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Grupo tenta viabilizar memorial de acidente com Césio 137 em Goiânia

Um projeto nascido de uma parceria entre o meio acadêmico e a comunidade do Setor Aeroporto deu forma à intenção de resgatar a memória da tragédia com o Césio 137, em 1987, e transformar a área do lote 30, na Rua 26-A, que foi um dos locais centrais do acidente, ocorrido em Goiânia. No último dia 31 de maio, foi apresentada a proposta do Memorial Césio 137, desenvolvido por estudantes da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) a pedido da Associação dos Moradores do Setor Aeroporto (Amsa). Com maquete e parte logística também definida, a concretização dependerá, agora, da obtenção de recursos financeiros.

Fonte: O Popular (Goiânia)

Durante quase 32 anos, o acidente radiológico, ocorrido em setembro de 1987, motivou diversas iniciativas semelhantes, nunca tiradas do papel. Em abril do ano passado, a Amsa buscou a Escola de Artes e Arquitetura da instituição de ensino, que, por meio do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (Emau), levantou dados, realizou estudos, analisou o espaço e as demandas dos moradores e elaborou o que pode se tornar um espaço de visitação e permanência, com inspiração em memoriais como o do Holocausto, em Berlim, capital da Alemanha, e o de 11 de Setembro, em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

"Para a comunidade, este projeto vai reunir todas as informações do acidente radiológico em um só lugar. Hoje, as pessoas que vêm de fora chegam ao Setor Aeroporto para ver o local em que a cápsula foi aberta e não encontram nada lá”, explica Lourival Rocha dos Santos, presidente da Associação. "O que a gente está planejando é justamente para mudar isso e auxiliar escolas e turistas, por exemplo. O intuito é promover o registro e o resgate histórico desse fato que aconteceu”, complementa.

Hoje chamada Rua Francisca da Costa Cunha, a Rua 26-A era a via onde ficava o ferro-velho de Devair Alves Ferreira, para onde parte da peça com a fonte de césio foi levada (veja quadro). Ali, dois de seus funcionários, Israel Batista dos Santos e Admilson Alves de Souza, a manusearam e foram contaminados. De lá, Devair levou o pó de césio para parentes e amigos, ampliando o rastro de radioatividade.

O local, que atualmente é um lote vazio com chão concretado, pode abrigar um edifício, segundo o projeto. "Um memorial é diferente de um museu. O museu é um repositório de alguns elementos, enquanto o memorial é um edifício que conta a história”, explica o professor Frederico André Rabelo, da Escola de Artes e Arquitetura da PUC Goiás e um dos orientadores do Emau.

 

Significado

De acordo com Rabelo, o projeto do Memorial Césio 137 busca trabalhar a ideia da dispersão do material radioativo após a fragmentação da cápsula, ocorrida no ferro-velho de Devair, que ali se localizava. O local está ao centro de outros pontos da capital que também foram envolvidos no acidente, como, por exemplo, o Estádio Olímpico, onde ocorreu a triagem da população, e o prédio da Vigilância Sanitária de Goiânia, para onde a peça foi levada para análise.

No projeto, as paredes do edifício foram planejadas e posicionadas a fim de que possam apontar em direção dos locais envolvidos na tragédia. Os materiais que serão utilizados para produzi-las também farão referência aos acontecimentos ali vividos, segundo o professor. Na parede que fará referência ao depósito de rejeitos de Abadia de Goiás, por exemplo, devem ser utilizadas chapas amarelas, em referência aos tambores em que objetos contaminados foram abrigados. "A ideia é que isso também seja explicado por um guia”, diz Rabelo. "Haverá espaços de permanência, em que as escolas podem levar alunos para visitar. Haverá um anfiteatro, que também poderá ser usado, além de salas para exposições temporárias”, acrescenta.

 

Recursos

Segundo o presidente da Amsa, Lourival Rocha dos Santos, o projeto será apresentado ao proprietário do terreno, que pretende doá-lo para a iniciativa. Para que tudo possa sair do papel, porém, ainda será necessário captar recursos. Santos afirma que a entidade apresentará a proposta ao governo do Estado e buscará parcerias na iniciativa privada. A partir disso, segundo o professor Frederico Rabelo, o projeto executivo, com aspectos complementares à criação e à concepção, será concluído e colocado em prática.

 

Locais afetados por tragédia ainda são monitorados

Desde 1987, os principais locais afetados pelo acidente radiológico com o Césio 137 são monitorados periodicamente pelo Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste (CRCN-CO), unidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Em Goiânia, são sete os focos principais abrangidos pelo Monitoramento Radiológico Ambiental do Acidente, que realizou sua descontaminação e que analisa amostras de solo e de vegetação, por exemplo. As informações, colhidas trimestralmente, dão origem a relatórios anuais. "Todos os monitoramentos realizados até a presente data reafirmam níveis seguros em relação a essa segurança radiológica”, diz o órgão.

Os sete pontos acompanhados ficam nos setores Central, Aeroporto, Norte Ferroviário e dos Funcionários. Entre eles, está o terreno da Rua 26-A. Atualmente, segundo a unidade, não há restrições de uso das áreas monitoradas e não há proibição para escavações e construções, por exemplo. "O CRCN-CO apenas solicita que seja informado quando ações deste tipo venham a ocorrer para que acompanhe e monitore o local, assegurando que os níveis de radiação dos locais estejam dentro dos valores de medições reais estabelecidos em normas nacionais, sem oferecer riscos à população e não causar pânico por informações improcedentes oriundas de pessoas ou organizações descredenciadas”, explica o Centro Regional, que enviou nota em resposta ao POPULAR.

A unidade da Cnen afirma estar ciente do projeto de construção do Memorial Césio 137 e diz que irá acompanhar suas etapas iniciais para garantir a segurança da obra.

 

Falta de cuidado com memória é tema de pesquisa

A construção de um memorial que resgate os registros do acidente radiológico ocorrido em Goiânia é vista com bons olhos pela pesquisadora Célia Helena Vasconcelos, mestre em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Foi a partir de sua percepção sobre a falta de registros da tragédia pela cidade que ela decidiu desenvolver uma pesquisa sobre o silenciamento da história.

Tudo começou quando um grafite em um muro da Rua 57, no Setor Aeroporto, onde antes havia a casa do catador Roberto dos Santos Alves. O local foi o primeiro para onde a cápsula de césio foi levada. A arte narrava o acontecimento do acidente. "O meu projeto era observar a história contada por intermédio de grafites. Lá havia esse grafite, mas não encontrei nenhum outro trabalho relacionado. Nossos muros estavam completamente em silêncio”, relembra ela, que diz não ter encontrado nada também em Abadia de Goiás, cidade em que há o depósito de rejeitos.

Para a pesquisadora, chama a atenção o fato de nenhum dos lugares que protagonizaram a tragédia estejam sinalizados como tal. Ela menciona o antigo prédio do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), na Avenida Paranaíba, onde foi encontrada a cápsula e que hoje abriga o Centro de Convenções; e também o Estádio Olímpico, onde houve a triagem da população. "É uma história de grande proporção. Não é qualquer coisa que está sendo silenciada”, afirma.

Diante disso, uma iniciativa como a apresentada pode representar a mudança, na visão de Célia. "As pessoas teriam acesso facilitado à informação. Preservar a nossa história e o nosso passado é muito importante”, argumenta. "A preservação da história é importante até mesmo para que o acidente não se repita”, complementa.

Entre os pontos de maior preocupação da pesquisadora quanto ao silenciamento da memória está a mudança dos nomes de alguns espaços de Goiânia. Dois pontos principais da trajetória do césio, as ruas 57 e 26-A foram renomeados. Em 2016, a primeira passou a se chamar Rua Paulo Henrique de Andrade. A outra, por sua vez, sofreu a mudança mais drástica e hoje se tornou a Rua Francisca da Costa Cunha - Dona Tita.

Inaugurado em 1988 pelo Estado de Goiás, a Fundação Leide das Neves Ferreira (Funleide) também passou por mudanças. O nome era uma referência à menina de 6 anos que morreu após ingerir pó de césio e se tornou vítima-símbolo do acidente. Em 1999, a Funleide foi extinta e a Superintendência Leide das Neves Ferreira (Suleide) foi

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