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Sul de Minas atuou como fornecedor de matéria-prima para primeira usina nuclear do Brasil; entenda

G1 explica como funcionava processo e os reflexos sentidos até pelo município de Caldas

Fonte: G1

Por Lara Silva e Tatiana Espósito, G1 Sul de Minas— Caldas, MG

O Brasil vive mais uma crise hídrica. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que o último período de chuvas foi o mais seco dos últimos 91 anos, principalmente das regiões Sudeste e Centro Oeste. A preocupação com a possível falta de energia gerada nas hidrelétricas faz com que surjam discussões sobre outros meios de produção de energia. Uma delas é a nuclear, cuja matéria-prima foi extraída no Sul de Minas durante a década de 90, mas até hoje oferece incertezas e riscos para a população.

Ao longo desta semana, a EPTV, afiliada da TV Globo, exibe reportagens sobre a geração de energia no Brasil. Nesta quinta-feira (8), o assunto abordado são as alternativas às hidrelétricas. Como parte deste conteúdo, o G1 reuniu informações sobre o que é a energia nuclear e qual a participação da região nesse setor.

Acompanhe o ponto a ponto a seguir.

Entenda o que é energia nuclear

A energia nuclear é geralmente produzida com urânio e/ou tório, que são as matérias-primas para o combustível. Segundo o professor do Instituto de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Itajubá, Rogério José da Silva, ela basicamente utiliza o calor para a geração de eletricidade, o que é feito por meio da "fissão” ou da "fusão” dos átomos.

"Existem alguns átomos que têm uma união muito forte no seu núcleo, como o urânio. Quando o nêutron entrar, esse núcleo vai ficar instável e quebrar em dois novos átomos, gerando bário, criptônio que vão emitir radiação e liberar uma quantidade muito grande de calor. Durante este processo, é preciso moderar com água. Ela vai absorver o calor e sair mais ou menos com 300ºC. Depois disso, vai trocar o calor com outra água em pressão mais baixa, passar por um gerador de vapor e evaporar. O vapor vai acionar o gerador elétrico e assim temos a geração de energia”, explicou.

Ainda de acordo com o professor, uma usina nuclear tem custo alto de implantação e leva um longo tempo para ser ativada, entretanto ela é mais rentável e compatível com outras fontes de energia, como a eólica e a solar.

”Elas reduzem as emissões de gases de efeito estufa que causam as mudanças climáticas. Assim, serão utilizadas junto com as fontes limpas de energia, como as eólicas e solares, além do desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia”, apontou.

Como ela pode ser utilizada?

A energia nuclear pode ser utilizada na indústria, na área militar, na medicina e também na geologia. Segundo o professor, a energia nuclear está presente no tratamento de tumores, no raio-X, esterilização de aparelhos médicos e também de alimentos, nos submarinos que o país está investindo e até na detecção de fósseis.

Usinas nucleares são seguras?

Segundo o professor, depois de grandes acidentes, como o de Chernobyl e Fukushima, é normal que haja um temor da população em geral e também maior rigidez das autoridades para tornar os sistemas mais seguros. Por isso, as indústrias estão buscando novas tecnologias para tornar as usinas mais seguras.

"A indústria de maneira geral está pensando em reatores novos focados na questão da segurança. O custo com isso cresceu, porém é a segurança para a questão da operação. Ao mesmo tempo existe uma análise para a questão dos resíduos gerados, são dois focos hoje da indústria nuclear”, disse.

Como o Sul de Minas forneceu matéria-prima para a 1ª usina nuclear do Brasil?

A participação do Sul de Minas no fornecimento de uranio começou com a instalação da unidade da INB em Caldas (MG) em 1982. A unidade foi desativada em 1995, após 13 anos. Segundo a INB, a atividade na região não era mais "economicamente viável”.

Segundo o gerente de Descomissionamento da Unidade, era em Caldas que todo o processo para geração de energia começava. Hoje esta etapa é realizada no Sul da Bahia. Durante 13 anos, o Sul de Minas extraiu o urânio que, após um longo processo de transformação em combustível, era enviado para a primeira usina nuclear do Brasil, a Angra 1, onde era gerada a energia nuclear.

"O que a nossa equipe aqui produzia era a primeira etapa da mineração e concentração do uranio. A barragem de rejeitos entrava com o papel de receber partes dos rejeitos gerados na produção de urânio, que é chamado de ‘yellowcake’”, explicou João Viçozo.

A barragem de rejeitos de Caldas apresenta riscos para a população?

A unidade em Caldas, onde está localizada a barragem, ocupa um espaço equivalente a cem Maracanãs, contendo lixo radioativo com urânio, tório e rádio. Ainda de acordo com a INB, a área possui 12,5 mil toneladas de resíduos.

Segundo João Viçozo, a barragem de rejeitos de Caldas foi classificada como "dano potencial alto”, mas com "categoria de risco baixo”.

"Significa que caso aconteça uma emergência, e aí o pior caso é o rompimento da barragem, o risco de dano é grande e pode acontecer a contaminação ambiental, além de risco de danos a bens patrimoniais e até à saúde de pessoas. Por outro lado, a categoria de risco baixa significa que a probabilidade desse evento acontecer é mínima”, explicou o gerente.

Em 30 de março deste ano, durante a última inspeção realizada por uma empresa especializada, a barragem de resíduos foi classificada como estável.

"Conforme relatório de inspeção e segurança regular de barragem, atesto a estabilidade da mesma em consonância com a Lei Federal nº 12.334 de 20 de setembro de 2010 e Normas e Resoluções da Cnen vigentes”, diz o laudo.

A barragem possui plano emergencial de segurança?

Após um estudo feito pela Ufop, que apontou que o sistema de escoamento da barragem está comprometido, e um pedido feito pelo Ministério Público Federal, a INB criou um plano emergencial para a barragem.

A indústria então fez um cadastro dos moradores das áreas próximas para traçar um perfil de casos especiais. Esses moradores são os situados na chamada zona de autossalvamento, em que é responsabilidade da empresa fazer a segurança por não haver tempo hábil para os serviços públicos.

"A missão dessa equipe é auxiliar na classificação de uma eventual ocorrência de emergência e acionar os recursos de segurança internos, paralisando as atividades e informando as pessoas para que elas fiquem fora de risco. A outra etapa é avisar a população, para que ela consiga se locomover até o ponto de encontro combinado. A última etapa é avisar os órgãos de segurança, como a defesa civil e o corpo de bombeiros”, explicou João Viçozo, gerente.

Ainda de acordo com João, a simulação de emergência faz parte do plano de contingência elaborado. Entretanto, a pandemia de Covid-19, impossibilitou que neste último ano eles fossem realizados.

Por nota, o Ministério Público Federal informou que segue acompanhando a execução do termo, que está em andamento e envolve a apresentação de documentos pela INB, que incluem a revisão periódica da segurança da barragem e a declaração de condição de estabilidade.

Como anda o processo de descomissionamento?

Segundo o gerente da INB, a barragem está atualmente na fase de descomissionamento, que procedimento para a desativação de uma instalação nuclear ao final de sua vida útil. A medida, inclusive, é um pedido antigo da Justiça.

João explicou que a fase ainda está em processo e que o projeto não está definido, mas que a destinação deve acontecer na própria unidade, assim como é feito em outras barragens de rejeito. A expectativa é que a solução para o descomissionamento esteja definida em até três anos, mas ainda não há prazo para o fim de todo o procedimento.

"Hoje a gente ainda precisa fazer grande investimento para gestão e monitoramento de controle dos materiais. Com o descomissionamento, o benefício é que você tem um investimento inicial maior, mas com o tempo vai diminuindo a necessidade das manutenções”, explicou.

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