Sessão solene comemorativa, com a presença de autoridades, ocorreu nesta última quarta-feira (31), no Auditório Prof. Dr. Rômulo Ribeiro Pieroni
Pertencimento, parceria e propósito.
Foram esses os três pilares que mais representam o IPEN-CNEN, na visão do
ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo Alvim. Na cerimônia pelo 66º
aniversário do Instituto, após assistir à apresentação da linha do tempo do
Instituto – sua fundação, conquistas e as perspectivas para o futuro –, Alvim
destacou a contribuição "inestimável” do IPEN para ciência brasileira na área
nuclear e reafirmou o compromisso com a continuidade do empreendimento do
Reator Multipropósito Brasileiro (RMB).
"Esses momentos de celebração e
reconhecimento nos dão muito orgulho. Os nossos heróis da ciência precisam ser
reconhecidos. O que se faz, num espaço como o IPEN, são trabalhos que não têm
hora nem dia e cuja contribuição fica para a posteridade. São 66 anos de muita
contribuição”, declarou o ministro, pontuando os três pilares que fazem do IPEN
a instituição de referência que é para o Brasil. "Todas as pessoas que passam
por aqui têm o conceito de pertencimento, por isso se dedicam, contribuem e
continuam trabalhando como voluntários”.
O segundo "p” elencado por Alvim é de parceria:
"Essa é uma instituição que pratica parcerias. Aqui, parceria é a palavra-chave”,
acrescentou o ministro, em alusão aos projetos de arraste que o IPEN desenvolve
em colaborações nacionais e internacionais. O ministro foi enfático ao mencionar
o terceiro pilar: "propósito”. "Essa é uma instituição que tem um propósito.
Não apenas de avanço, é mais do que isso. Quando vemos os cinco pontos de
pesquisa do IPEN, vemos como a sociedade evoluiu”, completou.
Alvim se referia aos cinco focos de
atuação do IPEN mencionados pela diretora substituta, Isolda Costa, em sua apresentação
"Passado, Presente e Futuro”. Por fim, o ministro se dirigiu a José Augusto Perrotta
– pesquisador emérito do IPEN e engenheiro que concebeu o projeto do RMB,
garantindo os esforços para assegurar o fluxo estável e permanente de recursos,
visando a implementação do empreendimento, que, segundo ele, é fundamental para
o País.
"É uma estrutura de conhecimento do
Estado, e precisa ser tratado como tal. E estamos nessa missão. O RMB não é
relevante apenas para o IPEN, é para a pesquisa do País. É uma infraestrutura
que vai transbordar conhecimento”, disse o ministro, lembrando que, atualmente,
há uma posição favorável da comunidade científica brasileira em favor dos
investimentos para o projeto – a Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC) aprovou, em sua última Assembleia Geral (no mês de julho), a
Moção "Independência tecnológica e soberania nacional na área de radiofármacos
e a finalização do RMB”.
Linha do Tempo – Passado
Para iniciar a cerimônia, Isolda Costa
fez apresentação sobre a história do IPEN-CNEN, destacando as pesquisas e
tecnologias desenvolvidas durante os 66 anos do Instituto. Também mencionou os
60 anos da então Divisão de Metalurgia Nuclear, hoje Centros de Tecnologia dos
Materiais (CECTM), e Divisão de Engenharia Química, atual Centro de Química e
Meio Ambiente (CEQMA).
A tônica foram as conquistas nas seis
décadas, até o momento atual, começando pela criação da Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN), em 1956, do Instituto de Energia Atômica (IEA), em
1957, até sua mudança para IPEN, em 1970. Entre as conquistas da década de 60, destaque
para o início dos estudos de purificação do urânio (1960), da produção de
radiofármacos de forma rotineira (1962) e da fabricação de elementos combustíveis
para todos os reatores nacionais (1964).
Na década de 70, Costa mencionou o estabelecimento de novas linhas de pesquisa
sob a liderança do professor Shigueo Watanabe (1972), o início do programa das
aplicações das radiações na indústria e engenharia (1972), a criação do Centro
de Processamento de dados do Instituto (1974) e da Pós-Graduação em Tecnologia
Nuclear em associação com a USP (1976).
Nos anos 80, começou o projeto de conversão de urânio (1980),
início da produção dos geradores de Tecnécio-99 (1982), atuação no acidente
radiológico com o Césio-137 em Goiânia (1987) – o IPEN foi o primeiro
ator presente no local e a inauguração do Reator de potência zero, IPEN/MB-01
(1988).
Na década
seguinte, houve uma "mudança de paradigma”, com destaque para a Integração das
atividades de pesquisas ambientais, marco do atual Programa de Meio Ambiente do
Instituto (1996), a irradiação na agricultura (1996), a conclusão do projeto de
modernização do IEA-R1, que chegava a 40 anos de atividade (1997) e a
instalação do Cíclotron de alta energia (1999), dentre outros.
Os anos 2000
foram marcados pelo início do programa de células a combustível (2000), a
inauguração do Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, uma tecnologia 100%
nacional (2004), e do Laboratório de Laser de Altíssima Potência (2005), a
marca de 1 mil teses e dissertações defendidas (2009) na pós-graduação e a
inauguração do Espaço Marcello Damy (2010).
De 2011 a 2018, o
IPEN foi muito longe: chegou à marca do 100º elemento combustível produzido
para o Reator IEA-R1 (2011), criou o Prêmio de Inovação Tecnológica (2014) e a
Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São
Paulo IPEN/USP consolida-se com 109 empresas incubadas e 264 patentes e
marcas protocoladas (2014).
Em 2016, os 37
radiofármacos do IPEN são protocolados na Anvisa. Em 2018, o Instituto
desenvolveu a arquitetura do Projeto da Unidade Móvel de Radiação, foi contemplado
em Edital da FAPESP para a modernização institucional e aquisição do SNOM e
teve seu Mestrado Profissional em Tecnologia das Radiações em Ciências da Saúde
aprovado na CAPES.
De 2019 a 2022
Em 2019, o IPEN
produz 19 elementos combustíveis para o Reator IPEN/MB-01, um feito inédito. O
ano de 2020, quando foi decretada a pandemia da Covid-19, o Instituto
protagonizou uma série de ações de enfrentamento, entre eles, a esterilização de
equipamentos de proteção individual (EPIs), em colaboração com outros órgãos e
entidades, e a inativação do SARS-CoV-2 por radiação ionizante para a fabricação
de soro anti-Covid-19, em parceria com o Instituto Butantã.
Neste ano, chegou
ao Centro de Lasers e Aplicações o equipamento SNOM, o que há de mais avançado
em microscopia sub-nano a laser. Em colaboração com a Poli-USP, foi aprovada a Graduação
em Engenharia Nuclear. Além desses feitos, foi firmado acordo com a Nissan para
desenvolvimento de um veículo movido por Célula a Combustível de Óxido Sólido (SOFC).
Em 2021, a incrível marca de 3 mil teses e dissertações defendidas no Programa
de Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear.
O futuro
Ao projetar o futuro do Instituto,
Costa seguiu com a temática do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), tema do
colóquio e razão da homenagem a José Augusto Perrotta, com sua indicação como Pesquisador
Emérito, no primeiro dia de comemoração ao 66º aniversário do IPEN-CNEN,
terça-feira, 30.
"Acreditamos que o RMB é o futuro e
queremos dar continuidade a esse projeto, que possibilitará a produção de
radioisótopos para mais de 30 tipos diferentes de radiofármacos, vai dobrar,
imediatamente, o número de procedimentos anuais em medicina nuclear e garantir
a estabilidade do fornecimento de radioisótopos no País, além de contribuir
para a ampliação do número de clínicas e hospitais que oferecem serviços em
medicina nuclear e promover economia de mais de 15 milhões de dólares por ano
com custos de importação”, pontuou a diretora substituta.
Costa acrescentou que tanto o projeto
RMB quanto os trabalhos anteriores do Instituto têm sido realizados "tendo
em vista a missão do IPEN”. "É o compromisso com a melhoria da qualidade de
vida da população brasileira: produzindo conhecimentos científicos,
desenvolvendo tecnologias, gerando produtos de maneira segura e formando
recursos humanos para a área nuclear”, destacou.
Antes da sessão solene, Costa e o
diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, Madison Almeida, representando o
presidente Paulo Pertusi, receberam o ministro Alvim, sua comitiva e demais
convidados no espaço cultural Marcelo Dammy. Na sequência, para conhecer as
instalações do Reator IEA-R1, no Centro do Reator de Pesquisas (CRPq), onde
foram recebidos pelo gerente da área, Frederico Genezini.
Após a visita ao Reator, foi dado
início à sessão solene, com execução do hino nacional brasileiro e a formação
da mesa de honra, com a presença de Costa, Alvim, Almeida, e da professora Maria
Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP, Zeina Latif, secretária de Desenvolvimento
Econômico do Estado de São Paulo, vice-Almirante (EN) Guilherme Dionízio Alves, diretor do Centro
Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), vice-almirante Newton de Almeida
Costa Neto, diretor-Presidente da Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S. A. (AMAZUL), e Sergio Freitas de Almeida,
secretário Executivo do MCTI.
Missão e parcerias
Representando o reitor Carlos Gilberto
Carlotti Junior, Arminda ressaltou a missão do Instituto e o notável "respeito
em relação ao IPEN, por cumprir uma importantíssima missão que engrandece esse
país”. "É a aplicação generosa dos resultados da pesquisa, na área da saúde, do
meio ambiente e, ao mesmo tempo, sem se descurar da importância da ciência para
a mudança e o desenvolvimento do país”, acrescentou.
A secretária Zeina Latif ressaltou dois
fatores do Instituto que chamaram a atenção. O primeiro foi "a clareza da
missão do IPEN. Segundo ela, "isso não é tão presente nesse chamado ecossistema
de inovação”, mas é um fator fundamental.O segundo fator é as parcerias:
"tenho convicção que essas parcerias são essenciais.Quanto mais aprofundarmos
essas parcerias, mais eficiente vai ser todo o investimento feito”
Latif também disse que o objetivo é
aumentar essas parcerias e que espera que a visita seja o início de uma jornada
de estreitamento das relações com o IPEN-CNEN. Por último, ressaltou o caráter
inovador das pesquisas do instituto e disse pretender "usar da melhor forma o
serviço público” e "trazer o setor privado” para atuar em conjunto.
Também falando sobre as parcerias,
Almeida Costa destaca o vínculo com o IPEN-CNEN, como uma das formas de
"superar uma série de dificuldades da cultura do país, para que a população
entenda a importância das pesquisas realizadas no instituto”. "A história do
IPEN sempre foi focada no limite da ciência e da tecnologia, daquilo que é o
avanço, que não tem de onde tirar”, acrescentou.
Dionízio Alves ressaltou a importância
da parceria existente entre a Marinha e o IPEN, que vem de "mais de quatro
décadas”. Também destacou as qualidades e importância das competências do
Instituto, como o domínio dos ciclos do combustível e do urânio. "Poucos
têm, no mundo”, enalteceu
Madison Almeida mencionou que o IPEN é
o maior instituto da América Latina edestacou todas as atividades do Instituto,
que atribuiu ao legado do professor Marcelo Dammy."Hoje todos estão em
prol da missão e, mais do que isso, da visão do IPEN. A CNEN é muito grata ao
IPEN. Sempre lembramos e passamos para a sociedade e demais autoridades que o
IPEN tem o seu famoso núcleo, seus 11 centros de pesquisa. Se o IPEN tem hoje
os reatores nucleares, os aceleradores de partículas de elétrons e seus
irradiadores gama, também tem as tecnologias correlatas intermediando a área
nuclear. São inúmeras possibilidades”, disse.
Homenagens
Dando sequência ao evento, foi
realizada uma "homenagem in memoriam” aos 19 servidores falecidos
entreagosto de 2021 e agosto de 2022. Em seguida, o ministro Alvin
entregou certificado de menção honrosa ao pesquisador Lalgudi Ramanathan,
em nome dos aposentados, e a Mitiko Saiki e Rajendra Narain Saxena, representando
os colaboradores voluntários após a aposentadoria. Após o pronunciamento do ministro,
a solenidade foi encerrada.
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Leonardo Novaes, estagiário
(Com supervisão)