucleares estão sendo usadas em medidas que visam conter a propagação do coronavírus.No dia 13 de abril, moradores da comunidade de Paraisópolis, em São Paulo (SP), levaram 1.500 máscaras para serem esterilizadas com radiação gama no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), unidade da CNEN na capital paulista. Semanalmente, novos lotes de máscaras serão irradiados, somando um total esperado de 50 mil unidades.
Aradiação gama também está sendo usada no combate à pandemia pelo Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), unidade da CNEN em Belo Horizonte (MG). O Laboratório de Irradiação Gama (LIG) do CDTN está esterilizando kits de teste do coronavírus em cooperação a projeto que envolve o Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, Hospital Eduardo de Menezes e a empresa Símile Medicina Diagnóstica.
Em atividades de pesquisa relacionadas à COVID-19, o CDTN integrou sua Unidade de Radiobiologia aos trabalhos da Rede Virus, criada em fevereiro pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para unir esforços dos pesquisadores no combate ao coronavírus e controle da pandemia. No dia 13 de abril, o ministro da pasta, Marcos Pontes, visitou a Unidade e pode conhecer melhor seu potencial de contribuição nesta linha de pesquisa.
No Rio de Janeiro, outra unidade da CNEN, o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), também investe em pesquisa para combater a COVID-19. Em parceria com a Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP), o IEN estuda o uso da nanotecnologia de forma a desenvolver a produção de nanofármacos, que são medicamentos em escala nanométrica, com propriedades físicas, químicas e biológicas especiais.A perspectiva é de desenvolver medicamentos que combatam a doença com mais eficácia e menos efeitos colaterais.
Outras unidades da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da CNEN, como Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD), Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste (CRCN-NE) e Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (CRCN-CO) também possuem ações locais de apoio ao combate à pandemia.
Com iniciativas como estas, a CNEN aplica seus conhecimentos específicos de forma a juntar-se aos esforços de toda a sociedade brasileira no combate à COVID-19. Ao mesmo tempo, a CNEN não deixa de observar com rigor o exercício de suas funções essenciais.A Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS)segue realizando,através de processos eletrônicos, o licenciamento e controle das unidades que utilizam técnicas nucleares. Em unidades de maior porte, como as usinas nucleares Angra 1 e Angra 2 (Angra dos Reis-RJ), a Fábrica de Combustível Nuclear (Resende-RJ) e a atividade de mineração de Urânio (Caetité-BA), as unidades da CNEN e os inspetores residentes específicos destas atividades seguem atuando. Caso ocorram emergências radiológicas, equipes de especialistas de todas as diretorias e unidades da CNEN encontram-se em prontidão para os atendimentos necessários em qualquer parte do território nacional.
Outra atividade fundamental e que implica na preservação de vidas humanas é a produção de radiofármacos, usados na Medicina Nuclear para o diagnóstico e tratamento de diversas doenças.Estas substâncias são produzidas em quatro unidades da CNEN. O IPEN é o responsável pela maior parte desta produção.Após contornar dificuldades no fornecimento de insumos vindos do exterior, o Instituto está conseguindo atender à demanda nacional por radiofármacos.
Para que estas áreas finalísticas possam agir com competência e qualidade, a Diretoria de Gestão Institucional (DGI) da CNEN tem se organizado e empenhado de forma a suprir necessidades de infraestrutura da instituição e possibilitar o trabalho remoto.Em respeito a sua missão junto à sociedade brasileira, a CNEN mobilizou todas as diretorias e unidades em um esforço conjunto e organizado para dar conta de suas funções essenciais e também para aplicar as tecnologias nucleares no enfrentamento direto à pandemia.
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- 23/04/2020 - Imagens de satélite confirmam redução na poluição de São PauloNa Região Metropolitana houve a redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente da queima de diesel por veículos e da produção industrial
Na Região Metropolitana houve a redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente da queima de diesel por veículos e da produção industrial
Fonte: Exame por Agência Fapesp
A poluição atmosférica diminuiu consideravelmente em algumas capitais brasileiras em decorrência das medidas de distanciamento social estabelecidas para retardar a disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Imagens de satélite do Instituto Real de Meteorologia dos Países Baixos (KNMI) mostram, na Região Metropolitana de São Paulo, redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente associado à queima de diesel por veículos e à produção industrial.
"As imagens mostram que a emissão do gás diminuiu mais de 30% em São Paulo na comparação entre os meses de março e abril do ano passado e deste ano. Também é possível identificar uma grande redução de NO2 em outras regiões metropolitanas, como as de Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES). A queda está fortemente ligada à diminuição da atividade industrial e dos transportes”, diz Eduardo Landulfo, pesquisador do Centro de Lasers e Aplicações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
O pesquisador destaca ainda que, como São Paulo é a cidade com a maior frota de veículos e atividade industrial, é possível ver com mais clareza uma diminuição drástica e identificar em que áreas a atividade cessou na região metropolitana. "O curioso é que, no caso da Grande São Paulo, a área que está um pouco mais avermelhada, portanto com maior concentração de NO2, é a região da marginal Tietê e do viaduto para Santana do Parnaíba [Cebolão para a rodovia Castelo Branco], mostrando que ali ainda permanece tráfego intenso de caminhões. Já a região sudeste/sul está bem limpa, inclusive Santo Amaro e o ABC paulista”, diz.
"Trabalhamos em colaboração com a Agência Espacial Europeia, que nos forneceu as imagens de satélite. Cuido da parte de monitoramento, mas usando sensoriamento remoto com o uso de laser e da validação desses dados de satélite”, diz. A base das imagens foi gerada e cedida pelo pesquisador Henk Eskes, colaborador do KNMI.
Os dados sobre a redução da poluição na Região Metropolitana de São Paulo serão importantes para estudos que estão sendo realizados por pesquisadores que integram o projeto apoiado pela FAPESP sobre o comportamento dos gases de efeito estufa.
A coordenadora do projeto, Maria de Fátima Andrade , afirma que os dados obtidos neste período de quarentena vão permitir medir níveis de poluentes que geralmente são apenas estimados.
Por meio de vários projetos financiados pelaFAPESP, o pesquisador vem desenvolvendo o radar de laser denominado Lidar (sigla em inglês para detecção de luz e medida de distância), que permite o sensoriamento remoto ativo da atmosfera para a detecção de poluentes.
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- 23/04/2020 - Tecnologia permite monitorar a distância pacientes com suspeita ou sintomas brandos de COVID-19Fonte: Agência FAPESPElton Alisson | Agência FAPESP– Um sistema baseado em internet das coisas desenvolvido pela startup paulista Biologix para diagnosticar e monitorar apneia do sono em ambiente domiciliar pode ajudar a acompanhar remotamente pacientes com suspeita ou com sintomas brandos de COVID-19 e encaminhá-los a um hospital caso registrepiora nos sinais clínicos.
Viabilizada por meio de um projeto apoiado pelo Programa PIPE/PAPPE Subvenção, a tecnologia será testada por dois hospitais privados em São Paulo.
"Hoje há vários aplicativos voltados a monitorar pacientes com suspeita ou sintomas brandos de COVID-19, mas baseados em respostas subjetivas do próprio paciente, e não no monitoramento de sinais clínicos como o sistema que desenvolvemos permite fazer”, diz ao Agência FAPESP Tácito Mistrorigo de Almeida, CEO da Biologix.
O sistema é composto por um sensor portátil e sem fio. Ao ser colocado na ponta do dedo indicador, o dispositivo capta os dados de saturação de oxigênio e a frequência cardíaca do paciente.
Os dados são coletados em tempo real por um aplicativo de celular gratuito, disponível nas plataformas Android e IOS. O programa envia as informações para a nuvem e automaticamente para o painel de controle da equipe médica que está monitorando o paciente.
Ao constatar por meio do sistema uma queda na saturação de oxigênio – que é um dos principais indicadores do agravamento do quadro de COVID-19 e que também ocorre na apneia, em que há paradas respiratórias associadas a queda do nível de oxigênio no sangue –, a equipe médica entra em contato com o paciente ou seu acompanhante.
Se além da queda na saturação de oxigênio e da frequência cardíaca o paciente ou seu acompanhante relatar febre, aumento da dificuldade para respirar, tosse e fadiga – que são os principais sintomas da infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2 –, são orientados a seguir rapidamente para um hospital.
"O sistema possibilita encaminhar os pacientes ao hospital no momento correto e, dessa forma, diminuir os riscos de contágio pela interação com outras pessoas e proteger principalmente os profissionais de saúde”, afirma Almeida.
Além de hospitais, a tecnologia pode ser utilizada por operadoras de saúde e convênios médicos para monitorar não só pacientes com suspeita de COVID-19 ou com sintomas leves, como também para acompanhar idosos e pessoas que integram os grupos de risco de gravidade da doença.
"O sistema pode ainda ser usado nos próprios hospitais, para monitorar os pacientes com menor gravidade em leitos de enfermaria e manter as unidades de terapia intensiva (UTIs) disponíveis para os casos mais críticos”, indica Almeida.
Capacidade de adaptação
A Biologix está incubada no Eretiz.bio, incubadora de startups na área da saúde do Hospital Israelita Albert Einstein, que tem em sua rede diversas empresas apoiadas pelo PIPE-FAPESP que estão desenvolvendo tecnologias voltadas a ajudar no diagnóstico, monitoramento e tratamento de pacientes com COVID-19.
Entre elas estão a Magnamed – que fornecerá 6,5 mil ventiladores pulmonares para o Ministério da Saúde – e a Hoobox, que desenvolveu em parceria com a Radsquare um sistema de detecção de febre a distância.
O PIPE/PAPPE Subvenção reúne recursos dos programas Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, e de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE), da Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa (Finep), para a inserção de um produto inovador no mercado.
"Esse ecossistema de startups na área da saúde tem sido muito ágil e demonstrado ter capacidade de se reconfigurar rapidamente para criar soluções para combater a COVID-19. Isso tem facilitado muito o desenvolvimento de tecnologias voltadas a fazer a triagem de pacientes que necessitam de atendimento mais urgente”, avalia José Cláudio Cyrineu Terra, diretor de inovação do Hospital Albert Einstein.
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- 22/04/2020 - Imagens de satélite confirmam redução na poluição de São PauloDiminuição de 33% nos níveis do poluente NO2 está associada à redução na queima de diesel em veículos e à queda da produção industrial, decorrentes das medidas de isolamento adotadas para conter a disseminação do novo coronavírus
Diminuição de 33% nos níveis do poluente NO2 está associada à redução na queima de diesel em veículos e à queda da produção industrial, decorrentes das medidas de isolamento adotadas para conter a disseminação do novo coronavírus
Fonte: Agência FAPESP
Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP –A poluição atmosférica diminuiu consideravelmente em algumas capitais brasileiras em decorrência das medidas de distanciamento social estabelecidas para retardar a disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Imagens de satélite do Instituto Real de Meteorologia dos Países Baixos (KNMI) mostram, na Região Metropolitana de São Paulo, redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio (NO2), poluente associado à queima de diesel por veículos e à produção industrial."As imagens mostram que a emissão do gás diminuiu mais de 30% em São Paulo na comparação entre os meses de março e abril do ano passado e deste ano. Também é possível identificar uma grande redução de NO2 em outras regiões metropolitanas, como as de Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES). A queda está fortemente ligada à diminuição da atividade industrial e dos transportes”, diz Eduardo Landulfo, pesquisador do Centro de Lasers e Aplicações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).O pesquisador destaca ainda que, como São Paulo é a cidade com a maior frota de veículos e atividade industrial, é possível ver com mais clareza uma diminuição drástica e identificar em que áreas a atividade cessou na região metropolitana. "O curioso é que, no caso da Grande São Paulo, a área que está um pouco mais avermelhada, portanto com maior concentração de NO2, é a região da marginal Tietê e do viaduto para Santana do Parnaíba [Cebolão para a rodovia Castelo Branco], mostrando que ali ainda permanece tráfego intenso de caminhões. Já a região sudeste/sul está bem limpa, inclusive Santo Amaro e o ABC paulista”, diz.Por meio de vários projetos financiados pela FAPESP, o pesquisador vem desenvolvendo o radar de laser denominado Lidar (sigla em inglês para detecção de luz e medida de distância), que permite o sensoriamento remoto ativo da atmosfera para a detecção de poluentes."Trabalhamos em colaboração com a Agência Espacial Europeia, que nos forneceu as imagens de satélite. Cuido da parte de monitoramento, mas usando sensoriamento remoto com o uso de laser e da validação desses dados de satélite”, diz. A base das imagens foi gerada e cedida pelo pesquisador Henk Eskes, colaborador do KNMI.Os dados sobre a redução da poluição na Região Metropolitana de São Paulo serão importantes para estudos que estão sendo realizados por pesquisadores que integram o projeto apoiado pela FAPESP sobre o comportamento dos gases de efeito estufa.A coordenadora do projeto, Maria de Fátima Andrade , afirma que os dados obtidos neste período de quarentena vão permitir medir níveis de poluentes que geralmente são apenas estimados."Pretendemos contribuir com o balanço de emissões de gases de efeito estufa da cidade de São Paulo. É também interessante notar que as imagens de satélite confirmam a análise feita anteriormente com dados da Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], sobre a redução da poluição”, diz Andrade (leia mais em: agencia.fapesp.br//32892/).Na comparação dos dados da Cetesb foi observada a diminuição de cerca de 50% de poluentes primários como o monóxido de carbono (CO) e os óxidos de nitrogênio (NOx) entre as semanas dos dias 15 a 21 e 22 a 28 de março.Além da redução significativa dos poluentes primários, diretamente ligados à emissão veicular, também houve diminuição de cerca de 30% de material particulado inalável. Entre os poluentes estão o MP 10 (material particulado com até 10 micrômetros de diâmetro), relacionado à poeira do solo levantada pelos veículos, e o MP 2.5 (com até 2,5 micrômetros de diâmetro), formado por processos secundários que ocorrem após a queima de combustível.A equipe de pesquisadores está fazendo medições com radares em três áreas da cidade para identificar a produção de gases do efeito estufa. "O projeto temático tem o objetivo de entender quanto a cidade de São Paulo produz de gases do efeito estufa. O foco principal são o dióxido de carbono [CO2] e o metano, mas outros gases, como o CO e o próprio NO2, são importantes por serem resultado da queima de combustíveis em veículos. Esse índices auxiliam na interpretação dos dados como um todo”, diz Landulfo, que também integra a pesquisa coordenada por Andrade.
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- 22/04/2020 - Dispositivo monitora ar e ajuda a prevenir coronavírus em ambientes fechadosEmpresa incubada na USP vai usar tecnologia para coletar amostras de ar em hospitais e identificar presença de vírus da covid-19
Empresa incubada na USP vai usar tecnologia para coletar amostras de ar em hospitais e identificar presença de vírus da covid-19
Fonte: Jornal da USPPor Júlio Bernardes
Um dispositivo automático para monitorar a qualidade do ar em ambientes internos pode se tornar um importante aliado no combate à transmissão da covid-19. O equipamento com a tecnologia SPIRI fornece informações sobre temperatura, umidade do ar e presença de partículas em suspensão no ar, nas quais o vírus da doença pode estar presente. O produto já está disponível no mercado e os criadores vão iniciar um trabalho de coleta de amostras de ar em hospitais para verificar a presença do vírus da covid-19, com um dispositivo adicional adaptado para auxiliar no combate à pandemia. O dispositivo é fabricado pela Omni-Electronica, uma startup incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), instituição vinculada à USP e ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
O dispositivo faz o monitoramento da qualidade do ar em tempo real, explica o engenheiro Arthur Aikawa, CEO da Omni-Electronica. "Ele permite uma visibilidade e uma indicação que aquele ambiente é mais ou menos propício à contaminação cruzada e todos os outros malefícios que a má qualidade do ar tem nas pessoas que ocupam esses espaços”, conta o pesquisador ao Jornal da USP. "Manter ambientes bem ventilados, com qualidade ao ar adequada, é essencial para poder retomar nossas atividades o quanto antes, sem correr o risco de que o sistema de saúde seja extremamente sobrecarregado por um número excessivo de pessoas contaminadas simultaneamente.”
De acordo com Aikawa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) admite que o vírus da covid-19 pode ser transmitido por meio de partículas em suspensão no ar. "Quando uma pessoa tosse, ela não vai gerar apenas aerossóis, partículas grandes, da ordem de 10 micrômetros, que vão cair numa distância de aproximadamente 1,5 metro”, explica. "Existem também os bioaerossóis, partículas entre 2 e 5 micrômetros de diâmetro, que devido ao tamanho e massa reduzida conseguem ficar em suspensão no ar em ambientes internos por até três horas”.
Nas últimas semanas, embora a OMS não possua evidências científicas suficientes da transmissão do vírus por aerossóis e bioaerossóis, órgãos como a Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar Condicionado (ASHRAE) e a Federação das Associações Europeias de Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado (REHVA) descrevem em notas de orientações nas últimas semanas que esse mecanismo de transmissão não deve ser ignorado, diz o engenheiro ao Jornal da USP. "A covid-19 é uma doença muito recente, os estudos e experimentos estão sendo produzidos agora, e aos poucos novas evidências vão surgindo”, observa.
Um estudo internacional que avaliou a estabilidade do vírus em superfícies, também estudou o vírus em bioaerossóis e constatou que o vírus permanecia ativo nessas microgotículas por até três horas, aponta Aikawa. "É extremamente importante que os ambientes estejam bem ventilados e com uma baixa concentração de particulados suspensos, como os bioaerossóis”, ressalta. "O monitoramento permite avaliar constantemente se a temperatura e a umidade do ar estão adequadas, para reduzir a probabilidade do vírus se propagar, e também se a ventilação está adequada.”
Qualidade do ar
O dispositivo é multissensorial, capaz de avaliar vários parâmetros do ambiente em que se insere. "O equipamento monitora parâmetros básicos de qualidade do ar, como temperatura e umidade relativa, e também os mais avançados, entre eles as concentrações de dióxido de carbono (CO2), compostos orgânicos voláteis (COVs) e material particulado (MP), seja partículas finas ou grossas”, descreve o engenheiro. "Todos esses parâmetros, que fazem parte da Resolução RE-09 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre qualidade do ar em ambientes internos no Brasil, são informados uma vez a cada dois ou três minutos para o usuário.”
Arthur Aikawa, CEO da Omni-Electronica: pesquisas para avaliar presença do vírus – Foto: DivulgaçãoSegundo Aikawa, com uma série de dispositivos instalados em edifícios, é possível fazer um raio X da qualidade do ar em todos os seus ambientes. "Em hospitais, o dispositivo atende também à questão de prevenir a contaminação de alas e quadros de infecção hospitalar que podem ser causados por reformas em suas dependências”, salienta. "Tem que haver um equilíbrio dos parâmetros da qualidade do ar para que você possa diminuir a chance de contaminação de pessoas que geralmente estão com um quadro de saúde mais debilitado.”
A verificação da qualidade do ar possibilita tomar as providências necessárias em caso de anomalias, observa o engenheiro. "Isso se faz pelo monitoramento do dióxido de carbono e outros compostos voláteis”, diz. Por meio da ventilação, o ar interno é renovado e filtrado, sendo diluído com o ar externo, o que diminui a concentração de partículas e torna a carga viral muito menor. "Em ambientes internos, mesmo a uma distância de dez metros, se aquele ambiente não estiver bem ventilado e as pessoas ficarem ali por várias horas, elas podem se contaminar. Existe uma possibilidade de que elas se contaminem por bioaerossóis.”
A empresa, fundada em 2016 por um grupo de engenheiros da pós-graduação da Escola Politécnica (Poli) da USP, começou a desenvolver a tecnologia SPIRI em janeiro de 2017, com financiamento do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A comercialização foi iniciada no ano passado. "Hoje o dispositivo está instalado em aeroportos, escritórios e indústrias alimentícias, onde já é utilizado para avaliar e fazer a gestão da qualidade do ar”, relata Aikawa. "Ele vai se tornar cada vez mais importante quando surgem situações de pandemia, em que um cuidado extra deve ser tomado para diminuir a probabilidade de contaminação de uma pessoa para outra.”
Além de o dispositivo já estar disponível no mercado, Aikawa relata ao Jornal da USP que a empresa iniciou há dez dias um trabalho de replicação de pesquisas internacionais para coleta de microgotículas e avaliação da presença do vírus. "Estamos em contato com alguns hospitais para fazer a amostragem do ar e a coleta dessas amostras. A ideia é incluir um serviço de amostragem para avaliar se o vírus estava presente ou não em microgotículas suspensas naquele ambiente”, destaca. "Isso vai ser extremamente necessário porque não vai ser possível retomar da noite para o dia tudo como era antes e vamos precisar de ferramentas para gerenciar essa retomada.”
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- 22/04/2020 - Reportagem do SBT Brasil esclarece sobre processo de desinfecção de máscaras contra o coronavírus no IPENAs máscaras, confeccionadas pelo projeto "Costurando Sonhos" e distribuídas na comunidade de Paraisópolis, são radioesterilizadas no irradiador multipropósito localizado no Centro de Tecnologia das Radiações (CETER) do IPEN
As máscaras, confeccionadas pelo projeto "Costurando Sonhos" e distribuídas na comunidade de Paraisópolis, são radioesterilizadas no irradiador multipropósito localizado no Centro de Tecnologia das Radiações (CETER) do IPEN
Confira a reportagem exibida em 20/04/2020 no SBT Brasil sobre o processo de desinfecção de máscaras de proteção contra o novo coronavírus realizado no irradiador multipropósito do IPEN. Na matéria, o pesquisador Pablo Vasquez, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro de Tecnologia das Radiações (CETER) do IPEN, dá mais detalhes sobre o processo pelo qual as máscaras confeccionadas pelo projeto "Costurando Sonhos" passam antes da distribuição na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo.
Link para a matéria no Youtube
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- 20/04/2020 - Instituto de Ciências Biomédicas da USP testa fármacos para tratar o novo coronavírusFonte: Agência FAPESPAgência FAPESP* – O Laboratório Phenotypic Screening Platform, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), está testando medicamentos para combater a COVID-19.
O grupo possui uma parceria com a Eurofarma, que cedeu sua biblioteca de cerca de 1.500 fármacos para a pesquisa. Além disso, a equipe vem firmando novas parcerias com outras farmacêuticas para a triagem dos medicamentos já comercializados no Brasil e também para testar produtos para a prevenção da COVID-19 em desenvolvimento por startups brasileiras.
Segundo Lucio Freitas-Junior, coordenador do laboratório, em entrevista para a Assessoria de Comunicação do ICB, a técnica de triagem fenotípica consiste em avaliar a atividade antiviral de compostos em células infectadas com o SARS-CoV-2, em testes in vitro. As células são colocadas em placas de ensaio e cada uma recebe diferentes compostos.
As análises são feitas de modo automatizado, com a tecnologia High Content Screening, que permite analisar dezenas de milhares de fármacos simultaneamente toda semana. O pesquisador estima que em algumas semanas fiquem prontos os resultados dos testes de mais de 2.500 compostos e, a partir desse momento, será possível testar até 4 mil compostos por semana.
As moléculas estudadas são fármacos já aprovados para o tratamento de outras doenças e produzidos em território brasileiro. "A grande vantagem é agilizar o processo de descoberta de um tratamento. Um medicamento pode levar até 10 anos para ser produzido, testado e aprovado. Nós não temos esse tempo. Precisamos agir agora", explica o pesquisador.
O projeto foi possível graças ao cultivo do novo coronavírus feito pelo grupo do pesquisador Edison Luiz Durigon, também do ICB, que recebeu amostras dos primeiros pacientes infectados no final de fevereiro, enviadas pelo Hospital Albert Einstein (saiba mais em http://agencia.fapesp.br/32692/ e na página da Agência FAPESP no Youtube).
O grupo do ICB recebe compostos para triagem de diversos grupos de todo o Brasil e participa de consórcios internacionais que buscam novos fármacos para tratamento da COVID-19.
* Com informações da Assessoria de Comunicação do ICB.
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- 17/04/2020 - Ferramenta permite monitorar em tempo real o avanço da COVID-19 na cidade de São PauloFonte: Agência FAPESPKarina Toledo | Agência FAPESP– Uma parceria firmada entre os pesquisadores do Observatório COVID-19 BR e a Secretaria de Saúde do Município de São Paulo tem possibilitado monitorar com dados mais próximos da realidade a evolução da epidemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) na capital paulista – cidade com o maior número de casos confirmados no país.
Com uso de uma ferramenta estatística conhecida como nowcasting, a equipe consegue corrigir o atraso no sistema de notificação da doença, que é decorrente da demora – de aproximadamente 10 dias – no processamento dos exames diagnósticos. Desse modo, por exemplo, foi possível calcular a existência de 4.493 paulistanos com manifestações graves de COVID-19 no dia 13 de abril, enquanto os dados oficiais apontavam apenas 3.357 casos confirmados nessa data.
Os resultados do trabalho, realizado no âmbito do Grupo Técnico de Assessoramento em Epidemiologia e Modelagem Matemática COVID19 (GT COVID-19 Sampa), estão disponíveis na página covid19br.github.io/municipio_SP.
"A principal vantagem é possibilitar ao gestor público a tomada de decisão com base em dados do presente e não de duas semanas atrás”, afirma o físico Vítor Sudbrack, mestrando no Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (IFT-Unesp) sob a orientação do professor Roberto Kraenkel. Ambos integram a equipe do Observatório COVID-19 BR, plataforma on-line que reúne análises baseadas em dados oficiais sobre a propagação do SARS-CoV-2 no Brasil. A iniciativa é fruto da colaboração entre cientistas da Unesp, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Graças à parceria com a secretaria municipal, os pesquisadores tiveram acesso à base de dados local do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (SIVEP-Gripe), que é gerido em nível nacional pelo Ministério da Saúde. Lá estão concentradas as notificações de todos os pacientes que deram entrada em hospitais públicos da capital e foram internados com síndrome respiratória aguda grave (SRAG).
"Quando o paciente é internado com SRAG, é feita a notificação e colhida uma amostra para diagnóstico. O resultado pode indicar se a causa foi o novo coronavírus, o influenza [vírus da gripe], algum outro patógeno ou ainda pode ser inconclusivo”, explica Ana Freitas Ribeiro, médica sanitarista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e membro do GT COVID-19 Sampa.
Dados do Ministério da Saúde indicam que, na semana epidemiológica 14 – que corresponde ao período entre 29 de março e 04 de abril –, cerca de 90% das confirmações de SRAGs por vírus respiratórios (7.333) correspondiam a casos de COVID-19. "Entretanto, nesse mesmo período, 89% dos casos notificados em nível nacional ainda estavam em investigação”, conta Ribeiro.
Segundo Paulo Inácio Prado, professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da USP e integrante do Observatório COVID-19 BR, a metodologia usada pelo grupo para corrigir esse atraso no registro de casos de COVID-19 da capital paulista poderia ser aplicada em qualquer cidade do país.
"Temos interesse em fazer novas parcerias que nos possibilitem acesso às bases de dados do SIVEP-Gripe. No GT COVID-19 Sampa acontece o diálogo entre pesquisadores de universidades, do sistema de saúde e da prefeitura. A correção do atraso de notificação dos dados oficiais é resultado desse diálogo transdisciplinar, que vejo como um subsídio muito útil às políticas públicas porque é construído junto com gestores”, diz Prado.
Monitoramento preciso
Os pesquisadores entrevistados pela Agência FAPESP explicam que a ferramenta de nowcasting não corrige a subnotificação dos casos assintomáticos e dos infectados com sintomas leves, que atualmente não são testados no país.
O protocolo de vigilância epidemiológica da COVID-19 adotado pelo Brasil determina testar prioritariamente os pacientes que necessitam de internação hospitalar, profissionais de saúde e pessoas que morreram em decorrência de SRAG.
"Como não há testes suficientes para toda a população, parte-se do princípio de que o monitoramento dos casos graves pode dar uma noção do todo e indicar o ritmo de crescimento ou retração da epidemia”, explica Sudbrack.
Essa estratégia de vigilância, contudo, tem sido prejudicada pelo atraso nas notificações – principalmente na Região Metropolitana de São Paulo, que concentra a maioria dos infectados pelo novo coronavírus. Por limitações logísticas, o intervalo de tempo entre a chegada do paciente grave ao hospital e a confirmação do diagnóstico tem sido, em média, de 10 dias. Os dados oficiais sem a correção do nowcasting, portanto, indicam o índice de ocupação hospitalar por COVID-19 de 10 dias atrás.
"Até 20 de março, o número oficial de casos [1.231] no município é muito parecido com o apontado pela ferramenta de nowcasting [1.254]. A partir desse ponto as curvas no gráfico começam a divergir, indicando que o número de novos testes realizados havia ultrapassado a capacidade de processamento do sistema de saúde”, diz Sudbrack.
Para contornar o problema, os pesquisadores do Observatório COVID-19 BR usaram técnicas estatísticas que permitem corrigir o número oficial de casos de acordo com a distribuição média de atraso na notificação.
"Se eu tenho um amigo que sempre se atrasa 10 minutos para chegar a um compromisso, sei que posso chegar 10 minutos após o horário marcado. Assim, há grande chance de chegarmos juntos. Eu me adaptei com base em um comportamento médio. A lógica da ferramenta é mais ou menos a mesma”, explica Sudbrack.
Além de ajudar os gestores a preparar o sistema de saúde para atender os doentes, a ferramenta possibilita fazer outros tipos de cálculo com maior precisão.
"Sem a correção do nowcasting, por exemplo, o tempo estimado de duplicação dos casos graves de COVID-19 na cidade de São Paulo estava acima de 10 dias no começo de abril. Quando fizemos a correção percebemos que, na verdade, a quantidade de casos graves dobrava a cada sete dias. Antes da quarentena ser decretada, em 22 de março, os casos dobravam a cada quatro ou cinco dias. Esse ritmo se manteve até 24 de março e, a partir de então, o tempo começou a aumentar, sinal de que o distanciamento social está freando a disseminação do vírus”, diz.
Na avaliação de Sudbrack, porém, a situação atual ainda não permite pensar no relaxamento das medidas adotadas para conter o avanço da epidemia. "Ainda estamos em uma condição delicada. Se hoje temos em torno de 5 mil casos, teremos aproximadamente 10 mil em uma semana. E corremos o risco de jogar fora todo o trabalho já feito se a circulação de pessoas for liberada antes da hora. O tempo de duplicação dos casos na Itália, por exemplo, já ultrapassou 25 dias e só agora estão começando a relaxar lentamente as medidas de isolamento social”, conta.
No limite
Uma estimativa disponível na página do Observatório COVID-19 BR aponta que, se não tivessem sido adotadas medidas para conter a disseminação do novo coronavírus e para expandir a capacidade do sistema público de saúde, os leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) do município de São Paulo teriam alcançado 100% de ocupação no dia 2 de abril. Ou seja, a rede pública da capital já teria entrado em colapso.
Como destaca Prado, estima-se que um caso grave de COVID-19 permaneça internado, em média, por 11 dias. Portanto, mesmo com o aumento no tempo de duplicação dos casos da doença, os pacientes graves continuam a se acumular nos hospitais. "No momento, o GT COVID-19 Sampa projeta um aumento de pelo menos 20% na demanda por leitos de UTI a cada semana”, revela.
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- 16/04/2020 - Pesquisadores desenvolvem testes rápidos para detecção de COVID-19Fonte: Agência FAPESPMaria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP– Pesquisadores no Estado de São Paulo estão desenvolvendo testes rápidos e baratos para ampliar a capacidade de diagnosticar a COVID-19. As iniciativas utilizam diferentes estratégias para detectar o vírus ou os anticorpos gerados pelo organismo para combatê-lo. O objetivo é identificar com precisão quem está infectado e também aqueles que já tiveram a doença, mesmo que de forma assintomática, e que, em teoria, estariam imunizados.
Algumas dessas iniciativas de testes rápidos para o novo coronavírus (SARS-CoV-2) são desdobramentos de pesquisas anteriores para a detecção de infecções por zika, dengue ou outras doenças virais e que agora recebem nova modelagem para a detecção da COVID-19.
"Precisamos considerar que a expectativa é que a epidemia dure um tempo ainda. É possível que tenhamos outras ondas de infecção e é essencial contar com diferentes tipos de testes para ter dados epidemiológicos e também planejar medidas de isolamento social e de liberação de pessoa para o trabalho. Ao aumentar a testagem, é possível identificar casos leves, graves e quem está curado, além daqueles que já foram infectados e não sabem que tiveram a doença”, diz Edison Durigon, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (ICB-USP) que tem realizado várias pesquisas relacionadas ao novo coronavírus.
No ICB-USP, pesquisadores estão desenvolvendo testes de tira (fitas semelhantes às do teste de gravidez) para detectar, em 15 minutos, se o vírus causador da COVID-19 está na secreção do nariz ou da garganta do indivíduo. O estudo foi aprovado pela FAPESP no âmbito do edital Suplementos de Rápida Implementação contra COVID-19, lançado para agilizar o financiamento de estudos que ajudem a combater a pandemia.
A pesquisa já está em fase avançada e os testes devem ficar prontos em maio. Todos os insumos necessários, como os antígenos do vírus e os anticorpos, estão sendo desenvolvidos no próprio laboratório da USP, o que evita a necessidade de importar reagentes neste período de grande procura em todos os países do mundo.
"Conseguimos isolar o vírus do paciente número 1 no Brasil e produzir em laboratório três proteínas de superfície que permitem a identificar o patógeno em testes desse tipo. Atualmente, o estudo está na fase de inoculação dessas proteínas em animais de laboratório (ratos, coelhos e cabras) para ter quantidade de soro suficiente para produzir os primeiros testes rápidos”, diz Durigon,um dos coordenadores da pesquisa.
De acordo com o pesquisador, o desenvolvimento de testes para COVID-19 segue a mesma linha de pesquisa e metodologia realizadas durante a epidemia de zika. "O desenvolvimento desse teste surgiu a partir de todo o conhecimento que tivemos em pesquisas anteriores realizadas para o vírus da zika, em que foi possível também isolar o vírus, produzir a proteína e desenvolver os testes”, diz
Durigon ressalta que, com as proteínas desenvolvidas no laboratório, será possível no futuro desenvolver testes que detectem os anticorpos e, portanto, se o sistema imune do indivíduo está reagindo à infecção do vírus. "Porém, preferimos desenvolver neste momento da epidemia testes que determinem o diagnóstico em 15 minutos. Comesse método não é preciso esperar que o indivíduo produza os anticorpos, pois é possível identificar o vírus circulante”, diz.
Na tela do telefone
No Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – um sensor eletroquímico está sendo criado para identificar a infecção pelo SARS-CoV-2 também nos primeiros dias da doença.
A abordagem utiliza um sensor eletroquímico com nanopartículas de óxido de zinco para detectar a proteína recombinante do novo coronavírus na secreção da garganta ou do nariz de indivíduos possivelmente infectados.
"Com essa estratégia será possível identificar o vírus circulante já no início da infecção. Isso é importante para o controle da pandemia, pois trata-se de um teste rápido capaz de identificar casos iniciais da doença e casos assintomáticos”, diz Talita Mazon, coordenadora do estudo e pesquisadora do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, em Campinas.
De acordo com Mazon, o método utiliza uma placa de circuito impresso – presente na maioria dos aparelhos eletrônicos – com nanoestruturas de óxido de zinco que servem para imobilizar os anticorpos contra as proteínas S1 e S2, presentes na espícula (a coroa) do novo coronavírus.
"Estamos adaptando o método que desenvolvemos para zika e dengue para a detecção da proteína recombinante do SARS-CoV-2 [proteínas virais produzidas em laboratório] via anticorpo imobilizado nas nanoestruturas. Paralelamente, estamos buscamos parcerias com o grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas [Unicamp] que isolou o vírus em laboratório, para modificar a base sensora com padrões do tamanho e da forma do vírus, visando a detecção direta do patógeno. Dessa forma, o teste rápido seria 100% nacional, pois não precisaríamos esperar a importação do anticorpo de laboratórios estrangeiros”, diz Mazon à Agência Fapesp.
Em 15 minutos e com apenas uma gota da secreção da garganta do paciente, é possível identificar a presença da molécula viral representada em gráficos obtidos pelo uso de um equipamento portátil e exibidos em um aplicativo de telefone celular. "Estamos iniciando conversas com a indústria para a produção em larga escala. Se tudo der certo, acredito que em três meses seja possível disponibilizar os sensores”, diz
Detecção de anticorpos
Outra iniciativa, que vem sendo realizada na Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu, utiliza uma estratégia com nanopartículas de ouro para identificar em 15 minutos a presença de anticorpos para o novo coronavírus na saliva ou outra secreção do paciente.
"Estamos desenvolvendo o mesmo tipo de teste rápido que o Ministério da Saúde precisou importar recentemente. Como temos experiência com esse tipo de testes para outras doenças, como dengue, cinomose canina e, mais recentemente, com o circovírus do porco, estamos adaptando a metodologia para o novo coronavírus”, diz João Pessoa Araújo Júnior, pesquisador do Instituto de Biociências de Botucatu (IBB) da Unesp.
Para desenvolver os testes, o grupo precisou importar os anticorpos do tipo imunoglobulina G (IgG) e imunoglobulina M (IgM), proteínas produzidas pelas células de defesa do corpo humano para combater a SARS-CoV-2. O método consiste em uma tira de papel cromatográfico com nanopartículas de ouro recobertas por anticorpos específicos contra o novo coronavírus. Quando uma ponta da tira entra em contato com a secreção do paciente, caso ela tenha o vírus ou a presença de IgG ou IgM, estas se ligam aos anticorpos específicos, provocando uma mudança de cor, visível na linha de teste.
Por se tratar de nanoestruturas, o valor do material não pesaria tanto no custo final do produto. De acordo com as estimativas para os kits de teste para dengue – desenvolvidos pelo mesmo grupo de pesquisadores –, a produção sairia por cerca de R$ 4,00 a unidade. No entanto, para os testes da dengue não foi necessário importar o anticorpo.
"Esse teste é uma espécie de três em um, já que permite saber se o paciente ainda não foi infectado, se está com a doença no momento ou se já a teve no passado. Isso porque os anticorpos do tipo IgM são produzidos na fase aguda da infecção e os do tipo IgG aparecem após o indivíduo teoricamente estar imunizado”, diz Valber Pedrosa, pesquisador do IBB-Unesp .
De acordo com o pesquisador, os testes rápidos possibilitam ter uma real dimensão da epidemia. "Eles são importantes, pois no Brasil estamos contando apenas os casos positivos de pacientes internados em hospitais. Porém, também é necessário saber o número de casos assintomáticos e quantos estão imunizados, para poder planejar com embasamento o fim das quarentenas e das ações para o enfrentamento de possíveis novas ondas da epidemia”, disse.
Testes em clínicas e hospitais
O grupo de pesquisadores do ICB-USP está desenvolvendo outro tipo de testagem, cujo resultado sai em quatro horas e precisa ser realizado em hospitais ou centros de análises clínicas. Trata-se de uma metodologia conhecida como ELISA (ensaio de imunoabsorção enzimática, na sigla em inglês), teste sorológico utilizado para detectar os anticorpos IgG e IgM e que tem como principal vantagem não precisar de equipamentos muito sofisticados.
"A metodologia de teste ELISA permite saber em que momento da doença o indivíduo está: se infectado, se já está com anticorpos ou se já foi infectado alguma vez na vida. Esse teste será muito útil em uma próxima fase da epidemia, pois identifica as pessoas que já foram infectadas e não sabem que tiveram a doença”, explica Durigon.
Além dos testes rápidos para a COVID-19 e o ELISA, que estão em desenvolvimento, há ainda a técnica de PCR em tempo real (sigla em inglês para reação em cadeia da polimerase), método preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que detecta o RNA do vírus circulante no organismo do indivíduo infectado.
Considerado o padrão-ouro dos testes para COVID-19, por ter maior precisão, o resultado fica pronto em cerca de 12 horas. No Brasil essa testagem tem sido realizada apenas em casos graves.
No Estado de São Paulo, uma plataforma com cerca de 20 laboratórios, na grande maioria públicos e ligados a instituições de pesquisa e ensino do Estado de São Paulo, busca otimizar a realização de testes para diagnóstico da COVID-19 (leia mais em agencia.fapesp.br/32924/).
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- 15/04/2020 - Butantan vai desenvolver em laboratório anticorpos para tratamento de COVID-19Fonte: Agência FAPESPAndré Julião | Agência FAPESP– Um grupo de pesquisadores do Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de um produto composto por anticorpos para combater o novo coronavírus (SARS-CoV-2). Os anticorpos monoclonais neutralizantes, como são chamados, serão selecionados de células de defesa (células B) do sangue de pessoas que se curaram da COVID-19. A ideia é encontrar uma ou mais dessas proteínas com a capacidade de se ligar ao vírus com eficiência e neutralizá-lo. As moléculas mais promissoras poderão, então, ser produzidas em larga escala e usadas no tratamento da doença.
Coordenado pela pesquisadora Ana Maria Moro e apoiado pela FAPESP, o projeto utiliza uma plataforma criada para o desenvolvimento de anticorpos monoclonais (mAbs) humanos para diferentes doenças, que está em fase avançada para obtenção de anticorpos monoclonais para o tratamento de zika e tétano.
"Começamos a desenvolver essa plataforma em 2012 com os mAbs humanos antitetânicos, com apoio da FAPESP, e identificamos uma composição de três anticorpos que neutralizam a toxina do tétano. Depois, estabelecemos um acordo com a Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, sob coordenação de Michel Nussenzweig, para gerar linhagens celulares para mAbs antizika, que foram identificados no seu laboratório durante a epidemia da doença, em 2015. São dois mAbs neutralizantes que poderão ser usados na proteção de gestantes em caso de retorno da circulação desse vírus. É um processo longo, mas já estamos começando o trabalho com o novo coronavírus”, disse Moro à Agência FAPESP.
O trabalho segue um princípio parecido com o da transferência passiva de imunidade – técnica que consiste na transfusão de plasma sanguíneo de pessoas curadas da COVID-19, que também está sendo desenvolvida no Brasil (leia mais em: agencia.fapesp.br/32940/).
O plasma – parte líquida do sangue – de pessoas que se curaram da COVID-19 é naturalmente rico em anticorpos contra a doença. Ao entrar na corrente sanguínea de uma pessoa doente, essas proteínas começam imediatamente a combater o novo coronavírus.
No entanto, ainda não se sabe exatamente quais anticorpos estão combatendo o microrganismo. Além disso, diferentes doadores podem ter quantidades maiores ou menores dos chamados anticorpos neutralizantes, que não só reconhecem como eliminam o vírus. A técnica de transferência passiva de imunidade depende ainda de constantes doações de plasma para manter os estoques.
"No caso dos anticorpos monoclonais, um líquido composto por um ou mais anticorpos selecionados entre os mais eficientes é produzido em larga escala, de forma recombinante, por cultivos celulares no que chamamos de biorreatores”, explica a pesquisadora.
Atualmente, existem mais de 70 biofármacos à base de anticorpos monoclonais aprovados para uso clínico no mundo. A maioria é voltada ao tratamento do câncer e doenças autoimunes e vários, mais novos, para outras condições, como o combate ao vírus ebola. Há ainda centenas de produtos em diferentes estágios de ensaio clínico.
Recrutamento de convalescentes
A primeira parte do trabalho é o recrutamento de voluntários convalescentes da COVID-19, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), onde Moro também atua como professora, e com a Rede Vírus (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). Com o sangue coletado dos voluntários, os pesquisadores realizarão uma série de processos de biologia molecular a fim de identificar, nos linfócitos B, as sequências de genes que expressam os anticorpos neutralizantes.
Cada anticorpo será então caracterizado quanto à sua ação perante o vírus, como capacidade de ligação, especificidade e afinidade, reatividade cruzada com outros anticorpos e capacidade de neutralização.
Entre um e três anticorpos que tiverem maior eficiência nesses critérios serão então testados em animais. No caso do vírus zika, um anticorpo apenas havia sido selecionado devido à sua capacidade neutralizante. Quando testado em animais, porém, ele sozinho não deu conta de suprimir o vírus pelo mecanismo de escape viral. Foi então agregado um segundo anticorpo, que, em conjunto com o anterior, mostrou-se efetivo. No caso do tétano, foram três anticorpos selecionados para a terapia contra a toxina causadora da doença.
Identificados os genes, a etapa seguinte consiste na transfecção dos que produzem os anticorpos mais promissores em células para gerar as linhagens recombinantes permanentes. No desenvolvimento da linhagem celular, são produzidos muitos clones, que são isolados, caracterizados quanto às propriedades celulares (crescimento, viabilidade, produtividade) e do anticorpo expresso pela ação esperada (ligação, afinidade, capacidade de neutralização)
Os resultados são levados em consideração para selecionar os melhores clones, que podem ser produzidos em larga escala num biorreatorpara, então, serem levados aos ensaios pré-clínicos e clínicos.