Clipping de Notícias
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- 23/05/2024 - CNEN mobiliza técnicos do IPEN para inspeção de material radioativo apreendido no Aeroporto de GuarulhosFonte: CNEN
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) enviou técnicos do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), sua unidade técnico-científica mais próxima da ocorrência, para inspecionar material radioativo apreendido pela Receita Federal, durante operação conjunta com a Anvisa, realizada entre os dias 17 e 20 de maio no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
A operação foi desencadeada após a Anvisa desconfiar que participantes da Feira Hospitalar 2024, ocorrendo na capital paulista entre 21 e 24 de maio, poderiam estar trazendo material hospitalar e/ou medicamentos sem a devida autorização para exposição no evento. Entre os itens apreendidos, foram encontrados equipamentos médicos avaliados em US$ 166 mil, incluindo produtos radioativos.
À medida que os passageiros desembarcavam, a equipe de fiscalização retinha a bagagem de mão e a passava pelo raio-x. Durante a inspeção, os fiscais encontraram cápsulas que, à primeira vista, pareciam ser apenas medicamentos comuns. No entanto, ao abrirem a embalagem, identificaram o símbolo de risco de radiação, o que levou ao acionamento imediato da CNEN.
As cápsulas estavam na bagagem de mão de um passageiro que chegou na segunda-feira, 20. Os fiscais da Anvisa informaram à equipe do IPEN/CNEN que a empresa envolvida alegou desconhecer a necessidade de autorização prévia para o transporte dos medicamentos.
"Sempre que surge a necessidade de inspeção de material radioativo, ao ser acionada, a CNEN envia prontamente equipe de atendimento a situações de emergências nucleares, a fim de realizar o acompanhamento e as verificações necessárias, o que foi feito hoje, em Guarulhos," afirmou Francisco Rondinelli, presidente da CNEN.
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- 22/05/2024 - CTMSP e CAPES oferecem bolsa de Pós-doutorado em avaliação de propriedades térmicas e químicas para material do revestimento do combustível nuclearO prazo para inscrições é 16/06/2024 e as atividades serão desenvolvidas no Centro Industrial Nuclear de Aramar (CINA), em Iperó, SP
O prazo para inscrições é 16/06/2024 e as atividades serão desenvolvidas no Centro Industrial Nuclear de Aramar (CINA), em Iperó, SP
Fonte: CCEMSP - Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo
O Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) possuem um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) de cunho estratégico desde dezembro de 2022, cuja execução cabe ao Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo (CCEMSP).
Este Acordo é uma oportunidade para o avanço do Programa Nuclear Brasileiro (PNB), no qual está inserido o Programa Nuclear da Marinha (PNM), e busca a capacitação de recursos humanos, fundamentais para a criação de soluções práticas e autóctones para desafios inerentes a esse programa estratégico nacional.
Neste contexto, será oferecida uma oportunidade para pesquisador de Pós-doutorado, com bolsa CAPES por doze meses. O tema de pesquisa será "Avaliação de propriedades térmicas e químicas do material do revestimento do combustível nuclear”. As atividades de desenvolvimento do projeto serão realizadas no Centro Industrial Nuclear de Aramar (CINA), em Iperó/SP. O prazo de inscrição encerra-se em 16/06/2024. O selecionado receberá bolsa de Pós-doutorado da CAPES no valor de R$ 5.200,00 mensais.
O edital da bolsa de Pós-doutorado da CAPES/CTMSP está disponível no link:
https://www.marinha.mil.br/ctmsp/pnm-capacitacao-pes
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- 21/05/2024 - ABDAN e ROSATOM realizam hoje evento para discutir projetos e investimentos no setor de medicina nuclearFonte: Petronotícias
A Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) e a estatal russa Rosatom estão realizando hoje (21), em São Paulo, o evento "Cenário e Planos de Investimento no Setor de Medicina Nuclear do Brasil". A ideia do encontro é apresentar o setor de Medicina Nuclear para a indústria paulista e demonstrar os desafios e oportunidades do setor. O evento conta ainda com o apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear.
De acordo com Celso Cunha, presidente da ABDAN, o encontro também tem o objetivo de apresentar oportunidades de investimento e buscar parcerias com investidores já atuantes no mercado. "Este evento é de extrema relevância para o setor, considerando a urgência de uma maior valorização da Medicina Nuclear no Brasil e a atual escassez de investimentos. Ao estabelecermos essa proximidade com a indústria paulista, temos uma oportunidade única de evidenciar as possibilidades e progressos que a Medicina Nuclear pode proporcionar”, afirmou Cunha.
Já o presidente da presidente da SBMN, Rafael Lopes, disse que o encontro é uma oportunidade crucial para fortalecer a colaboração entre a indústria e a área médica, promovendo inovação e progresso."A Medicina Nuclear desempenha um papel fundamental na saúde e na economia, e este evento destaca seu potencial para impulsionar ainda mais o setor”, declarou.
Celso Cunha e Rafael Lopes serão palestrantes no evento, juntamente com Carlos Alberto Buchpiguel (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), Ivan Dybov (Presidente da Rosatom America Latina), Julio Lopes (Deputado Federal e Presidente da Frente Parlamentar Nuclear na Câmara), e Francisco Rondinelli (Presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear).
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- 21/05/2024 - SIEMACO-SP e IPEN-USP inauguram mais uma sala de aula para Educação de Jovens e Adultos (EJA)Fonte: SIEMACO-SPO SIEMACO-SP e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, localizado na Universidade de São Paulo (IPEN) uniram forças para inaugurar mais uma sala de aula destinada ao programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Esta nova sala beneficiará trabalhadores do Asseio e Conservação que prestam serviços no IPEN.A implementação do espaço educacional foi mediada pelos assessores Sidnei Santana e Henrique Guimarães, da equipe de Saúde do SIEMACO-SP, liderada pelo diretor Fabio Cruz. Na parte pedagógica, o projeto contou com a coordenação de Roberta Butolo e do professor William Santos, ambos da Educação Continuada-EJA. Francisco Júnior, coordenador do Departamento Jurídico do sindicato, também prestou um apoio essencial para a concretização da iniciativa.
Pelo IPEN, o diretor Celso Gimenes, o coordenador Gilberto Magalha e os colaboradores Ítalo Henrique e Ana Gori foram fundamentais na viabilização do projeto, garantindo toda a infraestrutura necessária.
Após diversas reuniões e tratativas, a parceria de apoio e cooperação foi firmada, culminando na inauguração da sala de aula nesta segunda-feira (20). Atualmente, 19 alunos estão matriculados, distribuídos entre o Ensino Fundamental I, II e Ensino Médio. Destes, 11 participarão da prova de certificação Encceja, edição 2024, que ocorrerá em agosto. São sete alunos do Ensino Fundamental II e quatro do Ensino Médio.
A relevância social dessa parceria é destacável, pois oferece uma segunda chance para aqueles que não puderam estudar regularmente durante a infância e adolescência. As razões são variadas, mas agora esses trabalhadores têm a oportunidade de concluir uma importante etapa educacional.
As salas de aula, já implementadas em outros núcleos, têm mostrado vantagens significativas para os trabalhadores e trabalhadoras. Além de proporcionar formação educacional de qualidade, oferecem a oportunidade de alfabetização para aqueles que ainda não sabem ler e escrever. Isso resulta no desenvolvimento de novas habilidades, maior autonomia e uma visão de mundo ampliada, aumentando as chances de conseguir melhores empregos e salários no futuro.
O projeto conta com a estrutura docente e material pedagógico do Centro de Treinamento, Capacitação e Formação do Setor de Asseio e Conservação (CECAF), mantido pelo SIEMACO-SP, Abralimp e SEAC-SP.
A inauguração desta sala de aula reforça o compromisso do SIEMACO-SP com a educação e o desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores do setor, promovendo inclusão e oportunidades de crescimento.
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- 21/05/2024 - Novo material mostra potencial para gerar ‘hidrogênio verde’Estudo apoiado pela FAPESP descreve a produção de filmes compostos por nanoestruturas de polianilina com camadas internas de nanotubos de carbono
Estudo apoiado pela FAPESP descreve a produção de filmes compostos por nanoestruturas de polianilina com camadas internas de nanotubos de carbono
Fonte: Agência FAPESP
Estudo publicado na revista Polymer descreve a produção de um material com potencial de ser usado na obtenção de hidrogênio (H2) a partir da divisão de moléculas de água utilizando luz solar (fotoeletrocatálise) no lugar de eletricidade convencional. Também chamado de "hidrogênio verde”, o H2produzido a partir de fontes renováveis é forte aposta como combustível do futuro.
O artigo trata da preparação de filmes compostos por nanoestruturas de polianilina com camadas internas de nanotubos de carbono de paredes múltiplas para estudo da atividade em fotoeletrocatálise do material, especialmente em relação à reação para produção de hidrogênio. O material apresentou bom desempenho na absorção de luz e boa estabilidade, entre outras características positivas para obtenção de H2.
A polianilina é um polímero condutor da família dos polímeros flexíveis. Apesar de ter sido descoberta há mais de 150 anos, só recentemente capturou a atenção da comunidade científica porque foi identificada a sua alta condutividade elétrica.
A pesquisa envolveu grupos do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e do Centro de Inovação em Novas Energias (CINE), um dos Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) apoiados por FAPESP e Shell.
O artigo In situ polymerised polyaniline films over multi-walled carbon nanotubes coatings for enhanced photoelectrochemical performance pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0032386124002040.
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- 19/05/2024 - Os países que mais produzem energia nuclear e têm mais reservas de urânio, em um gráficoEnergia nuclear e reservas de urânio: saiba quais países lideram a produção. Descubra os planos de China, Polônia e França, e o impacto do desmantelamento de centrais na Alemanha e Espanha.
Energia nuclear e reservas de urânio: saiba quais países lideram a produção. Descubra os planos de China, Polônia e França, e o impacto do desmantelamento de centrais na Alemanha e Espanha.
Fonte: Click Petróleo e Gás
As centrais nucleares estão atualmente em uma corrida de dois sentidos. Enquanto certos países estão fazendo uma forte aposta nesse tipo de energia, construindo centrais e com projetos nucleares (China e Polônia, por exemplo), outros estão imersos no desmantelamento de suas centrais (Espanha e Alemanha).
Existe um debate sobre a adequação de utilizar energia nuclear no contexto da descarbonização e em uma realidade onde eventos (como a invasão da Ucrânia) podem disparar o preço dos combustíveis, como o gás russo. Por isso, estão sendo buscadas novas fontes para produzir eletricidade (como o hidrogênio verde, no qual a Espanha desempenhará um papel chave), mas outros países, como a França, mantêm-se fiéis à energia nuclear. Tanto é assim que já planejam o uso de reatores SMR (Small Modular Reactors).
De qualquer forma, atualmente as centrais nucleares desempenham um papel importante na produção de energia, com cerca de 440 reatores ativos, e neste gráfico curioso com os dados mais atuais (de 2022) podemos ver a produção de energia nuclear por país. Não há surpresas, e é interessante ver as diferenças entre os países, mas quando os dados ucranianos e alemães forem atualizados, o cenário mudará radicalmente.
Os dados correspondem ao Instituto de Energia Nuclear e o gráfico é interessante porque mostra de forma muito clara que a França vai sozinha em termos de produção de energia em suas nucleares a nível europeu. O primeiro lugar continua sendo dos Estados Unidos, com uma produção de 772 TWh, muito à frente de uma China que tem grandes (e caros) planos para o desenvolvimento do seu parque nuclear, com uma produção de 383 TWh.
A China destronou a França como a segunda maior produtora de energia nuclear no mundo devido ao rápido desenvolvimento de suas centrais na última década, mas a França ainda está no pódio com 363 TWh (no final de 2022, baixou um pouco para 282 TWh, de acordo com os números da WNA). Curiosamente, 69% das necessidades elétricas da França são cobertas pela energia nuclear, sendo (de longe) o país que mais depende dessas centrais.
Muito atrás estão os outros países, mas, como dissemos, mais cedo ou mais tarde haverá uma revolução nas posições do gráfico. Devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia, uma das principais centrais da Ucrânia parou de produzir. Além disso, a Alemanha está em pleno processo de desmantelamento das centrais e a Espanha seguirá o mesmo caminho entre 2027 e 2035. Atualmente, 20% da eletricidade do país vem das nucleares.
Outro cenário é o gráfico das reservas de urânio. Trata-se de um recurso relativamente abundante e, exceto no caso da Rússia, não há uma correlação entre as reservas de urânio e as nucleares.
Podemos ver que a Austrália se destaca totalmente do resto do mundo em termos de toneladas, com quase 1,7 milhões de toneladas de urânio, representando 28% das reservas mundiais. O Cazaquistão conta com 815.200 toneladas (13% das reservas mundiais) e o Canadá conta com 588.500 toneladas (10% das reservas). Seguem-se países como a Rússia, Namíbia e África do Sul.
Os Estados Unidos, a potência em produção de eletricidade graças às nucleares, não têm nem 1% das reservas e a França nem aparece na tabela detalhada da WNA.
A energia nuclear em 2024
Como dissemos, é preciso esperar que os dados sejam atualizados levando em consideração os eventos atuais, como os casos da Ucrânia e da Alemanha, mas a situação da energia nuclear em 2024 é interessante. Atualmente, estima-se que existam 440 reatores com uma produção mundial de 396.269 MWe (lembre-se que antes falávamos de produção de cada país em TWh e agora falamos de MWe, sendo duas coisas diferentes).
Estão sendo construídos cerca de 60 reatores a nível mundial, com uma produção estimada de 62.998 MWe, e essa energia nuclear é a segunda maior fonte mundial de energia baixa em carbono, representando 26% do total em 2020. A nível mundial, estima-se que 10% da eletricidade provenha das centrais nucleares e será necessário observar o que ocorrerá com a produção a curto prazo e por quais fontes essa energia será substituída em países como a Alemanha ou a Espanha.
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- 17/05/2024 - Brasileiros defendem investimentos públicos em ciência, aponta pesquisaMaioria dos entrevistados na nova edição do estudo sobre “Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil” apontou que o governo deve aumentar ou manter os investimentos em pesquisa científica e tecnológica nos próximos anos
Maioria dos entrevistados na nova edição do estudo sobre “Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil” apontou que o governo deve aumentar ou manter os investimentos em pesquisa científica e tecnológica nos próximos anos
Fonte: Agência FAPESP
Apesar de não ter ficado imune às ondas de desinformação e ao negacionismo científico que emergiu no mundo nos últimos anos, o Brasil continua sendo um dos países cuja população declara ter maior interesse e otimismo sobre a ciência e defende que os investimentos públicos nessa área devem ser mantidos ou aumentados, mesmo em anos de crise.
Quase a totalidade (94%) dos entrevistados na nova edição da pesquisa sobre "Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil”, lançada quarta-feira (15/05) pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), apontou que o governo deve aumentar ou manter os investimentos em pesquisa científica e tecnológica nos próximos anos, contra apenas 3% que indicaram que é preciso diminuir os investimentos.
A porcentagem dos brasileiros que reconhece a existência das mudanças climáticas também é das mais altas no mundo. A maioria da população (95%) afirma ter consciência de que esse fenômeno está ocorrendo no país e no planeta e 60% acreditam que ele representa um grave perigo.
Os índices de percepção do problema só não foram tão altos no Centro-Oeste e no Sul do país, de acordo com dados do levantamento conduzido pelo CGEE por demanda do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com o Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Foram entrevistadas 1.931 pessoas com mais de 16 anos, com cotas por gênero, idade, escolaridade, renda e local de moradia de todas as regiões do país.
Uma das constatações feitas por meio do estudo foi que o nível de interesse da sociedade brasileira sobre ciência e tecnologia tem se mantido estável ao longo das últimas duas décadas de realização do trabalho. Mais da metade dos entrevistados (60%) declararam estar interessados ou muito interessados nesses temas, à frente do interesse por esporte (54,3%); arte e cultura (53,8%); e política (32,6%).
"Embora tenha tido uma pequena queda em momentos de crise social e política, o interesse do brasileiro por ciência e tecnologia, em média, é maior do que o observado em outros países. O fato de mais da metade dos brasileiros dizerem que têm interesse por ciência é um indicador da relevância social que eles atribuem a esse tema, independentemente do fato de eles se sentirem parte ou não dela. Os brasileiros não estão tão distantes da ciência como muitos cientistas e intelectuais acham”, disse Yurij Castelfranchi, coordenador do Observatório de Inovação, Cidadania e Tecnociência (Incite) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), durante o evento de lançamento do estudo.
A visão positiva que a sociedade brasileira tem sobre a ciência e a tecnologia também tem se mantido alta ao longo das últimas décadas, indicam os resultados do estudo. No total, 66% dos entrevistados disseram que a C&T traz só benefícios ou mais benefícios do que malefícios para a sociedade – um percentual maior do que o registrado em países como o Japão e o Canadá.
"O que mudou nos últimos anos em relação a isso no Brasil – e que foi um impacto da polarização política e radicalização crescentes nas redes sociais – foi um aumento não do número de pessoas que dizem que a ciência é do mal, mas das que avaliam que a ciência traz tanto benefícios como malefícios”, apontou Castelfranchi.
"A fração de brasileiros que alguns chamam de anticiência continua correspondendo a entre 4% e 6%. É uma minoria muito pequena da população. Os brasileiros não são anticiência e não acham que a ciência é perigosa”, afirmou o pesquisador.
Em geral, os brasileiros tendem a perceber as novas tecnologias como mais positivas do que negativas, mesmo as mais controversas, como a nuclear e a nanotecnologia, e consideram que as vacinas são importantes e têm impactos muito positivos na saúde pública. Somente 8% disseram que os impactos delas são negativos, revelou o estudo.
"Os brasileiros têm uma visão de apoio e são relativamente otimistas em relação a qualquer nova tecnologia. Eles querem participar, demandam que os cientistas expliquem e que os riscos das novas tecnologias sejam conhecidos, mas não são contra elasa priori. Muitas pessoas no Brasil [quando questionadas sobre uma nova tecnologia] respondem que não sabem, que não explicaram para elas ou não sabem avaliar o impacto delas, mas não manifestam rejeição. Na União Europeia, por exemplo, não é assim. Os transgênicos são proibidos lá”, comparou Castelfranchi.
Os pesquisadores também constataram que tem aumentado muito, desde 2010, o número de brasileiros que acham que a ciência brasileira está atrasada, e atribuem esse fenômeno à crise política vivenciada pelo país nos últimos anos. "A ausência de uma política sólida e coerente levou, a meu ver, os brasileiros a enxergarem um perigo para a ciência brasileira”, afirmou Castelfranchi.
Somente 15% dos brasileiros avaliaram na pesquisa que a ciência brasileira é avançada e 35% opinaram que ela é intermediária. Porém, esses números apontam não para uma crítica, mas para a necessidade que os brasileiros enxergam de aumentar os investimentos em ciência, avaliou o pesquisador.
"Quando eles dizem que a ciência brasileira não é suficientemente avançada não estão dizendo que ela é ruim, mas que precisamos fazê-la avançar mais”, sublinhou.
Baixo conhecimento
A despeito do interesse e das atitudes dos brasileiros em relação à ciência e a tecnologia serem mais positivos em comparação com países mais ricos, o conhecimento dos brasileiros sobre o tema ainda é muito baixo. A maioria não sabe dizer o nome de uma instituição científica ou de um cientista brasileiro, ponderou o pesquisador.
Esse quadro mudou após a pandemia de COVID-19, em que aumentou a visibilidade da ciência brasileira e as instituições de pesquisa envolvidas no desenvolvimento de vacinas receberam ampla cobertura midiática. Mesmo assim, o percentual de pessoas que conseguem lembrar o nome de alguma instituição de pesquisa científica ou de algum cientista do país é muito baixo e está entre o menor da América Latina, apontou o estudo.
"Teve um pulo muito grande [no número de pessoas que souberam citar uma instituição científica ou cientista brasileiro importante] após a pandemia. Isso, a meu ver, foi devido a um esforço heroico de cientistas irem a campo, aos holofotes, além de jovens graduandos, mestrandos e doutorandos se inventarem nas redes sociais, tornando-se divulgadores brilhantes. Esse esforço levou a esse resultado”, afirmou.
"Além disso, a produção de vacinas [contra a COVID-19] por institutos como o Butantan e a Fiocruz permitiu dar um pulo muito grande na visibilidade da ciência brasileira no país após a pandemia”, completou.
Os hábitos culturais e o acesso a informações sobre ciência e tecnologia pelos brasileiros, caracterizados por visitas a zoológicos, museus de ciência, tecnologia e de artes e feiras científicas, por exemplo, também melhoraram, aponta o estudo.
A visita a museus de ciência, que em 2019 tinha regredido ao que era há uma década, voltou a crescer em 2023. Esses espaços passaram a ser frequentados, porém, por pessoas jovens, com escolaridade superior e renda familiar acima de cinco salários mínimos (mais de R$ 7 mil), pondera Castelfranchi.
"Estamos alcançando principalmente os jovens e ricos. Apesar de ter sido feito um esforço gigantesco pelos museus brasileiros de alcançar as escolas públicas, atrair milhões de visitantes, as pessoas que fazem visitação espontânea a esses espaços representam uma elite da população brasileira”, disse.
Vítimas da desinformação
O estudo também apontou que o percentual de pessoas que declaram não ter nenhum interesse em ciência no Brasil diminuiu, mas o perfil delas se manteve inalterado ao longo das últimas décadas: têm pouca escolaridade e baixíssima renda, em geral. É para essa parcela da população que devem ser priorizadas políticas de letramento científico, apontou o pesquisador.
"Não há pessoas anticiência no Brasil. Há os excluídos, os exilados da cidadania científica. A cidadania contemporânea é científica. Não tem como exercer cidadania sem participar ativamente da cultura científica, e há essa fração da população que não tem acesso a esse direito no Brasil”, avaliou Castelfranchi.
São esses exilados da cidadania científica no país que são mais vulneráveis a se tornarem vítimas da desinformação e de movimentos negacionistas como o climático e o antivacinas, recebendo e propagando notícias falsas, apontam dados do estudo.
"As pessoas com maiores níveis de escolaridade são as que mais checam e comparam as notícias que recebem e as que têm maior familiaridade com a ciência tendem a dizer menos que as mudanças climáticas não existem”, disse o pesquisador.
Entretanto, o conhecimento científico não é relevante na adesão a outras teorias conspiratórias, como o terraplanismo, porque esse problema está muito mais relacionado a questões ideológicas do que com a alfabetização científica, ponderou Castelfranchi.
"As pessoas que discordam totalmente que a Terra seja redonda têm os mesmos índices de conhecimento de ciência das pessoas que concordam. Há mais mestres e doutores terraplanistas no Brasil do que analfabetos porque a desinformação é um fenômeno político, de identidade política, em muitos casos”, disse.
A fim de combater a desinformação e as desigualdades no exercício da cidadania científica no Brasil é preciso focar em mecanismos específicos de letramento midiático e científico por região e classe social, avaliou o pesquisador.
O resumo da pesquisa "Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil” pode ser acessado em: www.cgee.org.br/documents/10195/4686075/CGEE_OCTI_Resumo_Executivo-Perc_Pub_CT_Br_2023.pdf.
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- 10/05/2024 - IFRO é representado no I Seminário IPEN-CNEN de Projetos de InovaçãoProfessor do Campus Calama, Carlos Bauer, foi avaliador externo do evento
Professor do Campus Calama, Carlos Bauer, foi avaliador externo do evento
Fonte: Instituto Federal de Rondônia
O Instituto Federal de Rondônia (IFRO) foi representado no I Seminário IPEN-CNEN de Projetos de Inovação pelo professor Carlos Augusto Bauer Aquino. Doutor em Tecnologia Nuclear pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), o docente participou como avaliador externo no evento, ocorrido no mês de abril, que apresentou, durante dois dias, os resultados parciais de 43 projetos de pesquisas de coordenadores e bolsistas de pós-doutorado. As pesquisas avaliadas são ligadas às seguintes áreas de conhecimento: Nuclear, Energia, Meio Ambiente, Indústria e Saúde.
O professor Carlos Bauer destacou a importância do convite para participar do I Seminário IPEN-CNEN, integrando a banca de avaliadores sobre a aplicabilidade dos projetos de pesquisa apresentados, como também a possibilidade de reencontrar orientadores e colegas com os quais participou em sua época de doutorado em Tecnologia Nuclear. "Essa aproximação é muito gratificante para conhecermos os trabalhos em andamento, principalmente para nós que estamos distantes, aqui na Região Norte, como também para poder encontrar com antigos colegas e orientadores”, opinou.
Parceria com o IPEN
Carlos Bauer é professor do Ensino Técnico e Tecnológico do Campus Porto Velho Calama. Graduado em Engenharia Mecânica e Mestre em Física e Meio Ambiente, veio para o IFRO ainda em 2010 para auxiliar na montagem do Curso de Engenharia e Automação. Após esse período, foi Chefe do Departamento de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do Campus Porto Velho Calama, quando participou da estruturação da parceria junto ao IPEN, que formalizou o primeiro convênio que ofereceu 40 vagas e possibilitou criar o primeiro grupo de mestrandos e doutorandos do IFRO para professores em todo o Estado, quando ele também concluiu o doutorado em Tecnologia Nuclear. No Campus Calama, destaca o professor, "temos a professora Cristiane Silvestrini que fez o seu mestrado, o professor Rogério Barreto; o professor Leonardo Leocádio, nosso Diretor-Geral, e tantos outros colegas professores dos campi do interior que já conseguiram suas titulações como mestres ou doutores e outros que provavelmente estejam finalizando seus estudos. Esse convênio com o IPEN foi muito importante porque foi o primeiro que a gente conseguiu com uma instituição externa, posto que até essa fase nossas parcerias eram somente com a Universidade Federal de Rondônia (Unir)”, enfatiza.
Carlos Bauer acredita que seja viável trazer à luz a possibilidade de recriar a parceria. Segundo ele, "na época, foi o IPEN o único instituto que se mostrou interessado, ao contrário de outras instituições, e que trabalhou pari passu com a gente e os frutos estão aí, com nossos colegas com titulação e agora, dependendo do que conseguirmos organizar, abrirmos portas para outros colegas que tenham feito lá o mestrado e queiram continuar o doutorado ou o pós-doutorado”, informando que já conversou a respeito com o atual chefe do Departamento de Pesquisa, professor Willians Pereira, para pensar numa nova parceria.
O convênio com o IPEN possibilitou a titulação de 15 professores, sendo quatro Doutores e onze Mestres e há ainda um doutorado em andamento. A taxa de titulação do instituto é de 78% entre os alunos efetivamente matriculados na pós-graduação. O Diretor-Geral do Campus Calama, professor Leonardo Pereira Leocádio, que cursou o mestrado pelo IPEN na área de materiais em blindagem de radiação, enalteceu o protagonismo do professor Carlos Bauer no processo que possibilitou formar vários mestres e doutores e disse que "será muito interessante se houver uma futura parceria entre as instituições IFRO/IPEN gerando novas oportunidades para nossos pesquisadores”, opinou.
Além de pesquisador e colaborador do IPEN, o professor Bauer é também pesquisador e colaborador do Royal Belgian Institute for Space Aeronomy - BIRA-IASB (Instituto Real Belga de Aeronomia Espacial (BIRA-IASB), em pesquisas de gases de efeito estufa na Amazônia, especificamente na região de Porto Velho.
Sobre o IPEN
O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) é uma autarquia vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI) do Governo do Estado de São Paulo e gerida técnica e administrativamente pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Governo Federal, localizado no campus da Universidade de São Paulo (USP). O instituto envolve onze centros de Pesquisas voltadas às áreas do Ensino e Informação; Biotecnologia; Nanotecnologia; Energias Sustentáveis; Tecnologia Química e Meio Ambiente; Materiais; Radiações; Saúde e Energia Nuclear.
Seminário
O I Seminário dos Projetos de Inovação IPEN foi organizado pela equipe do Escritório de Gestão de Projetos (SEEGP), que tem como gerente o Sr. Fernando J. F. Moreira, como resultado do Edital COPDE 06/2020, que destinou R$12 milhões para pesquisas, conforme informou a diretora do IPEN, Dra. Isolda Costa, detalhando que os Projetos Intercentros do IPEN-CNEN geram inovações e contribuem para a geração e emissão de novas patentes com pesquisas nas diversas áreas relativas ao ambiente; envolvendo o saneamento da água; na área de saúde, para busca de soluções ao tratamento de câncer; como também o desenvolvimento de nanopartículas para aplicação em células de tumor em exames de radioterapia, entre outras inovações.
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- 09/05/2024 - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação lança programa paulista de InovaçãoAlguns dos objetivos da iniciativa são apoiar empresas inovadoras, promover a internacionalização de startups paulistas consolidadas e desburocratizar o acesso ao Sistema Paulista de Ambientes de Inovação
Alguns dos objetivos da iniciativa são apoiar empresas inovadoras, promover a internacionalização de startups paulistas consolidadas e desburocratizar o acesso ao Sistema Paulista de Ambientes de Inovação
Fonte: Agência FAPESP
A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo lançou na segunda-feira (06/05) o Programa de Inovação do Estado de São Paulo.
Alguns dos objetivos da iniciativa são apoiar empresas inovadoras, promover a internacionalização de startups paulistas consolidadas e desburocratizar o acesso ao Sistema Paulista de Ambientes de Inovação (SPAI).
"A ideia é tornar esses ambientes de inovação melhores e mais eficientes de modo que empresas inovadoras e startups tenham condições de se desenvolver a partir deles. Para isso esperamos investir no segundo semestre deste ano R$ 10 milhões, que representam o maior volume de recursos que o Estado de São Paulo já destinou para o SPAI”, disse o secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Vahan Agopyan.
De acordo com o secretário, atualmente há mais de 40 ambientes de inovação distribuídos por São Paulo, englobando parques tecnológicos, centros de inovação e incubadoras de startups, atuantes em diversos setores. A meta é dobrar esse número nos próximos anos. "Esperamos ter uma rede robusta de ambientes de inovação”, afirmou.
Para apoiar empresas inovadoras e estimular a internacionalização de startups paulistas, a Desenvolve SP – agência de fomento econômico do Estado de São Paulo – criará novas linhas de crédito. Durante o evento, realizado no auditório da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, representantes da agência anunciaram a criação de uma linha de financiamento para projetos de inovação de empresas em estágio pré-operacional, por exemplo, com recursos de até R$ 15 milhões e garantias facilitadas.
"Estamos em um momento crucial para alavancar o ecossistema de empresas inovadoras. Esse tipo de iniciativa visa impactar positivamente a economia e a sociedade, não apenas localmente, mas também em âmbito global”, avaliou Agopyan.
O secretário destacou o papel desempenhado pela FAPESP na geração de empresas inovadoras de base científica e tecnológica no Estado de São Paulo. "A FAPESP é uma entidade que há 27 anos incentiva o trabalho conjunto de grupos de pesquisa junto com as empresas que querem inovar no Estado de São Paulo. Além disso, tem uma série de programas voltados a incentivar a transformação do conhecimento em benefício da sociedade”, sublinhou.
Pesquisa em empresas
De acordo com Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, os principais objetivos da política de inovação da Fundação são consolidar a atividade de pesquisa nas empresas e estimular os investimentos do setor privado para essa finalidade.
"No Brasil, a maior parte da pesquisa científica e tecnológica ocorre em universidades e instituições de pesquisa. Se olharmos para os países líderes em inovação, onde também está a maior parte dos ganhadores do prêmio Nobel, a pesquisa ocorre com muita força nas empresas que fazem isso para serem competitivas”, apontou o dirigente da FAPESP em uma mesa-redonda na abertura do evento sobre como inovar em São Paulo.
Por meio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) a FAPESP já apoiou 1,7 mil empresas de base tecnológica, instaladas em um quarto dos municípios de São Paulo, destacou Zago.
Outros programas mantidos pela Fundação voltados à inovação tecnológica são os Centros de Pesquisa em Engenharia e de Pesquisa Aplicada (CPEs/CPAs), constituídos em parceria com grandes empresas, como a Embraer, e o Ciência para o Desenvolvimento, implantado em parceria com secretarias estaduais e outros órgãos públicos paulistas, afirmou Zago.
"É dessa forma que a FAPESP tenta concretizar seu apoio à inovação tecnológica, que, para ter um avanço significativo, precisa ter uma sincronia de ações entre o governo, as empresas, universidades e agências de fomento à pesquisa”, avaliou.
"Na ausência de linhas estratégicas de ciência e tecnologia definidas não conseguimos priorizar investimentos, articular ações entre os governos federal, estadual e municipal e conjugar as competências das universidades, dos institutos de pesquisa, do setor privado e do governo. No âmbito do Estado, somente o governo estadual detém liderança suficiente para organizar todas essas entidades ao longo de eixos setoriais, priorizados segundo as necessidades, oportunidades e aquilo que está disponível em cada região”, avaliou.
Um dos focos da atual política de desenvolvimento econômico no Estado de São Paulo é explorar as vocações regionais, disse o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Jorge Lima.
De acordo com dados apresentados por ele, 81% do Produto Interno Bruto do Estado de São Paulo está concentrado na região metropolitana, nos municípios de São Paulo (50%), Campinas (20%), São José dos Campos (5,8%) e Sorocaba (5,1%).
"Nossa política de governo é descentralizar isso. A estratégia é usar a inovação, os institutos tecnológicos, as Etecs [escolas técnicas estaduais] e Fatecs [faculdades de tecnologia estaduais] para desenvolver as vocações locais dos municípios paulistas”, afirmou.
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- 09/05/2024 - Novo método de terapia fotodinâmica pode erradicar o melanoma ocular, mostra estudoEm testes inéditos realizados com camundongos, a irradiação com laser pulsado de femtosegundo se mostrou eficaz e segura, abrindo caminho para um tratamento direcionado e minimamente invasivo da doença no futuro
Em testes inéditos realizados com camundongos, a irradiação com laser pulsado de femtosegundo se mostrou eficaz e segura, abrindo caminho para um tratamento direcionado e minimamente invasivo da doença no futuro
Fonte: Agência FAPESP
Pesquisadores do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF), um CEPID da FAPESP alocado no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP), e colaboradores da University of Toronto e Princess Margaret Cancer Center, do Canadá, reportaram pela primeira vez o uso eficaz de um tipo específico de fototerapia para erradicar o melanoma ocular em camundongos. Baseada em laser pulsado, a técnica envolve a aplicação de uma grande quantidade de luz por um curto período de tempo para a ativação de um fármaco.
O estudo, publicado recentemente no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, abre caminho para um possível tratamento futuro menos drástico para a doença. As estratégias atuais apresentam baixa efetividade e envolvem, em muitos casos, radiação ionizante e remoção do olho afetado do paciente.
Técnica já utilizada no tratamento do carcinoma basocelular (tipo mais comum de câncer de pele), a terapia fotodinâmica envolve o uso da luz para a ativação de fármacos, em condições adequadas de radiação e na presença de oxigênio (todas as células – de câncer ou normais – precisam do oxigênio para realizar suas funções metabólicas). O melanoma, um dos tipos de câncer mais agressivos, no entanto, tem se mostrado um desafio, por conta da melanina, um pigmento escuro que compete com o medicamento fotossensibilizador pela absorção da luz.
Outra dificuldade é que biomoléculas como a melanina fazem com que os fótons (partículas que compõem a luz) mudem sua direção de propagação e se espalhem. Dessa forma, poucos vão verdadeiramente ser transmitidos e atingir tecidos mais profundos.
Para otimizar a resposta da terapia fotodinâmica nos melanomas cutâneos, esse mesmo grupo de pesquisa já havia testado com sucesso a associação com agentes clareadores ópticos, que modificam as propriedades ópticas do tumor previamente, permitindo maior penetração da luz. Neste estudo, financiado pela FAPESP, foi a vez de testar uma estratégia eficaz para os melanomas oculares, que impõem ainda mais dificuldade de tratamento por sua localização.
Os cientistas investigaram um regime de irradiação de lasers pulsados chamado femtossegundo. Esse tipo de laser é capaz de fornecer uma grande quantidade de energia em um tempo extremamente curto – num pulso de 10-15 segundos e localizado, diminuindo o risco de dano em tecido sadio adjacente.
Os testes foram realizados com camundongos doentes, que, após serem submetidos à terapia para a ativação do fármaco Visudyne, utilizado para o tratamento da degeneração macular, passaram a não apresentar nenhum tumor residual visível.
"Observamos que o método nos permite entregar dois fótons, com metade da energia necessária cada, e, como isso ocorre em um período de tempo extremamente curto, a molécula biológica basicamente não percebe, permitindo sua chegada”, explica Cristina Kurachi, professora do IFSC-USP e coordenadora do estudo pela equipe brasileira – a equipe canadense foi liderada por Brian Wilson, professor do Departamento de Biofísica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Toronto. "Foi a primeira vez que isso foi reportado em publicações científicas.”
"Ainda mais interessante: a técnica foi mais eficaz nos tumores pigmentados, mostrando que a melanina atua como um mediador do tratamento”, completa Layla Pires, pesquisadora do Princess Margaret Cancer Center (Canadá) e do Instituto de Física de São Carlos da USP. "Esses resultados trazem uma nova perspectiva na área de biofotônica e quebram o paradigma de que lesões pigmentadas não podemser erradicadas com terapias à base de luz.”
Também foi demonstrado que o método é seguro, uma vez que não causou danos nas estruturas adjacentes. "O tratamento se mostrou altamente seletivo e efetivo”, relata Kurachi.
A pesquisadora cita ainda outra possível vantagem em potencial da terapia fotodinâmica: diversos estudos ao redor do mundo vêm indicando sua capacidade de induzir a resposta imunológica, melhorando a ativação do sistema imune do próprio organismo para também atuar nessa eliminação de tumores.
Perspectivas
A descoberta abre caminho para, no futuro, possibilitar um tratamento para o melanoma ocular mais efetivo, que ofereça o mínimo de efeito colateral – atualmente, os tratamentos disponíveis apresentam baixa efetividade e risco de 50% de o paciente desenvolver metástase (e, quando metastático, a sobrevida é de apenas quatro a 13 meses).
No entanto, embora acene com ótimas perspectivas, ainda são necessárias diversas etapas – e muitos anos de estudos – para que esse tipo de terapia possa ser utilizado na prática. "Realizamos apenas a primeira fase da pesquisa, que é justamente mostrar que o método é efetivo e seguro; os próximos passos incluem testes em camundongos humanizados com melanoma de origem humana e primeiros estudos em humanos”, lembra Kurachi.
Além disso, os instrumentos específicos para essa abordagem ainda estão em fase de desenvolvimento. Durante o estudo, os pesquisadores utilizaram microscópio, mas a ideia é que o tratamento propriamente dito seja feito com oftalmoscópios (aparelhos para a visualização da retina) ajustados, tecnologia que já vem sendo criada por outros grupos de pesquisa.
"A expectativa é que esse estudo sirva de fundamento para expandir o uso da tecnologia para outros tumores oncológicos, como o retinoblastoma, que afeta crianças”, diz Pires.
O estudo incluiu especialistas de diversas áreas, como biofotônica, óptica e medicina translacional, e também contou com o financiamento das seguintes instituições: Cancer Prevention and Research Institute of Texas (EUA), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, Brasil), Governor's University Research Initiative (EUA), Henry Farrugia Research Fund (Canadá), Princess Margaret Cancer Center Foundation Invest-in-Research Fund (Canadá) e Vision Science Research Program Award (Canadá).
O artigo Femtosecond pulsed laser photodynamic therapy activates melanin and eradicates malignant melanoma pode ser lido em: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2316303121.
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- 08/05/2024 - Brasileiros criam bateria elétrica leve e flexívelNovo dispositivo é muito mais viável ecologicamente do que as baterias de lítio, segundo os pesquisadores
Novo dispositivo é muito mais viável ecologicamente do que as baterias de lítio, segundo os pesquisadores
Fonte: Ciclovivo
Você já se perguntou por que não existem aviões comerciais elétricos sem combustível? Se você tentar erguer os cerca de 250 kg da bateria de um carro elétrico com as próprias mãos, provavelmente encontrará a resposta. As baterias tradicionais precisam de grandes quantidades de barras de chumbo e também de água, que por si só é pesada. Além disso, essa água pode congelar nas baixas temperaturas das grandes altitudes. Parece inviável se o objetivo é levantar voo.Por isso, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e do programa de pós-graduação em Tecnologia Nuclear da USP criaram uma nova tecnologia para baterias, detalhada no Journal of Energy Storage, que viabiliza o armazenamento de energia em um dispositivo mais leve e sem os riscos de explosão ou congelamento.
A nova bateria é muito mais viável ecologicamente do que as baterias de lítio e 20 vezes mais leve que uma pilha de chumbo convencional. A invenção também pode funcionar em temperaturas extremas, inviáveis para as baterias encontradas hoje no mercado.
O dispositivo combina duas novidades da engenharia: as nanopartículas de chumbo, uma reinvenção em formato flexível dos eletrodos mais antigos - de quando o lítio ainda não dominava o mercado -, e uma membrana muito leve e compacta que substitui a água de uma pilha comum.
Em vez de grandes cápsulas rígidas, o novo sistema se apresenta como uma fita flexível capaz de armazenar mais energia em um espaço muito menor. Isso é possível porque a área de contato do eletrodo, o chumbo partido em milhões de pedacinhos, é muito maior que a de uma barra.
Chumbo versus lítio
Os pesquisadores apontam que embora o chumbo tenha sido abandonado nos últimos anos, é um material muito mais seguro, fácil de ser reciclado e abundante que o lítio, usado nas cargas de celulares, computadores e carros modernos. "Já existem indústrias de reciclagem de chumbo; de lítio ainda não são comuns. As baterias de lítio se acumulam nos lixos eletrônicos e ‘se reza’ para não pegar fogo”, avalia Rodrigo Fernando Brambilla de Souza, pesquisador a frente do trabalho.
Para funcionar como pilha, o lítio precisa do cobalto, cuja mineração causa um enorme impacto no meio ambiente. "Há poucas reservas de cobalto na América do Sul e na África, que estão se esgotando, e é difícil de reaproveitar porque há o risco de incêndio ao abrir a bateria e tentar reaproveitar o material”, explica ele.
Segundo Almir de Oliveira Neto, pesquisador do Ipen e orientador no programa de Tecnologia Nuclear da USP, as baterias de lítio surgiram por serem mais leves do que as de chumbo, o que deixa de ser uma vantagem com a nova invenção brasileira. "A partir do momento que você diminui o peso dessas baterias, elas podem ser aplicadas em outros dispositivos que não eram pensados anteriormente”. Isso inclui toda sorte de celulares, computadores e outros dispositivos eletrônicos.
Embora o chumbo seja usado em baterias há mais de 150 anos, ainda existe muito a ser extraído e o que já foi retirado pode ser facilmente reciclado. "Nossa proposta precisa de menos chumbo por bateria. Isso a torna bem mais sustentável”, relata Rodrigo de Souza.
Versatilidade e segurança
As baterias são a fonte mais popular de energia móvel, embora já existam alternativas. Uma grande vantagem da tecnologia brasileira é a leveza e a flexibilidade.
Além disso, o novo modelo de armazenamento de energia funcionaria praticamente da mesma maneira tanto no nível do mar quanto em um satélite, o que aumenta a segurança, segundo Rodrigo.
"Uma bateria de lítio em uma temperatura muito alta pode vir a explodir. Uma bateria de chumbo ou de níquel-cádmio tem problemas ou não funciona de forma adequada em temperaturas muito abaixo de zero porque a água congela, e essa não tem água.” A bateria brasileira pode operar em temperaturas que vão de -20ºC até cerca de 120ºC.
De acordo com Edson Pereira Soares, especialista em baterias do Ipen que trabalhou no projeto, os novos recursos nos automóveis sempre vêm acompanhados pelo aumento do peso das baterias, mesmo em veículos a combustão. "Se aumentar a autonomia do veículo, vai ter que aumentar o dispositivo de geração de energia, que ainda corre o risco de promover a explosão e o incêndio”. Em dispositivos de chumbo, não há esse perigo, segundo Almir.
A matéria completa de Ivan Conterno do Jornal da USP explica como funciona a nova bateria com nanopartículas de chumbo - veja aqui.
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- 08/05/2024 - IPEN e USP, desenvolvem baterias leves para futuros aviões elétricosCarros elétricos são comuns, mas aviões elétricos não. diante disso, pesquisadores do IPEN e da USP criaram baterias de chumbo inovadoras.
Carros elétricos são comuns, mas aviões elétricos não. diante disso, pesquisadores do IPEN e da USP criaram baterias de chumbo inovadoras.
Fonte: Engenharia éSe a presença de carros elétricos nas garagens já é uma realidade, por que ainda não vemos aviões voando com essa mesma energia? A resposta reside, em grande parte, na questão do armazenamento de energia, evidenciada pela dificuldade de manipular as cerca de 250 kg de uma bateria de carro elétrico.Além disso, as baterias convencionais enfrentam desafios como a necessidade de água, um componente pesado e suscetível a congelamento em altitudes elevadas.Diante desses obstáculos, pesquisadores do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e da USP (Universidade de São Paulo) desenvolveram uma tecnologia inovadora para baterias à base de chumbo, oferecendo um armazenamento de energia mais leve e seguro, sem os riscos de explosão ou congelamento.Apesar do uso de chumbo, essa nova bateria se destaca ecologicamente em relação às baterias de íons de lítio, sendo 20 vezes mais leve do que as baterias de chumbo convencionais encontradas em carros a combustão. Além disso, sua versatilidade permite operar em temperaturas extremas, algo inviável para as baterias disponíveis no mercado atualmente.Aprimorando a tecnologia de baterias de chumboEssa nova bateria resulta da combinação de duas inovações de engenharia: o chumbo em forma de nanopartículas, uma reinvenção dos eletrodos utilizados anteriormente, e uma membrana extremamente leve e compacta que substitui a água presente nas baterias convencionais.Ao invés de grandes estruturas rígidas, o sistema se apresenta como uma fita flexível capaz de armazenar mais energia em um espaço significativamente menor. Isso se deve à ampliação da área de contato do eletrodo, que, ao ser dividido em milhões de nanopartículas de chumbo, aumenta consideravelmente essa área.Apesar do declínio no uso do chumbo, este material é mais seguro, facilmente reciclável e abundante em comparação com o lítio, frequentemente utilizado em baterias modernas. Além disso, as baterias de lítio têm sido associadas a problemas de reciclagem e dependem do cobalto, cuja extração causa impactos ambientais significativos.Potencial para diversas aplicaçõesAo reduzir o peso das baterias, abre-se um leque de possibilidades de aplicação em dispositivos antes não considerados, como celulares, computadores e outros aparelhos eletrônicos.A tecnologia combina nanopartículas de chumbo, com dimensões de 35 nanômetros de comprimento por 5 nanômetros de espessura, depositadas sobre uma camada de carbono e sustentadas por uma membrana plástica compacta. Isso resulta em uma célula a combustível PEM (membrana de troca de prótons), onde os prótons de hidrogênio se deslocam do polo negativo para o positivo através da membrana.Essa abordagem elimina a necessidade de água, substituída pela membrana plástica, e aumenta a capacidade de armazenamento de energia da bateria como um todo. Além disso, a flexibilidade do eletrodo de chumbo permite sua adaptação a diversas superfícies, tornando a bateria mais versátil.Um avanço globalEssa pesquisa representa um avanço significativo no cenário global, pois nos últimos anos os progressos em baterias de chumbo haviam se limitado a aditivos para reduzir a formação de crostas nos eletrodos convencionais.Os protótipos desenvolvidos têm aproximadamente 5 cm2 de área e uma espessura de 1,2 milímetro, mas a tecnologia pode ser facilmente escalonada. Além disso, essas baterias brasileiras são capazes de operar em uma ampla faixa de temperaturas, de -20 ºC a cerca de 120 ºC, e demonstraram estabilidade em testes de 500 ciclos de carga e descarga. -
- 07/05/2024 - Brasileiros criam bateria elétrica leve, flexível e sustentávelO novo tipo de bateria de chumbo, que usa nanotecnologia aliada a células de hidrogênio, foi totalmente desenvolvido no Centro de Células a Combustível e Hidrogênio do Ipen, em São Paulo
O novo tipo de bateria de chumbo, que usa nanotecnologia aliada a células de hidrogênio, foi totalmente desenvolvido no Centro de Células a Combustível e Hidrogênio do Ipen, em São Paulo
Fonte: Jornal da USP
Você já se perguntou por que não existem aviões comerciais elétricos, sem combustível? Se você tentar erguer os cerca de 250 kg da bateria de um carro elétrico com as próprias mãos, provavelmente encontrará a resposta. As baterias tradicionais precisam de grandes quantidades de barras de chumbo e também de água, que por si só é pesada. Além disso, essa água pode congelar nas baixas temperaturas das grandes altitudes. Parece inviável se o objetivo é levantar voo.
Por isso, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e do programa de pós-graduação em Tecnologia Nuclear da USP criaram uma nova tecnologia para baterias, detalhada no Journal of Energy Storage, que viabiliza o armazenamento de energia em um dispositivo mais leve e sem os riscos de explosão ou congelamento.
A nova bateria é muito mais viável ecologicamente do que as baterias de lítio e 20 vezes mais leve que uma pilha de chumbo convencional. A invenção também pode funcionar em temperaturas extremas, inviáveis para as baterias encontradas hoje no mercado.
O dispositivo combina duas novidades da engenharia: as nanopartículas de chumbo, uma reinvenção em formato flexível dos eletrodos mais antigos — de quando o lítio ainda não dominava o mercado —, e uma membrana muito leve e compacta que substitui a água de uma pilha comum.
Em vez de grandes cápsulas rígidas, o novo sistema se apresenta como uma fita flexível capaz de armazenar mais energia em um espaço muito menor. Isso é possível porque a área de contato do eletrodo, o chumbo partido em milhões de pedacinhos, é muito maior que a de uma barra.
Sustentabilidade
Embora o chumbo tenha sido abandonado nos últimos anos, é um material muito mais seguro, fácil de ser reciclado e abundante que o lítio, usado nas cargas de celulares, computadores e carros modernos. "Já existem indústrias de reciclagem de chumbo; de lítio ainda não são comuns. As baterias de lítio se acumulam nos lixos eletrônicos e se reza para não pegar fogo”, avalia Rodrigo Fernando Brambilla de Souza, pesquisador a frente do trabalho.
Para funcionar como pilha, o lítio precisa do cobalto, cuja mineração causa um enorme impacto no meio ambiente. "Há poucas reservas de cobalto na América do Sul e na África, que estão se esgotando, e é difícil de reaproveitar porque há o risco de incêndio ao abrir a bateria e tentar reaproveitar o material”, explica ele.
Segundo Almir de Oliveira Neto, pesquisador do Ipen e orientador no programa de Tecnologia Nuclear da USP, as baterias de lítio surgiram por serem mais leves do que as de chumbo, o que deixa de ser uma vantagem com a nova invenção brasileira. "A partir do momento que você diminui o peso dessas baterias, elas podem ser aplicadas em outros dispositivos que não eram pensados anteriormente”. Isso inclui toda sorte de celulares, computadores e outros dispositivos eletrônicos.
Embora o chumbo seja usado em baterias há mais de 150 anos, ainda existe muito a ser extraído e o que já foi retirado pode ser facilmente reciclado. "Nossa proposta precisa de menos chumbo por bateria. Isso a torna bem mais sustentável”, relata Rodrigo de Souza.
Versatilidade e segurança
As baterias são a fonte mais popular de energia móvel, embora já existam alternativas. Uma grande vantagem da tecnologia brasileira é a leveza e a flexibilidade.
Além disso, o novo modelo de armazenamento de energia funcionaria praticamente da mesma maneira tanto no nível do mar quanto em um satélite, o que aumenta a segurança, segundo Rodrigo. "Uma bateria de lítio em uma temperatura muito alta pode vir a explodir. Uma bateria de chumbo ou de níquel-cádmio tem problemas ou não funciona de forma adequada em temperaturas muito abaixo de zero porque a água congela, e essa não tem água.” A bateria brasileira pode operar em temperaturas que vão de -20ºC até cerca de 120ºC.
De acordo com Edson Pereira Soares, especialista em baterias do Ipen que trabalhou no projeto, os novos recursos nos automóveis sempre vêm acompanhados pelo aumento do peso das baterias, mesmo em veículos a combustão. "Se aumentar a autonomia do veículo, vai ter que aumentar o dispositivo de geração de energia, que ainda corre o risco de promover a explosão e o incêndio”.
Em dispositivos de chumbo, não há esse perigo, conta Almir. "A bateria de chumbo é a mais confiável de todas”.
Como funciona
As células com inúmeras nanopartículas de chumbo ficam sobre uma camada de carbono. A corrente elétrica caminha pelo carbono na parte exterior, que nos testes se mostrou estável por 500ciclos de carga e descarga.
Esses micro pedacinhos de chumbo têm 35 nanômetros de comprimento e 5 nanômetros de espessura. Isso é muito menor que um grão de poeira e até difícil de imaginar, já que um nanômetro equivale a um milímetro dividido por 1 milhão de partes iguais.
Em uma membrana plástica compacta chamada célula a combustível PEM (proton-exchange membrane) ficam grudadas uma célula positiva de um lado e uma negativa do outro. As partículas positivas (prótons de hidrogênio) caminham do polo negativo para o positivo através dessa membrana. Ela substitui a água que seria usada em uma pilha comum. "As células de chumbo são condicionadas para que uma vire o polo positivo e outra, negativo”, explica Rodrigo.
O eletrodo de chumbo passa a ter uma área de contorno da superfície maior quando está dividido. É nessa área exposta que ocorrem as trocas de prótons. Por isso, esse fracionamento do chumbo aumenta a capacidade de armazenamento de energia da bateria como um todo. Se fossem barras, somente a parte de fora seria aproveitada. Também por serem pedacinhos muito pequenos, o eletrodo pode ser dobrado e adaptado a qualquer superfície.
A pesquisa representa um salto de qualidade pois, nos últimos dez anos, os únicos avanços com baterias de chumbo tinham sido aditivos para diminuir o acúmulo de crostas nos eletrodos convencionais.
Quem se interessa por química percebe que a equação usada nessa bateria é parecida com o que se vê na escola. A única diferença é a estrutura, como explica Victória Amatheus Maia, aluna de doutorado do Programa de Tecnologia Nuclear e responsável pela obtenção das nanofolhas de chumbo.
"É uma membrana polimérica que vai servir para levar os compostos de hidrogênio. Os elétrons passam por fora, um circuito elétrico onde a energia é utilizada, enquanto por dentro da membrana vai o próton. Tem os eletrodos, cátodo e ânodo, como se fosse uma pilha convencional”.
Cada célula do protótipo tem aproximadamente 5 cm² e espessura de 1,2 milímetros. Variações e peças muito maiores já podem ser feitas, o que só depende de mais investimento. "Variando a proporção de chumbo e carbono é possível obter outros armazenadores de energia, que vamos abordar em outros trabalhos”, adianta Rodrigo aos interessados.
Mais informações: e-mails aolivei@ipen.br, com Almir de Oliveira Neto; epsoares@ipen.br, com Edson Pereira Soares; souza.rfb@gmail.com, com Rodrigo Fernando Brambilla de Souza; victoriamaia13@gmail.com, com Victoria Amatheus Maia
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- 07/05/2024 - Tratamento com plasma em filmes semicondutores pode melhorar produção de hidrogênioExperimento de pesquisadores do CDMF e do CINE modifica material para ser utilizado na divisão da molécula de água com energia solar
Experimento de pesquisadores do CDMF e do CINE modifica material para ser utilizado na divisão da molécula de água com energia solar
Fonte: Agência FAPESP
Pesquisa do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) e do Centro de Inovação em Novas Energias (CINE) descreveu uma abordagem inovadora de tratamento com plasma para filmes de tri-seleneto de antimônio que tornou hidrofílica sua superfície normalmente hidrofóbica, propriedade física de uma molécula que é aparentemente repelida pela água.
O material tem propriedades que o credenciam para ser utilizado como fotocatodo para geração de gás hidrogênio pelo método de divisão de molécula de água com energia solar. Mas a hidrofobia da superfície do tri-seleneto de antimônio prejudica seu desempenho na célula fotoeletroquímica, diminuindo sua capacidade de transformar energia luminosa em energia química. Obter hidrogênio com energia solar é importante porque esse gás é um forte candidato à produção de energia elétrica no futuro, inclusive em veículos.
O CDMF é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP sediado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e o CINE é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) apoiado pela FAPESP e Shell.
No experimento, os pesquisadores utilizaram plasma de nitrogênio e de oxigênio para aumentar a molhabilidade (a capacidade de um líquido se manter em contato com a superfície) do material e, dessa forma, aumentar sua fotoeletroatividade na reação de desprendimento de hidrogênio. A pesquisa traz, assim, uma nova estratégia possível para melhorar a molhabilidade de semicondutores.
O estudo foi detalhado no artigo "Plasma treatment of electrodeposited Sb2Se3thin films for improvement of solar-driven hydrogen evolution reaction, publicado no períodico Chemical Engineering Journal.
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- 06/05/2024 - IPEN descontamina material documental do INPE/MCTI por processo de irradiaçãoO Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), unidade do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), identificou recentemente que grande parte da Massa Documental Acumulada (MDA) do Serviço de Administração de Cachoeira Paulista (SEACP), unidade localizada em Cachoeira Paulista - SP, havia sido contaminada por roedores.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), unidade do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), identificou recentemente que grande parte da Massa Documental Acumulada (MDA) do Serviço de Administração de Cachoeira Paulista (SEACP), unidade localizada em Cachoeira Paulista - SP, havia sido contaminada por roedores.
Fonte: INPE
A Comissão Permanente de Avaliação de Documentos e Acesso à Informação do INPE (CPADAI/INPE) entrou em contato com o Centro de Tecnologias das Radiações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) solicitando o uso do Irradiador Multipropósito Cobalto-60, sem custo para o INPE, com o objetivo de desinfestar e reduzir a carga bacteriana do material documental.
O tratamento realizado consiste em irradiar os materiais infestados, promovendo a descontaminação dos documentos, permitindo que o material seja manuseado sem colocar em risco a saúde dos funcionários. Nesse procedimento não há resíduo radioativo, após passar pelo processo de higienização, o material fica disponível para manuseio sem necessidade de passar por período de quarentena.
A documentação contaminada foi armazenada em 55 caixas e encaminhada para o IPEN em São Paulo - SP nos dias 16 e 17 de abril de 2024. A documentação recebeu a radiação e retornou à Unidade do INPE em Cachoeira Paulista, onde passará pelo processo de higienização por empresa especializada contratada.
A CPADAI/INPE e o SEACP do INPE agradecem o CETER/IPEN pela colaboração prestada no uso do Irradiador Multipropósito de Cobalto-60, que muito irá contribuir para a recuperação, tratamento e preservação da Massa Documental desta instituição.
Comissão Permanente de Avaliação de Documentos e Acesso à Informação do INPE (CPADAI/INPE)
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- 05/05/2024 - USP lança a campanha 'Vamos Ajudar as Vítimas das Enchentes no RS'Campanha conta com a parceria da Unesp, Unicamp, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFMUSP) e Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp)
Campanha conta com a parceria da Unesp, Unicamp, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HCFMUSP) e Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp)
Fonte: Jornal da USP
A USP, em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) e a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp), está arrecadando água potável e material de limpeza, como água sanitária, sabão em pó, panos de chão e desinfetante, para a população do Estado do Rio Grande do Sul, que enfrenta a pior enchente de sua história. Alunos, professores, servidores técnicos e administrativos da Universidade e a comunidade em geral podem fazer suas doações.
Na USP, a campanha "Vamos Ajudar as Vítimas das Enchentes no RS” está sendo feita em todos os campi da Universidade e o material deverá ser arrecadado até a próxima quarta-feira, dia 8 de maio, quando será encaminhado para a Defesa Civil do Estado de São Paulo, que levará os produtos arrecadados até o RS.
"É importante pensarmos no papel da limpeza de hospitais e locais públicos após as águas baixarem. Em uma situação dessas, é essencial atuar para evitar surtos de doenças transmissíveis entre a população”, destaca o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior.
Também é possível que as doações, em qualquer valor, sejam feitas via pix pelo e-mail pixfsantander@fusp.org.br
A Fusp doará o equivalente ao valor arrecadado, até o total de R$ 200 mil. Na quarta-feira, dia 8, no final da tarde, as doações via pix serão transformadas em produtos.
Locais de entrega das doações na USP
- No campus da USP no Butantã, as doações podem ser feitas no galpão da Incubadora USP/Ipen, próximo ao Hospital Universitário (Av. Prof. Ernesto de Moraes Leme, 400). O local estará aberto 24 horas.
- No Quadrilátero Saúde/Direito: na Escola de Enfermagem (EE) há um ponto de coleta próximo à entrada do prédio principal; na Faculdade de Medicina, a coleta é feita em frente à Comissão de Benefícios (CBSS).
- Em Bauru, os produtos podem ser entregues nas portarias 1 e 2 de veículos; portaria social da FOB; Centro Cultural; Portaria da Triagem/Urgência; Clínica de Fonoaudiologia; Pós-Graduação; Corredores Inferiores da FOB (piso pedra portuguesa); Ginásio de Esportes; Portaria Interna FMBRU/HRAC/HC Bauru e Superintendência do HRAC-USP.
- Em São Carlos, os locais que recebem as doações são no térreo do edifício E1 (Espaço Primavera da EESC), na área 1; e no CAD, na área 2 do campus.
- A Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz” (Esalq), em Piracicaba, disponibilizou o Edifício Central para receber as doações.
- No campus de Lorena, as doações podem ser deixadas na sala próxima ao anfiteatro na área 1 e, na área II, as doações podem ser deixadas na Gerência (Demar), ao lado da Secretaria do Departamento.
- No Campus Fernando Costa, em Pirassununga, são cinco locais para a entrega: Edifício João Soares Veiga; Prédio Central; Centro de Vivência; Departamento de Engenharia de Alimentos (ZEA) e Departamento de Medicina Veterinária (ZMV).
- Em Ribeirão Preto, as doações podem ser entregues nas Unidades de Ensino e Pesquisa e no prédio da Administração da Prefeitura do Campus.
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- 02/05/2024 - Decisão da ANVISA retoma o risco de desabastecimento de radiofármacos usados para tratamentos e diagnósticos em medicina nuclearFonte: Petronotícias
O Brasil sofre há anos de um problema crônico em um dos pilares de seu sistema de saúde: o abastecimento de radiofármacos. Esses medicamentos são usados não apenas no diagnóstico, mas também no tratamento de graves doenças, sobretudo o câncer. Apesar da flexibilização do monopólio estatal para a produção de radiofármacos de meia-vida longa (maior que duas horas), promulgada em abril de 2022, existem condições no Brasil que ainda impedem o pleno abastecimento do mercado nacional. Há amarras que impossibilitam a entrada de investimentos privados no setor e, com isso, quem acaba sofrendo são aqueles que estão na ponta da linha – os pacientes. Recentemente, um novo imbróglio envolvendo uma decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) trouxe mais uma dor de cabeça para o segmento de medicina nuclear no Brasil. Segundo especialistas, a medida coloca em xeque a importação de radiofármacos e, consequentemente, a segurança no abastecimento desses produtos no Brasil.
Para entender a situação, o Petronotícias convida seus leitores para uma rápida retrospectiva. Vamos voltar ao ano de 2021, quando a pandemia de covid-19 ainda atormentava o país. Em virtude da situação sanitária e de todas as restrições de logística de transporte naquela época, a importação de radiofármacos para o Brasil ficou prejudicada. Outro problema naquele período era a situação econômica do Instituto de Pesquisa Energéticas e Nucleares (IPEN) que chegou a paralisar sua produção de radiofármacos em 2021 por falta de recursos.
Uma solução temporária encontrada naquele período veio da Anvisa, que editou a Resolução da Diretoria Colegiada 567 – também chamada de RDC da Excepcionalidade. A norma trouxe os critérios e procedimentos para importação de alguns radiofármacos que ainda não possuem registro na Anvisa, em caráter de excepcionalidade. Os medicamentos autorizados no texto podem ser importados por órgãos e entidades públicas e por pessoas jurídicas de direito privado, incluindo os estabelecimentos e serviços de saúde. A validade da RDC já foi ampliada diversas vezes e, no último mês de março, a diretoria da Anvisa prorrogou, com alterações, a vigência do documento até março de 2025.
Juntamente com essa prorrogação de prazo, a agência alterou a lista de radiofármacos que podem ser importados por meio da RDC da Excepcionalidade. Além de ter retirado alguns medicamentos da relação, ela deixou de incluir outros. É importante lembrar que a resolução foi editada pela primeira vez em 2021. Desde então, novos radiofármacos surgiram no mercado – e há demanda por esses produtos no Brasil. A diretora da empresa Theia Nuclear, Ana Celia Sobreira, lembra do caso do medicamento Trodat, que é usado para diagnosticar Parkinson e outras doenças neurodegenerativas. "Mantida a lista como está, apenas uma empresa pode oferecê-lo, acobertada por uma liminar judicial. É um produto cuja demanda está bem elevada”, explicou.
A especialista mostra preocupação também com a exclusão de um dos produtos da lista da RDC da Excepcionalidade, o iodo-131, usado para diagnóstico e terapia de câncer de tireoide. "Segundo as projeções do mercado, o IPEN deveria suprir o país com aproximadamente 100Ci de iodo-131 semanalmente para atender à demanda. Atualmente, o IPEN está fornecendo entre 40 e 45 Ci, o que já evidencia uma defasagem significativa em relação à necessidade do mercado”, alertou. Há registros também de atrasos e redução de atividades em geradores de tecnécio-99m.
Ana Celia lamenta que a Anvisa tomou as decisões sem ouvir amplamente o mercado. De acordo com ata da reunião da diretoria da agência, apenas o IPEN e duas empresas privadas foram consultadas sobre a possibilidade de abastecerem o mercado. "A Anvisa deveria ter envolvido não apenas algumas empresas privadas, mas também a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear e a Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN) em suas deliberações. A inclusão de todas as partes interessadas ou de suas representações garantiria uma abordagem mais abrangente e equitativa no processo de tomada de decisões”, disse Ana Celia.
Além do iodo-131, o chamado Gerador de Tecnécio-99mtambém foi retirado da lista de excepcionalidade da RDC, reduzindo para dois o número de fornecedores desse produto no país – o IPEN e uma empresa privada.
O que dizem os agentes envolvidos
Em nota, a Anvisa explicou os motivos que a levaram a reduzir o número de radiofármacos que poderiam ser importados por meio da RDC da Excepcionalidade. Em nota encaminhada ao Petronotícias, a entidade disse que a resolução foi editada "para enfrentamento de situação de urgência, num contexto de escassez e constatada falta de radiofármacos provocada pela suspensão de fabricação pelo IPEN”. A agência acrescentou que a recente alteração prorrogou, uma vez mais, a vigência da RDC restringindo a excepcionalidade àqueles fármacos cujo risco de falta de abastecimento ainda enseja motivo de preocupação.
A Anvisa alegou ainda que "é fundamental priorizar o marco regulatório vigente para o registro, notificação, importação e controle de qualidade de radiofármacos – RDC nº 738/2022, que assegura a avaliação de qualidade, segurança e eficácia desses medicamentos”. E segue explicando que "as situações nas quais as medidas de flexibilização e/ou dispensa desses requisitos sejam estritamente necessárias, devem ser conduzidas em caráter excepcional e temporário”. Por esse motivo, a agência disse que retirou alguns dos produtos da lista de radiofármacos inclusos na RDC.
Sobre a situação do fornecimento de iodo-131, a agência afirmou que fez um levantamento de dados pela área de Portos, Aeroportos e Fronteiras (GGPAF) sobre as importações de radiofármacos e que não teria constado a importação desse produto utilizando a RDC n° 567/2021. "Ademais, verificou-se que o mercado estava abastecido para esse produto, uma vez que a sua fabricação foi reativada pelo IPEN, que é o maior fornecedor nacional e declarou suficiência para fornecimento de iodo”, justificou. Aqui, cabe lembrar ao leitor que o IPEN não produz o iodo-131. Ele importa, fraciona e distribui no mercado, sem o ônus do recolhimento de impostos. Da mesma forma, empresas privadas podem importar e entregar para o mercado a forma final do produto, sem manipulação.
O Petronotícias também questionou a Anvisa sobre o fato de não ter consultado amplamente o mercado sobre as mudanças na RDC. A agência disse que foram consultadas todas as empresas fabricantes dos produtos que ensejavam alguma preocupação quanto ao abastecimento. Declarou ainda que houve a consulta ao Instituto Nacional de Câncer (INCA) e a diversas áreas internas da Anvisa com capacidade para contribuir com o tema.
A nota da agência não explica, porém, porque não foram ouvidas entidades associativas do setor, que certamente poderiam contribuir para o debate. No mercado de medicina nuclear, a avaliação é de que o fato de a Anvisa não ter consultado todas as empresas que poderiam entregar iodo-131, outros radioisótopos e radiofármacos e ter consultado somente a GGPAF, pode ter deixado uma lacuna na informação, tendo em vista que empresas privadas poderiam estar se adequando para realizar a importação.
Procurada, a CNEN/IPEN ainda não havia enviado seu posicionamento até o momento da última edição desta reportagem. O espaço segue aberto para a entidade manifestar-se sobre a atual situação do abastecimento de radiofármacos no Brasil.
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- 24/04/2024 - Pesquisadores do IPEN/CNEN utilizam a arquitetura de células a combustível para inovar e aprimorar baterias de chumboO estudo, em fase de geração de patente, fornece insights sobre síntese, desempenho e perspectivas de uma nova arquitetura de bateria de chumbo-carbono, que pode revolucionar o domínio das soluções para armazenamento de energia
O estudo, em fase de geração de patente, fornece insights sobre síntese, desempenho e perspectivas de uma nova arquitetura de bateria de chumbo-carbono, que pode revolucionar o domínio das soluções para armazenamento de energia
Fonte: Jornal da Ciência
Imagine uma bateria automotiva com tamanho 90% menor e 20 vezes mais leve, mas com desempenho superior ao das atuais existentes no mercado hoje. Esta é uma das novidades que um grupo de pesquisadores do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) acaba de divulgar e que pode revolucionar o mercado de baterias de chumbo: uma bateria construída a partir da tecnologia de células a combustível com nano tecnologia.
O estudo, publicado em artigo no Jornal of Energy Storage, uma das revistas mais relevantes no meio energético internacional, e com a intenção de solicitação de patente já iniciada, explora a integração inovadora de uma bateria de chumbo-carbono com um conjunto eletrodo-eletrólito inspirado na arquitetura de uma célula a combustível de membrana de troca de prótons (PEM-FC), a mesma tecnologia aplicada nas modernas células a combustível de hidrogênio e outros materiais.
Unidade técnico-científica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), localizada no campus da USP, em São Paulo, o IPEN tem excelência reconhecida na área de células a combustível e hidrogênio. Os resultados dessa pesquisa são mais um exemplo da expertise do Centro de Células a Combustível e Hidrogênio (CECCO) do Instituto.
Essa pesquisa envolveu outro Centro de referência do IPEN, o de Ciências e Tecnologia Nuclear (CECTM/IPEN). Os cientistas explicaram que o chumbo-carbono foi sintetizado pelo método de aquecimento e redução pelo efeito Joule – fenômeno físico que transforma energia elétrica em calor por meio da passagem de elétrons e agitação dos átomos –, o que permitiu a criação de uma bateria de chumbo superior às convencionais, com tamanho reduzido em 90% e 20 vezes mais leve.
Segundo Rodrigo Fernando Brambilla de Souza, pesquisador pós-doc no CECCO/IPEN, com experiência na área de química, enquanto o mercado aguarda a popularização das células a combustível, as baterias continuam a ser a principal fonte de energia móvel.
"As baterias de lítio, apesar de sua popularidade, causam um impacto ambiental significativo devido à mineração extensiva de cobalto e lítio. Nosso grupo de pesquisa no IPEN está reavaliando a bateria de chumbo-ácido e integrando as tecnologias desenvolvidas para as células a combustível, visando chegar a baterias de chumbo-ácido mais leves e flexíveis, e assim oferecer uma alternativa sustentável. Em nosso trabalho (https://doi.org/10.1016/j.est.2024.111418), apresentamos uma abordagem que combina três pilares: materiais avançados, design modular e flexível e tecnologia embarcada inteligente. Acreditamos que as baterias de chumbo-ácido reinventadas podem oferecer uma solução mais sustentável e acessível para a demanda por energia móvel”, conclui.
Aplicabilidades
A bateria de ácido-chumbo-carbono (CLAB) desenvolvida em laboratório surpreendeu os pesquisadores ao demonstrar uma alta capacidade específica. Graças à incorporação de carbono, os resultados apresentaram melhora na estabilidade das nanopartículas, proporcionando um desempenho altamente estável ao longo de muitos ciclos de carga e descarga com variações potenciais de descarga abaixo de 2%, ou seja, resultados bem superiores ao modelo de baterias de chumbo convencionais.
Esse inovador conjunto CLAB não apresenta apenas um desempenho estável, mas também um grande potencial para a construção de baterias de chumbo flexíveis, expandindo as possibilidades de aplicações da nova tecnologia.
Segundo o pesquisador Edson Pereira Soares, pós-doc no CCTM/IPEN, a publicação em formato de short comunication, ou seja, trabalho com um tema relevante no meio acadêmico e com a descoberta ainda não explorada na literatura, significa que o grupo está lançando uma ideia para o mundo científico e que outros pesquisadores podem aplicar e experimentar a descoberta.
Soares destaca ainda que o mais interessante no trabalho é que eles conseguiram construir um material armazenador de energia com uma propriedade que, a depender de como o dispositivo for montado, ele pode variar desde um capacitor, tornar-se um super capacitor e chegar a uma bateria de armazenamento de energia.
"Os estudos preliminares mostram que esse material possuí uma faixa muito grande de aplicação. Outros pesquisadores vão poder comprovar isso. Eles vão perceber que, utilizando os materiais estudados, existe uma variedade de aplicações no ganho e no armazenamento de energia, não só em baterias, mas em materiais leves, que podem servir tanto para a indústria de defesa, aeroespacial e automobilística quanto a indústria de eletroportáteis”, avalia Soares.
Inovação com PEM-FC
A tecnologia de baterias convencionais de chumbo-ácido (LAB), embora originada na segunda metade do século XIX, continua a desempenhar um papel importante no mercado global de baterias recarregáveis, amplamente utilizada nos setores automotivo e industrial devido às suas características de baixo consumo, custo, processos de fabricação maduros e reciclagem sustentável. No entanto, para novas aplicações que exigem um estado de carga parcial de alta taxa, como em veículos híbridos e aplicações específicas de armazenamento de energia na rede, o desempenho e a vida útil da bateria de chumbo-ácido convencionais são significativamente limitados devido ao desgaste e à sulfatação (sulfato de chumbo) das baterias.
A construção da bateria chumbo-carbono usando a arquitetura com membrana polimérica demonstrou ser promissora devido à estabilidade significativa apresentada durante os testes. A incorporação de carbono na estrutura de chumbo não só melhorou a estabilidade das nanopartículas, como também resultou num desempenho altamente estável da bateria. Além disso, o conjunto CLAB oferece potencial para a construção de baterias de chumbo flexíveis, ampliando assim o escopo de aplicações tecnológicas. A integração bem-sucedida da arquitetura PEM-FC na tecnologia CLAB abre caminhos para soluções inovadoras e flexíveis de armazenamento de energia.
Para o pesquisador titular do IPEN/CNEN, Almir Oliveira Neto, especialista nas áreas de físico-química e células à combustível ácidas e alcalinas, a escolha e utilização dos materiais foi o maior insightda pesquisa, pois, nos últimos 15 anos, os estudos se voltaram para o uso de aditivos a fim de diminuir a perda de atividade de uma placa nas baterias convencionais. Ao aplicar outras tecnologias, como as nanopartículas, este problema diminuiu, e então surgiu a possibilidade do desenvolvimento de dispositivos de armazenamento de energia híbridos.
"Hoje, as indústrias buscam um dispositivo que seja uma mistura entre um capacitor e um sistema de armazenamento. Com estes dispositivos híbridos, unindo estas duas funções, o mercado terá uma alta demanda de corrente de entrega e, na hora que você diminui essa demanda, ele passa a operar como uma bateria, com menor aquecimento”, explica Almir Neto.
O desenvolvimento da pesquisa contou com o apoio dos laboratórios: PEM-FC (Proton Exchange Membrane Fuel Cell) – Célula à Combustível de Membrana Polimérica Trocadora de Prótons do CECCO-IPEN e do Laboratório de Microscopia e Microanálise – LMM do CCTM-IPEN.
Célula a combustível PEM-FC
A tecnologia de funcionamento de células a combustível de membrana de troca de prótons (PEM-FC) funciona a partir de um componente principal, uma membrana polimérica que separa os eletrodos e permite a passagem dos prótons (íons) sendo resistente à passagem da corrente elétrica, atuando como eletrólito.A tecnologia aplicada às células de combustível está num estágio de desenvolvimento avançado, pois é reconhecida como a substituta dos motores de combustão interna nos automóveis e ônibus.
O Desafio das Baterias de Chumbo e a Revolução das Nano Partículas
As baterias de chumbo, embora amplamente utilizadas, apresentam limitações significativas em relação a peso e volume, pois são pesadas e ocupam muito espaço. Além disso, os ciclos de vida são limitados, de modo que a vida útil das baterias de chumbo é relativamente curta.
Asnano partículas prometem revolucionar as baterias de chumbo. As partículas ultrafinas de chumbo oferecem vantagens notáveis como o aumento da eficiência, permitindo maior densidade de energia e melhor desempenho.
A redução de tamanho e peso amplia suas aplicações garantindo maior durabilidade uma vez que as nano partículas prolongam a vida útil das baterias. Sem contar o fato de que essa nova tecnologia pode ser considerada mais sustentável e favorável ao meio ambiente.
Ascom Ipen
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- 23/04/2024 - Chamada com UE apoiará pesquisas em ciência e engenharia de materiaisFAPESP lança edital em parceria com a M-ERA.NET, rede financiada pela União Europeia; pré-propostas serão recebidas até 14 de maio
FAPESP lança edital em parceria com a M-ERA.NET, rede financiada pela União Europeia; pré-propostas serão recebidas até 14 de maio
Fonte: Agência FAPESP
A FAPESP anuncia uma nova chamada de propostas de pesquisa com a M-ERA.NET, rede da União Europeia de fomento à pesquisa em ciências e engenharia de materiais.
Esta é a décima oportunidade para pesquisa colaborativa lançada por FAPESP e M-ERA.NET desde que assinaram um acordo de cooperação científica em 2015. O consórcio M-ERA.NET financia projetos de pesquisa e desenvolvimento transnacionais e de alto risco.
A nova chamada de propostas visa fomentar projetos transnacionais ambiciosos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico que abordem estudos e inovação em materiais – incluindo materiais para baterias e tecnologias energéticas com baixo teor de carbono.
A chamada engloba seis temas: "Materiais avançados sustentáveis para energia”, "Superfícies, revestimentos e interfaces inovadoras”, "Compósitos de alto desempenho”, "Materiais funcionais”, "Materiais para solucionar desafios ambientais” e "Materiais de nova geração para eletrônica avançada”.
As submissões deverão seguir as normas e orientações da modalidade Auxílio à Pesquisa Regular. A FAPESP apoiará a parte paulista dos projetos selecionados com um máximo de R$ 150 mil anuais por proposta. As propostas podem ter uma duração mínima de 24 meses e uma máxima de 36 meses.
A chamada está aberta a pesquisadores afiliados a instituições de ensino superior ou pesquisa no Estado de São Paulo. Cada proposta deverá ser composta por um consórcio envolvendo três pesquisadores responsáveis de pelo menos três países diferentes que participem da chamada.
Pré-propostas serão recebidas até 14 de maio. O documento deverá ser enviado tanto via Sistema de Apoio à Gestão (SAGe) pelo Pesquisador Responsável do Estado de São Paulo, quanto via plataforma do M-ERA.NET (disponível no edital original da chamada) pelo pesquisador coordenador do consórcio internacional – que deverá estar cadastrado no SAGe no momento de submissão. Em caso de aceite, pesquisadores serão convidados a enviar a proposta completa até 20 de novembro.
A chamada com orientações aos pesquisadores paulistas está disponível em: fapesp.br/16648.
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- 21/04/2024 - O gás inodoro que está ligado ao aumento do número de casos de câncer de pulmãoA maioria das pessoas desconhece o risco representado pelo radônio em ambientes fechados.
A maioria das pessoas desconhece o risco representado pelo radônio em ambientes fechados.
Fonte: G1Embora, tradicionalmente, o câncer de pulmão seja associado ao tabagismo, entre 15% e 20% dos novos casos diagnosticados atingem pessoas que nunca fumaram, boa parte entre os 40 e 50 anos. Os médicos afirmam que o aumento do número de ocorrências está relacionado a um ilustre desconhecido para a maioria: o gás radônio (símbolo Rn e número atômico 86). Invisível, inodoro e insípido, ele é emitido a partir do chamado decaimento (degradação) radioativo do urânio e do tório, dois elementos presentes em abundância na crosta terrestre.O problema do radônio é ficar confinado em ambientes fechados. Sua presença pode ser causada pelo solo do terreno onde o imóvel foi construído; pela água proveniente de poços rasos ou aquíferos profundos; e até através de materiais de construção, como brita, calcário, areia, terra, mármore e granito. Dos três, o solo subjacente à construção é o maior fator de risco.O tal decaimento radioativo acontece quando isótopos instáveis têm seus núcleos rompidos em razão da instabilidade atômica. O gás formado se desloca para a superfície terrestre e, ao chegar ali, se dispersa naturalmente, não oferecendo riscos à saúde. No entanto, ao ficar confinado num imóvel, torna-se um contaminante letal. O processo de decaimento não para e gera outros elementos radioativos, como o polônio. Ao contrário do radônio, que se encontra em estado gasoso, esse elemento é sólido. As partículas, tão pequenas que não podem ser percebidas a olho nu, são inaladas e aderem aos tecidos dos pulmões.Nos Estados Unidos, estima-se que provoque 21 mil mortes de câncer de pulmão por ano, e um em cada 15 lares tem níveis altos do gás. É bom lembrar que é comum que as casas daquele país tenham porão. A Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency) recomenda vistorias regulares para detectar sua presença e há kits de testes disponíveis em diversos estados. Entretanto, pesquisa realizada pela The Ohio State University revelou que 75% dos norte-americanos não fazem qualquer checagem. "A exposição ao radônio é a principal causa de câncer de pulmão em não fumantes. Os testes são simples, assim como as medidas para corrigir o problema”, afirmou David Carbone, oncologista e professor da universidade. É preciso instalar sistemas para renovar o ar em locais fechados; manter a casa ventilada; e vedar rachaduras nos pisos e paredes.O Brasil ainda não dispõe de dados relacionados à concentração do radônio. Em 2018, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) criou um programa com esse objetivo, com a participação de universidades e institutos de pesquisa. O nome, comprido e em inglês, pode ser traduzido como Programa de Risco do Radônio para o Brasil: mapa de risco de exposição, plano de ação, prevenção e ações de mitigação (Project Radon Risk Programme for Brazil: Exposure Risk Map, Action Plan, Prevention and Mitigation Actions).A assessoria de imprensa do Instituto de Radioproteção e Dosimetria, que integra o consórcio desde 2021, enviou por e-mail resposta sobre o estágio do programa: "o projeto está em andamento, nem todas as amostras foram coletadas e analisadas, e qualquer interpretação ainda é preliminar. Deve-se ter em mente que o Brasil é um país de dimensão continental e um mapeamento deste tipo é um desafio imenso. Com relação às áreas mais expostas, a exposição ambiental (ambientes abertos) não é preocupante do ponto de vista da proteção radiológica; em ambientes fechados (por exemplo, uma residência), não se esperam níveis de exposição altos, devido às características das construções e dos hábitos brasileiros. Cabe ressaltar que hoje o Brasil, através da sua autoridade regulatória nuclear (CNEN), em sua norma básica de Proteção Radiológica, estabelece o nível de referência de 300Bq/m3 para radônio em ambientes fechados. Embora os dados sejam preliminares, as medições realizadas pelo IRD até o momento mostram que as concentrações de atividade se situam abaixo deste nível”. No banco de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), não consta que o país tenha um plano nacional.