Instalações nucleares no interior de SP viram canteiro de obras
Enviado Especial a Iperó
Elas parecem com botijões de gás grandes. Um então jovem repórter desta Folha encostou em uma delas enquanto entrevistava um oficial da Marinha. "Quando vão começar a funcionar?"
"Essa em que você está se apoiando está funcionando agora", foi a resposta.
O jovem jornalista teve o bom senso de não pular assustado, mas se afastou cuidadosamente da centrífuga. Elas funcionam muito silenciosamente.
O urânio natural tem proporções pequenas, apenas 0,7%, do isótopo U-235 (variante com massa diferente) usado como matéria-prima seja para uma bomba atômica ou para um reator nuclear.
Enriquecer urânio significa aumentar a proporção de U-235 em contraposição ao mais comum U-238 em uma amostra para se poder criar uma reação nuclear em cadeia e produzir energia. Uma explosão atômica é uma reação em cadeia não controlada.
Já não tão jovem, o repórter voltou a Iperó agora. As centrífugas continuam operando. Mas todo o complexou é um grande canteiro de obras.
O submarino nuclear brasileiro –SN-BR– está tomando forma no interior de São Paulo.
"Estamos dentro do cronograma", diz o capitão-de-mar-e-guerra engenheiro naval Sérgio Luis de Carvalho Miranda, diretor do Centro Industrial Nuclear de Aramar.
Isso inclui o Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (LabGene), que, segundo a Marinha, "será utilizado para validar as condições de projeto e ensaiar todas as condições de operação possíveis para uma planta de propulsão nuclear".
O urânio é apenas o "combustível" do reator do submarino. Mas todo o resto é algo extremamente complexo em termos de engenharia.
Um submarino nuclear é no fundo um navio a vapor. O calor gerado pela reação nuclear esquenta água e gera vapor para mover turbinas.
A Marinha está produzindo um protótipo do reator e o resto do sistema de propulsão. Em Iperó as turbinas também são testadas.
O engenheiro Reinaldo Panaro chefia um departamento fundamental, o Laboratório de Testes de Equipamentos de Propulsão (Latep). Sua tarefa é complexa. "A gente checa, relata, conserta e adapta", resume Panaro.
Como diz o comandante Miranda, "o pulo do gato" é reduzir a incerteza em um projeto muito complexo. Por exemplo, o reator desenvolvido em terra caberia no casco do submarino nuclear? "Cabe. Fazemos o dever de casa antes", diz o militar e engenheiro naval.
Por ser uma instalação experimental em terra, o projeto segue as convenções e regras típicas de usinas nucleares, de forma a garantir a segurança dos operadores e população local e evitar danos ao meio ambiente.