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'Ainda temos muito trabalho a fazer para trazer mais mulheres para cargos de liderança', diz Kalinina-Pohl, expert do CNS

Para a diretora adjunta do Programa de Educação do CNS, o medo de se perder privilégios ainda é muito forte, impede o progresso e dificulta a mudança de paradigma. Educação, divulgação e engajamento são formas de combater esse medo.

Na abertura do "1º Simpósio sobre Não-Proliferação Nuclear e Segurança para Mulheres em STEM na América Latina e Caribe”, realizado entre 19 e 23 de junho, no IPEN, Margarita Kalinina-Pohl fez questão de dizer que não era "doutora”, como a maioria dos presentes no evento. Entretanto, sua reconhecida expertise fez do encontro um dos mais importantes fóruns de diálogos e reflexões sobre a importância da desnuclearização em nível global e o papel das mulheres que atuam em ciência, tecnologia, engenharias e matemática na região, frente a esse cenário. Margarita é diretora do Programa de Segurança CBRN no James Martin Center for Nonproliferation Studies (CNS) no Middlebury Institute of International Studies em Monterey (Califórnia). Ao longo de sua carreira de 24 anos no CNS, ela ocupou vários cargos, incluindo o gerenciamento do CNS Visiting Fellows Program para especialistas em não proliferação e a liderança das atividades de capacitação e treinamento do Centro para vários públicos profissionais internacionais, incluindo professores universitários, jovens profissionais e profissionais nucleares e radiológicos especialistas em segurança. Ela liderou várias iniciativas destinadas a promover e capacitar as mulheres no setor nuclear, como cursos de treinamento para mulheres em STEM na África e o estabelecimento da Rede de Mulheres Nucleares do Mar Negro. Seus interesses de pesquisa atuais incluem vários aspectos da segurança nuclear e radiológica. Ela é autora e co-autora de vários artigos e relatórios abordando problemas de segurança radiológica e questões relacionadas a gênero em campos nucleares.. A seguir, a entrevista concedida após o evento, com um balanço do que foi apresentado e as perspectivas de novas colaborações:

Ao longo do Simpósio, a senhora mencionou a importância de iniciativas que promovam mais liderança feminina na área de não proliferação e segurança nuclear. Você já tem outros eventos voltados para mulheres na América Latina e no Caribe?

Embora tenhamos alcançado progressos visíveis na representação feminina nos campos de não proliferação e segurança nuclear, ainda temos muito trabalho a fazer para trazer mais mulheres para cargos de liderança. Uma maneira de fazer isso é promover políticas no local de trabalho que permitam que as mulheres prosperem. Outra forma é criar oportunidades para as mulheres fora do local de trabalho,que contribuam para o seu desenvolvimento profissional. E é aqui que podemos entrar. Esta foi a nossa primeira experiência na realização do evento especialmente pensado para mulheres da América Latina e Caribe (LAC). No entanto, temos engajado e oferecido oportunidades de treinamento para mulheres da ALC por meio de outros canais, como o Visiting Fellows Program, vários cursos curtos organizados por nosso centro em Monterey (Califórnia), Washington, DC, e nossa afiliada em Viena, Áustria ( Centro de Desarmamento e Não Proliferação de Viena). Na verdade, dois de nossos ex-bolsistas visitantes do México e das Bahamas foram palestrantes no SimpósioNosso Centro também realiza cursos anuais de verão sobre desarmamento e não-proliferação para diplomatas de países da América Latina e do Caribe.

A senhora também afirmou ter aprendidomuito com as experiências apresentadas no Simpósio. O que maisaimpressionou em estar em contato com tantas mulheres interessantes?

Trato nossos eventos como oportunidades de aprendizado não apenas para nosso público, mas também para os organizadores. Pessoalmente, aprendo muito com cada evento que organizo. A semana que passei com os participantes do nossoSimpósio no IPEN foi mais uma grande oportunidade de aprendizado. Em primeiro lugar, aprendi muito sobre como a indústria nuclear brasileira aborda questões relacionadas ao equilíbrio e diversidade de gênero e acho que podemos aprender muito com o seu país. Também quero parabenizar o IPEN por envolver representantes da indústria (a maioria deles mulheres) no Simpósio e organizar um painel inteiro com a participação deles.
A experiência da Dra. Costa [Isolda Costa, diretora do IPEN] foi muito inspiradora e foi muito apropriado ter o Simpósio organizado no IPENdirigido por ela, uma mulher. Ela é um grande modelo. Também gostei de ouvir os relatos da cientista eletronuclear/ex-operadora de reator e da estudante de doutorado sobre suas experiências como mulheres de cor trabalhando e estudando na área nuclear. O que mais me impressionou nessas e em outras histórias foi a resiliência que nossos colegas demonstraram ao superar desafios para atingir seus objetivos e se tornarem profissionais conceituados.

Durante o evento, foi mencionada a possibilidade de um documento, que poderia ser um Guia de Boas Práticas. Os participantes aguardam o aval da organização para planejar este guia.Qualasuaopinião?

Eu acho que é uma ótima ideia! Cabe aos participantes decidir como querem proceder, mas seria bom ter uma organização para assumir a liderança na coleta e compilação de informações relevantes. Parece-me que esta organização deveria ser da regiãopara fazer este esforço valer a pena, e eu ficaria feliz em continuar discutindo isso com as partes interessadas.

Por que, apesar das mudanças já ocorrendo, ainda é tão difícil mobilizar a sociedade para a importância da equidade em todas as áreas do conhecimento, principalmente em STEM?

É uma ótima pergunta. Acho que o fator medo ainda é muito forte – um medo de que os privilegiados percam seus privilégios. Esse medo impede nosso progresso e dificulta a mudança de paradigma. Podemos combater esses medos por meio de educação, divulgação e engajamento. Equidade não é tirar direitos de um grupo e dá-los a outro. Trata-se de criar condições onde todos possam prosperar e atingir seus objetivos educacionais e profissionais. Os campos STEM ainda são amplamente homogêneos e desproporcionalmente compostos por homens – então vamos envolvê-los no diálogo sobre equidade e igualdade.

Algumas mulheres com quem conversei disseram que atuar como líder na área de não proliferação nuclear é mais do que um desafio, é um compromisso. Isso deixa você com uma sensação de "missão cumprida" noSimpósio?

Sim, concordo plenamente que ser um líder no campo da não proliferação nuclear é um compromisso e uma responsabilidade, especialmente por parte dos cientistas. No entanto, seria muito presunçoso da minha parte pensar que completamos nossa missão com apenas um evento aqui, mas espero que tenhamos plantado uma semente que brote em maior interesse e compromisso com a não proliferação nuclear na comunidade STEM regional. Também acho que precisamos de mais mulheres líderes em STEM para promover a paz e a segurança regional e internacional.

Finalmente, você comentou que a colaboração estabelecida no Simpósio deve continuar. Fale um pouco sobre isso.

Tentamos tornar cada esforço sustentável e, dado o interesse de nossos participantes nos tópicos abordados durante o Simpósio, acredito que devemos aproveitar esse momento para começar a construir uma comunidade de mulheres na ALC em STEM e políticas para ampliar suas vozes na não proliferação nuclear e segurança nuclear criando uma plataforma onde eles possam se encontrar, trocar ideias e encontrar oportunidades de desenvolvimento e crescimento profissional.


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