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Leonam Guimarães defende a implantação dos SMRs e sugere a criação de um órgão global de controle de resíduos nucleares

Fonte: Petronotícias

Atualmente o Brasil está na expectativa da conclusão da usina nuclear Angra 3, que vai colocar no sistema impressionantes 1.350 GW de energia. E acompanhando o exemplo de dezenas de países que estiveram presentes na COP 28, as empresas privadas desenvolvem as gestões para se implantar no Brasil os pequenos reatores nucleares modulares, menores, mais baratos, que podem ser construídos e instalados em lugares ermos onde há carência de energia e em muitos Estados que necessitam de energia limpa e firme. O Brasil tem tudo para isso, inclusive as minas de uranio, para produzir o combustível a ser utilizado. Para saber mais sobre isso, buscamos conversar com o engenheiro especialista Leonam Guimarães, respeitado internacionalmente, um dos membros do grupo de assessoria em energia nuclear do Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi.

Ex-presidente da Eletronuclear e atualmente servindo à Amazul, Leonam fala sobre a febre dos SMRs no mundo, mas traz um alerta importante sobre o resíduo nuclear. Ele defende uma política única mundial de controle, aceitar por todos os países que implantam a geração nuclear, semelhante a instituição norte-americana que engloba todo sistema aéreo mundial.

– Como o senhor está vendo o movimento de se implantar no Brasil os pequenos reatores nucleares?
A nova geração de pequenos reatores modulares (SMR) proporciona maior segurança, custos mais baixos, financiamento mais fácil, melhor compatibilidade com redes elétricas nacionais de porte limitado e riscos de projeto reduzidos, o que pode melhorar a aceitação social e atrair o investimento privado. Por causa disso, a comunidade nuclear e até mesmo a grande mídia estão cada vez mais recorrendo aos SMRs para anunciar um "renascimento nuclear” há muito esperado, mas nunca observado.

– O que o senhor chama de renascimento nuclear ?
O excesso de promessas em termos de custos baixos é uma questão importante. Lembrem-se: as primeiras alegações de que a eletricidade nuclear seria "barata demais para ser medida”. Ainda não foi demonstrado que as economias de escala, que levaram as centrais nucleares a se tornarem cada vez maiores, podem ser compensadas pelas economias de múltiplos que são esperadas da produção em fábrica por linha de montagem, assumindo que carteiras de encomendas completas podem manter estas linhas ocupadas. Mas para quantos dos mais de 80 projetos de SMR em desenvolvimento haverá um mercado grande o suficiente para alimentar uma linha de montagem para produção em fábrica? Qual seria a encomenda mínima para viabilizar o investimento na fábrica e sua linha de montagem? Há já 50 anos, físicos e engenheiros que projetavam grandes centrais nucleares estavam concentrados nos desafios interessantes de propor cada vez mais variantes de reatores que parecessem, no papel, mais eficientes, mais seguros ou mais baratos. Mas mesmo a variedade comparativamente limitada de designs propostos naquela época provou ser mais um obstáculo do que uma vantagem.

– Pode ser mais específico e dar um exemplo?
– Olha, o Reino Unido hesitou durante anos em fazer escolhas difíceis, enquanto construía e operava unidades dispendiosas, únicas do tipo, de muitos projetos diferentes. O programa de grandes reatores de maior sucesso ocorreu na França, onde foi tomada uma decisão inicial de se restringir a um projeto PWR padronizado. Hoje, a lição clara é que apenas alguns projetos de SMR podem esperar beneficiar-se da economia de múltiplos e, assim, alcançar o sucesso comercial.

– Os atrasos nas construções de grande usinas e centrais nucleares também encarecem a obra…
É outro erro do passado que também afeta a economia são os longos prazos necessários para a implementação de centrais nucleares. Muitos dos atrasos devem-se a deficiências técnicas ou de gestão do projeto, mas uma grande contribuição tem sido muitas vezes o tempo necessário para os reguladores licenciarem um novo projeto. A forma de superar este obstáculo é desenvolver um conjunto de regulamentações "risk informed”, adaptadas a projetos de SMR menores e, em seguida, harmonizar as regulamentações de licenciamento em todos os países potenciais utilizadores. Um precedente útil é a Administração Federal de Aviação dos EUA, cujos regulamentos sobre aeronaves são aceitos globalmente como base técnica para todos os regulamentos nacionais. Mas acertar a economia dos SMR e reduzir os tempos de licenciamento e construção não resolverá por si só o problema. Existem outros desafios que os grandes projetistas de reatores ignoraram até tarde demais.

– Pode dar algum exemplo?
– O exemplo mais claro aqui é a negligência na abordagem da questão da eliminação segura doAlém destes potenciais impedimentos à ampla implantação de SMR, existem algumas questões novas a serem abordadas. Uma delas está relacionada com a proliferação nuclear e as preocupações de segurança que podem surgir num cenário em que centenas de SMR estão distribuídos por todo o mundo, em muitos países sem experiência nuclear e, em alguns casos, em regiões remotas dentro desses países. No final, devido aos seus inventários físseis menores aos projetos compactos, as preocupações de segurança nuclear com a implantação generalizada de SMR podem ser menores do que com as atuais centrais nucleares, com os seus inventários muito maiores de materiais físseis. No entanto, a questão deve ser discutida agora pela comunidade nuclear e não ignorada até que seja levantada como um impedimento pelos opositores nucleares em países potenciais utilizadores de SMRs. Se quisermos aprender com as amargas lições dos renascimentos nucleares esperados no passado, então devemos aprender com os erros cometidos naquela época e também antecipar quaisquer questões novas e inovadoras que surgirão com a implantação generalizada de SMRs.

– Por que esse renascimento nuclear só está vindo agora?
– Cabe lembrar que o renascimento nuclear esperado na primeira década do século XXI acabou não ocorrendo, principalmente pelo acidente de Fukushima. Hoje a central de Zaporizhzhia vem sendo severamente ameaçada pela Guerra da Ucrânia. Um acidente severo poderia pôr a perder todo o esforço que vem sendo feito para que o renascimento nuclear efetivamente venha a ocorrer nessa terceira década impulsionado pela descarbonização profunda combinada à segurança energética.


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