Cíclotron já é equipamento hospitalar, mas raramente no Brasil
Fonte: Revista Brasil Nuclear
A medicina nuclear está tão disseminada nos países desenvolvidos que o cíclotron é considerado um equipamento de uso hospitalar. A afirmação é do pesquisador do CNPq, professor associado do Departamento de Radiologia da Universidade Federal Fluminense e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, Dr. Cláudio Tinoco Mesquita, em sua palestra durante a mesa redonda "Novos Radiofármacos e Expansão da Medicina Nuclear no Brasil”, na Inac 2019. Segundo ele, hospitais que utilizam radiotraçadores de meia-vida muito curta são equipados com cíclotrons em seus subsolos, citando o exemplo de um hospital no Norte da Itália que produz e utiliza o radiotraçador Amônia N-13, usado em exames de estresse cardíaco. Por gerar imagens com alto grau de detalhe, esse exame que permite calcular a reserva de fluxo coronariano, que traduz a capacidade do sangue chegar ao coração e que tem uma grande relação com o aumento da mortalidade coronariana.
Depois de informar que esse exame já é realizado no exterior há cerca de
dez, 20 anos, ele lamentou que os pacientes brasileiros não tenham acesso a essa
alternativa. "Hoje, no Brasil, quem está fazendo isso? Ninguém! Isso é muito ruim,
muito sofrido”, desabafou. Ele justificou a denúncia pelo fato da classe médica
querer oferecer esse e outros exames de medicina nuclear a seus pacientes, sem
poder. E conclamou a plateia e o setor a se unirem para viabilizar a produção
desses novos radiotraçadores. "Vocês que são capazes de fazer essa mudança
acontecer”, afirmou.
De acordo com o dr. Tinoco, o PET é o exame de imagem que mais cresce no
mundo, com destaque para a área de cardiologia. Ele deu o exemplo do radiofármaco 18F-fluoreto, muito empregado na oncologia para a identificação de
metástases e que está sendo empregado na cardiologia por sua propriedade
de marcar microcalcificações na parede dos vasos. "Quando o PET com fluoreto
encontra uma captação de fluor na parede do vaso, significa que aquela artéria
tem uma inflamação, que a aterosclerose está no seu processo mais ativo, com risco de ruptura e de infarto”, explicou. Essa capacidade de identificação de placas por parte do 18F-fluoreto foi demonstrada no estudo "18F-Fluoride
PET-CT and the progression of coronary calcification”, realizado pelo Centro de Ciência Cardiovascular da Universidade de Edinburgh, Reino Unido,
apresentado no Congresso Mundial
de Cardiologia, em Paris (algumas semanas antes do Inac 2019). De acordo
com ele, há uma ampla linha de pesquisa sobre o uso do PET com 18F-Fluoreto em cardiologia no exterior,
principalmente na Inglaterra. E informou que pacientes que apresentam
diagnóstico positivo para esse exame
e, portanto, apresentam maior risco
de infarto, recebem medicação preventiva específica.
Ele também citou o pirofosfato, um radiotraçador fabricado pelo IPEN, usado há cerca de 30 anos para diagnóstico de infarto. O pirofosfato foi redescoberto pela cardiologia, entre outros motivos, por sua propriedades em identificar a amiloidose cardíaca, explica ele, acrescentando que o radiotraçador foi tema de seis mesas-redondas no último Congresso Mundial de Cardiologia.