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- 18/10/2017 - Perspectiva da Eletrobras é de cerca de quatro anos para concluir Angra 3O projeto já consumiu R$ 7 bilhões dos cofres públicos e seriam necessários mais R$ 17 bilhões para ser concluído
O projeto já consumiu R$ 7 bilhões dos cofres públicos e seriam necessários mais R$ 17 bilhões para ser concluído
O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, citou nesta quarta-feira, 18, a perspectiva de que as obras da usina nuclear de Agra 3, no Rio de Janeiro, possam ser concluídas em cerca de quatro anos. Durante evento promovido pela ADVB, em São Paulo, o executivo lembrou que o projeto já possui 63% das obras realizadas.
O projeto já consumiu R$ 7 bilhões dos cofres públicos e, segundo estimativas, seriam necessários mais R$ 17 bilhões para ser concluído. A desistência do empreendimento, por outro lado, custaria R$ 12 bilhões, por causa do desmonte de estrutura, a destinação de máquinas e uma série de dívidas ligadas aos contratos firmados pela Eletronuclear.
Angra 3 começou a ser construída pelos militares em 1984. As obras prosseguiram até 1986, quando foram paralisadas por causa de dificuldades políticas e econômicas, além da ocorrência do maior desastre nuclear do mundo, a explosão do reator da usina de Chernobyl, na Ucrânia. O projeto brasileiro ficou na gaveta por 25 anos, até ser retomado em 2009, como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometia colocar a usina para funcionar em maio de 2014.
Agora, com os R$ 17 bilhões estimados para sua conclusão, se chegaria a um gasto total de R$ 24 bilhões para colocar em operação uma usina com capacidade de 1.405 megawatts (MW), o que torna a viabilidade financeira do projeto questionável. A Eletronuclear não se manifestou sobre o assunto.
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- 17/10/2017 - Mudanças na regulamentação da profissão de técnico em radiologia serão debatidasFonte: Portal do Senado
Em audiência pública na terça-feira (17), às 9h, a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) debaterá as propostas de alteração na regulamentação profissional dos técnicos em radiologia (Lei 7.394/1985). A audiência será realizada a pedido do senador Paulo Paim (PT-RS).
Foram convidados para a audiência a deputada federal Carmem Zanotto (PPS-SC); Mychelle Schmitt Gurgacz, presidente da Associação Brasileira de Radiologia Odontológica (Abro); Manoel Benedito Viana Santos, diretor-presidente do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (Conter); Juliano do Vale, presidente do Conselho Federal de Odontologia (CFO); Benedito Dias de Oliveira Filho, presidente da Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária (CNRMV/CFMV); e representantes da Federação Nacional dos Técnicos em Radiologia (Fenattra), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), da Federação Nacional dos Médicos Veterinários (Fenamev) e do Hospital Sírio Libanês.
A audiência será interativa. Os cidadãos podem participar com perguntas e comentários através doPortal e-Cidadania ou peloAlô Senado (0800 612211). -
- 16/10/2017 - Leonam Guimarães assume presidência da EletronuclearLeonam Guimarães assume presidência da Eletronuclear
Leonam Guimarães assume presidência da Eletronuclear
Fonte: Canal Energia
Leonam Guimarães está ocupando interinamente a presidência da Eletronuclear. A decisão foi tomada na reunião do Conselho de Administração da empresa realizada no último dia 9 de outubro. A ascensão de Leonam veio em consequência da exoneração de Bruno Barretto da presidência da estatal, também decidida na reunião do conselho. Guimarães vai acumular os dois cargos. De acordo com a Eletronuclear, a decisão cumpriu deliberação do Conselho de Administração da Eletrobras.
O executivo é Diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletronuclear desde abril de 2014 e membro do Grupo Permanente de Assessoria do Diretor-Geral da AIEA desde abril de 2010. Foi Diretor da Amazônia Azul de agosto de 2013 a abril de 2014 e assistente da presidência da Eletronuclear de outubro de 2005 a agosto de 2013. É Doutor em Engenharia Naval e Oceânica pela USP, Mestre em Engenharia Nuclear pela Universidade de Paris XI e Capitão-de-Mar-e-Guerra da reserva do Corpo de Engenheiros da Marinha do Brasil. Leonam Guimarães também é autor de vários livros e artigos sobre engenharia, gestão e planejamento.
Desde o afastamento de Othon Pinheiro em abril de 2015, por envolvimento em corrupção na usina de Angra 3, a presidência da Eletronuclear tem enfrentado certa rotatividade. Pedro Figueiredo, que assumiu no lugar de Pinheiro, foi afastado em julho de 2016 por suspeita de interferência nas investigações sobre o antecessor. Em seu lugar entrou Bruno Barretto, que agora cede o lugar a Guimarães. -
- 16/10/2017 - Filme sobre césio-137 é premiado na AlemanhaFonte: DW
Em Berlim, Uranium Film Festival premia curta sobre maior acidente radiológico do mundo, registrado em Goiânia, há 30 anos. Após festival, exposição de fotos históricas vai rodar o país.
Há dois anos, o diretor de arte Benedito Ferreira saiu em busca de um fantasma que assombrava a sua vizinhança: a história da contaminação e mortes provocadas pelo elemento radioativo césio-137, classificado como o maior acidente radiológico do mundo, há 30 anos.Morador da região central de Goiânia, o diretor de arte transformou o tabu no curta Algo que fica, premiado neste domingo (15/11) no encerramento da sexta edição do Uranium Film Festival, em Berlim.
"As pessoas em Goiânia não falam sobre isso", diz Ferreira. "O filme é de ficção, feito para ser como uma provocação, para que as pessoas, depois de assistir, saiam em busca de mais informação".
A história mostra jovens preparando a inauguração de um museu em memória das vítimas no local onde a cápsula com o elemento radioativo foi aberta, na rua 57. Em paralelo, a rotina de um idoso doente é apresentada ao espectador.
Iniciado no Brasil há sete anos, o festival de cinema chama a atenção para os riscos da cadeia nuclear – um assunto que tem ocupado as manchetes recentemente impulsionado pela troca de ameaças entre Estados Unidos e Coreia do Norte.
"A intenção do festival é educar, informar, dar voz para assuntos e pessoas esquecidos e que, de alguma maneira, foram afetadas pela questão nuclear", afirma Norbert G. Suchanek, fundador e diretor. "Nós vivemos numa era atômica. E acreditamos que a arte é uma forma eficiente de abordar essa discussão", complementa Márcia Gomes, cofundadora.
O francês Larbi Benchiha também foi premiado, por seu documentário Bons Baisers de Moruroa, que relata o impacto dos testes com bombas nucleares conduzidos pelo governo da França no Atol Moruroa – antiga colônia francesa – no Pacífico.
Cinema e exposição itinerante
Odesson Alves Ferreira, sobrevivente e membro da diretoria da Associação de Vítimas do Césio-137, participou do festival em Berlim. A história dele é contada em fotos na exposição que acompanhou as sessões, muitas vezes seguidas por debates com o público.
"As pessoas me fazem perguntas curiosas, querem saber por que toquei no césio, por exemplo", conta sobre a interação com os alemães. "É importante estar aqui para contar uma história triste que não pode ser esquecida", comentou sobre a ida a Berlim, seu primeiro voo internacional.
A exposição menciona a visita a Goiânia de Winfried Koelzer, físico alemão do Centro de Pesquisa Karlsruhe. Segundo reportagem do New York Times publicada em 1987, Koelzer sugeriu que o governo usasse robôs no trabalho de descontaminação devido ao nível de radiação. Odesson Alves Ferreira, que encontrou o pesquisador em diversas ocasiões naquela época, diz que as sugestões de Koelzer nunca foram postas em práticas e que ele foi convidado a se retirar do Brasil pelas autoridades.
As fotos organizadas pelos curadores do festival irão viajar pela Alemanha numa exposição itinerante e devem passar por escolas, universidades e institutos.
Dentre os 28 filmes apresentados, o documentário Cesium I blodet, do sueco Lars Westman, foi exibido pela primeira vez na Alemanha. O jornalista, que chegou a Goiânia logo após o reconhecimento oficial do acidente radiativo, reuniu imagens impressionantes dos trabalhos de descontaminação e das vítimas.
Westman refez as entrevistas três e 15 anos após a catástrofe, colheu depoimentos de Devair Alves Ferreira e Ivo Alves Ferreira, irmãos de Odesson. Ivo era pai da menina Leide das Neves, a primeira a morrer. Dias depois da última gravação, ele faleceu.
O filme, de 70 minutos, ficou pronto em 2009. Segundo o diretor do festival, nenhum canal de televisão – no Brasil ou na Suécia – quis exibir o material.
Problema global
Na plateia, Sebastian Pflugbeil, presidente da Sociedade Alemã para Proteção contra Radiação, veio em busca de mais detalhes da tragédia brasileira. "Acredito que esse caso do césio 137 não é conhecido na Alemanha", opina.
Segundo o físico, a sociedade foi fundada após o acidente nuclear de Chernobyl, em 1986, e atuou para que os riscos nunca sejam ignorados por empresas que atuam no setor e pelo governo. "Tantos anos se passaram, mas algo não muda: não se pode parar uma fonte de radiação", comenta.
Criado na antiga Alemanha Oriental, onde estudou física e se tornou um dos raros especialistas no assunto naquela parte do país, Pflugbeil acredita que descaso e demora de governos em reconhecer vítimas da radiação – como relatado por Odesson Alves Ferreira – não é algo exclusivo do Brasil.
"Os trabalhadores das usinas de urânio da antiga Alemanha Oriental continuam brigando até hoje para que sejam reconhecidos como vítimas. Eles têm muitas doenças e tipos de câncer que, até hoje, não foram reconhecidos pelas autoridades como associados ao trabalho na mina de urânio", comenta Pflugbeil sobre casos registrados na Saxônia e na Turíngia.
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- 15/10/2017 - PROSUB - Em defesa do PaísFonte: Defesa.net
Há cerca de 40 anos, a Marinha do Brasil iniciou o seu programa nuclear, que se confunde com o do País. Não havia alternativa, pois as potências mundiais detentoras dessa tecnologia estratégica jamais a transfeririam para outras nações. A decisão não poderia ser mais acertada. O primeiro submarino de propulsão nuclear brasileiro, com projeto básico concluído neste ano e lançamento ao mar previsto para o fim da próxima década, será o meio mais eficaz para defender o polígono do Pré-sal e outras riquezas da Amazônia Azul, esclarece o Almirante-de-esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha. Na entrevista a seguir, ele detalha os riscos a que estão sujeitos aqueles recursos naturais fundamentais à soberania.
Carta Capital: Como surgiu o Programa de Desenvolvimento de Submarinos?
Bento Costa Lima Leite: A Marinha desenvolve, desde o fim da década de 1970, o seu programa, que visa exclusivamente chegar à propulsão nuclear naval. Entre 2007 e 2008, o Brasil tinha uma presença marcante no contexto internacional e alguns países tentaram uma aproximação, eu diria, até estratégica, o que levou ao acordo entre Brasil e França, com transferência de tecnologia. As condições econômicas do País também permitiam iniciar um programa dessa magnitude.
A possibilidade de o submarino nuclear ficar submerso por tempo indefinido desestimula ataques às plataformas.
CC: O que o PROSUB inclui?BCLL: A transferência de tecnologia para o estaleiro de construção e manutenção, um complexo radiológico, a construção de quatro submarinos convencionais e do submarino brasileiro de propulsão nuclear. A propulsão nuclear e a parte de sistemas e equipamentos não estão incluídas na transferência de tecnologia, isso cabe única e exclusivamente ao Brasil. Daí termos iniciado há praticamente 40 anos o nosso programa nuclear, pois sabíamos que jamais se transferiria ao Brasil essa tecnologia, muito menos o seu desenvolvimento.
É importante ter isso em mente. O índice de 95% de nacionalização mostra que a transferência de tecnologia foi extremamente exitosa. Transferência de tecnologia não é como se fosse um pacote, pois é indispensável ter capacidade de absorvê-la. Essa capacidade resulta da experiência passada de construção de submarinos e da existência de vários centros tecnológicos e de profissionais de excelência no Brasil, no ramo de engenharia. No que diz respeito ao submarino de propulsão nuclear, nós não tínhamos a capacitação em projetos.
O último navio que projetamos e construímos foi a corveta Barroso, que levou 14 anos desde o projeto concluído até o produto final, entre 1994 e 2008. Um tempo excessivo, pois, quando o navio fica pronto, já tem de sofrer outra modernização, para ficar no estado da arte. Em janeiro, concluímos o projeto básico do submarino de propulsão nuclear. O Riachuelo, primeiro submarino convencional do programa, será lançado até o fim do ano que vem.
A GUERRA CIBERNÉTICA E O TERRORISMO INTERNACIONAL SÃO AS AMEAÇAS MAIS PROVÁVEIS AO BRASIL
CC: Na parte de energia nuclear, o que a Marinha precisou fazer para chegar ao PROSUB?
BCLL: O Brasil comprou projetos prontos para as usinas nucleares, um americano e outro alemão, e fez Angra I e Angra II. Em termos de desenvolvimento, Os interesses do Brasil transcendem a zona de exclusão econômica, pois 95% do comércio com o mundo é feito pelo mar praticamente nada foi feito, A Marinha, para chegar à propulsão nuclear, teve de desenvolver, em primeiro lugar, o ciclo completo do combustível - desde o minério até o enriquecimento do urânio e a transformação deste em pastilhas para propulsão -, entre 1979 e 1988. Para a propulsão propriamente dita, tivemos ainda de desenvolver reatores nucleares de potência. A Marinha liderou o processo, em parceria com a USP e o Instituto de Pesquisas Energéticas, entre outros.
CC: O programa corre o risco de interrupção no contexto atual de fortes restrições orçamentárias?
BCLL: Não vejo esse risco. O Brasil é um dos dez maiores países do mundo em território, população e economia, e pode até descontinuar o programa e depois retomá-lo. Mas o custo disso para a sociedade seria muito grande, em razão da sua complexidade.
CC: Como a construção de submarinos se insere num projeto de País?
BCLL: Há várias inserções, inclusive naquilo que proporciona em termos de desenvolvimento relacionado a arrasto tecnológico e fomento industrial. O ponto primordial, entretanto, é de que o programa de submarinos é essencial à defesa dos interesses do Brasil no mar, que são muito amplos, a começar pela zona econômica exclusiva de 4,5 milhões de quilômetros quadrados. Na verdade, ele transcende essa área, pois perto de 95% do comércio brasileiro com o mundo é feito por mar, com Ásia, Europa, Estados Unidos e América do Sul. O submarino é uma arma por si só de dissuasão.
E o submarino de propulsão nuclear proporciona ao poder naval uma dimensão ampla, de estar presente em qualquer lugar que se faça necessário. Isso garante ao País um poder de dissuasão muito grande naquilo que conflite com seus interesses.
CC: Alguns especialistas alertam que o Brasil, com o Pré-sal e demais recursos no oceano, está na interface de embate dos principais blocos geopolíticos, o estadunidense-europeu e o russo-chinês. Faz sentido identificar aí a grande importância de se manter a incolumidade dos domínios marítimos brasileiros?
BCLL: Faz todo sentido. Considere-se ainda que 10% da carga mundial passa por portos brasileiros, um dado estatístico incontestável, A carga embarcada aqui ou que passa pelo País transita em todos os mares do mundo. O Brasil - não falo agora de submarinos - deve ter condições de preservar seus interesses e suas rotas comerciais, independentemente dos blocos geopolíticos. As condições para isso incluem, entretanto, programas da magnitude do PROSUB, entre outros previstos na Estratégia Nacional de Defesa, a exemplo daquele de desenvolvimento de navios de superfície, também de grande complexidade tecnológica. A propósito, um país como o nosso não pode deixar de preservar sua independência por meio da tecnologia e do desenvolvimento que vêm agregados a isso.
CC: O senso comum diz que o Brasil é um país pacífico, nunca atacará nem será atacado. Isso dificulta a conscientização da sociedade sobre a necessidade de o País estar preparado para se defender?
BCLL: Sem dúvida. Poucos se dão conta de que o País participou das duas guerras mundiais e é muito reconhecido no exterior por conta da sua atuação. Na Segunda Guerra Mundial, nossa Marinha foi encarregada da proteção de todos os comboios até o Caribe, e a partir dali os Estados Unidos assumiam a escolta da frota comercial da Europa e de outras regiões.
Algumas singularidades chamam atenção. Poucos países estabelecem na Constituição que se abrirá mão do armamento nuclear e a Marinha Brasileira é a única do mundo com um programa nuclear sob a salvaguarda da Agência Internacional de Energia Atômica e da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares. A definição constitucional talvez contribua para aquela crença de que não seremos ameaçados, mas algumas décadas atrás a Guerra das Malvinas, aqui no Atlântico Sul, mostrou que, quando interesses são contrariados, principalmente aquelas nações que têm Forças Armadas expressivas, não deixam passar em branco.
Mas o Brasil tem amadurecido nesse aspecto, como mostra o estabelecimento, em 2008, da Estratégia Nacional de Defesa, com a participação do meio acadêmico, de intelectuais e representantes das Forças Armadas, exaustivamente discutida e referendada pelo Congresso Nacional. O próprio PROSUB não foi alvo de objeções relevantes no Parlamento. Nós precisamos ter capacidade de manter a segurança sobre tudo aquilo que diz respeito aos nossos interesses.
CC: Quais são as ameaças mais prováveis ao País?
BCLL: A guerra cibernética e o terrorismo internacional. O Brasil é hoje o maior produtor de petróleo da América Latina. Superamos a Venezuela e o México, com o Pré-sal. Imagine um atentado a esse patrimônio do País, que fica de 150 a 200 quilômetros da costa, se não houver capacidade de defendê-lo. Pensemos no que isso poderia causar à economia brasileira e para as nações que importam o nosso petróleo. Uma das maiores preocupações em relação aos navios de guerra é hoje a guerra cibernética, pois um ví-rus pode comprometer toda a capacidade de combate. Por outro lado, ameaças de blocos, mesmo de países, felizmente não temos no momento. Mas nada diz ou significa que não ocorram no futuro.
CC: Por quê?
BCLL: Porque o Brasil tem água, biomassa, minérios, e é um dos celeiros do mundo ao lado de Estados Unidos, Austrália e Argentina. Pode haver algum conflito de interesses e sermos instados a defendê-los. Alguns países têm grande extensão territorial, à semelhança do Brasil, mas não contam com recursos naturais em abundância. Isso por si só pode gerar algum tipo de interferência econômica na exploração dos nossos recursos. É uma ameaça intangível que a sociedade nem sempre consegue visualizar. Estamos um pouco afastados do eixo mundial e isso dificulta a percepção de que fazemos parte desse contexto também.
RISCO DE ATAQUES DE BLOCOS OU PAÍSES NÃO HA NO MOMENTO, MAS NADA DIZ QUE NÃO OCORRAM NO FUTURO
CC: O País sofre uma onda de desnacionalização, inclusive de campos de petróleo. Não seria uma interferência econômica prejudicial ao patrimônio do Pré-sai, da Amazônia Azul?
BCLL: Eu não vou entrar nesse aspecto econômico de desnacionalização ou não. O ponto mais importante não é se é meu ou se é seu, mas, se está aqui, eu tenho de ter condições de defendê-lo e protegê-lo. E, hoje em dia, o País não tem condições - se não dispõe de um poder naval capaz - de defender o pré-sal, caso ele fique sob ameaça. O Brasil precisa ter meios e competência para defendê-lo e mostrar a quem quer que seja que temos essas condições.
CC: Qual é o papel da Odebrecht no programa?
BCLL: Eu diria que a Odebrecht é urna das grandes responsáveis pelo êxito do programa até agora. Todas as obras civis foram feitas por essa empresa, utilizando, evidentemente, a técnica passada pelos franceses do arranjo do estaleiro e da base dedicados à construção de navios de guerra, principalmente de submarinos. A Odebrecht foi escolhida pelos próprios franceses para ser parceira deles.
CC: Qual o papel do almirante Othon no Programa Nuclear da Marinha?
BCLL: O almirante Othon deixou o serviço ativo da Marinha em 1994 e hoje está reformado. Ou seja, está fora da Marinha há 23 anos. Entre 1978 e 1994, foi ele, entretanto, quem conduziu o Programa Nuclear da Marinha. Em 1988, dominamos o ciclo completo do combustível nuclear. Sem dúvida, ele teve um papel muito importante nessa conquista tecnológica para o País. Recebeu a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, a maior condecoração do País na área de ciência e tecnologia, em reconhecimento por tudo que ele fez no desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro.
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- 11/10/2017 - Temer troca presidente e diretores da estatal INBFonte: Estado de Minas
O presidente Michel Temer nomeou Reinaldo Gonzaga presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), estatal federal vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. Gonzaga entra no lugar de João Carlos Derzi Tupinambá, exonerado nesta quarta-feira, 11, e que estava no cargo desde janeiro do ano passado, nomeado ainda por Dilma Rousseff.
A mudança do comando da estatal federal está publicada no Diário Oficial da União (DOU), que traz também novos nomes para três da quatro diretorias da empresa.
Foram nomeados: Luiz Fernando Silva de Magalhães Couto, como diretor de Finanças e Administração; Marcelo Xavier de Castro, diretor de Produção do Combustível Nuclear; e Adauto Seixas, diretor de Recursos Minerais.
Foram exonerados: Giovani Moreira, da diretoria de Produção do Combustível Mineral; e Laércio Aguiar da Rocha, da área de Recursos Minerais. -
- 05/10/2017 - Processo transforma cinzas de biomassa em sílicas industriais - Informativo SRQ – IVSolução pode gerar fonte de renda adicional ao setor sucroalcooleiro
Solução pode gerar fonte de renda adicional ao setor sucroalcooleiro
Fonte: Informativo SRQ - IV - set. out. 2017
Pesquisadoras do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) desenvolveram um processo que transforma cinzas da biomassa de cana-de-açúcar em sílica gel e em nanosílica de alta pureza, ambas na forma de pó. O trabalho foi coordenado pela professora Denise Alves Fungaro e teve a olaboração das pós-doutorandas Luciana Cavalcanti de Azevedo e Suzimara Rovani. Intitulado "Produção de Sílica Gel e Nanosílica de Alta Pureza a partir de Cinzas da Biomassa de Cana-de-Açúcar com Alto Potencial de Comercialização”, o trabalho foi reconhecido pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), que concedeu o Prêmio Kurt Politzer de Tecnologia 2016, na categoria Pesquisador, a Denise, entrevistada pelo Informativo.A pesquisadora ressalta que a obtenção da sílica (ou óxido de silício - SiO2) ocorre tradicionalmente pela extração do cristal de quartzo presente na Natureza em jazidas ou lavras de areia (conhecida como areia industrial, areia de quartzo, areia quartzosa ou areia de sílica), processo que pode gerar impactos ambientais significativos. "As rochas e os minerais ocorrem em quantidade finita e não renovável. A exploração de minérios de forma indiscriminada pode ocasionar a destruição da flora, a extinção da fauna, a erosão dos solos e a poluição do ar e das águas”, alerta.
O processo desenvolvido pelo grupo do Ipen utiliza as cinzas resultantes da queima do bagaço da cana, que radicionalmente são destinadas pelas usinas do setor sucroalcooleiro à fabricação de fertilizantes.
No entanto, Denise esclarece que as cinzas, por terem poucos nutrientes, não geram um desempenho satisfatório nesse campo, podendo ser mais úteis na produção de sílicas, por meio de um processo mais sustentável e menos dispendioso se comparado ao método tradicional.
"Estima-se que o custo de produção da nanosílica a partir de cinzas da biomassa de cana é cerca de 40% menor, considerando o baixo custo das matériasprimas e a baixa quantidade de energia utilizada no processo”, destaca a coordenadora da pesquisa.
Com base nos mais recentes números relativos à cana-de-açúcar divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é possível aferir a disponibilidade da matéria-prima necessária para a produção da sílica gel e da nanosílica de alta pureza. A estimativa para a safra 2017/2018 de cana-de-açúcar é de 647,63 milhões de toneladas (na safra 2016/2017, foram colhidas 657,18 milhões de toneladas). Cada tonelada gera de 250 a 270 kg de bagaço, cuja queima com as palhas e pontas (mais 200 kg por tonelada) resulta em 1% a 4% de cinzas.
SUSTENTABILIDADE – A nanosílica desenvolvida é uma alternativa à sílica de alta pureza comercialmente disponível, fabricada por meio de um processo de fusão de areia industrial com soda cáustica em fornos de alta temperatura operados entre 1.300 ºC e 1.500 ºC (ou em temperaturas mais elevadas para produzir materiais com características vítreas).
"No nosso processo, a nanosílica de alta pureza é obtida em temperaturas entre 350 ºC e 550 ºC. Logo, há uma grande economia de custo energético”, salienta Denise.
No processo desenvolvido na pesquisa, as cinzas primeiramente são submetidas a uma fusão com hidróxido de sódio. Em seguida, a mistura fundida é submetida a refluxo de água para solubilização do silicato de sódio. Na última etapa, é adicionado ácido para precipitar a sílica. Todo o processo está incluído em um depósito de patente submetido ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
A pesquisa está na fase de desenvolvimento em escala de laboratório. Os projetos em andamento no Ipen estão voltados para a avaliação do uso da nanosílica no tratamento de efluente têxtil e de água contaminada com interferentes endócrinos, como o bisfenol-A. Nesse mesmo enfoque de utilização, o processo de preparação de membrana para nanofiltração tem sido objeto de estudo.
Outra pesquisa busca analisar o uso da nanosílica de alta pureza na produção de biopolímeros termoplásticos como potenciais substitutos dos plásticos convencionais. "A próxima etapa da linha de pesquisa será direcionada para o aumento de escala e avaliação da viabilidade econômica do processo de obtenção dos produtos”, informa Denise.
ESTATÍSTICAS – De acordo com informações do relatório "A indústria mineral paulista: síntese setorial do mercado produtor” (http://bit.ly/2hhwdBq), publicado neste ano pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), as reservas brasileiras de areia industrial em 2013 eram de 1,2 bilhão de toneladas lavráveis. As jazidas mais importantes deste bem mineral estão localizadas nos estados de São Paulo (60%, com cerca de 546 milhões de toneladas de reservas lavráveis), Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe e Pernambuco.
A mesma publicação informa ainda que os dados oficiais sobre a demanda por areia industrial no país, de acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), apontam que os segmentos vidreiro (37,5%) e de fundição (37,5%) são responsáveis pela maior parte do consumo (75%). Para esses setores, de acordo com Denise, a areia industrial é vendida no estado bruto, não beneficiado, e tem um baixo valor de comercialização. Os demais 25% correspondem a um número expressivo de segmentos industriais, como indústrias cerâmicas (branca e de revestimento), cimenteiras e de ferro-ligas.
A pesquisadora enfatiza que, apesar de possuir as maiores reservas mundiais de rocha de quartzo e grandes reservas de areia industrial, o Brasil tem dependência externa dos produtos industrializados onde a nanosílica de alta pureza é empregada. Dessa forma, trata-se de um mercado que, segundo ela, apresenta um potencial expressivo, pois o valor comercial global estimado da sílica para aplicações que necessitam de um material de alta pureza foi de US$ 1,7 milhão em 2016.
A sílica gel e a nanosílica sintetizadas pelo grupo do Ipen, por apresentarem grau de pureza acima de 99%, possuem, de acordo com Denise, alto valor agregado e potencial de geração de receitas para as indústrias ucroalcooleiras, que poderiam comercializá-las como matérias-primas para os fabricantes de tintas, polímeros, cerâmicas, revestimentos, indústria automobilística, agentes de limpeza, catalisadores, adsorventes, desumidificantes e produtos alimentícios, criando assim um novo nicho econômico para os subprodutos da fabricação de açúcar e álcool.
Outras aplicações possíveis para os produtos envolvem segmentos que possuem demanda crescente na atualidade, tais como a indústria de microeletrônica (para a fabricação de semicondutores, circuitos integrados etc.); fabricação de células solares para geração de energia elétrica por fotoconversão de energia solar e uso em bateria recarregável do tipo íon-lítio.
Contatos com a professora Denise Fungaro podem ser feitos pelo e-mail dfungaro@ipen.br
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- 04/10/2017 - Nobel da Física vai para ondas gravitacionaisO alemão Rainer Weiss e os americanos Barry Barish e Kip Thorne levaram o prêmio por suas contribuições ao observatório Ligo, nos EUA, que permitiram a detecção das sutis ondas que haviam sido previstas por Einstein 100 anos antes
O alemão Rainer Weiss e os americanos Barry Barish e Kip Thorne levaram o prêmio por suas contribuições ao observatório Ligo, nos EUA, que permitiram a detecção das sutis ondas que haviam sido previstas por Einstein 100 anos antes
Fonte: O Estado de S. Paulo
Fábio de CastroO Prêmio Nobel da Física de 2017 foi concedido nesta terça-feira, 3, ao alemão naturalizado americano Rainer Weiss eaos americanos Barry Barish e Kip Thorne por sua atuação no Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferometria a Laser (Ligo, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, que permitiu a detecção deondas gravitacionais pela primeira vez na história.
O anúncio foi feito nesta terça-feira, 3, pela organização que concede o prêmio, o Instituto Karolinska, na Suécia.De acordo com o comitê do Nobel, os cientistas laureados deram "decisivas contribuições ao detector Ligo e à observação de ondas gravitacionais".
As ondas gravitacionais foram previstas por Albert Einstein em sua Teoria Geral da Relatividade, publicada há cem anos, mas, extremamente sutis, elas pareciam - até mesmo para o próprio Einstein - impossíveis de detectar. Foi somente em 14 de setembro de 2015 queos cientistas finalmente detectaram, no Ligo, as tênues vibrações emitidas por dois buracos negros que giram um em em torno do outro, a1,3 bilhão de anos-luz da Terra.
A descoberta foi divulgada nodia 11 de fevereiro de 2016, com grande impacto mundial. "Em 14 de setembro, tudo mudou”, afirmou Thorne na ocasião da divulgação. "Graças a essa descoberta, a humanidade embarca na maravilhosa exploração dos lugares mais extremos do Universo."
Antes da façanha,os físicos sempre utilizaram o espectro eletromagnético – que inclui a luz visível, o raio X e o infravermelho, por exemplo – para fazer suas descobertas. Mas o experimento provou que também é possível estudar o Universo a partir de outros tipos de ondas existentes. A partir dali, os cientistas se convenceram de que, se é possível detectar ondas gravitacionais, talvez seja possível descrever fenômenos que não emitem ondas eletromagnéticas suficientemente significativas para serem observadas. "Antes nós víamos o Universo. Agora, nós começamos a ouvi-lo”, disse Thorne na época.
Nascido em Berlim, na Alemanha, em 1932, Weiss é pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), em Cambridge, nos Estados Unidos. Barish nasceu em 1936, em Omaha, no estado americano de Nebraska, e atua no Instituto de Tecnologia da California (Caltech), em Pasadena. Thorne nasceu em 1940, em Logan, no Utah, e também atua no Caltech.
"Minha reação foi de profunda satisfação. De que essencialmente as coisas saíram precisamente da maneira que eu esperava. E de que eu coloquei todas minhas energias na direção certa para ajudar a fazer isso acontecer. Estou contente por representar aincrível equipe que levou tudo isso adiante", disse Thorne ao receber a láurea.
Ao ser informado sobre a premição, por um telefonema da Academia Real de Ciências da Suécia, na manhã desta terça-feira, Weiss destacou imediatamente que o prêmio pertence a todos os que trabalharam nos projetos do Ligo, e não apenas aos três indivíduos indicados pelo comitê do Nobel.
"Eu vejo isso mais como um reconhecimento do trabalho de cerca de mil pessoas. Um esforço realmente dedicado que tem sido feito - detesto ter que dizer - por 40 anos, com pessoas pensando sobre isso, tentando fazer uma detecção e às vezes falhando, no início, até que lentamente, mas seguramente, fosse possível conseguir atecnologia para realizá-la. É muito, muito emocionante que tudo tenha dado certo no fim", afirmou Weiss.
O Instituto Karolinska anunciou em setembro um reajuste de 12% no valor dos prêmios Nobel, que permanecia o mesmo desde 2012:8 milhões de coroas suecas, o equivalente acerca de US$ 981mil, ou R$ 3,1 milhões. Os vencedores de 2017receberão 9 milhões de coroas, o que significa US$ 1,1 milhão, ou cerca de R$ 3,5 milhões.
Por ter desenvolvido as primeiras medições experimentais dos ruídos que poderiam interferir nas detecções, viabilizando todo o projeto, Weiss receberá metade do valor. A outra metade será dividida entre Thorne- que contribuiu com cálculos teóricos fundamentais - e Barish, que foi diretor do Ligo em um momento fundamental para o projeto, cumprindo uma função executiva essencial.
Trabalho coletivo.Apesar do importante papel dos três laureados na descoberta das ondas gravitacionais, as pesquisas tiveram participação de mais de mil cientistas de 14 países, incluindo grupos brasileiros liderados por Odylio Aguilar, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e pelo físico italianoRiccardo Sturani, do Instituto Internacional de Física de Natal, ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Sturani disse aoEstadoque os laureados mereceram o reconhecimento e que uma premiação para os estudos sobre ondas gravitacionais já era esperada. "Não tínhamos nenhuma dúvida, porque foi realmente uma revolução no jeito de observar o Universo. Weiss, Thorne e Barish tiveram um papel fundamental nessa revolução, porque é até difícil imaginar a existência do Ligo sem os trabalhos dos três", disse Sturani.
O físico está envolvido com o projeto desde o fim de 1998. Na Itália, ele atuava no Virgo - um dos detectores de ondas gravitacionais que possui um acordo de troca de dados com o Ligo. Desde 2003 o físico vive no Brasil - ele atuou no Instituto de Física Teórica da Unesp até setembro do ano passado, quando foi para o instituto de Natal. Em todo esse período, a colaboração continuou. Seu grupo trabalhou namodelagem e análise dos dados de sinais obtidos pelo experimento e desenvolveu softwares de modelagem.
"Fiquei muito contente com o prêmio. Os líderes do projeto receberam o Nobel merecidamente, mas o reconhecimento sem dúvida se estente a todos que participaram desse grande trabalho coletivo", declarou Sturani.
Em novembro de 2015, quando a publicação daTeoria Geral da Relatividade de Einstein completou 100 anos, ofísico George Matsas, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), já previa que a observação das ondas gravitacionais estava próxima, e que o feito renderia um prêmio Nobel."Sabemos que as ondas gravitacionais estão lá, mas elas ainda não foram observadas diretamente. Isso deverá ser feito logo e com toda certeza renderá um Prêmio Nobel da Física", disse Matsas na ocasião.
Teoria confirmada. No fim de 1915, Einstein revolucionou a física ao propor que a gravidade não é uma força de atração, mas uma distorção no tecido do tempo-espaço produzida por objetos que possuem massa.
Segundo a teoria, a distorção causada por corpos muito grandes e acelerados deveriam produzir ondas no espaço-tempo, de maneira semelhante às ondulações produzidas por uma pedra atirada na água. Mas a detecção dessas ondas gravitacionais era quase impossível, já que são minúsculas, com amplitude milhares de vezes menor que o comprimento de um próton.
No fim da década de 1950, porém, a existência das ondas gravitacionais se tornou mais aceita, porque cálculos feitos por físicos teóricos haviam demonstrado que elas poderiam carregar energia suficiente para serem detectadas - pelo menos em princípio.
Em meados da década de 1970, utilizando um grande radiotelescópio, os astrofísicos americanos Joseph Taylor e Russel Hulse observaram um par de estrelas extremamente densas - um pulsar duplo - e demonstraram que as estrelas rodavam uma em torno da outra, com velocidade crescente, enquanto perdiam energia e se aproximavam.A quantidade dessa perda de energia correspondia aos cálculos teóricos para as ondas gravitacionais, tornando sua oberrvação uma questão de tempo. A dupla recebeu um Prêmio Nobel da Física em 1993.
Ainda na década de 1970, Weiss analisou possíveis fontes de ruídos de fundo que podiam perturbar as medições. Para eliminar esse ruído, ele desenhou um detector baseado em interferometria laser. A partir daí, Weiss e Thorne já estavam totalmente convencidos de que as ondas gravitacionais poderiam mesmo ser detectadas.
No fim da década de 1980, Weiss, Thorne e o físico Ronald Drever - que morreu em março de 2017- propuseram a construção de um observatório que pudesse detectar diretamente as ondas previstas por Einstein. O envolvimento de Barish começou no início da década de 1990 e, em 1997, ele se tornou diretor do Ligo em um momento crucial para o projeto. Em 2016, finalmente o objetivo foi cumprido e as ondas gravitacionais foram detectadas, revolucionando o conhecimento sobre o Universo.
Para conseguir a façanha, os cientistas observaram dois buracos negros que giraram um em torno do outro em uma galáxia distante, a 1,3 bilhão de anos-luz da Terra. Os dois corpos, com massa cerca de 30 vezes maior que a do Sol, aproximaram-se até se fundirem, gerando – por uma fração de segundo – uma grande emissão de ondas gravitacionais, cujos ecos foram "ouvidos”. Além de observar as ondas, o experimento foi o primeiro na história a detectar um sistema binário de buracos negros em colisão.
UMA JANELA PARA O COSMOS
O que são as ondas gravitacionais?
Usando uma metáfora, os físicos as definem como "ondas no oceano cósmico”. Einstein descobriu com a Teoria Geral da Relatividade que os objetos que se movem no Universo e produzem ondulações no espaçotempo - uma espécie de tecido no qual se desenvolvem todos os eventos do Universo. Essas são as ondas gravitacionais.Para que servem?
As ondas gravitacionais são "uma nova janela para o Universo”. Graças a elas é possível entender os mecanismos de algumas das ocorrências mais violentas do Cosmos, como as colisões entre buracos negros ou as explosões de estrelas. Com elas, seria possível até mesmo estudar o que aconteceu um milionésimo de segundo depois do Big Bang. Também marcarão o início de uma nova era na astronomia, porque o Universo é quase transparente para elas, o que permitirá observar fenômenos astrofísicos que de outra maneira permaneceriam ocultos - a formação de buracos negros ou como se comporta a matéria em condições extremas.Por que são tão essenciais para explorar o Universo?
O conhecimento do Cosmos se faz agora, principalmente, por meio da radiação eletromagnética (luz visível, infravermelho e raios-X, por exemplo). Com ela se pode "ver”, enquanto que com as ondas gravitacionais seria como "ouvir” o Cosmos. Permitiriam passar através dos objetos que existem entre a Terra e o outro extremo do Universo, porque as ondas atravessam tudo.Por que demorou tanto para saber de sua existência?
Alguns cientistas duvidavam de sua existência e outros pensavam que eram tão fracas que nunca poderiam ser detectadas. Mas, na década de 1970, a descoberta dos pulsares - estrelas de nêutrons que emitem luz enquanto giram - levou à primeira evidência indireta de sua existência. Além disso, os efeitos das ondas gravitacionais são tão pequenos que são necessários detectores gigantescos.Como são os detectores?
São enormes instalações que usam uma tecnologia chamada interferometria laser.O maior deles é o Ligo, nos Estados Unidos. Outros são o Virgo, na Itália, e o GEO600, na Alemanha. Até agora, os detectores estão na superfície terrestre, mas no futuro se situarão debaixo da terra e a missão eLisa da Agência Espacial Europeia vai colocar umdeles no espaço, o que permitirá detectar ondas gravitacionais em uma gama diferente de frequências. Elas "contêm a promessa do desconhecido”, assegura a página de colaboração científica da Ligo, pois "cada vez que os humanos olharam para o Cosmos com ‘olhos’ novos descobriram algo inesperado que revolucionou a forma como vemos o Universo e nosso lugar nele”.
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- 30/09/2017 - A ciência brasileira vai quebrar? Revista GalileuOrçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações em 2017 corresponde a um terço do que foi gasto dez anos atrás
Orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações em 2017 corresponde a um terço do que foi gasto dez anos atrás
Fonte: Revista Galileu
Felipe Floresti
Foram quatro presidentes, a desastrada compra da refinaria de Pasadena e, claro, o maior escândalo de corrupção da história do Brasil.
Enquanto diretores e funcionários acertavam as contas com a Justiça — calcula-se que o prejuízo causado pela corrupção na Petrobras ultrapasse os R$ 40 bilhões —, a equipe do Laboratório de Ensaios Não Destrutivos, Corrosão e Soldagem (LNDC) se esforçava para economizar alguns milhões para a estatal. É que a empresa comprometia parte do orçamento com trocas desnecessárias de componentes de equipamentos que ficam abaixo do nível do mar. Como é impossível prever quando determinadas peças estragam, a Petrobras achava por bem substituí-las preventivamente. O objetivo do LNDC era encontrar uma forma de prever o comportamento dessas peças para entender quando elas precisariam de fato ser trocadas."A metodologia que normalmente é utilizada está errada. Pegaram o método de medição do aço em ambiente não corrosivo e levaram para o corrosivo”, explica o professor Oscar Rosa Mattos, coordenador do laboratório. No ano passado, a equipe de Rosa Mattos anunciou a descoberta de uma técnica que permite calcular o desgaste das peças. E como a técnica foi desenvolvida por aqui, qualquer outro país que quiser usá-la vai precisar negociar acordos de transferência de tecnologia com o Brasil — uma prova de que ciência não só economiza mas também gera muito dinheiro.
O LNDC foi criado no final dos anos 2000, depois que a exploração do pré-sal trouxe a necessidade de tecnologias que não existiam em lugar nenhum do mundo. Estiveram presentes na cerimônia de inauguração o então presidente Lula e vários ministros, governadores, professores e cientistas. Com 8 mil metros quadrados de área, equipamentos de última geração e investimentos de R$ 40 milhões da Petrobras, acreditava-se que o laboratório impulsionaria a criação de tecnologias com DNA nacional. Boa parte do que foi investido já está se pagando com a economia resultante das descobertas feitas pela equipe de Mattos. O próximo passo seria aproveitar essas informações para desenvolver materiais mais resistentes. Recentemente, no entanto, o LNDC precisou cortar 15 dos 50 pesquisadores de sua folha de pagamento. "Não vamos conseguir iniciar novos projetos por falta de pessoal”, diz Mattos. "Ainda não estamos em uma situação crítica, mas estamos caminhando para ela.”
Casos semelhantes se multiplicam pelo país. Pesquisas sobre o vírus zika estão praticamente paradas por falta de material na Fiocruz de Pernambuco e por problemas elétricos no laboratório da Universidade Federal da Bahia. Até a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), responsável por boa parte das inovações que tornaram o agronegócio brasileiro campeão em produtividade, está passando por dificuldades. "Fizemos um esforço grande para a redução dos custos fixos, como energia elétrica e vigilância”, conta a diretora de administração em finanças, Vania Castiglioni. "Estamos trabalhando para manter a qualidade da pesquisa, mas chega uma hora que não dá mais.”
O corte de 44% no já minguado orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) previsto para este ano foi a gota d’água para a comunidade científica. Os R$ 5,81 bilhões que seriam investidos em 2017 se tornaram R$ 3,27 bilhões. É a metade do que foi investido em 2005, em valores corrigidos pelo IPCA (veja acima). Nem mesmo a fusão com o Ministério das Comunicações em 2016 serviu para recuperar o orçamento. Diversas fundações estaduais de amparo a pesquisa, como a Faperj, do Rio de Janeiro, enfrentam sérios problemas. Cortes na educação também afetaram as universidades e a concessão de bolsas. "Ciência em qualquer lugar do mundo precisa de financiamento contínuo. Aqui a gente vive de soluços”, diz Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
O GIGANTE VOLTOU A DORMIR
Em 2009, ano em que o LNDC foi inaugurado, a economia brasileira crescia 7% ao ano, o país se preparava para organizar a Copa do Mundo de 2014 e era candidato a receber a Olimpíada de 2016. Sob comando do físico e professor Sérgio Rezende, o então Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação surfava nessa onda. Mais longevo ministro da história da pasta, com cinco anos e meio no cargo, Rezende articulou a comunidade científica, empresarial e o governo com um plano de ação que mudou a escala e o alcance da ciência brasileira.
Uma reportagem publicada na revista Science em dezembro daquele mesmo ano confirmava que a expectativa era grande. A projeção da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) era dobrar ou triplicar o número de alunos, publicações e investimentos até 2020. O objetivo era colocar o país entre os dez maiores produtores de ciência do mundo. Um ano depois, em 2010, a soma dos investimentos do poder público e de empresas privadas em ciência e tecnologia chegava à marca de 1,25% do PIB — em valores nominais, eram R$ 44 bilhões.
Também em 2010 foi publicado o Livro Azul, que traçava um norte para a pesquisa brasileira. Desenvolvido durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência, ele simbolizava a criação de uma política de Estado para o desenvolvimento a longo prazo das áreas de ciência, tecnologia e inovação. Essa política apostava na inovação como estratégia para o desenvolvimento sustentável do país, focando em áreas de conhecimento fundamentais para a economia, como agricultura e biocombustíveis, além de defender que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento correspondessem a pelo menos 2% do PIB. Até hoje, o Brasil nunca passou de 1,5%.
Desde a saída de Sérgio Rezende, em 2010, outros sete nomes já assumiram o MCTIC. Desde maio de 2016 o cargo é ocupado pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD), que prometeu recuperar o orçamento da pasta no segundo semestre. E ele até está com o moral alto entre a comunidade científica — apesar de ter preferido não dar entrevista para esta reportagem, é considerado um "convertido” à causa. No final do ano passado, Kassab conseguiu levar R$ 1,5 bilhão da lei de repatriação fiscal para o Ministério, o que serviu para colocar as contas de uma série de institutos de pesquisa em dia.
Entretanto, nem todos os ministros estão em alta na comunidade científica. "Eu vejo que os ministérios da Fazenda e do Planejamento não estão tendo visão de longo prazo. São míopes”, diz Helena Nader, referindo-se a Henrique Meirelles e Dyogo Oliveira, respectivamente. "São muito bem informados, altamente qualificados. Fazem questão de falar de Harvard, MIT, Yale, mas não veem ciência e educação como investimento.”
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+"Falar do pesadelo que era tentar fazer ciência no Brasil me faz mal”
+"Não vejo campo da ciência em que brasileiros não possam ser excelentes"DEVAGAR QUASE PARANDO
Apesar de as publicações brasileiras terem correspondido a 2,55% da produção mundial entre 2010 e 2014, o impacto do que é produzido por aqui ainda é bastante limitado. Boa parte de nossos estudos é publicada em revistas científicas de pouca credibilidade. Quando são levadas em consideração somente publicações de alto prestígio, caímos para 1,1% da produção global. Falta também transformar as pesquisas em novos produtos: o país é responsável por somente 0,26% das solicitações de patentes feitas no mundo, e apenas 0,10% delas são concedidas. "Ainda estamos aprendendo a tornar a pesquisa útil, o que não é uma coisa simples”, diz Marcos Buckeridge, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp).
Enquanto o ritmo por aqui está devagar, a China colocou a inovação por meio da ciência e tecnologia como foco principal em seu plano de governo para os próximos cinco anos. O objetivo é chegar em 2020 investindo o equivalente a 2,5% do PIB na área — 40% somente para a ciência básica, aquela cujo único objetivo é obter conhecimento. Japão e Coreia do Sul investem 3% do PIB em pesquisa. Os Estados Unidos investem cerca de 2,8%, e a União Europeia quer chegar a 3% em 2020. A economia de Ruanda passou a crescer 7% ao ano graças ao investimento contínuo de 3% do PIB nessa área.
"O principal fator para o desenvolvimento de uma Coreia do Sul, de uma China ou de uma Índia é a ciência. Esses países não param. Se a gente parar hoje, quando tentar entrar de novo, o mundo já é outro”, afirma Marcos Buckeridge. "Nós estávamos finalmente começando a aprender a tornar a ciência útil. Se interrompermos esse processo, vamos voltar no tempo e depois precisaremos esperar mais 20 anos para amadurecer e retornar ao ponto que estamos agora.”
Hoje, muitos doutores recém-formados não encontram trabalho por aqui: ou abandonam a academia ou vão para universidades no exterior. E, sem ciência feita em casa, vamos continuar tendo que comprar tecnologia velha de quem a desenvolve. "O mundo capitalista funciona assim. Descobrir, depois tornar esse conhecimento útil, desenvolver tecnologia, ganhar mercado e vender esse conhecimento para os outros”, diz Buckeridge. "Se o Brasil quer ser um país capitalista, sem ciência não vai conseguir. Vai ser no máximo um satélite do mundo capitalista.” Uma nada agradável viagem para o passado.
+A ciência no Brasil é bancada pelos pais
Nos últimos oito anos, a petrobras se viu envolvida em uma série de polêmicas.
Despencou!
Orçamento do MCTIC em 2017 é o menor desde o início do governo Lula
Portal Siga Brasil
*PrevistoLá para trás
Brasil ocupa apenas a 69ª posição em ranking internacional de inovação
Global Inovation Index
Mas aquele 1%...
Brasil tem quase 3% da população mundial, mas só 1,1% das publicações em revistas de prestígio
Fonte: World of Research 2015 (Elsevier)
E a ciência, ó...
Investimento em ciência é menor que 2% do PIB
Fonte: Battelle
Quem disse?
Até publicamos muitos artigos, mas poucos são citados por outros pesquisadores
Fonte: Scimago Journal & Country Rank
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- 27/09/2017 - Chapinha pode transformar cabelo em carvão, mostra pesquisa - Bem EstarOs fios de cabelo perdem líquido quando em temperaturas muito altas. Quando a temperatura da chapinha passa dos 200°C, o cabelo pode virar carvão. Por isso, é imprescindível o uso do protetor térmico.
Os fios de cabelo perdem líquido quando em temperaturas muito altas. Quando a temperatura da chapinha passa dos 200°C, o cabelo pode virar carvão. Por isso, é imprescindível o uso do protetor térmico.
Fonte: Programa Bem Estar - Rede Globo
Matéria divulgada no programa Bem Estar, da Rede Globo, divulga pesquisa desenvolvida por Cibele Lima, doutora em Ciências Farmacêuticas pela USP, relacionada a tratamento de cabelo. Os ensaios científicos foram realizados em laboratório do Centro de Tecnologia das Radiações do IPEN.
Link para a matéria no YouTube
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- 26/09/2017 - Quatro chapas disputarão a reitoria da USPAs eleições serão realizadas no dia 30 de outubro e o mandato vai de 2018 a 2021; os candidatos são Vahan Agopyan, da Poli, Ildo Sauer do IEE e Ricardo Terra e Maria Arminda Nascimento Arruda, ambos da FFLCH
As eleições serão realizadas no dia 30 de outubro e o mandato vai de 2018 a 2021; os candidatos são Vahan Agopyan, da Poli, Ildo Sauer do IEE e Ricardo Terra e Maria Arminda Nascimento Arruda, ambos da FFLCH
Fonte: O Estado de São Paulo
Luiz Fernando Toledo e Victor Vieira
Quatro chapas vão disputar a reitoria da Universidade de São Paulo (USP), maior instituição de ensino superior do País, para o mandato entre o ano que vem e 2021. As eleições serão realizadas em 30 de outubro.
A atual gestão, com o médico Marco Antonio Zago à frente, foi marcada por medidas de austeridade, como corte de gastos de obras e congelamento de contratações, e mudanças no processo seletivo, como a adoção de cotas sociais e raciais a partir do próximo ano.
O candidato da situação é o engenheiro Vahan Agopyan, da Escola Politécnica, atual vice-reitor. Uma das principais promessas é aproximar a USP da população. "Os trabalhos acadêmicos podem atender a problemas sociais. Temos grupos de pesquisa interdisciplinares, que podem sugerir mais políticas públicas", disse ao Estado. Ele também defende diversificar as fontes de recursos da universidade, com mais aproximação com entidades públicas e privadas. O candidato a vice é Antônio Carlos Fernandes, do Instituto de Física de São Carlos, atual pró-reitor de Graduação.
A socióloga Maria Arminda Nascimento Arruda, diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), é uma das candidatas da oposição. Apoiadora da chapa de Zago há quatro anos, foi pró-reitora de Cultura e Extensão na atual gestão até 2016. Saiu do cargo após divergências com a reitoria.
"Não é uma crise de financiamento que deve construir a direção acadêmica da USP. Temos de buscar soluções internas", disse Maria Arminda aoEstado. "Considero fundamental repensar não só a graduação, como a pós." Para ela, é importante pensar em currículos flexíveis e mais interdisciplinares. Também promete apostar em diálogo e "descentralizar a universidade, com diálogo franco". Seu companheiro de chapa é Paulo Casella, da Faculdade de Direito.
Outro candidato é Ildo Luís Sauer, vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente. Ele defendeu ao Estado buscar mais fontes de financiamento e racionalizar gastos. "Apesar de a USP ter um poder de compra enorme, muitas vrzes compra coisa de qualidade inferior a preços mais elevados por causa de um processo burocrático. Precisamos melhorar isso", afirmou.. Diretor da Petrobrás entre 2003 e 2007, ele disse ter sido demitido por discordar do que acontecia na estatal e ressaltou que não se envolveu com irregularidades. Seu candidato é Tércio Ambrizzi, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas.
O filósofo e professor de Teoria das Ciências Humanas Ricardo Terra, da FFLCH, também concorre. No programa de gestão, destaca ainda "uma pesada estrutura de funcionários em excesso e processos obsoletos para os quais os mecanismos de decisão colegiada não são suficientes". Segundo ele, a crise financeira da USP se deve ao "descalabro de gastos que ocorreu a partir de 2010" na instituição. OEstadonão conseguiu contato com ele. Seu candidato a vice é Albérico Borges Ferreira, do Instituto de Química de São Carlos.
Em 23 de outubro, haverá uma consulta à comunidade acadêmica, sem caráter deliberativo. Uma assembleia, formada por maioria de professores titulares, elege uma lista tríplice de candidatos e ao governador cabe a palavra final. Geralmente, o Executivo escolhe o mais votado dos três.
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- 24/09/2017 - Césio 137: Tragédia seria mais graveFísico foi o primeiro a confirmar a contaminação por radiação em 1987 e diz ter impedido que cápsula fosse jogada no Córrego Capim Puba, o que pioraria situação
Físico foi o primeiro a confirmar a contaminação por radiação em 1987 e diz ter impedido que cápsula fosse jogada no Córrego Capim Puba, o que pioraria situação
Fonte: O Popular - Goiânia
A narrativa da corrida contra o tempo é digna de um filme de ficção, mas hoje, 30 anos depois, o físico Walter Mendes Ferreira lembra-se com precisão de todos os fatos daquele 29 de setembro de 1987, quando, além de ter sido o primeiro a confirmar a contaminação por radiação do césio 137, com um aparelho, impediu que a peça que estava na Vigilância Sanitária Estadual, então na Rua 16-A, no Setor Aeroporto, fosse jogada no leito do Córrego Capim Puba. Como havia pouco mais de um grama de cloreto de césio no interior do que restou do equipamento e foi levado para a Vigilância Sanitária, ele acredita que a possibilidade de contaminação seria mínima, mas o impacto psicológico seria muito maior do que ocorreu. "Seria o caos”, resume.Mendes estava fora de Goiânia e veio passar o aniversário com o pai. Por volta de 7h30 do dia 29, recebeu o telefonema de um amigo, Jadson de Araújo, que informou que o médico Alonso Monteiro, do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), estava suspeitando de contaminação por radiação no caso de pacientes com quadro de vômito, febre, diarreia e perda de cabelo. "Eu disse que não acreditava porque esses são sintomas difíceis de ocorrer, caracterizam a síndrome aguda de radiação, seria preciso que eles tivessem recebido doses elevadíssimas”. Para fazer a verificação da peça que estava na Vigilância Sanitária, ele lembra que foi até o escritório da antiga Nuclebras (hoje Indústrias Nucleares do Brasil) e pegou um cintilômetro emprestado. "Não é o equipamento mais adequado, mas tem uma sensibilidade boa.”
Chegando à Vigilância Sanitária, a aproximadamente 60 metros, Mendes percebeu que o cintilômetro, que por acaso estava ligado, saturou a medida, o que significava que estava próximo a uma fonte radioativa grande ou com defeito. Acreditando nesta possibilidade, Mendes voltou à Nuclebras e trocou o aparelho. "Nesse ínterim, alguém chamou o Corpo de Bombeiros dizendo que estava havendo vazamento de gás na Vigilância Sanitária. Quando cheguei, havia três bombeiros, um deles saindo com o saco onde estava a fonte. ‘Não se preocupe, vou jogar no Capim Puba’, ele disse. E eu pedi: ‘Não faça isso’”. A partir da confirmação de que se tratava de material radioativo, começou a reconstituição do caminho percorrido pela fonte.
O primeiro lugar visitado foi o ferro-velho de Devair Alves Ferreira, na Rua 26-A, no Setor Aeroporto. "O cintilômetro apontava sinais muito antes de chegar. No local, ele nem media mais.” No local, os dois funcionários do ferro-velho que morreriam no mês seguinte vítimas de contaminação, Admilson Alves de Souza, de 18 anos, e Israel Batista dos Santos, de 22. Eles contaram como a peça havia chegado ao ferro-velho, levada por Roberto Santos Alves e Wagner Mota Pereira, que, por sua vez, a retiraram do prédio onde funcionou o Instituto Goiano de Radioterapia (IGR). "Eu conhecia os médicos. Fui à Associação de Combate ao Câncer e falei com o (Carlos) Bezerril, um dos diretores do IGR. Ele disse que era impossível que a fonte de césio não estivesse lá, mas foi o que constatamos, quando chegamos ao prédio abandonado”.
O passo seguinte foi avisar às autoridades. Mendes lembra que o governador à época, Henrique Santillo, além de médico, foi professor de Física e não teve dificuldade em calcular o tamanho do risco. O secretário de Saúde, Antônio Faleiros, levou o caso ao conhecimento do governador e do responsável pela área de instituições nucleares da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), José de Júlio Rosenthal. O trabalho de localização de possíveis contaminados continuou. "As pessoas nos davam o roteiro”, explica Mendes. Um dos maiores níveis de radiação estava no ferro-velho de Ivo Alves Ferreira, pai de Leide das Neves, a primeira a perder a vida, aos 6 anos, em decorrência do contato com o césio. Quando os técnicos estavam na casa, juntou-se a eles o físico Flamarion Goulart, que tinha um equipamento mais apropriado para medir a radiação, um contador Geiger-Müller.
Rosenthal chegou a Goiânia à 0h30 do dia 30 de setembro. Mendes lembra que às 3h30 daquele dia, ele e Rosenthal estavam sentados na pracinha quase em frente ao prédio onde então funcionava a Vigilância Sanitária, hoje Centro de Assistência aos Radioacidentados (C.A.Ra), quando o diretor da Cnen questionou se seria possível colocar uma manilha em torno da cadeira com a fonte e concretar. "Era uma forma de tentar minimizar as taxas do equipamento, que ainda eram muito altas e assim foi feito”.
Questionado sobre o que teria acontecido caso a peça tivesse sido jogada no leito do córrego, Mendes, atualmente Chefe da Divisão de Rejeitos Radioativos da Cnen, diz que a tragédia teria sido muito maior. "Haveria uma desconfiança muito grande, seria extremamente complicado, porque quando há pessoas contaminadas cria-se uma fobia psicológica”, esclarece. Para Mendes, o acidente de Goiânia deixou lições importantes, iniciando pela convivência com as vítimas. A área médica aprendeu muito, avalia.
Depois de 30 anos, Walter Mendes esteve em Goiânia participando de eventos temáticos. Diz que teve reencontros emocionados com as vítimas e com pessoas que participaram dos duros trabalhos daqueles dias em 1987. "Toda hora chegava alguém e me perguntava: ‘conhece esse aqui?’ ou ‘lembra dessa pessoa?’. São filhos de pessoas que acompanhamos naquela época, que tiramos de casa.”
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- 22/09/2017 - Alta intensidade e altamente popular - Agência FapespO Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) tem papel fundamental no desenvolvimento de lasers e na popularização no país do uso nas mais variadas áreas desses pulsos de amplificação da luz por emissão estimulada de radiação
O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) tem papel fundamental no desenvolvimento de lasers e na popularização no país do uso nas mais variadas áreas desses pulsos de amplificação da luz por emissão estimulada de radiação
Fonte: Agência Fapesp
Heitor Shimizu, de Lincoln (EUA)O uso de lasers nos mais variados procedimentos em medicina e odontologia hoje é algo comum. Mas no Brasil na década de 1980, se alguém dissesse que recebeu aplicações de laser no rosto ou na boca – e estava feliz com o resultado – seria encarado com suspeita.
O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) tem papel fundamental no desenvolvimento de lasers e na popularização no país do uso nas mais variadas áreas desses pulsos de amplificação da luz por emissão estimulada de radiação.
Foi no início da década de 1980 que pesquisadores do IPEN dominaram a técnica de crescimento do cristal YLiF4 (fluoreto de ítrio e lítio) adicionado com o íon terra-rara neodímio – esta adição, conhecida como dopagem, faz com que o cristal adquira propriedades de semicondução do outro elemento.
"O YLiF4 é birrefringente, quer dizer, tem índices de refração diferentes para diferentes direções de propagação da luz. O cristal deu origem aos primeiros lasers de estado sólido produzidos no Brasil, que foram feitos com componentes nacionais ou adaptados para as nossas necessidades”, disse Nilson Dias Vieira Junior, pesquisador do IPEN e um dos palestrantes na FAPESP Week Nebraska-Texas, que reúne pesquisadores dos Estados Unidos e do Brasil até 22 de setembro nas cidades de Lincoln (Nebraska) e Lubbock (Texas). Ele falou no evento sobre aplicações de lasers de alta intensidade.
Vieira Junior entrou no IPEN em 1979. "Fui convidado pelo [físico] Spero Morato para trabalhar no desenvolvimento do primeiro laser em estado sólido no Brasil. Dois anos depois, conseguimos fazer funcionar, dando início ao Grupo de Desenvolvimento de Lasers, uma área de processos especiais no instituto”, disse à Agência FAPESP.
O pesquisador conta que, depois dos primeiros lasers pulsados e contínuos, o IPEN produziu cristais dopados com outro elemento químico, o hólmio. Esses cristais permitiram produzir lasers com emissão em comprimento de onda de poucos micrômetros, mais adequados a aplicações médicas e odontológicas. Tiveram início também aplicações em processamento de materiais.
"Desenvolvemos lasers pulsados, lasers contínuos, cobrimos toda a tecnologia de desenvolvimento de laser e conseguimos a nacionalização vertical de todo o processo”, disse Vieira Junior.
Com lasers disponíveis, começaram a surgir aplicações. "Ajudamos no desenvolvimento de um implante coclear com o uso de laser para a obtenção de componentes com cerca de 300 micrômetros de diâmetro. Fizemos uma solda para um protótipo de foguete da Agência Espacial Brasileira. Em 1992, iniciamos o desenvolvimento de um laser de hólmio, com energia extremamente elevada, que foi utilizado na remoção de materiais em dentes”, disse.
"Além do desenvolvimento dos lasers é preciso destacar a formação de pessoal. Desde o início, vimos a importância de trabalhar com profissionais das mais diversas áreas e entendemos que também podíamos contribuir com capacitação. Passamos a oferecer diversas ações para difusão das aplicações de lasers no Brasil”, disse Vieira Junior, que foi superintendente do IPEN de 2008 a 2012 e membro do Conselho Superior da FAPESP de 2000 a 2006.
O Grupo de Desenvolvimento de Lasers deu origem ao atual Centro de Lasers e Aplicações (CLA) do IPEN, por meio do qual foi criado o primeiro programa de Mestrado Profissional em Lasers em Odontologia no país, oferecido em conjunto com a Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo.
"Trabalhamos juntos desde o início, IPEN e Odontologia da USP. Formamos mais de 160 mestres, com resultados como o desenvolvimento de muitos métodos terapêuticos atualmente em uso clínico”, disse Vieira Junior.
Entre os métodos destacam-se a prevenção da cárie dental por laser, a redução microbiana em endodontia e periodontia por lasers em baixa intensidade, a fluxometria laser Doppler e a mitigação de efeitos indesejados da radioterapia e quimioterapia, como a mucosite oral.
Atualmente, o CLA atua no desenvolvimento de técnicas terapêuticas com o uso de nanomateriais. Esta linha de pesquisa investiga efeitos de nanopartículas de prata e de pontos quânticos (quantum dots) para terapia e diagnóstico óptico.
Vieira Junior se anima com a popularização dos lasers em aplicações médicas e odontológicas, mas alerta para os cuidados que se deve ter com o uso. "O laser é um instrumento para aplicações e hoje está muito disponível. O nicho de aplicações é enorme, mas é preciso entender os processos envolvidos em seu uso”, disse.
"Nossa contribuição no IPEN sempre foi muito forte quanto à divulgação do conhecimento para usar lasers de maneira correta. Criamos protocolos de segurança, para o paciente e para quem opera os equipamentos. É preciso saber qual a dose, o local a ser aplicado, que tipo de laser pode ser usado. Não é porque é popular que pode ser usado para qualquer coisa. O laser é um instrumento capaz de curar mas também de prejudicar, ser for mal utilizado. O apontador laser, de luz verde, pode até mesmo cegar uma pessoa”, disse Vieira Junior.
Materiais e intensidade
Em processamento de materiais, o IPEN desenvolve aplicações que atendem a demandas de empresas, públicas e privadas, em funções como corte, furação ou soldagem, entre muitas outras. Soldagens de materiais dissimilares para a indústria aeroespacial e para a área médica são exemplos de sucesso. "O instituto dispõe também de uma unidade de processamento com lasers de duração de femtossegundos, para produzir microestruturas”, disse Vieira Junior.
O CLA também desenvolve competência científica e tecnológica em lasers para aplicações em monitoramento ambiental e na área nuclear, formando recursos humanos e gerando produtos e serviços. O crescimento da demanda por lasers e o amadurecimento da tecnologia levou à criação da Lasertools, spin-off do IPEN.
O desenvolvimento de lasers no IPEN contou com apoio da FAPESP desde o início. A FAPESP já concedeu mais de 1,3 mil auxílios e bolsas a pesquisadores do instituto. Atualmente, pesquisadores do IPEN conduzem 18 projetos apoiados pela FAPESP por meio de Auxílios à Pesquisa.
Pesquisadores do IPEN têm também publicado em títulos de alto impacto. Em 2015, por exemplo, Vieira Junior e colegas publicaram naScientific ReportdaNature, artigo em que descrevem a síntese de diamante a partir de grafite por compressão dinâmica com laser ultrarrápido. O trabalho foi feito em parceria com pesquisadores do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano), no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas.
Graças ao desenvolvimento no IPEN de lasers de alta densidade – entre os quais o mais intenso do hemisfério Sul, com 0,5 TW de potência –, os pesquisadores foram capazes de produzir em laboratório altíssimas condições termodinâmicas de pressão e temperatura, necessárias para a transformação de carbono em diamante, como descrito no artigo.
"Um dos próximos passos é acelerar partículas carregadas com o laser para energias elevadas, energias comparáveis com o repouso do elétron, que são energias relativísticas. O objetivo final é acelerar prótons para uso em medicina nuclear. Temos que caracterizar, otimizar, entender os fenômenos básicos, em sintonia com os grandes centros de desenvolvimento de lasers no mundo”, disse Vieira Junior.
Nilson Dias Vieira Junior, pesquisador do IPEN e um dos palestrantes na FAPESP Week Nebraska-Texas (foto: Heitor Shimizu/Agência FAPESP)
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- 18/09/2017 - Conquista SBMN: ANS determina cobertura obrigatória para tratamento com Radio-223Fonte: SBMNÉ com satisfação que a SBMN compartilha mais uma grande conquista para a Medicina Nuclear no Brasil. Depois de anos de esforço junto a órgãos reguladores brasileiros, entre eles a Anvisa e convênios médicos, foi reforçada pela ANS a cobertura obrigatória do tratamento com Radio-223 (Xofigo®) para pacientes com câncer de próstata resistente à castração (CPRC) com metástases ósseas sintomáticas e sem metástases viscerais conhecidas.
"A posição da ANS corrobora exatamente com os achados dos estudos que mostram o impacto que o tratamento com Radio-223 tem na sobrevida de pacientes com câncer de próstata, melhorando os resultados do tratamento neste perfil de pacientes”, explica Juliano Cerci, presidente da SBMN. "Nós lutamos muito por isso e investimos muito esforço nessa luta e, finalmente, temos uma resposta que corrobora, do ponto de vista político os achados científicos”, completa.
Histórico
Considerado um dos principais avanços da última década, o Radio-223 teve seu uso aprovado em 2015 pela Anvisa pela tem eficácia comprovada, principalmente em tratamentos de câncer de próstata metastático resistente à castração.
Resultados de análises mostraram que homens que receberam o radiofármaco viveram uma média de 14 meses em comparação com uma média de 11,2 meses para os homens que receberam placebo.
A segurança e a eficácia do medicamento foram avaliadas em ensaio clínico com 809 homens com câncer de próstata resistente à castração sintomática, que se espalhou para os ossos, mas não para outros órgãos. Os pacientes foram distribuídos aleatoriamente para receber Radio-223 ou um placebo com melhor padrão de atendimento.
"A SBMN segue na luta junto ao Ministério da Saúde para garantir que o SUS ofereça o medicamente gratuitamente a pacientes que não têm plano de saúde”, reforça Cerci sobre os próximos passos na democratização da Medicina Nuclear no Brasil.
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- 13/09/2017 - Símbolo do acidente com o césio-137, Leide das Neves é lembrada com carinho por parentes: 'Era muito alegre'Menina de 6 anos foi uma das quatro pessoas que morreram por causa da contaminação com o material radioativo, há 30 anos, em Goiânia.
Menina de 6 anos foi uma das quatro pessoas que morreram por causa da contaminação com o material radioativo, há 30 anos, em Goiânia.
Fonte: G1Símbolo da tragédia com o césio-137, ocorrido há 30 anos, em Goiânia, a menina Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, foi uma das quatro pessoas que morreram por causa da contaminação com o material radioativo. Tia da criança, a dona de casa Luiza Odet dos Santos, 58 anos, morava no mesmo lote que a sobrinha e se recorda com carinho da menina que sonhava em ser modelo e estava sempre com um sorriso no rosto.
"Ela era muito alegre, brincalhona, queria ser modelo e era muito bonita mesmo. A primeira coisa que faziam para descontaminar era tirar o cabelo, e me lembro de que ela perguntou se o cabelo ia crescer de novo. Ela se preocupava muito com o cabelo dela”, contou ao G1.
O acidente começou na manhã de um domingo, dia 13 de setembro de 1987, quando a peça de chumbo e metal, que tinha a cápsula de césio no meio, foi levada do antigo Instituto Goiano de Radiologia, na Avenida Paranaíba, para a casa de um dos catadores, na Rua 57, no Centro de Goiânia. Dias depois, a peça foi revendida para Devair Ferreira e, em 24 de setembro, o irmão dele e pai da Leide, Ivo Alves Ferreira, foi visitá-lo e levou fragmentos de césio para a casa da família.
No mesmo dia em que Leide foi contaminada, Luiza Odet também teve contato com o césio-137, justamente, por causa de um pedido da sobrinha. A dona de casa se recorda com riqueza de detalhes do dia 24 de setembro.
Luiza Odet conta que o pai de Leide também estava no quarto e passou o papel em que tinha colocado o césio pelo corpo da prima para que ela "ficasse bonita”. Onde houve contato, a dona de casa sofreu lesões.
Em seguida, Luiza Odet pegou uma pedrinha e levou para casa. Foi quando o marido dela, Kardec Sebastião dos Santos, 61 anos, foi contaminado acidentalmente, pois não se interessou pelo material.
Luiza Odet acredita que, por um milagre, os quatro filhos dela não tiveram contato direto com o césio. "Nesse dia, não sei o motivo, meus meninos não brincaram junto com a Leide, se tivessem brincado, teriam se contaminado muito também. Hoje também me marca muito que tive de parar de amamentar minha filha mais nova aos 7 meses, se mamasse, eu tenho certeza que não tinha mais minha filha porque caiu césio no meu seio, tive lesão aberta, e ela ia ingerir”, ressaltou.
Descontaminação
Ao todo, foi constatada a contaminação pelo césio-137 em 249 pessoas. Neste grupo, 129 tinham rastros da substância interna e externa ao organismo. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) calculou ainda que 49 pessoas foram hospitalizadas, sendo que 20 necessitaram de cuidados médicos intensivos.
Luiza Odet, Kardec, Ivo e Leide estão entre as 14 pessoas que foram transferidas de Goiânia para o Hospital Marcilio Dias, no Rio de Janeiro, para a descontaminação. "Eu não tinha noção do que era, não imaginava que a gente ia ficar hospitalizado o tempo que ficamos isolados”, se recorda Luiza.
De acordo com a dona de casa, apesar da gravidade do quadro de saúde, Leide das Neves continuava espalhando alegria na unidade de saúde. "Ela ganhava muitos brinquedinhos, pegava bandejinha e fazia de conta que servia cafezinho nos quartos. Ela ia mancando porque tinha uma lesão na sola do pé”, relata.
Tio de Leide e irmão de Ivo, Odesson Alves Ferreira conta que a preocupação da menina com o pai marcou muito o irmão. "Se ela percebia que ele estava chorando, perguntava o motivo, e ele dizia: ‘Não é nada, é cisco que caiu no olho´. E ela dizia: ‘Fica tranquilo, estou bem’. Mas ela já estava prostrada”, diz.
No mesmo dia da morte de Leide, 23 de outubro de 1987, morreu Maria Gabriela Ferreira, de 37 anos, tia da menina e mulher de Devair. Foi ela quem decidiu levar o aparelho de radioterapia à Vigilância Sanitária, quando se descobriu o tragédia.
Naquela mesma semana, faleceram também dois jovens, Israel Batista dos Santo, de 22 anos, e Admilson Alves de Souza, de 18. Estes quatro mortos são os únicos contabilizados pelos dados oficiais, que reconhecem ainda que outros quatro tiveram danos na medula óssea e oito tiveram síndrome de radiação aguda.
Depressão
Apesar de terem sobrevivido na época, Ivo e Devair se sentiam culpados pelo acidente, tiveram depressão e, segundo Odesson, perderam amor pela vida. Eles morreram anos depois.
"O Ivo passou a fumar seis maços de cigarro por dia, muito retraído, cabisbaixo, não fez questão de lutar pela vida, morreu novo com enfisema pulmonar, por revolta. Assim como o Devair, que morreu com cirrose, se achava culpado pela família toda ter ficado contaminada”, lamenta Odesson.
Mãe de Leide, Lourdes das Neves sobreviveu. Porém, ainda sofre muito ao relembrar da tragédia e, por isso, preferiu não dar mais entrevistas neste período. Além dela, dois irmãos da criança estão vivos, sendo que um deles não chegou a ser contaminado.
Luiza Odet conta que a tragédia "mexeu com o psicológico de todo mundo". "Ainda existe preconceito, pessoas mal informadas. Ainda falo sobre isso porque isso não pode cair no esquecimento. Nós sofremos emocionalmente, fisicamente", conclui.
Além de perder amigos e parentes, as pessoas contaminadas perderam bens, de roupas à casas inteiras. Luiza Odet, por exemplo, restou com poucas foto da época, que foram descontaminadas pelos técnicos.
Ao todo, são 6 mil toneladas de restos infectados. O espaço onde estão os rejeitos fica em uma área de 32 alqueires, dentro do Parque Estadual Telma Otergal, às margens da BR-060. Lá foi construído o Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro Oeste (CRCN-CO).
Link para a matéria completa: https://g1.globo.com/goias/noticia/simbolo-do-acidente-com-o-cesio-137-leide-das-neves-e-lembrada-com-carinho-por-parentes-era-muito-alegre.ghtml
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- 12/09/2017 - Césio-137: Técnico que aparece em foto histórica é localizado 30 anos depois do acidente - Popular de GoiâniaMatias Puga Sanches participou da missão de recuperação das poucas lembranças que restaram da menina Leide das Neves
Matias Puga Sanches participou da missão de recuperação das poucas lembranças que restaram da menina Leide das Neves
Fonte: O Popular, Goiânia
Galtiery Rodrigues
O plano era ficar na Alemanha por mais um mês, curtindo férias, depois de concluir um curso de especialização, mas o chamado às pressas fez com que Matias Puga Sanches, hoje com 65 anos, deixasse tudo de lado e viesse parar em Goiânia. Hoje aposentado e morando em São Paulo, o ex-supervisor de Proteção Radiológica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) é o técnico que aparece na foto veiculada na capa da edição do POPULAR do último domingo (10) vestindo roupas especiais e trabalhando na medição do cabeçote do aparelho de radioterapia que continha a cápsula de césio 137.Da Alemanha, ele foi para o quintal da casa da menina Leide das Neves, no Setor Norte Ferroviário, onde a foto foi registrada pelo fotógrafo Lailson Damásio. A garotinha se tornou a vítima-símbolo do acidente radiológico, falecendo em outubro de 1987 com apenas seis anos. Matias Puga participou da missão de recuperação das poucas lembranças que restaram da garota, antes que a casa fosse demolida e tudo virasse rejeito radioativo. "Aquele foi o momento mais crucial do nosso trabalho. Entramos na casa para resgatar fotos e a certidão de nascimento da menina, a pedido da família”, relembra Matias.
A mãe da garota, a dona de casa Lourdes das Neves Ferreira, hoje com 65 anos, receberia emocionada dias depois, das mãos da pesquisadora Sandra Bellintani, que era quem acompanhava Matias na missão, as únicas fotos da filha, que hoje são mantidas em quadros e guardadas em casa. A função dele era medir os níveis de radiação para abrir o caminho e garantir a segurança da entrada no local. "Aquele cabeçote já não tinha mais material (césio)”, conta, mas a cautela era necessária, pois o lote estava entre os principais pontos de contaminação.
Damásio, que trabalhava para O POPULAR e tinha 22 anos na época, lembra que, no momento da foto, eram muitos os curiosos, vizinhos e profissionais da imprensa em volta do local. "Ele (Matias) ficava gritando e pedindo para a gente se afastar.” O fotógrafo estava a 50 metros do técnico da CNEN, mas não chegou a trocar palavras com ele. "Estou surpreso em saber que ele ainda está vivo e jamais imaginei que aquela foto seria marcante, histórica”, diz. Matias tinha 35 anos em 1987, e chegou a Goiânia no início de outubro onde ficou até o dia 20 de dezembro daquele ano.
Casa foi demolida sem precisar
O trabalho dos técnicos que ajudaram no processo de descontaminação dos locais
atingidos pelo césio 137, há 30 anos, era "acompanhado” de perto pela comoção e pelo temor da população. O ex-supervisor de Proteção Radiológica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Matias Puga Sanches, que ficou em Goiânia por mais de dois meses realizando o trabalho, conta que uma residência chegou a ser demolida sem necessidade por causa do medo da proprietária de voltar a entrar no local.
A casa ficava ao lado do lote onde morava a família da menina Leide das Neves, uma das mais conhecidas vítimas do acidente, que morreu em outubro de 1987. O imóvel foi considerado um dos principais focos de contaminação na época, causando forte inquietação na vizinhança.
"A proprietária disse que não entraria mais na casa e não restou outra alternativa, diante da resistência da família, a não ser a demolição.”
Césio no corpo
O técnico não saiu totalmente ileso do trabalho. Ele se recorda de que era época de muitas frutas em Goiânia e os pés carregados de goiabas eram um convite para comê-las. "Por ação do vento, o material (radioativo) ficou em suspensão no ar e, por consequência, acabava ficando nessas frutas. Nas nossas medições encontramos césio no meu corpo”, relata. A quantidade, no entanto, segundo ele, estava em níveis seguros e insuficientes para gerar qualquer doença.
O hábito de comer frutas de árvores próximas aos locais contaminados foi, inclusive, uma forma encontrada pelos técnicos de desmistificar os medos e tranquilizar as pessoas. Alguns chegaram até a participar de uma partida de futebol no antigo Estádio Olímpico, onde foi feito o monitoramento inicial da população
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- 11/09/2017 - Expostos ao acidente do Césio 137 ainda sofrem com preconceito e doenças - Rábio Brasil - EBCNo ano em que o grave acidente radioativo completa 30 anos, trabalhador que esteve na área relata o que viveu e as dificuldades que ainda enfrenta
No ano em que o grave acidente radioativo completa 30 anos, trabalhador que esteve na área relata o que viveu e as dificuldades que ainda enfrenta
Fonte: Revista Brasil (Rádio EBC)
O mais grave acidente radioativo da história brasileiracompleta, na próxima, semana 30 anos. Oacidente radiológico com Césio 137 ocorreu emGoiânia (GO),em 13 de setembro de 1987. O Revista Brasil conversou com Antônio de Abreu Caldeira, um dos diretores da Associação dos Contaminados, Irradiados e Expostos ao Césio 137 (Aciec), para saber como está a situação das pessoas envolvidas no acidente hoje em dia.
Segundo Caldeira, nem todas as pessoas que foram expostas à área do acidente na época têm amparo do Estado atualmente, mas alguns, como ele, têm plano de saúde do governo e uma pensão desatualizada.
"Hoje ela é menos que o salário mínimo,700 e poucos reais. Está com salário ainda de 2014”, reclama.O trabalhador exposto à radiação explica aindaquemuita gente que esteve no local do acidente hoje tem problemas cardíacos, câncer e distúrbio mental, além de sofrercom preconceito.
O Revista Brasil fala até o dia 13 de setembro sobre esse acidente radioativo.
O programa vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 6h, pela Rádio Nacional do Alto Solimõese às 8h, pelas rádios Nacional da Amazônia,Nacional de Brasília e Nacional do Rio de Janeiro.
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- 06/09/2017 - Qual foi a bomba que a Coreia do Norte explodiu?No último domingo (3), o governo norte-coreano anunciou ter testado com sucesso uma bomba de hidrogênio. Mas há controvérsias sobre o tipo de arma que de fato foi testado.
No último domingo (3), o governo norte-coreano anunciou ter testado com sucesso uma bomba de hidrogênio. Mas há controvérsias sobre o tipo de arma que de fato foi testado.
Fonte: Revista ÉpocaA Coreia do Norte fez seis testes nucleares desde 2006. O último deles ocorreu no domingo (3). Segundo o governo do país, trata-se de uma bomba de hidrogênio, uma arma nuclear com grande capacidade de destruição. Num teste de janeiro de 2016, a Coreia do Norte também afirmou ter explodido uma bomba de hidrogênio. Mas alguns especialistas em energia nuclear desconfiam que o país tenha de fato desenvolvido uma bomba desse porte. Parte deles defende que a arma detonada foi uma bomba atômica turbinada. ÉPOCA entrevistou o pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IpenCenen-SP, USP) Luís Antônio Albiac Terremoto para esclarecer as dúvidas em torno do teste nuclear pela Coreia do Norte.
O que é uma arma nuclear?
É todo dispositivo com fins bélicos que usa uma reação nuclear para obter liberação de grande quantidade de energia em intervalos de tempo extremamente curtos. Existem dois tipos de reações nucleares usados nessa arma: a fissão nuclear e a fusão nuclear. A fissão nuclear é a divisão de núcleos dos elementos químicos urânio e plutônio. A fusão nuclear é o mesmo tipo de reação nuclear que ocorre no Sol. Na fusão que ocorre em uma arma nuclear, a forma mais comum de reação é a fusão de núcleos de dois tipos de hidrogênio, deutério e trítio, em átomos de hélio.
Qual é a diferença entre bomba atômica, bomba atômica turbinada e bomba de hidrogênio?
A bomba atômica usa a fissão nuclear para obter energia. Sendo 1 quiloton o equivalente a 1.000 toneladas do explosivo TNT (trinitrotolueno), uma bomba atômica libera, geralmente, até algumas dezenas de quilotons. Para ter ideia da dimensão das explosões, a arma que destruiu Hiroshima em 1945 tinha 15 quilotons. Alguns especialistas estimam que o teste do último final de semana na Coreia do Norte liberou cerca de 100 quilotons. Uma bomba atômica turbinada usa um arranjo semelhante ao da bomba atômica tradicional, com uma diferença: coloca-se um composto de deutério e lítio no centro da bomba que é submetido a uma fusão nuclear. Por causa desse mecanismo, a bomba acaba liberando mais energia que pode ir de algumas dezenas a centenas de quilotons. Esse tipo de fusão é desencadeado diretamente pela fissão nuclear dos átomos de urânio e plutônio. Já uma bomba de hidrogênio é mais complexa e usa dois estágios de reação. Em um primeiro momento, ocorre a fissão nuclear. Depois, essa fissão é usada como "gatilho” para um segundo estágio, em que ocorre a fusão nuclear. Nesse caso, a fusão nuclear é desencadeada de forma indireta depois da detonação do primeiro estágio e libera ainda mais energia, podendo ir de centenas de quilotons a dezenas de megatons (1 megaton equivale a 1 milhão de toneladas de TNT). O tamanho de uma bomba de hidrogênio, em média, é três vezes maior que o de uma bomba atômica convencional e mede cerca de 1,5 metro de comprimento e 50 centímetros de largura.
O que é uma bomba termonuclear?
Uma bomba termonuclear é aquela que usa a fusão nuclear como fonte da maior parte da energia liberada. Existem dois tipos de bomba termonuclear: a bomba de hidrogênio e a bomba de nêutrons. Enquanto a bomba de hidrogênio é projetada para causar uma destruição generalizada, a bomba de nêutrons causa danos menores a construções e maiores aos seres vivos, devido à quantidade de radiação liberada.
Por que existem dúvidas quanto ao tipo de bomba testada na Coreia do Norte?
O problema na identificação do tipo de bomba está relacionado principalmente ao fato de o teste ter sido subterrâneo. Em um teste atmosférico, é possível detectar gases radioativos gerados na explosão que revelam o tipo da bomba. Num teste subterrâneo, essa análise é mais difícil e pode ser feita apenas se houver vazamento dos produtos das reações nucleares. Além disso, os abalos sísmicos gerados na região da explosão não são fonte de informação confiável para descobrir que tipo de bomba foi detonado. A depender das características do solo da região, a forma como a bomba foi colocada antes da detonação também interfere na intensidade dos tremores. Em geral, essas informações não são divulgadas pelo país que realizou o teste nuclear.
É possível que o teste nuclear do último final de semana tenha sido de uma bomba de hidrogênio?
O pesquisador do Ipen Luís Antônio Albiac Terremoto acredita que o teste realizado pela Coreia do Norte tenha sido de uma bomba de hidrogênio. Para chegar a essa conclusão, ele não se baseia apenas nesse último teste, já que não é possível identificar com certeza o tipo de bomba apenas a partir da última explosão. Ele analisou todos os cinco testes nucleares anteriores da Coreia do Norte e percebeu uma linha de desenvolvimento de tecnologia. Na escala de Richter, a bomba de outubro de 2006 causou um tremor de magnitude 4,1, a de maio de 2009 causou 4,5, a de fevereiro de 2013 e de janeiro de 2016 causaram 5,1, a de setembro de 2016 causou 5,3 e agora, em setembro de 2017, causou 6,3. Para o pesquisador, percebe-se que a Coreia do Norte está caminhando no desenvolvimento de uma bomba com dois estágios de reações nucleares e provavelmente conseguiu ter sucesso no teste de uma bomba de hidrogênio. "Para chegar a esse desenvolvimento com tão poucos testes, os norte-coreanos não estão trabalhando com amadores, mas sim com cientistas que provavelmente já têm uma experiência de trabalho direto com outros programas nucleares bélicos”, diz.
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- 03/09/2017 - Césio 137: o mais grave acidente radioativo do Brasil completa 30 anosSubstância radioativa se espalhou por Goiânia e ocasionou quatro mortes, além de deixar mais de mil afetados e um trauma que jamais será esquecido.
Substância radioativa se espalhou por Goiânia e ocasionou quatro mortes, além de deixar mais de mil afetados e um trauma que jamais será esquecido.
Fonte: Fantástico - TV Globo
O mais grave acidente radioativo do Brasil completa 30 anos, e o Fantástico volta ao cenário da tragédia do césio 137, em Goiânia. Hoje, no local, há um terreno concretado, mas, na época, funcionava um ferro velho, onde dois funcionários romperam um equipamento de radioterapia. A substância radioativa se espalhou pela cidade e ocasionou quatro mortes, além de deixar mais de mil pessoas afetadas pela radiação e um trauma que não será esquecido.
Na reportagem especial você vê fotos inéditas da época e o depoimento exclusivo de um dos condenados. Pela primeira vez, o físico responsável pelo aparelho de radioterapia apresenta sua versão sobre o acidente. O programa também vai ao depósito do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, onde até hoje está o lixo atômico, e mostra o que mudou nas regras de descarte de equipamentos hospitalares.
Link para a matéria no site do G1:
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2017/09/cesio-137-o-mais-grave-acidente-radioativo-do-brasil-completa-30-anos.html
(Foram entrevistados, no IPEN, Francisco Biazini, Sandra Bellintani e José Cláudio Dellamano).
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- 29/08/2017 - Crise ameaça maior obra da ciência brasileiraSem recursos para chegar até o fim do ano, tanto o acelerador de partículas Sirius quanto o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) podem paralisar atividades por falta de dinheiro. Ministério da Ciência e Tecnologia também está quebrado, com quase 90% do seu orçamento já comprometido
Sem recursos para chegar até o fim do ano, tanto o acelerador de partículas Sirius quanto o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) podem paralisar atividades por falta de dinheiro. Ministério da Ciência e Tecnologia também está quebrado, com quase 90% do seu orçamento já comprometido
Fonte: O Estado de S. Paulo
O melhor lugar para se proteger dos maus presságios que ameaçam a ciência brasileira parece ser o canteiro de obras do novo acelerador de partículas nacional — o Sirius, em Campinas. Mais especificamente, dentro do corredor que vai abrigar o anel do feixe de elétrons. As paredes são de um concreto especial, com até 1,5 metro de espessura, para evitar o vazamento de radiação; e o piso é de uma estabilidade absurda, com 4 metros de profundidade e diversas camadas, feitas de diferentes materiais e unidas por estacas, para evitar qualquer tipo de vibração. Nem terremoto derruba.Com previsão de entrega para junho de 2018, o projeto segue a todo vapor, com máquinas e homens trabalhando intensamente dentro e fora de sua gigantesca estrutura em forma de disco-voador, com 230 metros de diâmetro — quase a largura do Estádio do Maracanã. O telhado já está todo fechado, as paredes de blindagem do corredor do anel já estão sendo concretadas, e as peças do primeiro estágio do acelerador (onde os elétrons serão produzidos) acabam de chegar ao Porto de Santos. É um projeto que impressiona, tanto pela grandiosidade quanto pela complexidade e ousadia.
Nem parece que a ciência brasileira está passando pela maior crise de sua história. Mas está; e nem o Sirius, nem o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), que o abriga, nem o Centro Nacional de Pesquisa em Energias e Materiais(CNPEM), do qual o LNLS faz parte, estão imunes a essa crise.
Assim como todos os outros institutos de pesquisa federais, o CNPEM não tem dinheiro suficiente para fechar o ano sem dispensar funcionários ou desligar suas máquinas. O centro tem recursos para mais dois meses de operação. Depois disso, se não houver uma liberação de recursos por parte do governo federal, o CNPEM terá de paralisar suas atividades.
"Temos uma reserva de contingência (de R$ 23 milhões) que dá para fechar”, diz o diretor, Rogério Cerqueira Leite.
"Fechar o ano?”, pergunto. "Não”, esclarece ele. "Para demitir todo mundo e fechar as portas.”
O prejuízo disso seria tremendo para a ciência brasileira. O CNPEM é um conglomerado de quatro importantes laboratórios nacionais — de Biociências (LNBio), Bioenergia (CTBE), Nanotecnologia (LNNano) e Luz Síncrotron (LNLS) —, e todos eles funcionam como "facilities”. Ou seja, são laboratórios dotados de equipamentos caríssimos, de alta tecnologia, que servem a toda a comunidade científica brasileira, e também à indústria nacional, para diversas aplicações científicas e tecnológicas. Centenas de projetos e milhares de cientistas seriam prejudicados com a paralisação.
O orçamento aprovado no Congresso para o CNPEM este ano é de aproximadamente R$ 90 milhões, mas o centro só tem autorização para gastar R$ 54 milhões, em função do corte (contingenciamento) de 44% do imposto pelo governo federal ao orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). E desses R$ 54 milhões, o CNPEM só recebeu, até agora, R$ 15 milhões.
"Não temos dinheiro suficiente para chegar até o fim do ano, mas aguardamos novas liberações”, disse Cerqueira Leite aoEstado. "Estamos aflitos, mas não desesperados”, completou, tentando manter o otimismo. Os recursos disponíveis hoje, segundo ele, são suficientes para mais dois meses de salário dos seus quase 600 funcionários.
O CNPEM, diferentemente de outros institutos de pesquisa federais, funciona como uma Organização Social, o que significa que seus funcionários são contratados via CLT — não servidores públicos — e o dinheiro dos seus salários sai do orçamento — não do Tesouro Nacional. Ou seja, o centro corre risco de ficar sem dinheiro, sem pesquisa e sem funcionários.
Cronograma em risco.O Sirius tem um orçamento próprio, vinculado ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que lhe confere uma certa blindagem da crise, mas não chega a ser uma imunidade. O orçamento previsto na Lei Orçamentária Anual para o projeto este ano é de R$ 325 milhões, mas esse valor já foi rebaixado para R$ 189 milhões (42% de contingenciamento).
E o pior é que, para cumprir o cronograma de terminar a obra e rodar o primeiro feixe de elétrons em junho de 2018, nem esse orçamento original basta. Além da liberação integral dos R$ 325 milhões previstos na lei orçamentária, o projeto precisa de mais R$ 180 milhões liberados para empenho até o fim do ano para não cair em atraso — o que implicaria em um encarecimento da obra, além do prejuízo científico, diz o diretor do LNLS, Antônio José Roque da Silva. "Reorganizar o cronograma significa reorganizar os custos”, explica. "Também há risco de perda de pessoal e impacto na cadeia de fornecedores.”
O custo total estimado do projeto é de R$ 1,8 bilhão, incluindo o prédio, o acelerador, a mão de obra e as 13 linhas de luz previstas para estarem funcionamento até 2020. Essas "linhas” são as estações de pesquisa que são acopladas ao acelerador, onde os experimentos com a luz gerada pela aceleração dos elétrons no anel interno são executados. Essa luz extremamente brilhante, chamada de "luz síncrotron”, pode ser usada para estudar a estrutura molecular de diferentes materiais, como uma liga metálica, um tipo de cerâmica, uma amostra de solo, uma molécula com potencial terapêutico ou um fóssil de milhões de anos. Detalhes técnicos aqui:http://lnls.cnpem.br/sirius/projeto-sirius/
Projetado para ser uma das melhores fontes de luz síncrotron do mundo, o Sirius é um projeto 100% brasileiro, com cerca de 85% dos seus componentes produzidos e desenvolvidos totalmente no Brasil, por meio de encomendas tecnológicas feitas a dezenasde pequenas, médias e grandes empresas nacionais.
"Não existe outro projeto de alta tecnologia no Brasil com esse índice de nacionalização”, destaca Silva. "Cada peça do Sirius exigiu um grau de desenvolvimento sem precedentes. Em alguns casos, sem precedentes no mundo.”
Tudo isso pode ser colocado em xeque se o dinheiro não sair. Segundo Silva, os recursos não precisam ser liberados todos ao mesmo tempo, mas é preciso que haja uma certeza no cronograma de liberações, para que as encomendas possam ser feitas e entregues no momento certo, com segurança jurídica e financeira. "O ministério está extremamente empenhado em fazer isso acontecer”, afirma Silva. "Mas chegamos a um momento crucial. Estamos aguardando as definições relacionadas a proposta de mudança da meta fiscal para sabermos como serão os próximos passos.”
Procurado pela reportagem, o MCTIC emitiu o seguinte posicionamento:
"O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) esclarece que atua junto aos Ministérios da Fazenda e do Planejamento pelo descontingenciamento de recursos, que afetaram os diferentes órgãos do Governo Federal. O MCTIC ressalta o papel da pesquisa e do investimento em ciência e tecnologia para o desenvolvimento do país e trabalha pela recuperação do orçamento total previsto para esse ano.
O MCTIC está dando prioridade a seus institutos (16 unidades de pesquisa e as 6 organizações sociais); a eles foi aplicado um percentual de corte inferior ao aplicado ao ministério como um todo. Além disso, este ministério está acompanhando criteriosamente as atividades dos institutos de pesquisa de maneira a evitar que impactos significativos venham a ser observados.”
A situação financeira da pasta é dramática. Seu orçamento inicial, de R$ 5,8 bilhões, foi reduzido para R$ 3,2 bilhões, e cerca de R$ 2,8 bilhões desse valor já foram empenhados. Ou seja, faltando quatro meses para o fim do ano, o MCTIC tem apenas R$ 400 milhões em caixa para bancar toda a ciência nacional.