Startups de não alunos faturam até R$ 9 milhões em incubadoras de universidades públicas
Acesso a laboratórios, consultorias e proximidade com grandes empresas são algumas das vantagens desses centros de desenvolvimento empresarial
SÃO PAULO - Muitas instituições de ensino superior públicas mantêm incubadoras de negócios que aceitam projetos de quem não é aluno. O caminho para ingressar nesses centros de desenvolvimento empresarial normalmente é por meio de edital. Mas há universidades que têm processos seletivos contínuos. Projetos de base tecnológica e inovadores são prioridades nas escolhas.
Esses espaços são oportunidades para os empreendedores que não contam com muitos recursos para desenvolverem suas startups. Mensalidades que vão desde R$ 80 para a pré-incubação a até pouco mais de R$ 2 mil, em pós-incubação, são os custos para aproximar as empresas do conhecimento acadêmico e também do mercado e investidores.
"O empreendedor passa a conviver em um ambiente rico em oportunidades", garante o coordenador da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Incamp) em São Paulo, Walter Wascheck Neto. Ele se refere à estrutura oferecida pelas instituições, como laboratórios completos e dedicados, acesso às pesquisas e pesquisadores e baixo custo de manutenção das empresas em relação à instalação fora das incubadoras.
Há outras vantagens que contribuem muito para a evolução dos projetos. A gerente do Centro de Empreendedorismo e Incubação do Programa de Incubação de Empresas (CEI-Proine) da Universidade Federal de Goiás, Emília Rosângela Pires da Silva, destaca os serviços estratégicos de consultorias, capacitações, a rede de contatos e a participação em eventos.
"É vital para alavancagem da empresa nos dois primeiros anos", diz o diretor-executivo do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), Sérgio Risola. O especialista acrescenta que gigantes da tecnologia, como Google e Facebook, sempre ficam de olho nos projetos das incubadoras.
Na mira das grandes
Outra vantagem, pontua Risola, é a busca que as grandes corporações têm feito nas incubadoras de instituições públicas. Isso porque o custo para essas companhias em troca do benefício, muitas vezes, é bem menor ao criar parcerias comerciais com startups do que ao investir em pesquisa e desenvolvimento. Companhias como a General Motors e Mercedes-Benz são exemplos de empresas que têm procurado parceiros dentro do Cietec, revela o especialista.
William Carnicelli é um exemplo de empreendedor que não pertencia ao mundo acadêmico e atingiu resultado relevante dentro de uma incubadora de instituição pública de ensino. Sua empresa, Alpha Br, foi incubada no Cietec. "Ele veio de fora, usou um bocado do conhecimento daqui dentro e, com a Alpha Br, chegou a faturar R$ 9 milhões no ano passado", conta Risola.
A proposta da Alpha Br é desenvolver tecnologia para a produção de fármacos de alto valor agregado. "Com 12 ou 13 pessoas, eles desenvolveram um princípio ativo para um tipo de remédio ansiolítico aqui dentro", resume Risola. A ideia inovadora inicial se transformou em uma solução para que a indústria farmacêutica substitua os gastos e a burocracia da importação.
Custos
Como a Alpha Br, todas as instaladas no Cietec, atualmente 120 empresas, desembolsam, por mês, R$ 600 para pré-incubação. Para a incubação, são no mínimo R$ 2 mil mensais. Quando as companhias são graduadas, ou seja, atingem estágio suficiente para caminhar sem o amparo da incubadora, contribuem com 2% do faturamento pelo mesmo período em que usufruíram dos recursos do centro de fomento.
Risola destaca que há ainda a possibilidade de pós-incubação, para as empresas que já estão graduadas e ainda dependem, de alguma maneira, da estrutura do Cietec. Neste caso, as mensalidades ficam pouco maiores e também há uma alíquota de 2% sobre o faturamento. Ao todo, é possível ficar instalado nas dependências do centro por sete anos.
Na Proine, da UFG, as três fases da incubação custam entre R$ 80 e R$ 561 mensais inicialmente. A incubadora acolhe as startups por até sete anos. Segundo Emília, o processo seletivo também é regido por editais e os projetos devem "estar relacionados com as áreas de atuação da UFG". A instituição de ensino registra 54 empresas incubadas, 24 delas de não alunos.
Na Incamp, 20 projetos foram aprovados para incubação, 15 estão instalados e os demais em fase de formalização. Cinco dessas empresas são de empreendedores de fora da Unicamp, explica Wascheck Neto. Entre elas estão a AiderNano, na área de nanotecnologia, a InovaFI, de tratamento de efluentes gasosos industriais, e a Processium, de processos químicos. O preço para ser incubado varia entre R$ 350 a R$ 750 por mês, diz o coordenador.
O custo é pouco menor para a incubação na Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. A Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Inbatec) cobra mensalidades desde R$ 80, para empresas incubadas em espaços compartilhados,a R$ 200, para locações individuais, tanto para alunos quanto empreendedores de fora.
Há quatro áreas de atuação pré-definidas para as startups, explica a gerente operacional e administrativa da Inbatec, Raphaela Silva Ribeiro: agronegócio, biotecnologia, gestão ambiental e tecnologia de informação. A seleção é realizada mediante edital.
Seleção e áreas de atuação
Na Incubadora de Empresas do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não há vagas neste momento, mas há previsão para novo edital ainda neste mês de agosto, diz a coordenadora, Regina Faria. Ela conta que, normalmente, não há temas definidos, mas a locação "é voltada para empresas inovadoras, de base tecnológica e que tenham potencial de interação com a universidade".
A instituição fluminense acolhe 31 startups. Entre as empresas incubadas na Coppe estão a GT2 Energia, que desenvolve solução robótica para inspeção visual de caldeiras de indústrias, e a Petcell, com o objetivo de ser o primeiro laboratório de células-tronco para uso veterinário no estado.
Na Incubadora de Empresas da Universidade Estadual do Ceará (IncubaUECE), há limites para a participação de projetos inovadores que não sejam de estudantes, destaca a coordenadora executiva, Maria José Barbosa Gomes. As startups ou empresas também podem pertencer a idealizadores não alunos, porém é necessário ter vínculos com as áreas de biotecnologia ou energias renováveis.
A Universidade de Brasília (UnB), com a Multincubadora do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico, e a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), com a Pantanal Incubadora Mista de Empresas (Pime), também aceitam projetos de empreendedores de fora das instituições. Ambas dão prioridade para projetos de base tecnológica.
Pedro Souza