Ipen na Mídia
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- 25/09/2020 - Na pele da tilápiaMaterial biológico já conhecido para o tratamento de queimaduras começa a ser usado em cirurgias ginecológicas
Material biológico já conhecido para o tratamento de queimaduras começa a ser usado em cirurgias ginecológicas
Fonte: Revista FAPESP
O Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher da Universidade Estadual de Campinas (Caism-Unicamp) foi palco de um procedimento experimental inédito no fim de abril. Pela primeira vez, cirurgiões usaram pele de tilápia-do-nilo (Oreochromis nicoticus) na reconstrução do canal vaginal de uma paciente transexual que havia se submetido, anos atrás, a uma malsucedida cirurgia de redesignação sexual, passando de homem a mulher. O procedimento é fruto de uma extensa pesquisa sobre o uso da pele de tilápia para finalidades médicas iniciada há quatro anos no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (NPDM-UFC), em parceria com o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), de Fortaleza.A paciente trans, cuja identidade foi preservada, procurou a equipe do cirurgião Leonardo Bezerra, do Departamento de Saúde Materno-Infantil da UFC, após saber dos bons resultados do uso de pele do peixe na reconstrução vaginal – técnica conhecida como neovagina – de 10 mulheres portadoras de um raro distúrbio congênito, a síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser, que as faz nascer sem o canal vaginal ou com ele pouco desenvolvido. A mesma equipe já havia operado com êxito uma mulher que teve de reconstruir a vagina por causa de sequelas de um câncer ginecológico.
"A opção que a paciente trans tinha era fazer um autoenxerto com segmento de intestino, uma cirurgia extremamente agressiva, demorada e com complicações a longo prazo”, diz Bezerra. "O uso da pele de tilápia permite uma operação mais simples, rápida e menos invasiva. O epitélio da pele de tilápia funciona como arcabouço e suporte para o desenvolvimento do epitélio vaginal, com elasticidade, dimensão e funcionalidade adequadas.”
Tanto na cirurgia feita na Unicamp quanto nas realizadas no Ceará, nas mulheres com a síndrome de Rokitansky, as pacientes ficam cerca de uma semana com um molde acrílico envolto na pele de tilápia dentro do canal vaginal. Depois a prótese é retirada e a pele do peixe deixada no local. "O colágeno (da pele da tilápia) vai sendo destruído, as moléculas são ‘quebradas’ e a pele do animal é incorporada ao tecido. Isso faz com que células presentes no canal vaginal se diferenciem em outras, formando o epitélio vaginal”, explica o médico Manoel Odorico de Moraes, coordenador do NPDM e professor da Faculdade de Medicina da UFC. Não há necessidade de medicar os pacientes com drogas imunossupressoras, pois o material biológico não é colocado dentro da cavidade abdominal, mas na vagina, que é uma extensão da pele humana. "Até hoje não houve nenhum caso de rejeição”, diz Moraes.
A equipe cearense tem sido bastante procurada por pacientes transexuais que fizeram cirurgia de redesignação sexual de homem para mulher, com resultados insatisfatórios, pela técnica clássica, na qual se usa a pele do próprio pênis para a construção da neovagina. "Ocorre que, antes da cirurgia, elas fazem um tratamento hormonal para que o corpo adquira características femininas, o que reduz o tamanho do pênis. Com isso, sobra pouca pele de pênis e a vagina fica pouco funcional”, conta Leonardo Bezerra, da Faculdade de Medicina da UFC.
Rede de pesquisa
Moraes lidera desde 2015 a pesquisa com pele de tilápia, ao lado do cirurgião plástico Edmar Maciel, presidente do IAQ. O estudo teve início quando eles abraçaram uma ideia original do cirurgião plástico Marcelo Borges, professor da Faculdade de Medicina de Olinda (PE). Após ler uma reportagem sobre artesanato feito com pele de tilápia, Borges imaginou que poderia usar o material para tratar queimados por ser muito rico em colágeno e se tratar de um item barato – em geral, é descartado pela indústria pesqueira. O uso de curativos biológicos para tratar feridas e queimaduras não é novidade no mundo. Além da própria pele humana, disponibilizada por bancos de pele, usa-se pele de porco, entre outros materiais.
Hoje, a linha de pesquisa com a pele de tilápia tem a participação de 189 colaboradores distribuídos em sete estados e outros seis países – Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Colômbia, Guatemala e México. "Todos eles são coordenados por nosso grupo”, afirma Maciel. O material biológico é objeto de 43 projetos de pesquisa conduzidos dentro e fora do Brasil.
Além do bem-sucedido tratamento de queimados e da reconstrução de vagina, estão sendo estudados outros usos do material em procedimentos odontológicos e veterinários. "Até agora depositamos cinco pedidos de patente no Brasil e no exterior”, diz Maciel. Entre os produtos em teste, destacam-se scaffolds (suportes estruturais), biomaterial projetado para ser empregado na produção de válvulas cardíacas e telas para reparos de tendões e hérnias abdominais. "Só para scaffolds, há mais de uma dúzia de possíveis empregos diferentes”, informa o cirurgião plástico.
O material biológico utilizado pelos pesquisadores é fornecido pelo banco de peles de tilápia da UFC, construído pela empresa Biotec Solução Ambiental com patrocínio da Enel, distribuidora de energia elétrica no Ceará. Pioneiro no Brasil, o banco atualmente é mantido com apoio do Centro Universitário Christus (Unichristus), instituição privada de ensino superior de Fortaleza. As peles, provenientes de peixes criados em tanques de água doce, são doadas pela empresa de pescados Bomar, de Itarema, no litoral cearense.
Antes da aplicação nos pacientes, o material passa por um rigoroso processo de limpeza, descontaminação e esterilização nos laboratórios da UFC (ver infográfico). No Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, as peles são submetidas a radioesterilização em um irradiador industrial multipropósito, construído pelo Ipen com auxílio da FAPESP. A lavagem e a esterilização retiram qualquer resquício de odor do material, embora mantenha o desenho característico da pele do peixe. Antes da liberação para uso clínico, as peles passam por testes de qualidade microbiológicos, histológicos e de toxicidade celular.
Cicatrização mais rápida
De acordo com Odorico Moraes, entre os 300 pacientes tratados para queimadura até hoje, 30 deles crianças, não houve nenhum caso de infecção. O Ministério da Saúde está estudando a inclusão da pele de tilápia no tratamento de queimados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em geral, a terapia para queimaduras é feita com sulfadiazina de prata, uma pomada antimicrobiana e cicatrizante, sendo que os curativos usados exigem troca diária. Os feitos com pele de tilápia podem ser substituídos em intervalos de tempo maiores, poupando o incômodo para o paciente, material e mão de obra hospitalar. Os médicos e pesquisadores relatam redução de custos, diminuição no tempo de cicatrização e de dor com o curativo biológico.
O possível efeito analgésico interessou a um grupo de doutorandos de periodontia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP). Eles desenvolvem um estudo-piloto para o uso do curativo biológico em procedimentos cirúrgicos periodontais, que envolvem os tecidos de proteção e suporte dos dentes, como gengiva e osso. "Estamos bem animados e a expectativa é alta com relação à possibilidade de tirar a dor do paciente”, declara Gustavo Manfredi, doutorando da FOB.
Uma aplicação inusitada ocorreu no exterior. Após tomar conhecimento da pesquisa no Brasil, a veterinária Jamie Peyton, da Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos, usou a pele de tilápia para tratar de dois ursos e um leão-da-montanha feridos em incêndios florestais na Califórnia. Segundo informações da universidade, os ursos começaram a andar logo após a aplicação do curativo biológico nas patas feridas, sugerindo um efeito imediato na melhora da dor. Um dos ursos acabou comendo a nova pele, mas a rápida recuperação surpreendeu os veterinários americanos.
Outro experimento envolvendo a pele de tilápia deverá ocorrer com o envio de amostras ao espaço em um foguete, em junho deste ano. A ideia partiu do Clube de Astronomia Louis Cruls, de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, participante do projeto Cubos no Espaço, que tem parceria da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos. "Vamos analisar se a estrutura molecular e as proteínas da pele de tilápia, em especial o colágeno tipo 1, sofrerão alterações após ficar na estratosfera, sob baixa pressão e intensa radiação”, conta o médico Edmar Maciel, do IAQ.
Com relação à cirurgia realizada na paciente transexual em Campinas, que passava bem em meados de maio, a expectativa é verificar se a pele da tilápia vai mesmo se transformar em epitélio vaginal. "Não se sabe se a transformação desse tecido vai ocorrer do mesmo modo como nas mulheres com síndrome de Rokitansky”, diz o ginecologista da Unicamp Luiz Gustavo Oliveira Brito, que participou da operação.
"A cirurgia não é nova, mas o material é diferente”, ressalta. Em outros lugares, afirma, usa-se membrana amniótica (da placenta) ou material sintético, feito de látex. Ele acredita, no entanto, que, se houver uma empresa interessada, a pele de tilápia poderá ser uma boa alternativa. "Tudo depende da viabilidade do produto.” Brito, Bezerra e equipe trabalham em um artigo científico relatando o caso, que será submetido para publicação no segundo semestre.
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- 17/09/2020 - Queimadas no Pantanal aumentam poluição na cidade de São PauloFonte: CNNAs queimadas no Pantanal estão aumentando a poluição na cidade de São Paulo. A informação é do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
De acordo com o levantamento dos técnicos, a camada de poluição que a cidade geralmente registra neste período do ano passou de 1.500 para 2.800 metros.
No último final de semana, a fumaça das queimadas causou chuva com coloração escura e assustou moradores de São Francisco de Assis, no interior do Rio Grande do Sul.
À CNN, o pesquisador Eduardo Landulfo, do Ipen, afirmou que "há evidências do transporte do Pantanal como também do interior do estado".
"Nós reiniciamos hoje as nossas medidas, que havíamos identificado faz dois dias, e vamos checar novamente. É uma camada em 4km, que desconfiamos que esteja vindo da região do Pantanal, mas ainda vamos confirmar", explicou.
"É um transporte por massas de ar em diferentes níveis. Hoje estamos vendo nível em 4 km, mas às vezes as origens são distintas – ou das regiões do interior do estado ou do Centro-Oeste", completou.
De acordo com o pesquisador do Ipen, a fumaça que é transportada pelos ventos acaba "descendo por onde passa" e acumulando na poluição da cidade.
Com isso, a qualidade do ar fica prejudicada e deve melhorar apenas com chuva por vários dias. "Isso é necessário", acrescentou.
Previsão
Com o tempo seco e sem chuva há quase um mês, a capital paulista registrou a maior temperatura do ano – 34,1°C – no último sábado (12).
De acordo com o técnico em meteorologia Adilson Nazário, do Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da prefeitura de São Paulo (CGE-SP), em entrevista à CNN, a previsão é de chuva a partir do dia 20 na capital paulista.
Explicação
À CNN, o físico Edmilson Dias de Freitas, professor do departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), explicou, nesta quarta-feira (16), que o aumento da poluição "faz parte do escoamento natural da atmosfera no Brasil". "Traz todo o material e a umidade, mas eventualmente vai trazer também poluentes", disse.
"Temos a contribuição mais baixa dos veículos e outras fontes, e, em níveis mais altos, essa parcela que vem de outras regiões. No final, isso acaba se misturando e temos uma camada poluída muito mais extensa na vertical", apontou.
De acordo com Freitas, esse aumento da poluição é perceptível a olho nu e nos efeitos à saúde, por exemplo. Ele ressaltou que "a chuva contribui bastante para a remoção desses poluentes da atmosfera. É sempre bem-vinda nesses casos", concluiu.
Situação no Pantanal
Segundo a plataforma de monitoramento de focos de incêndio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Mato Grosso do Sul já acumula 7.493 pontos de queimadas em 2020, até o dia 13 de setembro.
Nesta terça-feira (15), o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, adiantou que o governo federal vai anunciar liberação de R$ 3,8 milhões ao Mato Grosso do Sul para o combate às queimadas no Pantanal. A informação foi divulgada à colunista Renata Agostini, da CNN.
A expectativa é que também haja um anúncio específico para o Mato Grosso, que também foi afetado pelas queimadas.
De acordo com decreto assinado pelo governador do MS, Reinaldo Azambuja (PSDB), o fogo já atingiu todos os municípios do estado. Além disso, houve aumento de atendimentos nos postos de saúde em decorrência de problemas respiratórios. A área atingida já ultrapassa de 1.450.000 hectares.
(Edição: André Rigue)
Link para a matéria e entrevistas aqui
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- 14/09/2020 - Queimadas no Pantanal e falta de vento e chuva fazem camada de poluição sobre São Paulo dobrar, detecta IPENAltura da camada de poluição nesta época do ano costuma ser de 1.500 metros, mas com a combinação das condições atuais, ela alcançou 2.800 metros. Fenômeno foi registrado com medição a laser
Altura da camada de poluição nesta época do ano costuma ser de 1.500 metros, mas com a combinação das condições atuais, ela alcançou 2.800 metros. Fenômeno foi registrado com medição a laser
Fonte: G1A cidade de São Paulo passa por dias de poluição acima da média, de acordo com o monitoramento com laser feito pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN).
A camada de poluição sobre a metrópole nessa época do ano costuma se estender até uma altitude de 1.500 metros. No último domingo e nesta segunda-feira (14), no entanto, ela alcançou quase o dobro: 2.800 metros.
A piora acontece por um conjunto de condições desfavoráveis: falta de vento e chuva, que poderiam ajudar a levar os poluentes embora, e queimadas em outras regiões do país.
Ventos do Centro-Oeste
Quando há aproximação de uma frente fria, forma-se uma espécie de "canaleta de vento" que traz ar das regiões Oeste e Centro-Oeste do continente para a cidade. Isso é uma característica natural, mas com as mudanças climáticas, tornou-se mais evidente.
Como há poluição vinda das queimadas no Pantanal, isso veio para o Sudeste, explica Eduardo Landulfo, pesquisador do Centro de Lasers e Aplicações do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares).
A poluição que fica em camadas mais altas geralmente é de queimadas. É comum que esse material seja levado de São Paulo pela brisa do mar ou pela chuva. Isso não aconteceu nos últimos dias, segundo ele.
"A poluição está se acumulando. Há um ciclo diário de trocas de calor com o terreno, com a vegetação, com a umidade, mas os níveis de poluição se sedimentaram, um ficou em cima do outro."
Em algumas regiões da cidade também há concentração de ozônio, mas o principal poluente é material particulado --são elementos como poeira, areia e cinzas.
Uma das provas de que a poluição que está estacionada na capital paulista vem de outras regiões do país é que há camadas distintas em textura -- Landulfo usa a palavra "desacopladas" para descrever isso.
Espera-se que a altitude deste transporte esteja acima da cidade e misture-se pouco com a atmosfera local, mas os dados parecem indicar que o material chegou em níveis mais baixos e se adicionou à poluição local, ou seja, virou mais uma camada. Esse resultado preocupa e deve ser melhor estudado, diz ele.
A alta coluna de poluição já é ruim, mas ela implica em outro problema: os raios do sol enfrentam dificuldade para penetrar nas camadas mais próximas do solo, o que causa um efeito de inversão térmica. Isso significa que a atmosfera perto do chão está quente, mas acima dela o calor é ainda mais intenso, então a poluição das camadas mais baixas fica retida embaixo, sem se dispersar.
A grande maioria das estações de monitoramento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) indica condições de moderadas a ruim.
O laboratório do IPEN que identificou esses fenômenos tem apoio federal do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, além da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp).
A equipe inclui o próprio Landulfo, Alexandre Cacheffo, Alexandre Yoshida, Gregori Moreira, Fábio Lopes, Fernando Morais e estudantes de mestrado e doutorado.
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- 18/08/2020 - Café virtual aborda mulheres na ciência nuclear e no meio ambienteEvento mostrou como ciência nuclear contribui para conservação ambiental a partir do olhar de mulheres referência na área
Evento mostrou como ciência nuclear contribui para conservação ambiental a partir do olhar de mulheres referência na área
Fonte: Portal do GovernoA 16ª edição do Café Virtual (promovido pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente e pelo Instituto Florestal) da última quinta-feira (13) debateu o tema "Mulher, sim. Nuclear, sim. Meio Ambiente, também: derrubando barreiras”.
O evento contou com as palestrantes Isolda Costa, coordenadora de Pesquisa, Desenvolvimento e Ensino do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen), Maria José Alves de Oliveira, pós-doutoranda Ipen/Cnen, Nélida Lúcia del Mastro, presidente da Women in Nuclear Brasil, e Isabelle Boemeke, modelo e influencer digital.
A ciência nuclear é mais que a produção de eletricidade, com ferramentas usadas para estudar recursos de água doce, sistemas biológicos, processos atmosféricos e sistemas oceânicos. A tecnologia nuclear melhora as práticas agrícolas, promove avaliação de impacto ambiental e o monitoramento da poluição e fornece soluções para combater a fome e melhorar a sustentabilidade ambiental. E as mulheres têm sido assíduas contribuidoras nesta área de conhecimento.
Na abertura, o diretor-geral do Instituto Florestal, Luis Alberto Bucci, ressaltou a importância da mulher e a contribuição em todas as áreas de conhecimento. "A mulher evolui muito, constantemente. Temos muito a aprender com todas elas”, afirmou.
Profissionais
Isolda Costa destacou que as mulheres representam 32% do quadro de profissionais no IPEN, onde inúmeras pesquisas são desenvolvidas com o uso da energia nuclear em favor do meio ambiente – entre elas, projetos envolvendo o impacto das atividades humanas na água, qualidade do ar, filtro solar em água do mar e problemática do plástico.
Maria José Alves de Oliveira disse que iniciou sua vida profissional como pesquisadora do IPEN, onde foi responsável por inúmeros trabalhos. Ela cita a pesquisa com hidrogel, um tipo de polímero ionizado que tem diversas aplicações, desde o tratamento de doenças como a leishmaniose até a limpeza de obras de arte.
Essa participação recebe o apoio da Woman in Nuclear (WiN), uma organização mundial, que encoraja as mulheres que trabalham nas indústrias nucleares em todo o mundo, em especial nas aplicações da energia e radiação.
Nélida Lúcia del Mastro, presidente da WiN Brasil, reforçou que a tecnologia nuclear e das radiações e suas aplicações são altamente benéficas para a humanidade, com muitas possibilidades de desenvolvimentos. E o desconhecimento do tema pela população geral é um entrave que precisa ser superado.
A divulgação do tema conta com o apoio da modelo e influencer Isabelle Boemeke. Ela contou que a energia nuclear entrou em sua vida por acaso, mas permaneceu por paixão e se tornou um propósito.
No encerramento do encontro, o superintendente do Ipen/Cnen, Wilson Aparecido Parejo Calvo, enfatizou que as mulheres no instituto ocupam posições de destaque. "Elas são muito dedicadas e competentes. Esse é um momento de desafio, principalmente na busca por recursos para as pesquisas, mas sem desanimar”, salientou.
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- 15/08/2020 - Novo teste indica vírus no ar e reforça risco de má ventilaçãoPesquisa da USP mostra importância de renovação do ar em ambientes fechados e manutenção de temperatura e umidade adequadas
Pesquisa da USP mostra importância de renovação do ar em ambientes fechados e manutenção de temperatura e umidade adequadas
Fonte: R7O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP constatou a presença do novo coronavírus em micropartículas expelidas quando as pessoas falam e mostrou que elas ficam suspensas no ar - reforçando a tese de que a doença pode ser transmitida pelo ar. Essa possibilidade já foi levada em conta por mais de 200 cientistas ao redor do mundo e passou a ser reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no mês passado.
Saiba como se proteger e tire suas dúvidas sobre o novo coronavírus
Segundo os pesquisadores, o monitoramento da qualidade do ar dentro dos ambientes e a ventilação, aliados às medidas de higiene e distanciamento, devem ser seriamente considerados na reabertura de espaços fechados, como escritórios.
"A gente já tinha uma boa percepção e conhecimento, em décadas de ciência, de que a falta de ventilação facilita a transmissão de diferentes vírus, como o da gripe, afirma Arthur Aikawa, CEO da startup Omni-electronica e pesquisador responsável pelo estudo.
Estudos com o Sars-coV-1 têm mais evidências, porque houve mais tempo para pesquisar o assunto. Em ambientes mal ventilados, o ar não é trocado e os bioaerossóis ficam suspensos no ar. Isso vai aumentando o risco de contaminação. As pessoas ficam horas em um ambiente fechado, sem máscara e a contaminação acaba se disseminando".
A startup está incubada no Centro de Inovação, Ciência e Tecnologia (Cietec), ligado à Universidade de São Paulo e ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). O projeto recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do VedacitLabs.
Para fazer a pesquisa, um dispositivo de monitoramento da Qualidade do Ar Interior (QAI) desenvolvido pela startup, chamado SPIRI, coletou mais de 20 amostras em ambientes fechados do hospital e foram feitas análises durante dois meses. Mesmo sendo um ambiente hospitalar, o grupo de pesquisadores notou que a ventilação contribuía para a dispersão das micropartículas.
Renovação
Aikawa destaca que, em ambientes de escritório e de lazer, o que se vai ver nos próximos meses "é um receio muito grande para voltar, porque não significa que vai ter 100% de segurança". Já se sabe, pondera, "que é importante aumentar a taxa de renovação do ar, mas não precisa desligar o sistema de ar condicionado, porque a movimentação do ar é importante para que as partículas decantem e se dispersem". Também é importante manter temperatura e umidade adequadas, "evitando que as pessoas fiquem doentes e com a imunidade reduzida".O dispositivo desenvolvido pela empresa consegue verificar, em tempo real, temperatura, umidade do ar, presença de material particulado, compostos orgânicos voláteis e concentração de dióxido de carbono (CO2), considerado um indicador de eficácia da ventilação em ambientes internos, seguindo padrões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Um dispositivo é suficiente para uma área de 200 m² e tem o custo mensal de R$ 400.
Ar limpo
O que se recomenda, adverte o CEO da startup, é, se a pessoa não tiver como conseguir construir o sistema de monitoramento, que mantenha o sistema de ar condicionado higienizado, não o desligue e tenha ventilação cruzada". Manter a qualidade do ar e a ventilação não ajuda a reduzir o risco de infecção se as medidas de distanciamento e de higiene não forem cumpridas.
"A gente tem de começar pelo básico. Distanciamento, higienização, usar máscara", aconselha Aikawa.
Tendo investimento, a startup pensa em, no futuro, realizar o mesmo tipo de estudo em transportes coletivos, onde as pessoas ficam fechadas em um ambiente propício a ser mal ventilado. "Daria para fazer um monitoramento e ter amostras em linhas de ônibus para mapear em que linhas e dias estão sendo detectadas micropartículas. Isso poderia ajudar na retomada de forma mais ampla."
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- 12/08/2020 - Estudo brasileiro evidencia suspensão do Sars-CoV-2 em locais fechadosAmostras coletadas no Hospital das Clínicas da USP reforçam que novo coronavírus consegue permanecer no ar por horas - mas boas práticas de ventilação reduzem riscos
Amostras coletadas no Hospital das Clínicas da USP reforçam que novo coronavírus consegue permanecer no ar por horas - mas boas práticas de ventilação reduzem riscos
Fonte: Revista Galileu
No início de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu um alerta que a comunidade científica vinha fazendo há um tempo: a presença do novo coronavírus (e possível via de transmissão) pelo ar. Entre os cientistas que já estavam de olho nessa possibilidade estão pesquisadores da startup Omni-electronica, residente na incubadora USP-IPEN-Cietec.Desde junho, os especialistas vêm realizando testes no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) para investigar a presença aérea do Sars-CoV-2 no ambiente hospitalar.
Para conduzir a investigação, os cientistas utilizam o Spiri, um sistema de monitoramento da qualidade do ar em ambientes fechados desenvolvido pela Omni-electronica. O equipamento consegue monitorar, em tempo real, indicadores da Qualidade do Ar Interior (QAI), fator que aponta se a área interna de um edifício está adequada à saúde e ao bem-estar das pessoas. Entre esses indicadores está, por exemplo, a concentração de dióxido de carbono (CO2).
Segundo Arthur Aikawa, CEO da Omni-electronica e pesquisador responsável pelo estudo, o HC foi escolhido justamente por ser um ambiente fechado onde o vírus causador Covid-19 da está circulando.
Os pesquisadores conseguiram capturar o Sars-CoV-2 suspenso no ar - até agora, foram coletadas mais de 20 amostras. As análises feitas pelo Spiri, no entanto, são animadoras: a ventilação adequada desses locais, feita a partir da circulação do ar através de janelas abertas, pode reduzir o risco de contaminação pelo agente infeccioso.
Mas há agravantes a serem considerados. De acordo com Aikawa, a poluição é um deles, pois o vírus suspenso fica "grudado” no material particulado, partículas microscópicas de poluentes presentes no ar. "Além disso, o acúmulo de pessoas também faz o ar ficar carregado. Por isso, fazer o ar circular é importante para a manutenção de um ambiente mais limpo”, orienta o cientista.
O estudo corrobora, portanto, o que a ciência vinha alertando e a OMS demorou a reconhecer: não é apenas o contato direto com gotículas expelidas por tosse, espirro ou fala que disseminam a Covid-19. Esses bioaerossóis podem ficar no ar durante horas e, sem a ventilação adequada, ser transmitidos por essa via.
Para Aikawa, o estudo servirá para embasar políticas públicas eficazes em auxiliar a retomada pós-quarentena e evitar uma nova onda de contaminação. Além disso, ele reforça que todos os cuidados propostos pela OMS — higienização frequente das mãos e distanciamento social - continuam sendo necessários.
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- 12/08/2020 - Proposta de Emenda Constitucional visa aumentar Produção de Radiofármacos no BrasilFonte: PetronotíciasAssessores do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República estão participando de debates sobre uma proposta de emenda constitucional que tramita na Câmara e visa a ampliação da produção de radiofármacos no Brasil, dando fim ao monopólio estatal nesta atividade. Nesta semana, o tema foi discutido com os deputados General Peternelli e Hiran Gonçalves.
A PEC 517/2010 propõe uma nova redação para a Constituição Federal, autorizando a comercialização e utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos agrícolas e industriais sob o regime de permissão para o setor privado. Ainda sob esse mesmo regime, seriam também permitidas a venda e a utilização de radioisótopos para pesquisa e usos médicos.
"Atualmente, a produção de uma série de radioisótopos com meia-vida superior a duas horas – essenciais na medicina nuclear – só pode ser feita por dois órgãos estatais – o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), localizados em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente”, escreveu o deputado Hiran Gonçalves, em uma rede social. Com o fim do monopólio estatal, a meta da PEC é democratizar o acesso dos brasileiros a esses radioisótopos. "Vamos trabalhar para a sua aprovação na Câmara dos Deputados”, concluiu Gonçalves.
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- 31/07/2020 - Cnen e USP oferecem nova graduação em Engenharia NuclearFonte: Revista Brasil Nuclear
Com grandes projetos no horizonte, tais como a finalização das obras de Angra 3 e construção de novas usinas nucleares; a implantação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), o qual tornará o país autossuficiente na produção de radiofármacos para a Medicina Nuclear; a fabricação do primeiro submarino com propulsão nuclear, dentro do escopo do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) da Marinha do Brasil e a instalação do Repositório de Baixo e Médio Nível de Rejeitos Radioativos (RBMN), dentre outros, o Programa Nuclear Brasileiro (PNB) precisará, fundamentalmente, da reoxigenação dos recursos humanos.A despeito de o setor historicamente enfrentar questões político-orçamentárias, o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Madison Almeida, acredita que os jovens que desejam trilhar uma carreira na área receberão oportunidades efetivas, pois a expansão do programa nuclear acarretará a criação e a modernização de usinas termonucleares, laboratórios e instalações nucleares e radioativas - seja para pesquisa, seja para uso médico ou industrial. "Da mesma forma, aplicações na agricultura, no meio ambiente e na mineração, dentre outras, também demandarão trabalho dos nossos engenheiros nucleares. No âmbito público e privado. Essa opinião não é somente da Cnen, mas já foi compartilhada pela Eletronuclear, Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. (Amazul), Marinha do Brasil e Indústrias Nucleares do Brasil (INB), por exemplo”, afirma.
Nesse sentido, a Cnen deve prestar uma grande contribuição na formação de profissionais especializados no setor nuclear, com a criação de um curso de graduação em Engenharia Nuclear, envolvendo seu Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/Cnen) e a Universidade de São Paulo (USP). Esse será o segundo curso de Engenharia Nuclear, em nível de graduação, no Brasil, pois a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ministra o seu, desde 2010.
De acordo com Madison Almeida, a expectativa é que o curso tenha início em 2021 e contemple uma grade curricular robusta e abrangente, tanto em termos de disciplinas obrigatórias como eletivas. Ele explica que houve grande discussão de outubro de 2019 a março de 2020, da qual surgiram, como alguns dos conteúdos pretendidos, Física de Reatores Nucleares, Engenharia do Núcleo do Reator, Radioproteção/Aplicações Nucleares, Experimentos em Reator de Pesquisa, Aplicações da Radiação Ionizante e de Radioisótopos em Processos Industriais e no Meio Ambiente, Fundamentos para o Transporte de Radiação, Química das Radiações e Redes Neurais Artificiais na Engenharia Nuclear. As vagas foram fixadas pela Escola Politécnica da USP (Poli/ USP) em número de dez, para a entrada em 2021.
"Trata-se de belíssimo projeto, multidisciplinar, que demonstra a sinergia histórica entre a Cnen e a USP, materializadas pelo Ipen/Cnen e pela Escola Politécnica da USP (Epusp). O Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/ Esalq/USP), o Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo (CCEMSP) e outros órgãos também participam da iniciativa. Já estivemos com o Professor Dr. Antonio Carlos Hernandes, vice-reitor da USP e, juntamente com o corpo de professores do Ipen/Cnen, queremos registrar o apoio e empenho da Profa. Dra. Liedi Bernucci, diretora da Epusp, do Prof. Dr. Claudio Schon, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais, do Prof. Dr. José Carlos Mierzwa, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental, ambos da Epusp, dentre outros. Também dos vários Professores Doutores do Ipen/Cnen, como Wilson Calvo, Delvonei Andrade e Antonio Teixeira. É uma retomada de ações que foram descontinuadas em 2013, por motivos de força maior”, declara Madison Almeida.
De acordo com ele, a Escola Politécnica da USP e o Ipen/Cnen chegaram ao consenso de que o curso deverá ser oferecido no Município de São Paulo, na Cidade Universitária Armando Salles Oliveira, no Butantã. O campus oferecerá possibilidade integrada, laboratorial, para que docentes e discentes utilizem instalações como os reatores de pesquisa no Ipen/Cnen, que são o IEA/R-1 e o Ipen/MB-01, bem como o irradiador multipropósito, os aceleradores cíclotron e de elétrons e inúmeras outras dos campi da USP e do Ipen/Cnen. "Sem falar que a maior atratividade docente e discente, para esta proposta, reside na Grande São Paulo, em que pese desejarmos ter alunos de todo o país”, completa.
Com relação ao corpo docente, o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Cnen revela que será composto por egressos da própria USP e do Ipen/ Cnen, uma vez que já há expertise profissional concentrada nos professores doutores de ambas as organizações. Atualmente, não está em discussão o número exato de docentes. Todos da Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares e alguns departamentos da Escola Politécnica da USP estarão envolvidos no projeto.
Ao passo que se prepara para contribuir na formação de jovens engenheiros nucleares em nível de graduação, em parceria com a USP, a Cnen tem feito uma radiografia quanto à situação de pessoal na ativa no setor nuclear. Em paralelo, a Comissão estuda a realização de programas de gestão do conhecimento, bem como concede bolsas de estudo nos diversos níveis. "A Medida Provisória nº 922, de 28 de fevereiro de 2020, também é instrumento do governo que converge para a possibilidade de contratações no âmbito público. E todos os projetos de arrasto são objeto de empregabilidade dos formandos na almejada graduação. Damos destaque ao Reator Multipropósito Brasileiro, ao Repositório de Baixo e Médio Nível de Rejeitos Radioativos e ao Laboratório de Fusão Nuclear (LFN), dentre outros”, pontua.
À frente da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Cnen desde agosto de 2019, Madison Almeida é mestre em Ciências Aeroespaciais, com MBA em Administração e especialização em gestão de pessoas no serviço público. Foi coordenador geral das áreas nuclear e aeroespacial, no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e Comunicações (MCTIC), no biênio 2017/18, e gerente de tecnologia satelital, na Telebras, em 2019, cargo ocupado até vir trabalhar na Cnen. Em sua visão, o maior desafio é a implantação de projetos estruturantes, como o RMB, o RBMN e o LFN, com equipes de excelentes profissionais na gestão dos mesmos. Ele assinala, ainda, que outro grande desafio é a recomposição e manutenção dos recursos humanos na área nuclear. Com relação aos projetos em curso, cita o planejamento de uma rede de pesquisas, a ida da DPD/Cnen acompanhada de outros atores às escolas, a divulgação sistemática das ações ao público, a realização de atividades envolvendo Small Modular Reactors (SMRs), gestão de radiofármacos, Técnica do Inseto Estéril, dentre outros. Além, é claro, das ações interinstitucionais focadas no combate à pandemia Covid-19.
"Trabalhamos em profunda sinergia com instituições como a Marinha do Brasil (com histórico de cooperação, de décadas), com os ministérios de Minas e Energia, da Defesa, das Relações Exteriores, da Saúde, com o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Gostaria de agradecer o apoio do nosso Ministério, na pessoa do ministro Marcos Pontes, bem como da Cnen, na pessoa do presidente Paulo Pertusi, que pauta sua gestão pela integração dos esforços - dentro e fora da Comissão. Como última palavra, gostaria de dizer que entidades como a Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) têm muito a contribuir com o Programa Nuclear Brasileiro, por meio de ações integradas conosco, sobretudo pelo alcance que têm junto aos diversos públicos”, finaliza Madison Almeida.
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- 31/07/2020 - Cíclotron já é equipamento hospitalar, mas raramente no BrasilFonte: Revista Brasil Nuclear
A medicina nuclear está tão disseminada nos países desenvolvidos que o cíclotron é considerado um equipamento de uso hospitalar. A afirmação é do pesquisador do CNPq, professor associado do Departamento de Radiologia da Universidade Federal Fluminense e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, Dr. Cláudio Tinoco Mesquita, em sua palestra durante a mesa redonda "Novos Radiofármacos e Expansão da Medicina Nuclear no Brasil”, na Inac 2019. Segundo ele, hospitais que utilizam radiotraçadores de meia-vida muito curta são equipados com cíclotrons em seus subsolos, citando o exemplo de um hospital no Norte da Itália que produz e utiliza o radiotraçador Amônia N-13, usado em exames de estresse cardíaco. Por gerar imagens com alto grau de detalhe, esse exame que permite calcular a reserva de fluxo coronariano, que traduz a capacidade do sangue chegar ao coração e que tem uma grande relação com o aumento da mortalidade coronariana.
Depois de informar que esse exame já é realizado no exterior há cerca de dez, 20 anos, ele lamentou que os pacientes brasileiros não tenham acesso a essa alternativa. "Hoje, no Brasil, quem está fazendo isso? Ninguém! Isso é muito ruim, muito sofrido”, desabafou. Ele justificou a denúncia pelo fato da classe médica querer oferecer esse e outros exames de medicina nuclear a seus pacientes, sem poder. E conclamou a plateia e o setor a se unirem para viabilizar a produção desses novos radiotraçadores. "Vocês que são capazes de fazer essa mudança acontecer”, afirmou.
De acordo com o dr. Tinoco, o PET é o exame de imagem que mais cresce no mundo, com destaque para a área de cardiologia. Ele deu o exemplo do radiofármaco 18F-fluoreto, muito empregado na oncologia para a identificação de metástases e que está sendo empregado na cardiologia por sua propriedade de marcar microcalcificações na parede dos vasos. "Quando o PET com fluoreto encontra uma captação de fluor na parede do vaso, significa que aquela artéria tem uma inflamação, que a aterosclerose está no seu processo mais ativo, com risco de ruptura e de infarto”, explicou. Essa capacidade de identificação de placas por parte do 18F-fluoreto foi demonstrada no estudo "18F-Fluoride PET-CT and the progression of coronary calcification”, realizado pelo Centro de Ciência Cardiovascular da Universidade de Edinburgh, Reino Unido, apresentado no Congresso Mundial de Cardiologia, em Paris (algumas semanas antes do Inac 2019). De acordo com ele, há uma ampla linha de pesquisa sobre o uso do PET com 18F-Fluoreto em cardiologia no exterior, principalmente na Inglaterra. E informou que pacientes que apresentam diagnóstico positivo para esse exame e, portanto, apresentam maior risco de infarto, recebem medicação preventiva específica.
Ele também citou o pirofosfato, um radiotraçador fabricado pelo IPEN, usado há cerca de 30 anos para diagnóstico de infarto. O pirofosfato foi redescoberto pela cardiologia, entre outros motivos, por sua propriedades em identificar a amiloidose cardíaca, explica ele, acrescentando que o radiotraçador foi tema de seis mesas-redondas no último Congresso Mundial de Cardiologia.
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- 30/07/2020 - Campanha da Nasa leva Univesp a MarteAlunos de Engenharia de Computação, do polo de Diadema, enviaram o nome da universidade para microchip do robô Perseverance, lançado hoje ao Planeta Vermelho
Alunos de Engenharia de Computação, do polo de Diadema, enviaram o nome da universidade para microchip do robô Perseverance, lançado hoje ao Planeta Vermelho
Fonte: UNIVESPA campanha mundial da Nasa (National Aeronautics and Space Administration) "Send Your Name to Mars" para engajar a sociedade na exploração espacial, deu a oportunidade a quase 11 milhões de pessoas e instituições de enviar seus nomes à Marte, em um microchip no robô Perseverance, lançado nesta quinta-feira (30/07) ao quarto planeta a partir do Sol, no Cabo Canaveral, na Flórida . O dispositivo tem a tarefa de buscar vida em um local que já foi um lago há bilhões de anos. E a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) vai junto nessa missão. A ideia surgiu dos estudantes de Engenharia de Computação, do polo de Diadema, Alessandro de Santiago, Gerson de Carvalho, Maria Cristina Tessari-Zampieri, Reginaldo Mota e Rogério Missias de Oliveira.
O grupo está trabalhando em um programa de nanossatélite, um CubeSat, e desenvolve o conceito no Projeto Integrador desse semestre, com a tutoria da doutoranda na área aeroespacial pela Universidade de São Paulo (USP), campus São Carlos, Fernanda do Nascimento Monteiro e orientação do Professor Doutor Marcos Antonio Scapin, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN)."Temos muito interesse nas pesquisas e atividades espaciais, o que nos faz estar sempre antenados às ações divulgação pela Nasa. Queremos conectar a Univesp aos estudos aeroespaciais”, explicou Alessandro de Santiago.
De acordo com o aluno, a área deve ganhar destaque nos próximos anos devido à missão Artemis, que pretende levar a primeira mulher à Lua em 2024. "Estamos tentando registrar nossa equipe junto ao COBRUF, uma associação privada, influente na educação aeroespacial brasileira, com experiência internacional e reconhecimento da indústria. Espero ter boas notícias em breve”, afirmou.
Robô Perseverance
A previsão é que o pouso no Planeta Vermelho aconteça no dia 18 de fevereiro de 2021. Além de coletar amostras, o robô Perseverance carrega instrumentos para observar a geologia do local e transformar dióxido de carbono em oxigênio para viabilizar uma missão com humanos no planeta.
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- 30/07/2020 - Entrevista: Dr. Wilson Parejo Calvo Superintendente do IpenTemos expertise em muitas áreas. Mas é preciso incentivar
Temos expertise em muitas áreas. Mas é preciso incentivar
Fonte: Revista Brasil NuclearA pandemia da Covid-19 expôs, de forma cruel, a dependência brasileira em relação ao fornecimento externo de produtos na área da saúde, tais como respiradores, máscaras hospitalares e princípios ativos para medicamentos. Com a globalização, poucos países como China e Índia centralizam a produção desses equipamentos e insumos básicos e, na disputa pelas encomendas, ganha quem tem maior poder de barganha. "No início da pandemia (Covid-19), não foram poucos os casos de cancelamento de compras feitas na China por países como o Brasil porque potências desenvolvidas e com economias bastante sólidas, pagavam multas contratuais para ter preferência desses insumos para sua população e deixando à margem economias mais vulneráveis. O poder econômico de um país ainda prevalece sobre a saúde da população de outro, principalmente nesses momentos de crise, de pandemia que estamos vivenciando”, lamenta o superintendente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Ipen/Cnen-SP), Wilson Aparecido Parejo Calvo. Nesta entrevista a Bernardo Mendes Barata e Vera Dantas, da Brasil Nuclear, em que fala sobre o esforço do Ipen/Cnen-SP para apoiar o combate à Covid-19, Calvo disse que a inovação é a saída para essa situação de dependência. "Está muito claro para nós que é preciso pensar na ciência e tecnologia, com foco na inovação, na busca da solução de problemas que são demandados pela nossa sociedade, principalmente em situações de adversidade”, afirmou.Como exemplo de inovação ele cita o tomógrafo por impedância eletrônica utilizado para monitorar pacientes em tratamento intensivo que necessitam de ventilação artificial. O aparelho é uma alternativa aos diagnósticos pulmonares realizados por equipamentos de raios X ou tomógrafo computadorizado. "Os modelos convencionais de tomografia e de raios X expõem o paciente a uma dose acumulada de radiação ionizante. Já o tomógrafo por impedância eletrônica fornece imagens dos pulmões e permite acompanhar a evolução do quadro da Covid-19, evitando a exposição do paciente ao raio X, seja por tomografia ou radiografia”, explicou. O equipamento está sendo desenvolvido pela Tintel, startup na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo USP/Ipen-Cietec, no campus do instituto, e é apoiado pelo Programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da Fapesp.O superintendente do Ipen destacou outros dois exemplos de inovação. A Magnamed, uma das principais empresas de respiradores artificiais do país, criada por ex-alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que nasceu na Incubadora UPS/Ipen-Cietec, hoje tem filial nos EUA e exporta para mais de 50 países. E o projeto de produção de respiradores de mais baixo custo com tecnologia nacional que a Escola Politécnica da USP está desenvolvendo, junto com o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP).Ele aproveitou a oportunidade para enfatizar a necessidade da construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que permitirá ao país produzir os radioisótopos necessários ao exercício da medicina nuclear, dentre outros produtos, processos e serviços inovadores. "Daria uma tranquilidade enorme para a área médica não depender tanto de insumos do exterior”, disse. Citou o fechamento do espaço aéreo, que obrigou muitos países a interromper todo o serviço de diagnóstico e tratamento de doenças, inclusive o câncer, porque não conseguem ter acesso aos radioisótopos necessários para produzir radiofármacos. "Nesse ponto, o Brasil é privilegiado por suas dimensões continentais, por sua economia, capital humano e ainda consegue trazer insumos através de várias rotas alternativas, em parceria com os governos estadual e federal, além de empresas nacionais e internacionais. Mas o Brasil precisa do RMB. Por autonomia, para democratizar o acesso à medicina nuclear. Nós temos uma expertise muito grande em diversas áreas do conhecimento e o que precisamos é que essa expertise seja incentivada por meio de investimento e políticas públicas. Com isso, tenho certeza de que o Brasil atingiria outro patamar de desenvolvimento tecnológico, com produtos de maior valor agregado e independência de importação”, afirmou.O senhor poderia fazer um breve relato de sua trajetória profissional até estar à frente de sua função como superintendente do Ipen?Honrado, assumi o enorme desafio na Superintendência do Ipen/Cnen-SP, em dezembro de 2016, após a gestão do Dr. José Carlos Bressiani. Ingressei no Instituto na vaga de bolsista da Cnen, após a conclusão do curso de Engenharia de Materiais Metálicos e Cerâmicos, no Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em 1987. Fiz mestrado e doutorado em Tecnologia Nuclear na área de Aplicações pela Pós-Graduação StrictoSensu Ipen/USP, na qual contribuo o máximo possível na qualidade de professor orientador. Contratado em janeiro de 1988, iniciei os trabalhos no atual Centro de Tecnologia das Radiações (Ceter), que cheguei a gerenciar de 2001 a 2013, quando fui convidado a ocupar o cargo de diretor de Administração e Infraestrutura do Instituto, em 2014.O senhor acredita que esta pandemia proporcione o maior desafio aos irradiadores gama e aceleradores industriais de elétron do Ceter do Ipen/Cnen-SP desde que foi nomeado como superintendente do Instituto? O Ceter dispõe de dois aceleradores industrias de elétrons, um irradiador multipropósito, um irradiador de cobalto 60Co tipo panorâmico e dois irradiadores de 60Co tipo gammacell?A pandemia da Covid-19 representa o maior desafio para a humanidade surgido na história recente, e pesquisadores são movidos a desafios. Assim, logo que surgiram as primeiras notícias e informações científicas sobre o novo coronavírus, nossos pesquisadores iniciaram ações no sentido de verificar as possibilidades de apoio ao enfrentamento da pandemia. Esforços têm sido realizados em vários centros de pesquisa do Instituto, cada qual contribuindo em sua especialidade. O irradiador multipropósito de cobalto-60 tipo compacto, que rotineiramente já prestava serviços de radioesterilização aos produtos do Centro de Radiofarmácia, na preservação de obras de arte e bens culturais, na redução de carga microbiana em tecidos biológicos aos hospitais, na irradiação de alimentos, dentre outras várias aplicações à sociedade brasileira, tornou-se uma ferramenta imprescindível nesse momento de pandemia. O projeto com tecnologia totalmente nacional e financiamento da Fapesp, foi inaugurado em 2004 com a presença do então ministro da Ciência e Tecnologia Eduardo Henrique Accioly Campos. O Ceter também conta com dois aceleradores industriais de elétrons de 1,5 milhão de elétrons volts para irradiação de fios e cabos elétricos, radioesterilização de materiais laboratoriais e degradação de efluentes industriais, um irradiador de Cobalto-60 tipo panorâmico e outros dois tipo gammacell utilizados em pesquisas e desenvolvimento, além de dosimetria industrial.Os irradiadores gama e aceleradores industriais de elétrons do Ceter estão operando no atendimento das atividades essenciais voltadas à área da Saúde, com prioridade para aquelas que contribuam no combate à Covid-19 - radioesterilização de materiais hospitalares e farmacêuticos. Poderia detalhar sobre os servidores que atuam nessas instalações e quais as principais demandas e produtos atendidos pelo Ipen/Cnen-SP?Seguindo rigorosamente as orientações dos órgãos governamentais (MCTIC e Cnen), área da Saúde (Ministério da Saúde e Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), estamos em regime de trabalho excepcional, com utilização dos EPIs necessários e redução máxima de pessoal nas áreas essenciais que estão atuando em turnos. Na esfera das atividades de pesquisa e de atendimento a produtos e serviços são essenciais, principalmente, a produção de radioisótopos e radiofármacos para diagnóstico e tratamento de doenças em medicina nuclear, a radioesterilização e o processamento de materiais por radiação ionizante, inclusive para indústrias alimentícias, químicas, farmacêuticas, têxteis, automotivas (ambulâncias, viaturas policiais, corpo de bombeiros e segmentos públicos), além de ventiladores pulmonares, EPIs (máscaras faciais) e demais equipamentos para testes diagnósticos, bancos de tecidos biológicos e vacinas. Podemos também mencionar a calibração e dosimetria em detetores e sensores de radiação para a área hospitalar, e atividades de atendimento às emergências radiológicas, além do recebimento de rejeitos radioativos no Estado de São Paulo, entre outras.Na esfera institucional, quais são as ações tomadas pelo próprio Ipen/Cnen -SP, de modo geral, no sentido de contribuir no combate à Covid-19?Centros de Pesquisa do Ipen/Cnen-SP que vêm contribuindo com projetos no combate à Covid-19:a) Centro de Tecnologia das Radiações (Ceter)• As ações do Ceter, por meio da radioesterilização, permite a disponibilização de máscaras em tecido confeccionadas pela iniciativa privada e por ações comunitárias: i) Alfaiataria de Negócios, Consultoria em Marketing e Planejamento doa 18.400 máscaras em algodão às crianças da Plan International, 3 mil máscaras à Paraisópolis e 24.160 máscaras às UBSs que atendem a população carente da Zona Noroeste, por meio da Escola Paulista de Medicina; ii) União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis disponibiliza 50 mil máscaras do Projeto Costurando Sonhos Brasil aos moradores da comunidade de Paraisópolis; iii) Mixxon Modas Eireli oferece 20 mil máscaras para doações em hospitais, ONGs e trabalhadores na categoria essenciais; iv) Centro de Inovação da USP (InovaUSP) e Projeto Respire fornece 1 milhão de máscarase a Divisão de Apoio à Pesquisa e Extensão (MAE/USP) com 200 máscaras ao Hospital Universitário e Hospital das Clínicas da FMUSP. Além disso, há disponibilização de placas de Petri, placas de Elisa, garrafas de meio de cultura e tubos Falcons ao Instituto Butantan.• O grupo de pesquisadores voltados para atividades em Banco de Tecidos Biológicos e Nanotecnologia (grafeno) do Ceter, que já possuíam experiência no desenvolvimento de kits para detecção do vírus da dengue e sua inativação para fabricação de vacinas (projeto em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz), inicia novos estudos para a inativação do coronavírus (Covid-19) por radiação ionizante, para produção de biossensores de diagnóstico rápido e vacinas.b) Centro de Química e Meio Ambiente (CEQMA)• O CEQMA inicia dois projetos especificamente nesse sentido. Mais uma vez, as linhas de pesquisa já desenvolvidas com a fabricação de membranas de hidrogel permitem estudos no desenvolvimento de proteção facial em hidrogel para uso em máscaras respiratórias. Além disso, a larga experiência e o conhecimento dos pesquisadores do CEQMA permitem o desenvolvimento de géis alcoólicos com nanopartículas de prata com capacidade biocida, com o objetivo de manter superfícies descontaminadas.c) Centro de Biotecnologia (Cebio)• Pesquisadores detêm conhecimento com ensaios de biocompatibilidade e o Cebio possui infraestrutura reconhecida pela Anvisa e Inmetro. Nesse sentido, há possibilidade de se realizar avaliações de segurança de biocompatibilidade para materiais e equipamentos essenciais no atendimento de pacientes com Covid-19, como respiradores e de relatórios técnicos para gerenciamento de risco.d) Centro de Lasers e Aplicações (Celap)• A diversificada linha de pesquisa desenvolvida no Celap, tanto na área ambiental quanto na área da saúde, aliada à instalação de um de um dos equipamentos mais avançados em microscopia, o Snom (Scanning Near Field Optical Microscopy) – um microscópio subnano a laser, único na América Latina, possibilitará projetos com LEDs de emissão azul sustentável para o estabelecimento de um protocolo de irradiação para inativação de vírus e bactérias sem causar degradação de materiais. Outra possibilidade será a identificação de mecanismos de fotoinativação do vírus utilizando técnicas de espectroscopia com resolução espacial nanométrica.e) Pós-Graduações em Tecnologia Nuclear e Tecnologia das Radiações em Ciências da Saúde• A contribuição do Ipen/Cnen-SP estende-se também à esfera da formação de mestres, doutores e pós-doutores com seus dois programas de pós-graduação Stricto-Sensu, seja em Tecnologia Nuclear (Aplicações, Materiais e Reatores) com a USP, seja com seu Mestrado Profissional em Tecnologia das Radiações em Ciências da Saúde. O primeiro completou 44 anos de existência, com 2 mil mestres e mil doutores graduados, possui conceito seis da Capes. O segundo, iniciado em 2019, aprimorará profissionais para a área da Saúde, no qual um dos temas de mestrado é o "Mapeamento da contaminação da população universitária no Campus da USP e em outras localidades do Brasil”.A pandemia da Covid-19 representa o maior desafio para a humanidade surgido na história recente. E pesquisadores são movidos a desafios. Esforços têm sido realizados em vários centros de pesquisa do Instituto, cada qual contribuindo em sua especialidadeQual foi o aumento da demanda pelo serviço de irradiação de produtos de saúde proporcionado pelo Ipen/Cnen -SP antes da Pandemia e nesse período crítico, sobretudo considerando que o Instituto fica em São Paulo, Estado mais atingido pelo novo coronavírus?Com advento da pandemia, a demanda por radioesterilização aumentou no segmento de EPIs (máscaras faciais) no Ceter, principalmente voltada às ações humanitárias. Contudo, há no campus do Instituto a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo USP/Ipen–Cietec, na qual destacam-se algumas startups, entre as cerca de 110 incubadas, com soluções inovadoras no combate à Covid-19:• A Timpel desenvolve pesquisa voltada a um tomógrafo por impedância elétrica, utilizado para monitorar pacientes em tratamento intensivo que necessitam de ventilação artificial, apoiada pelo Programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da Fapesp. Trata-se de alternativa aos diagnósticos pulmonares realizados por equipamentos de raios X ou tomógrafo computadorizado, nos quais há necessidade de controle da exposição do paciente à radiação no acompanhamento da doença do SARS-CoV-2 (Covid-19).• A TissueLabs, que atua na fabricação de órgãos e tecidos em laboratório, direcionou toda sua equipe científica ao desenvolvimento do MatriWell™, plataforma que permite estudar a Covid-19 no epitélio pulmonar, tecido afetado pelo vírus. A solução será distribuída gratuitamente aos pesquisadores que estão desenvolvendo estudos sobre a doença.• A Omni-electronica desenvolveu um dispositivo para monitorar todos os principais parâmetros relacionados à qualidade do ar, que orienta sobre o uso do ar-condicionado em ambientes fechados, tais como, hospitais, em tempos de coronavírus.• A 3D Criar intensificou a produção de equipamentos de proteção e componentes hospitalares, tais como suportes para proteção facial, válvula de respiradores e distribuidores de fluxo de ar impressos em 3D.• A Sonata Solutions está desenvolvendo tecnologia de esterilização por meio de plasma para combater a Covid-19 (esterilização de ambientes e embarcando soluções em robôs de limpeza), dentre outras.A então startup Magnamed desenvolveu tecnologia nacional em uma área de 50 m² na Incubadora USP/Ipen-Cietc, com o apoio do Pipe-Fapesp em 2008. Atualmente, possui uma fábrica de 3.000 m², exportando para mais de 60 países, com fábrica própria nos Estados Unidos, e assinou contrato com o Ministério da Saúde para fornecer 6,5 mil ventiladores pulmonares, fundamental no tratamento de pacientes hospitalizados com Covid-19 em estado grave.Os irradiadores gama e aceleradores industriais de elétrons do Ipen/Cnen-SP têm capacidade instalada para atender uma demanda ainda maior? Qual a margem de crescimento, tendo em vista que, infelizmente, o Brasil ainda não atingiu o pico previsto da curva de infectados / tempo da Covid-19?Perfeitamente. Além de contarmos com um dos aceleradores industriais de elétrons de 1,5 milhão de elétrons volts, o qual trabalha com sistema de transporte por esteira, o irradiador multipropósito de Cobalto-60 tipo compacto possui licença da CGMI/DRS/Cnen para operar com até 1 milhão de Curies em Cobalto-60. Atualmente, há instalados apenas 250 mil Curies em Cobalto-60 nesse irradiador gama, o que permite uma capacidade para processamento atual de até 10 m3 / dia (dose de 25 kGy) no Instituto. Assim, podemos inclusive ampliar o regime de trabalho em turnos e atender uma demanda maior em radioesterilização de produtos médico-cirúrgicos, principalmente em ações humanitárias. Não podemos deixar de mencionar que há plantas de irradiação por feixe de elétrons e raios gama da empresa Sterigenics nos municípios de Cotia e Jarinu, ambos no interior de São Paulo, que prestam serviços de radioesterilização em larga escala no país.Apesar de ser uma doença que apresenta diversos sintomas, com foco nas vias respiratórias, houve também um aumento da procura pelo serviço de irradiação de sangue para transfusão proporcionado pelo Ipen/Cnen-SP?Irradiamos no irradiador de Cobalto-60 tipo panorâmico do Ceter, hemoderivados e tecidos biológicos para trabalhos de P&D voltados ao Cebio. A irradiação de bolsas de sangue concentra-se no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), uma das unidades técnico-científicas da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD) da Cnen, tal como, o IIpen/Cnen-SP.Podemos dizer que hoje o Ipen/Cnen-SP concentra praticamente 100% de seus esforços no combate à pandemia ou o Instituto continua suprindo outras demandas urgentes que não tenham correlação com o novo vírus?O Ipen/Cnen-SP vem realizando um esforço hercúleo, com o apoio da DPD e Cnen, e colaboração da Casa Civil da Presidência da República, dos ministérios (MCTIC e MRE), da SBMN e, principalmente, dos profissionais do Centro de Radiofarmácia e do Instituto, para manter a produção de radioisótopos e radiofármacos para o diagnóstico e terapia em medicina nuclear, buscando atender às demandas da classe médica em um cenário desafiador e que exige uma avaliação constante. Com a colaboração de fornecedores nacionais e internacionais, dos governos federal e estadual, e servidores que atuam em áreas essenciais do Instituto, o Ipen/Cnen-SP tem conseguido atender todas as demandas da sociedade, até o momento. Outras atividades técnicas institucionais são essenciais, tais como, o atendimento a emergências radiológicas, recebimento de rejeitos radioativos, produção e distribuição de fontes seladas industriais e médicas, radiometria ambiental, processamento de materiais por radiação ionizante para as áreas de alimentação, farmacêutica, química, têxtil e automotiva, dentre outras. Esses setores estão trabalhando com o mínimo de servidores no Instituto e, em alguns casos, em sistema de rodízio, enquanto perdurarem as orientações governamentais e da Organização Mundial de Saúde (OMS), para enfrentamento do novo coronavírus (Covid-19).O senhor gostaria de dar uma palavra final?Temos que acreditar na ciência, tecnologia e inovação. Principalmente, na capacidade de superação do ser humano em busca de soluções aos grandes desafios na adversidade, tal como, a que enfrentamos na pandemia provocada pelo novo coronavírus (Covid-19). Nesse sentido, agradeço especialmente aos servidores, colaboradores e alunos do Ipen/Cnen-SP pelo imenso esforço, dedicação e compromisso de todos, na busca por esperança, superação e soluções inovadoras que respondam às necessidades da sociedade Brasileira. -
- 20/07/2020 - Pós-graduação em Tecnologia Nuclear do Ipen/USP ultrapassa 3 mil títulosMaria José Alves de Oliveira cresceu numa família pobre do interior da Paraíba, sem televisão, sem geladeira, sem eletricidade, às vezes, catando comida do lixo para sobreviver. Não bastasse tudo isso, havia outra necessidade que a incomodava constantemente na infância: a fome de conhecimento. Essa, ela saciava com os jornais velhos que alguém, vira e mexe, trazia da cidade. Devorava cada palavra que sua educação de 4ª série lhe permitia consumir; e nunca ficava saciada. “Eu sentia uma necessidade enorme de conhecimento”, lembra a química, hoje com 50 anos, morando em São Paulo, mãe de três filhas e com o terceiro pós-doutorado em curso.
Maria José Alves de Oliveira cresceu numa família pobre do interior da Paraíba, sem televisão, sem geladeira, sem eletricidade, às vezes, catando comida do lixo para sobreviver. Não bastasse tudo isso, havia outra necessidade que a incomodava constantemente na infância: a fome de conhecimento. Essa, ela saciava com os jornais velhos que alguém, vira e mexe, trazia da cidade. Devorava cada palavra que sua educação de 4ª série lhe permitia consumir; e nunca ficava saciada. “Eu sentia uma necessidade enorme de conhecimento”, lembra a química, hoje com 50 anos, morando em São Paulo, mãe de três filhas e com o terceiro pós-doutorado em curso.
Fonte: Jornal da USP
Por Herton Escobar
O caminho para chegar ao ensino superior não foi fácil, mas ela chegou lá. Aos 32 anos, iniciou a graduação em Química nas Faculdades Oswaldo Cruz e conseguiu uma bolsa de iniciação científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que a levou ao laboratório da pesquisadora Duclerc Parra, no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), para trabalhar num projeto de transformação de polímeros por irradiação. "Fiz minha iniciação científica no Ipen e me encantei por lá. Descobri como era gostoso trabalhar com pesquisa”, relembra Maria José. "Pensei: esse é o caminho que vai me dar alegria.”
Dessa iniciação científica, brotou um mestrado; o mestrado evoluiu para um doutorado (ambos sob a orientação de Duclerc, com bolsa Fapesp); o doutorado ganhou um Prêmio Capes de Tese, em 2014, e assim Maria José entrou para o extenso hall de ilustres egressos do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Nuclear Ipen/USP, que acaba de atingir a marca de 3 mil mestres e doutores titulados.
Criado há 44 anos, em março de 1976, o programa tem hoje cerca de 500 alunos matriculados, com mais de 100 orientadores, desenvolvendo pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico, como medicina, engenharia, energia, biotecnologia e nanotecnologia.
"É a pós-graduação mais exitosa da USP com uma entidade associada”, diz o reitor da USP, Vahan Agopyan. "Um casamento perfeito”, descreve ele; "muito bom para o Ipen, muito bom para a USP e, consequentemente, muito bom para a sociedade.”
Fundado em 1959, o Ipen é uma autarquia vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Estado de São Paulo e gerida técnica e administrativamente pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que é um órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) — ou seja, é uma instituição de caráter híbrido, estadual-federal.
Apesar de não ser parte da USP, suas instalações ficam dentro da Cidade Universitária, em São Paulo, e há uma sinergia muito grande entre as instituições. A pós-graduação em Tecnologia Nuclear simboliza a consagração desse "casamento”, que acaba de gerar seu primeiro "filho”: um novo curso degraduação em Engenharia Nuclear, que será oferecido a partir de 2021 pela Escola Politécnica (Poli) da USP, em colaboração com o Ipen.
"O fato de estarmos na USP é crucial”, diz o superintendente do Ipen, Wilson Calvo. "É um campo muito fértil para ciência, tecnologia e inovação.” Além da interação direta com os alunos, professores e laboratórios da universidade, o instituto é vizinho do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP), com o qual trabalha no projeto do submarino nuclear, e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado — ambos, também, localizados dentro da Cidade Universitária.
Muitos dos professores da Escola Politécnica que darão aulas no novo curso de Engenharia Nuclear foram formados na pós-graduação do Ipen, destaca Calvo. O programa é avaliado como Nota 6 (numa escala de 1 a 7) pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e outorga uma média de 130 títulos por ano, sendo dois terços de mestrado e um terço, de doutorado. As aulas são ministradas por professores da USP e servidores credenciados do Ipen, utilizando as instalações únicas do instituto — que incluem dois reatores nucleares (IEA-R1eIPEN-MB/01), dois aceleradores de partículas (cíclotrons) e cerca de 400 laboratórios, distribuídos por11 centros de pesquisae desenvolvimento tecnológico.
O programa tem uma grande preocupação de formar não apenas bons profissionais, tecnicamente qualificados, diz Calvo, mas também "grandes lideranças”, que trabalhem pelo bem da sociedade. Ele mesmo é um egresso do programa, assim como tantas outras lideranças na área de ensino e pesquisa em tecnologia nuclear no Brasil.
A marca de 3 mil títulos (1 mil de doutorado e 2 mil de mestrado) foi atingida em julho deste ano. "Gerenciar um programa dessa magnitude não é nada fácil; somos maiores até do que algumas pequenas universidades”, diz o presidente da Comissão de Pós-Graduação do Ipen, Delvonei Alves de Andrade — outro egresso do programa. "É muito trabalhoso, mas também muito prazeroso”, completa ele. "É a vida de muita gente que está nas nossas mãos.”
Os profissionais formados pelo programa estão espalhados pelo Brasil e pelo mundo, trabalhando tanto no setor público quanto no privado, nas mais diversas áreas de aplicação da tecnologia nuclear. "É muito difícil um aluno nosso ficar desempregado”, destaca Calvo.
"Sinto-me muito privilegiado de ter estado no Ipen”, diz o pesquisador Gustavo Costa Varca, de 34 anos. Graduado em Farmácia pela Universidade de Sorocaba, ele concluiu doutorado em Tecnologia Nuclear no Ipen/USP em 2014, sob orientação de Ademar Lugão, um dos pesquisadores mais veteranos da casa, trabalhando no desenvolvimento de hidrogéis contendo moléculas farmacológicas para o tratamento de feridas. Na sequência, engatou dois pós-doutorados, de 2015 a 2019, ganhou prêmios, publicou dezenas de trabalhos, e hoje é gerente de novas aplicações na E-Beam, uma empresa de tecnologia nuclear no Estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos."O Ipen tem visibilidade internacional; é reconhecido como uma autoridade na área”, garante Varca. Uma das principais marcas do instituto, segundo ele, é a sua pluralidade científica e tecnológica.
O uso mais conhecido da tecnologia nuclear é na geração de energia, como nas usinas nucleares de Angra (RJ), mas suas aplicações vão muito além disso. A radiação é uma ferramenta essencial a vários setores da indústria, muito usada na esterilização, fabricação e desenvolvimento de novos materiais, incluindo alimentos e medicamentos. O Ipen é o maior fabricante e desenvolvedor brasileiro de radiofármacos — substâncias radioativas usadas no diagnóstico e tratamento de doenças como o câncer (vídeo abaixo). "A contribuição social da tecnologia nuclear é muito grande”, afirma Andrade.
As pesquisas realizadas no âmbito do programa de pós-graduação buscam ampliar cada vez mais esse leque de conhecimento científico e aplicações da tecnologia nuclear.
Maria José, assim como Varca, utiliza fontes radioativas para modificar a estrutura de polímeros e transformá-los em hidrogéis (uma espécie de gelatina, ou "água sólida”), que podem ser combinados com componentes ativos para uma grande diversidade de aplicações. Sua principal linha de pesquisa é o desenvolvimento de hidrogéis, combinados com fármacos para o tratamento de feridas crônicas e derivadas da leishmaniose tegumentar. Mais recentemente, em 2019, começou um novo projeto de pós-doutorado, voltado para o uso de hidrogéis na limpeza e restauração de obras de arte, em colaboração com o pesquisador Pablo Vasquez Salvador. "Ainda temos muito o que descobrir, muito o que aprender”, diz a pesquisadora.
Passados 18 anos, Maria José segue tão apaixonada pela pesquisa quanto no primeiro dia da iniciação científica. E essa paixão já tem um legado triplo: sua filha mais velha seguiu os passos da mãe e concluiu recentemente o mestrado em materiais poliméricos no Ipen/USP; a filha do meio faz mestrado em Arqueologia no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP; e a filha caçula está a um passo de concluir a gradução em Arquitetura, também na USP.
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- 19/07/2020 - O risco da Energia Nuclear é a falta de conhecimentoFonte: Notícias ao MinutoMas oh não se esqueçam / Da rosa da rosa / Da rosa de Hiroshima / A rosa hereditária / A rosa radioativa. O trecho de um dos mais conhecidos poemas de Vinicius de Moraes, A Rosa de Hiroshima, reflete o terror das pessoas comuns sobre o aspecto devastador da energia nuclear, materializada na bomba que devastou a cidade japonesa citada nos versos.
Mas a energia nuclear também é responsável por avanços que facilitam o cotidiano das pessoas e até mesmo salvam vidas. "Cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares", explica Claudio Geraldo Schön, professor titular no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP).
Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear na USP, que abre turma já em 2021. Ofertada na Cidade Universitária, a graduação terá duração de cinco anos em período integral, e o ingresso poderá ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Na entrevista a seguir, o professor aborda a nova graduação e a atuação do engenheiro nuclear.
O que motivou a criação do curso de Engenharia Nuclear?
Temos no País um problema de falta de mão de obra na área nuclear. Poucos sabem, mas as ações de pesquisa no Brasil começaram junto com a descoberta da própria radiação, no início do século 20. Foi bem antes das operações industriais, que tiveram início no acordo com a Alemanha na década de 1970 e quando houve um esforço de formação de mão de obra. Mas, no caso da área nuclear, não houve continuação nesse processo de preparo de profissionais e tal omissão ficou mais séria nos últimos dez anos, momento em que se viu a perspectiva dos especialistas da década de 1970 se aposentarem sem as devidas reposições. Tendo em vista que o momento dessas substituições se aproxima, vimos que criamos nosso curso no momento correto.
Como será aplicado?
O curso terá a primeira turma em 2021. Fará parte como terceira opção de uma formação mais ampla que engloba Engenharia de Materiais e Engenharia Metalúrgica na Escola Politécnica da USP. Serão três anos de disciplinas compartilhadas entre essas três opções de engenharia, nos quais fizemos adaptações. Nós alteramos um pouco as disciplinas do ciclo comum, introduzindo aspectos que são próprios da engenharia nuclear, como por exemplo o tratamento de radiações no contexto da físico-química, ou o transporte de nêutrons dentro da disciplina de fenômenos de transporte. Mas estamos estimulando todos os docentes a incluir tópicos de engenharia nuclear em suas disciplinas. Ao fim do terceiro ano, o aluno pode então optar pelo direcionamento exclusivo a engenharia nuclear. Decidimos por essa configuração para dar uma formação mais sólida nos anos iniciais do curso.
Por que tal integração com as Engenharias de Materiais e Metalúrgicas é necessária para o interessado no curso de Engenharia Nuclear?
No aspecto em que planejamos o curso, ou seja, na ênfase no ciclo de combustíveis, um aspecto importante é o comportamento das matérias-primas da engenharia nuclear como materiais, ou seja, quais são suas propriedades mecânicas e como são afetadas por processamento. Assim, a vinculação aos cursos de Engenharia Metalúrgica e de Engenharia de Materiais é natural. Esses cursos oferecem uma forte base em físico-química de materiais, em ciência dos materiais, assim como disciplinas que discutem a relação entre as estruturas e as propriedades dos materiais.
Em que áreas o engenheiro nuclear pode atuar?
Pode atuar em qualquer área da indústria que utiliza radiação. Temos sempre noção negativa do tema, mas é preciso ficar claro que usamos radiação em várias tecnologias presentes no cotidiano. Por exemplo cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares. E lembrando que no Brasil 3% da eletricidade é feita pelas usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2.
Desastres em usinas nucleares como os de Chernobyl, na Ucrânia, e mais recentemente em Fukushima, no Japão, despertam medo em muitas pessoas. Como o curso trabalha tais preocupações?
A radiação é algo perigoso, mas na verdade o maior risco é justamente a falta de conhecimento em seu processamento. O engenheiro nuclear é justamente quem domina os modos seguros de lidar com irradiações e, assim, garante que elas sejam usadas em nosso dia a dia.
E quais são as perspectivas para o profissional no cenário nacional pós-pandemia?
Estamos vivendo uma situação de crise que causará um grande impacto em toda a nossa vida. É de se esperar que ocorrerá uma retomada econômica e aí serão necessários implementos na segurança energética no País. A indústria nuclear vai ser responsável por boa parte da energia brasileira, o que põe em discussão as usinas que estão sendo construídas. Angra 3 vai ser concluída em algum momento e integrada à grade energética brasileira. Outro grande projeto é o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que será construído em Iperó, próximo de Sorocaba, que tornará o País autossuficiente na fabricação de isótopos para radiofármacos, colaborando assim na medicina nuclear. Esses são grandes exemplos com necessidade específica de produção de reatores e que precisarão de engenheiros nucleares.
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- 19/07/2020 - ‘O risco da energia nuclear é a falta de conhecimento', diz professor da USPClaudio Geraldo Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear na USP
Claudio Geraldo Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear na USP
Fonte: O Estado de S. Paulo
Entrevista com
Claudio Geraldo Schön, professor titular no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Poli/USP
Alex Gomes, especial para o Estado, O Estado de S.Paulo
Mas oh não se esqueçam / Da rosa da rosa / Da rosa de Hiroshima / A rosa hereditária / A rosa radioativa.O trecho de um dos mais conhecidos poemas de Vinicius de Moraes, A Rosa de Hiroshima, reflete o terror das pessoas comuns sobre o aspecto devastador da energia nuclear, materializada na bomba que devastou a cidade japonesa citada nos versos.
Mas a energia nuclear também é responsável por avanços que facilitam o cotidiano das pessoas e até mesmo salvam vidas. "Cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares”, explica Claudio Geraldo Schön, professor titular no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP).
Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear na USP, que abre turma já em 2021.Ofertada na Cidade Universitária, a graduação terá duração de cinco anos em período integral, e o ingresso poderá ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Na entrevista a seguir, o professor aborda a nova graduação e a atuação do engenheiro nuclear.
Alex Gomes, especial para o Estado, O Estado de S.Paulo19 de julho de 2020 | 14h31
Mas oh não se esqueçam / Da rosa da rosa / Da rosa de Hiroshima / A rosa hereditária / A rosa radioativa.O trecho de um dos mais conhecidos poemas de Vinicius de Moraes, A Rosa de Hiroshima, reflete o terror das pessoas comuns sobre o aspecto devastador da energia nuclear, materializada na bomba que devastou a cidade japonesa citada nos versos.
Mas a energia nuclear também é responsável por avanços que facilitam o cotidiano das pessoas e até mesmo salvam vidas. "Cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares”, explica Claudio Geraldo Schön, professor titular no Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP).
Schön esteve à frente do grupo de trabalho que solicitou a criação do curso de Engenharia Nuclear naUSP, que abre turma já em 2021.Ofertada na Cidade Universitária, a graduação terá duração de cinco anos em período integral, e o ingresso poderá ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Na entrevista a seguir, o professor aborda a nova graduação e a atuação do engenheiro nuclear.
O que motivou a criação do curso de Engenharia Nuclear?
Temos no País um problema de falta de mão de obra na área nuclear. Poucos sabem, mas as ações de pesquisa no Brasil começaram junto com a descoberta da própria radiação, no início do século 20. Foi bem antes das operações industriais, que tiveram início no acordo com a Alemanha na década de 1970 e quando houve um esforço de formação de mão de obra. Mas, no caso da área nuclear, não houve continuação nesse processo de preparo de profissionais e tal omissão ficou mais séria nos últimos dez anos, momento em que se viu a perspectiva dos especialistas da década de 1970 se aposentarem sem as devidas reposições. Tendo em vista que o momento dessas substituições se aproxima, vimos que criamos nosso curso no momento correto.
Como será aplicado?
O curso terá a primeira turma em 2021. Fará parte como terceira opção de uma formação mais ampla que engloba Engenharia de Materiais e Engenharia Metalúrgica na Escola Politécnica da USP. Serão três anos de disciplinas compartilhadas entre essas três opções de engenharia, nos quais fizemos adaptações. Nós alteramos um pouco as disciplinas do ciclo comum, introduzindo aspectos que são próprios da engenharia nuclear, como por exemplo o tratamento de radiações no contexto da físico-química, ou o transporte de nêutrons dentro da disciplina de fenômenos de transporte. Mas estamos estimulando todos os docentes a incluir tópicos de engenharia nuclear em suas disciplinas. Ao fim do terceiro ano, o aluno pode então optar pelo direcionamento exclusivo a engenharia nuclear. Decidimos por essa configuração para dar uma formação mais sólida nos anos iniciais do curso.
Por que tal integração com as Engenharias de Materiais e Metalúrgicas é necessária para o interessado no curso de Engenharia Nuclear?
No aspecto em que planejamos o curso, ou seja, na ênfase no ciclo de combustíveis, um aspecto importante é o comportamento das matérias-primas da engenharia nuclear como materiais, ou seja, quais são suas propriedades mecânicas e como são afetadas por processamento. Assim, a vinculação aos cursos de Engenharia Metalúrgica e de Engenharia de Materiais é natural. Esses cursos oferecem uma forte base em físico-química de materiais, em ciência dos materiais, assim como disciplinas que discutem a relação entre as estruturas e as propriedades dos materiais.
Em que áreas o engenheiro nuclear pode atuar?
Pode atuar em qualquer área da indústria que utiliza radiação. Temos sempre noção negativa do tema, mas é preciso ficar claro que usamos radiação em várias tecnologias presentes no cotidiano. Por exemplo cabos de transmissão de energia em veículos são irradiados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes à chama. Na saúde, técnicas de diagnóstico dependem de um isótopo radioativo produzido em reatores nucleares. E lembrando que no Brasil 3% da eletricidade é feita pelas usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2.
Desastres em usinas nucleares como os de Chernobyl, na Ucrânia, e mais recentemente em Fukushima, no Japão, despertam medo em muitas pessoas. Como o curso trabalha tais preocupações?
A radiação é algo perigoso, mas na verdade o maior risco é justamente a falta de conhecimento em seu processamento. O engenheiro nuclear é justamente quem domina os modos seguros de lidar com irradiações e, assim, garante que elas sejam usadas em nosso dia a dia.
E quais são as perspectivas para o profissional no cenário nacional pós-pandemia?
Estamos vivendo uma situação de crise que causará um grande impacto em toda a nossa vida. É de se esperar que ocorrerá uma retomada econômica e aí serão necessários implementos na segurança energética no País. A indústria nuclear vai ser responsável por boa parte da energia brasileira, o que põe em discussão as usinas que estão sendo construídas. Angra 3 vai ser concluída em algum momento e integrada à grade energética brasileira. Outro grande projeto é o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que será construído em Iperó, próximo de Sorocaba, que tornará o País autossuficiente na fabricação de isótopos para radiofármacos, colaborando assim na medicina nuclear. Esses são grandes exemplos com necessidade específica de produção de reatores e que precisarão de engenheiros nucleares.
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- 10/07/2020 - Por que o Brasil precisa de Engenheiros Nucleares?A partir de 2021 a Escola Politécnica (Poli) da USP passa a oferecer a habilitação em Engenharia Nuclear. Esta área pode ser vista como negativa devido a grandes tragédias, porém a relevância da utilização de materiais nucleares vai desde a produção de energia até a fabricação de fármacos para tratamentos e equipamentos médicos. Como o Brasil dispõe desses recursos, é necessário formar profissionais para atuarem nessa indústria, e continuar a aprimorar as tecnologias e desenvolver inovações. Historicamente o Brasil teve diversos projetos na área nuclear e até hoje é um dos poucos países que dominam todo o ciclo do combustível nuclear – da extração ao gerenciamento de rejeitos.
A partir de 2021 a Escola Politécnica (Poli) da USP passa a oferecer a habilitação em Engenharia Nuclear. Esta área pode ser vista como negativa devido a grandes tragédias, porém a relevância da utilização de materiais nucleares vai desde a produção de energia até a fabricação de fármacos para tratamentos e equipamentos médicos. Como o Brasil dispõe desses recursos, é necessário formar profissionais para atuarem nessa indústria, e continuar a aprimorar as tecnologias e desenvolver inovações. Historicamente o Brasil teve diversos projetos na área nuclear e até hoje é um dos poucos países que dominam todo o ciclo do combustível nuclear – da extração ao gerenciamento de rejeitos.
Fonte: Notícias site Poli/USP
O professor da Poli, Cláudio Geraldo Schön, contextualiza: "A radiação está presente na nossa vida cotidiana. Todo mundo pensa a energia nuclear como produção de energia, e é importante por fazer parte da nossa grade de energia elétrica, mas as pessoas usam energia nuclear quando, por exemplo, vão fazer um exame de imagens em hospitais, o que é importante para um médico dar um diagnóstico para o paciente”. O docente cita, ainda, que o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), está na última fase de licenciamento e será instalado na cidade de Iperó, na Região Metropolitana de Sorocaba, e sua principal função é fornecer ao Brasil os principais produtos para a medicina nuclear do País.
O docente defende que o curso se faz necessário pois, para operar e desenvolver soluções ligadas a essas tecnologias, é preciso formar especialistas. "O grande problema do Brasil, pelo incrível que pareça, é mão de obra. Precisamos de engenheiros nucleares para operar ferramentas e equipamentos de engenharia nuclear. Estamos preocupamos em oferecer essa demanda de engenheiros para o mercado. A nossa Escola vai entrar com esse propósito, porém isso não quer dizer que nossos engenheiros terão que trabalhar dentro de usinas nucleares. Isso por que a radiação tem atuado em muitas áreas tecnológicas”.
O professor da Poli, José Carlos Mierzwa, que também participou da comissão que propôs o curso, explica que o Brasil já possui atuação em Engenharia Nuclear forte desde a década de 1950, quando o País participou de um programa dos Estados Unidos e da Agência Internacional de Energia Atômica, o Átomos para a Paz. O objetivo deste programa era, depois da utilização da tecnologia com o uma arma, difundir a noção dos benefícios da utilização da tecnologia nuclear.
"No período do pós-guerra, mais precisamente em 1953, o então presidente norte-americano Dwight Eisenhower propôs um projeto chamado "Átomos Pela Paz” (Atoms for Peace), que visava levar os benefícios da recém-descoberta tecnologia nuclear para os países aliados dos EUA. Dentro desta iniciativa, foi incentivada a construção de reatores nucleares de pesquisa ao redor do mundo, e por meio dela foi construído o primeiro reator nuclear do Brasil, o IEA-R1. Este reator foi implantado no recém-inaugurado Instituto de Energia Atômica em 1956, dentro do então praticamente deserto campus da USP no Butantã – que, nesta época, contava com apenas 2 ou 3 construções.” Trecho disponível no site do Ipen.
Mierzwa conta que o Brasil já vinha trabalhando e formando profissionais em nível de pós-graduação, principalmente físicos e engenheiros, por meio de programas internacionais de estudos, e o Ipen foi se consolidando na pesquisa, principalmente na área de radioisótopos, reatores, gerenciamento de rejeitos radioativos, produção de radiofármacos para uso na medicina. O professor explica que, devido também a projetos como o submarino nuclear e as usinas de Angra, o Brasil foi dominando aos poucos a tecnologia, o "Ciclo do combustível nuclear”.
O Ciclo do combustível nuclear consiste em todas as etapas, desde a extração do minério de urânio, o projeto de reatores nucleares, montagem, operação, até o gerenciamento de rejeitos radioativos. "Uma etapa sensível desse ciclo é o enriquecimento isotópico, que é a produção de urânio para usar em um reator nuclear. Poucos países na época tinham, e o Brasil conseguiu desenvolver, sendo um dos poucos países que dominam todo o ciclo do combustível nuclear”, destaca Mierzwa.
O Brasil tem atuação e várias empresas na área nuclear – a Eletronuclear, a Indústrias Nucleares do Brasil (INB), o Centro Experimental de Aramar da Marinha, o projeto da base de submarinos da Marinha no Rio de Janeiro, tem outros institutos de pesquisa no País – que absorvem profissionais de outras áreas e os capacitam para atuar com tecnologia nuclear. O professor Mierzwa explica que para dar conta de toda essa demanda, faltava a formação de profissionais, em nível de graduação, para atuarem nessas áreas. Neste sentido, devido à posição de destaque tecnológico e disponibilidade de recursos naturais, o curso da Poli, assim como o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), visa formar profissionais para atender a esta necessidade no contexto nacional.
Do ponto de vista estratégico, o Brasil precisa desenvolver essa área para produção de energia. Mierzwa aponta que há algumas avaliações que indicam as reservas disponíveis de urânio no Brasil são a segunda maior fonte para a geração de energia. "Para o País se desenvolver, ele precisa de energia. Se não houver condição de desenvolver essa área, o Brasil vai acabar exportando esses nossos recursos para outros países sem poder utiliza-los, ou seja, transferir para outro País se desenvolver em detrimento do nosso”. O professor explica que o uso da energia nuclear pode servir para melhorar o desenvolvimento do País de maneira mais ampla. "Com o desenvolvimento da energia você desenvolve outras áreas, tem uma alavancagem muito grande de recursos tecnológicos”.
Uma área onde a tecnologia nuclear é também muito importante é a produção de radioisótopos, necessária para o tratamento e diagnóstico de várias doenças, feitos com base em materiais derivados da energia nuclear, como traçadores radioativos, usados em diagnósticos e mapeamentos de tumores e vários outros tipos de diagnósticos. "No passado, o Brasil tinha condição de produzir e hoje estamos importando, o que acaba tendo um custo elevado”, relata Mierzwa. "Com a falta de reatores nucleares e, também, do desenvolvimento dessa área, isso acabou ficando restrito”.
Por fim, os materiais também são utilizados a agricultura, uma vez que vários alimentos que o Brasil exporta, principalmente frutas, são submetidas a processos de radiação para eliminação de microorganismos. "É uma área bastante importante para o Brasil, no desenvolvimento de equipamentos para esta aplicação”.
Em relação ao estigma da área nuclear, em relação aos riscos, o docente explica que as pessoas costumam ligar às bombas e aos acidentes ocorridos em outros países. "Há diferença na tecnologia desenvolvida no Japão e a que desenvolvemos aqui no Brasil. O tipo de tecnologia que a gente usa para reatores é um tipo bastante diferente deste, se você for pesquisar você vai ver que o número de acidentes com a tecnologia que o Brasil usa na área é muito menor do que de outros tipos de fontes de energia. Então é mais seguro que energia hidrelétrica, entre as coisas que podem acontecer”.
Quanto à questão ambiental, o professor explica que, em comparação, não há emissões atmosféricas de CO2. "A usina nuclear não tem esse problema, ela não tem o processo de combustão”. Mierzwa, que hoje atua na área de engenharia ambiental e tratamento de efluentes, conta que a área ambiental avançou por conta da área nuclear. "Vários problemas que tinham que ser resolvidos na área nuclear, os pesquisadores foram atrás de novos métodos e novos procedimentos para melhorar a gestão, essa tecnologia acaba sendo transferida para a área convencional”.
Texto: Amanda Rabelo, com a colaboração das estagiárias de jornalismo Beatriz Carneiro e Letícia Cangane. Com informações do Jornal da USP.
Revisão: Rosana Simone.
Leia também : Iniciativa da CNEN leva a criação de habilitação em Engenharia Nuclear na Poli-USP
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- 10/07/2020 - Iniciativa da CNEN leva a criação de habilitação em Engenharia Nuclear na Poli-USPArticulação entre a diretoria e o órgão federal gerou a proposta de um curso na área nuclear, aprovado pela USP em junho.
Articulação entre a diretoria e o órgão federal gerou a proposta de um curso na área nuclear, aprovado pela USP em junho.
Fonte: Site Poli/USP
No dia 23 de junho de 2020, o Conselho Universitário da USP aprovou a criação da habilitação em Engenharia Nuclear na Escola Politécnica da USP. A proposta de criação do curso – que já havia sido proposto em 2013 – foi retomada em 2019 por iniciativa da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), por meio do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), órgão ligado ao ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) do Governo Federal. A nova Comissão foi coordenada pelo professor da Escola Politécnica, Cláudio Geraldo Schön, em um grupo que teve a participação de docentes da Poli de diversas áreas.
O curso contou com um processo rápido de aprovação, com o apoio de todos os órgãos envolvidos no processo dentro da USP: da diretoria e de professores da Escola Politécnica à Reitoria e Pró-Reitorias da Universidade de São Paulo. A justificativa para criação do curso e o que propiciou esta mobilização entre os órgãos da USP, foi a importância do setor nuclear, considerado estratégico para o País, como ressaltam os especialistas da Poli.
Segundo os criadores do curso, a indústria nuclear alavanca a inovação tecnológica em todas a áreas do conhecimento, uma vez que há uma grande oferta de energia e necessidade de desenvolvimento de outras técnicas para garantirem a segurança das operações com materiais nucleares, além dos desenvolvimentos que ocorrem para o desenvolvimento de equipamentos e sistemas.
Outras justificativas apontadas foram o fato de que vários países estão retomando os seus programas nucleares para produção de energia; a disponibilidade de recursos naturais no Brasil (ver tabelas ao lado); para utilização dos materiais nucleares na geração de energia e produção de fármacos e equipamentos para uso na indústria, medicina, agricultura e meio ambiente; além da demanda para este tipo de profissional no mercado, em órgãos ligados ao CNEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN, Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear – CDTN, Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro Oeste e Nordeste – CRCNs, Marinha do Brasil, entre outras empresas.
Texto: Amanda Rabelo, com a colaboração das estagiárias de jornalismo Beatriz Carneiro e Letícia Cangane.
Revisão: Rosana Simone.
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- 05/07/2020 - Engenharia Nuclear é novo curso da USP a partir de 2021Fonte: Defesa.TVO ano de 2021 trará novas oportunidades para quem busca cursar o ensino superior na USP. Além do curso de Ciência de Dados, a Universidade passará a oferecer também a habilitação em Engenharia Nuclear pela Escola Politécnica (Poli), no campus Cidade Universitária. Com duração de cinco anos em período integral, o ingresso poderá ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Apesar do país possuir muitas atividades relacionadas à energia nuclear em aplicações industriais, biomédicas e agrícolas, há falta de profissionais com formação especifica no setor. Ou seja, existem poucas pessoas capacitadas para trabalhar na área e necessidade de se renovar a mão de obra qualificada. Por isso, surgiu a necessidade da criação de uma graduação capaz de suprir essa demanda em alguns anos, conforme destacou o coordenador do novo curso, professor Cláudio Schön.
A nova formação fará parte da carreira Engenharia de Materiais, Metalúrgica e Nuclear, que terá 55 vagas disponíveis no vestibular. Os estudantes terão grade curricular comum, podendo optar pela especialização em Engenharia Nuclear ao fim do terceiro ano. A partir desta fase, passam a estudar disciplinas específicas da área, "como processamento de combustíveis nucleares e experimentos no reator nuclear. Esta, oferecida pelo Ipen de maneira optativa para todos os cursos da USP”, explicou o professor, referindo-se ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), parceiro da Poli na criação do curso e cuja sede fica dentro da Cidade Universitária, no bairro do Butantã.
Segundo ele, a Engenharia Nuclear não é restrita à produção de energia elétrica ou à produção de bombas, como muitos acreditam. Muito além desses aspectos, ele explica que esse tipo de engenharia está relacionado à vida cotidiana em áreas biomédicas, industriais e agrícolas. "Pouca gente percebe que ao fazer um exame de imagem, por exemplo, está utilizando um equipamento que foi produzido em um reator nuclear. Boa parte da operação de reatores é dedicada à produção de radioisótopos para a medicina nuclear”.
Desse modo, os engenheiros formados nesta carreira poderão atuar em diversas áreas, tanto na indústria, como em setores governamentais. Atividades como projetar instalações nucleares, delinear processos de fabricação de combustíveis nucleares, operar e gerenciar reatores ou instalações que fazem uso de fontes radioativas, além de laboratórios de controle de qualidade com acesso a materiais radioativos, também especificar e selecionar materiais e efetuar a análise de falhas em equipamentos que estão em serviço num ambiente nuclear.
"Será um curso muito bom. Esperamos que os alunos interessados na área respondam ao nosso chamado. Eles não irão se arrepender, pois iremos nos dedicar muito à formação deles”, afirmou Cláudio Schön.
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- 30/06/2020 - Ação germicida do sol tem baixo poder para impedir transmissão de coronavírus, aponta estudoRadiação ultravioleta mais potente para eliminar vírus é absorvida pela atmosfera antes de chegar ao solo
Radiação ultravioleta mais potente para eliminar vírus é absorvida pela atmosfera antes de chegar ao solo
Fonte: Folha de São PauloEverton Lopes Batista
SÃO PAULOUm grupo de pesquisadores que usou dados de mais de 200 cidades chinesas durante a pandemia não encontrou efeito da temperatura ou da radiação solar na eliminação do novo coronavírus ou na diminuição do contágio.A descoberta contraria artigos publicados nos últimos meses que apresentaram essa possibilidade com base em cálculos teóricos e experimentos em laboratório.A ação germicida do sol existe porque a estrela emite radiação ultravioleta. Existem alguns tipos desses raios, divididos pelo comprimento de onda com que viajam pelo ambiente. O ultravioleta do tipo C (UVC) é o mais potente e pode eliminar mais de 90% do novo coronavírus alojado em superfícies em poucos segundos, de acordo com experimentos realizados em diversos laboratórios com lâmpadas especiais.A radiação ultravioleta age no material genético do vírus, causando um dano que impede a multiplicação do microrganismo, fazendo com que ele não seja capaz de iniciar uma infecção.Mas o UVC emitido pelo sol fica retido na atmosfera, antes de atingir o solo. E ainda bem: esse tipo de radiação é prejudicial para pessoas, animais e plantas que recebem os raios diretamente por um período mais prolongado, podendo causar de queimaduras a câncer.Aparelhos que usam o UVC artificial emitido por lâmpadas especiais para desinfecção de ambientes já são vendidos no Brasil e usados em diferentes partes do mundo para a eliminação de microrganismos no transporte público e em ambientes fechados.Vindos do sol, chegam até a superfície do planeta os raios ultravioleta do tipo A e B (UVA e UVB). O UVB, que chega em menor quantidade ao solo, tem alguma ação germicida, ainda que com potência milhares de vezes inferior à dos raios UVC.Cientistas dos Estados Unidos realizaram uma simulação em laboratório com lâmpadas que imitam a luz do sol no nível do mar em um dia claro. Os pesquisadores lançaram a radiação sobre uma substância semelhante a uma saliva contendo o Sars-CoV-2 e sobre uma cultura de células contendo o vírus.De acordo com os resultados do experimento, 90% dos vírus foram inativados em cerca de 7 minutos na saliva falsa e em aproximadamente 14 minutos na cultura de células. O estudo foi publicado em maio na revista científica The Journal of Infectious Diseases, ligado à sociedade americana de doenças infecciosas (IDSA).Esses resultados foram obtidos em condições ideais, não levando em consideração a presença de nuvens ou bloqueios causados pela poluição, presentes em situações reais.Um outro artigo publicado no início deste mês por pesquisadores dos Estados Unidos no periódico Photochemistry and Photobiology usou cálculos teóricos para estimar a desativação do novo coronavírus pela luz do sol em diferentes localizações do planeta. Em média, mais de 90% do vírus estaria inativada em até 34 minutos para a maioria das cidades recebendo luz do sol de meio-dia no verão.
Segundo a estimativa dos pesquisadores, a desativação do vírus em São Paulo num dia de inverno levaria cerca de 41 minutos, para um sol de meio-dia.
Os autores do texto, dois pesquisadores aposentados, não fizeram nenhum experimento com o Sars-CoV-2 e usaram um modelo desenvolvido por eles mesmos há mais de dez anos para calcular a inativação de diferentes vírus pela luz do sol. O modelo para os cálculos usa dados da sensibilidade à radiação ultravioleta apresentada por diversos vírus.
No texto, que usa uma página da Wikipédia como uma de suas referências, algo incomum em artigos científicos, os autores argumentam que o distanciamento social e a quarentena imposta por governos para minimizar a transmissão do novo coronavírus podem ter causado mal à população por impedir maior exposição ao sol.
Os cientistas não responderam às perguntas enviadas pela Folha pedindo detalhamento sobre o estudo, mas Jose-Luis Sagripanti, um dos autores, enviou um artigo de opinião assinado no qual questiona os efeitos da quarentena imposta pelos governos.
Pesquisadores brasileiros da área que analisaram o artigo encontraram um forte viés no estudo.
Para Tania Mateus Yoshimura, pós-doutoranda do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) na área de aplicação da luz para a saúde, é problemático levar esse resultado ao pé da letra.
"É uma estimativa. Para sabermos de fato se o vírus tem aquela sensibilidade à luz solar precisamos de experimentos. Ainda não existe consenso sobre a dose necessária de UVC para inativar o vírus. Para a sensibilidade ao UVB, temos menos ainda”, afirma a pesquisadora.
As partículas virais estão no ar geralmente envoltas em matéria orgânica, como saliva ou secreção nasal, por exemplo, que atuariam para proteger o vírus de receber a radiação diretamente sobre o material genético, lembra Yoshimura. "O estudo foi feito com a suposição de uma ação direta no material genético”, acrescenta.
"Ainda que a inativação pelo sol seja possível, não adianta muito estar do lado de fora e alguém tossir ou espirrar por perto; o vírus não vai ficar esperando meia hora no ar até ser inativado”, afirma a cientista.
Além disso, ela lembra que as pessoas que andam pelas ruas não ficam debaixo do sol o tempo todo. "Elas vão pegar transporte público, entrar em ambientes fechados. Nesses casos, a ação germicida do sol não faz diferença”, diz.
Para Caetano Padial Sabino, doutorando na USP e pesquisador das aplicações da luz para a saúde, a afirmação que circula nas redes sociais de que o risco de infecção pelo novo coronavírus é menor em dias ensolarados é perigosa e pode causar riscos à saúde.
"O Brasil tem uma taxa de incidência solar que está entre as maiores do mundo, e mesmo assim somos o epicentro da pandemia”, afirma o cientista, que também é fundador de uma empresa que produz equipamentos de ultravioleta para desinfecção de ambientes.
Pesquisadores de universidades chinesas cruzaram dados de disseminação do Sars-CoV-2, temperatura e radiação solar de mais de 200 cidades da China. Os resultados, publicados em abril na revista científica European Respiratory Journal, indicam que radiação solar e temperatura não influenciaram nas taxas de contágio.
"Nosso estudo não dá suporte à hipótese de que altas temperaturas e índices de radiação ultravioleta podem reduzir a transmissão da Covid-19. É prematuro contar com o clima mais quente para controlar a doença”, escrevem os autores no artigo.
Ainda que os banhos de sol possam estimular a produção da vitamina D, que tem um potencial benéfico para o sistema imunológico, os cientistas descartam uma suposta função terapêutica do sol para casos de Covid-19, uma vez que a radiação atua apenas na superfície sobre a qual incide e os vírus se multiplicam dentro das células, no interior do corpo.
"A luz do sol traz vários benefícios, incluindo a descontaminação. Mas para concluir que pode diminuir o contágio pelo vírus é necessário analisar outras variáveis”, conclui Yoshimura, do Ipen.
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- 23/06/2020 - Ipen recebe inscrições para mestrado profissional em tecnologia das radiações na SaúdeFonte: Agência FapespAgência FAPESP – O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, recebe até quinta-feira (25/06) inscrições para o curso de mestrado profissional stricto sensu em Tecnologia das Radiações na Saúde.
Neste ano haverá a concessão de duas bolsas, por meio de edital interno, para os alunos aprovados que tenham dedicação integral ao programa.
O curso é direcionado a graduados em medicina, farmácia, bioquímica, biomedicina, radiologia, física médica, biologia, medicina veterinária e áreas afins. O objetivo das aulas é capacitar profissionais da área de saúde no uso das radiações ionizantes e não ionizantes para diagnóstico, terapia e demais aplicações.
São oferecidas duas linhas de pesquisa: "Processos de Radiação na Saúde”, com foco em pesquisas relativas a técnicas de aplicação de radiações ionizantes e não ionizantes em saúde, e "Medicina Nuclear e Radiofarmácia”, voltada a pesquisas relacionadas ao desenvolvimento, fabricação e aplicação clínica dos radiofármacos.
Com duração de dois anos, o mestrado tem período letivo semestral, de quartas-feiras às sextas-feiras, das 14 às 20 horas.
Para se inscrever, os candidatos devem enviar formulário de inscrição preenchido, diploma do curso de graduação registrado (frente e verso), histórico escolar do curso de graduação, documento de identificação, CPF e link do currículo Lattes para o e-mail smp@ipen.br.
O processo seletivo, que será on-line, consistirá de comprovação da proficiência na língua inglesa, análise do currículo Lattes e entrevista com a comissão avaliadora. O resultado final será divulgado no dia 8 de julho, no site do Ipen.
As aulas estão previstas para começar em 5 de agosto de 2020, também no sistema de ensino a distância.
Mais informações em: www.ipen.br/portal_por/portal/interna.php?secao_id=2947.
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- 27/05/2020 - International research collaboration highlights benefits of partnershipsIn 2019, Chancellor Ronnie Green charged the University of Nebraska-Lincoln to become a transformative, world-leading university.
In 2019, Chancellor Ronnie Green charged the University of Nebraska-Lincoln to become a transformative, world-leading university.
Fonte: site da Universidade de Nebraska Lincoln
by Courtney Van Hoosen | Office of Global Strategies
Nebraska continues to take meaningful steps towards this bold vision through multiple aims outlined in the N2025 Strategic Plan, including increasing the impact of research activity and broadening its global partnerships. Dr. Sudeep Banerjee’s collaboration with Dr. Nilson Vieira of the Nuclear and Energy Research Institute (IPEN) in São Paulo, Brazil is one such example of an international collaboration creating benefits for Nebraska and Brazil.
"Our partnership is complimentary,” Banerjee said. "They have a lot of expertise in things like laser machining, which we don’t have. On the other hand, we have some of the best laser systems, which they don’t have. So you can tie the two areas together and try to get something more from it.”
Banerjee, a research associate professor in the Department of Physics and Astronomy and Nebraska’s Extreme Light Laboratory, has been working with the team at IPEN since January 2019 through a São Paulo Researchers in International Collaboration (SPRINT) award. His award is co-funded by the university and the São Paulo Research Foundation (FAPESP).
"The overall goal of this project is to generate high-energy electron beams using very low energy laser pulses,” Banerjee explained. IPEN’s lasers are low-power systems that aren’t typically used to create high-energy electron beams. However, through the design of novel supersonic nozzles and a series of low-energy laser pulses, the teams hope to achieve high-energy acceleration for lower-cost alternatives to laser-driven medical therapy.
Unfortunately, the spread of COVID-19 and the global pandemic have put parts of Banerjee’s and Haden’s research on hold. Although the Nebraska team was able to bring back some gas jet nozzles to test pulse operation with the low-energy Archimedes laser at UNL, the final design of the new supersonic nozzle array is pending the reopening of labs in Brazil and Nebraska.
Still, both sides look forward to resuming collaboration hopefully in the fall, as restrictions put in place during the pandemic begin to ease up. Next steps in the joint proposal include testing the final nozzle array and preparing papers summarizing the results of the experiments for future publication and conferences. IPEN also hopes to send a team to Nebraska to conduct experiments on electron acceleration using UNL’s Archimedes laser and a visiting graduate researcher to work on additional collaborative projects.
Both Banerjee and Haden agree the international collaboration has been exciting and beneficial for the project, as well as the cultural exchange. Banerjee, who’s originally from India, believes the visit to Brazil highlighted the importance of diverse perspectives.
"If you have a person from a different culture, it brings a very new perspective into how you do things. And sometimes, they’ll change my approach,” Banerjee said.
Haden, who’s originally from Aurora, Nebraska, is grateful he had a chance to participate in the research trip and project to become more exposed to the world.
"Coming from a small town, you don’t really get to experience what the world is like,” Haden explained. "But science is pretty universal. Even though it’s a large world, we’ve got people working towards a common cause and that unites us all, no matter where we’re from.”
Dr. Sudeep Banerjee is a 2019 SPRINT awardee funded by Nebraska’s Office of Research and Economic Development, the Department of Physics and Astronomy, and the São Paulo Research Foundation (FAPESP). Proposals for the next round of SPRINT funding are due June 15, 2020.
For more information about the SPRINT awards or upcoming deadlines, please contact Liana Calegare, IANR Global Engagement Senior Global Programs Manager, at lcalegare2@unl.edu.