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- 29/07/2018 - Russos fazem parceria com brasileiros para investir em medicina nuclear em SPJoint venture vai instalar no Vale do Paraíba unidade de esterilização de produtos por radiação
Joint venture vai instalar no Vale do Paraíba unidade de esterilização de produtos por radiação
Fonte: Folha de S. Paulo
Eduardo GeraqueJoint venture que reúne a empresa brasileira CK3 e a Rusatom Healthcare, uma das subsidiárias da Rosatom, gigante estatal russa do setor de energia nuclear, vai instalar no Vale do Paraíba (SP) uma unidade de esterilização de produtos médicos, como luvas, gases e seringas.
A porcentagem de cada grupo na operação é sigilosa. O local exato em que ficará a unidade não foi divulgado.
O anúncio do início das operações da fábrica brasileira ocorreu em Sochi, na Rússia, cidade que abrigou a seleção brasileira do Brasil na Copa do Mundo e que recebeu uma das principais feiras anuais do setor.
"Escolhemos uma tecnologia de radiação segura, que não utiliza material radioativo e não deixa resíduos”, afirma Raphael Guiguer, diretor da brasileira Ck3.
A fábrica de esterilização vai tratar os produtos médicos, antes de eles chegarem ao mercado, a partir de uma acelerador de elétrons.
O equipamento, após ser desligado, não continua emitindo radiação. Por isso, é considerado seguro também do ponto de vista ambiental.
As caixas com os vários tipos de equipamento são bombardeadas por feixes de elétrons de alta energia. Não é necessário manipular os objetos.
De acordo com Guiguer, o negócio visa preencher um nicho comercial pouco explorado no Brasil.
As esterilizações tanto por meio da aceleração de elétrons quanto de radiação por raio-X, que também estará disponível na fábrica, têm várias aplicações na área médica e também nos setores farmacêutico e de cosméticos.
No Brasil, órgãos como o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) também prestam serviço de esterilização por radiação.
As estimativas indicam que mais de metade dos produtos da área médica colocados no mercado é esterilizada por meio de radiação.
A tecnologia que utiliza a chuva de elétrons de alta energia, além de segura, é considerada econômica pelo setor. -
- 25/07/2018 - INB planeja chegar a 2026 sem depender de recursos do TesouroFonte: Agência BrasilO planejamento estratégico da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) para os próximos dez anos, desenvolvido em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), prevê que a estatal terá autonomia financeira em 2026, quando não mais dependerá de recursos do Tesouro Nacional para sua operacionalidade.
A informação foi dada hoje (25) pelo presidente da INB, Reinaldo Gonzaga, durante palestra no IX Seminário Internacional de Energia Nuclear, que teve início hoje (25).
Gonzaga informou que, atualmente, a INB opera com uma dependência financeira do governo federal em torno de 34% a 35% do seu orçamento anual, recursos necessários para o pagamento da folha salarial, obrigações sociais e encargos. O faturamento anual da estatal gira em torno de R$ 600 milhões a R$ 700 milhões.
O presidente da INB disse que o planejamento foi elaborado para equilibrar despesas e receitas. E para chegar a essa equação, defendeu a necessidade de se colocar em operação, o mais rapidamente possível, a Unidade de Concentração de Urânio de Caetité, na Bahia, que está sem produzir há cerca de cinco anos.
"Uma das premissas para se alcançar esse objetivo é exatamente parar de comprar urânio lá fora, e isso implica em ter que pôr a mina [de Caetité] novamente em operação, uma vez que ela está parada desde 2014. Quando a unidade estiver em operação, o que deverá acontecer até o final deste ano, nós deixaremos de comprar urânio fora do país e, consequentemente, obteremos um melhor equilíbrio financeiro, além de gerar um excedente que pode levar o país a vir a exportar urânio”, disse.
Gonzaga disse que a estatal trabalha no sentido de avançar com o programa desenvolvido com a Marinha do Brasil para enriquecimento de urânio. O programa, segundo ele, foi concebido para avançar em duas fases. "Nessa primeira fase, já em curso, nós estamos ainda na sexta etapa, mas até o final de agosto estaremos inaugurando a sétima etapa das 10 previstas”.
Atualmente o país compra no exterior todo o urânio consumido nas usinas de Angra I e II e também os componentes metálicos para a montagem do combustível, cujos custos são em euro. "Quando passarmos a nacionalizar estes componentes, a fazê-los aqui no Brasil, nós estaremos reduzindo ainda mais os custos de operação e isso também vai gerar maior equilíbrio financeiro”.
A INB também diminuirá custos com a redução da sua folha de pagamento. "Aprovamos um programa de desligamento voluntário. Hoje, a nossa folha de pagamento está na faixa de R$ 310 milhões, com a implantação do PDV, nós estaremos retirando cerca de R$ 100 milhões dessa folha”.
Mina de Caetité
Entre as muitas unidades da INB, a Unidade de Concentrado de Urânio de Caetité é destaque. Situada no município de Caetité (BA), inoperante desde 2014. Nela eram realizadas as duas primeiras etapas do ciclo do combustível nuclear: a mineração e o beneficiamento do minério, que resulta no produto chamado concentrado de urânio ou yellowcake.
A unidade ocupa uma área de 1.700 hectares, localizada em uma província mineral com reservas que chegam a 110 mil toneladas de urânio e onde estão identificados mais de 38 depósitos do minério.
Nos 16 anos em que esteve em operação, a INB Caetité produziu 3.750 toneladas de concentrado de urânio a partir da exploração a céu aberto de uma dessas jazidas – a mina Cachoeira.
A avaliação do executivo é de que, retomando gradativamente a atividade, a unidade deverá começar produzindo cerca de 70 toneladas de urânio, de uma capacidade de produção de 400 toneladas, "que deverá ser atingida já no ano que vem”.
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- 25/07/2018 - Energia nuclear: a razão volta a imperar?É preciso abandonar equivocados sonhos de grandeza
É preciso abandonar equivocados sonhos de grandeza
Fonte: Folha de S. Paulo
A nova política nuclear parece ser uma volta à razão numa área que há muito anda à deriva. Em artigo nesta Folha (22/7), o general Sergio Etchegoyen reconhece que o que se propõe é "romper o imobilismo que por décadas entravou o nosso programa nucelar". Esse imobilismo tem causas bem definidas, e é útil rememorá-las para evitar repeti-las.Energia nuclear pode gerar eletricidade, produtos radioativos para fins médicos e industriais ou armas. Desde que as atividades nucleares se iniciaram no Brasil, há quase 70 anos, seus objetivos foram mal definidos e contaminados por uma retórica nacionalista retrógrada, como se o domínio da energia nuclear fosse só uma questão de soberania nacional e monopólio do governo.
Um nacionalismo esclarecido teria adotado desde o início um caminho racional para desenvolver o uso pacífico de energia nuclear, dominando gradativamente a tecnologia, construindo reatores com nossos cientistas, engenheiros e a indústria nacional, que se capacitaria no processo.
A Argentina seguiu esse caminho e produz excelentes reatores nucleares de pequeno porte exportados para vários países.
O Brasil não fez isso. Em 1967, importou Angra 1 para produzir eletricidade com as "chaves nas mãos", cujo combustível (urânio enriquecido) tinha que ser importado. Para evitar proliferação de armas nucleares, essa importação implicava aceitar restrições ao seu uso. Mais ainda, em 1975, o governo militar embarcou num enorme programa para instalar oito grandes reatores nucleares no país até 1990.
O pacote original negociado com a Alemanha incluía enriquecimento de urânio e até reprocessamento de plutônio produzido nos reatores. Era evidente que isso abria o caminho para a produção de armas nucleares, como o próprio general Geisel reconheceu em 1974.
Pior ainda, a ênfase dada à produção de eletricidade com reatores nucleares colidia com a estratégia de instalar usinas hidroelétricas, entre as quais, Itaipu. Quem resolveu o problema da soberania na área nuclear foram cientistas da USP que trabalhavam no Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) e no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), com o apoio da Marinha brasileira.
À medida que o grandioso programa nuclear do governo Geisel se mostrou inviável devido a seu gigantismo, cientistas como Fausto Lima, Alcídio Abrão e Ivo Jordão purificaram minério de urânio e o colocavam em condições de ser enriquecido em centrífugas construídas com base em modelos que o almirante Álvaro Alberto havia obtido da Alemanha 40 anos antes.
O passo seguinte é a construção de um reator para a produção de radioisótopos para garantir autonomia nesse setor, em que às vezes a importação é problemática por motivos técnicos, como a perda de radioatividade que ocorre no percurso.
As necessidades de urânio enriquecido do país são pequenas, e as instalações atuais em Resende (RJ) garantem nossas necessidades.
A capacitação técnica e industrial obtida será a base concreta sobre a qual se poderão basear outros avanços.
Como Etchegoyen deixa claro em seu artigo, a proposta apresentada à Presidência "não avança em questões como a eventual construção de novas usinas nucleares (para a produção de eletricidade), tema que deverá ser discutido nas instâncias apropriadas".
O documento não diz quais são essas instâncias, mas é evidente que elas deverão considerar os aspectos econômicos do problema e comparar com outras opções para produção de eletricidade.
A volta à razão significa abandonar os equivocados sonhos de grandeza na área nuclear e até de construir armas nucleares, como se projetou no governo Lula.
José Goldemberg
Ex-reitor da USP (1986-1990), ex-secretário de Ciência e Tecnologia da Presidência da República (1990-1991, governo Collor) e ex-ministro da Educação (1991-1992, governo Collor)
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- 24/07/2018 - Abertura da SBPC tem tom político e atos contra Kassab e cortes na ciênciaMaior encontro científico do país começou nesta segunda (23) em Maceió
Maior encontro científico do país começou nesta segunda (23) em Maceió
Fonte: Folha de S. Paulo
Com um forte tom político, tiveram início nesta segunda (23), as atividades do 70º Encontro Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), maior encontro científico do país.Ao chegar ao campus de Maceió da UFAL, Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações foi recebido por autoridades acadêmicas sob protesto de servidores que pediam mais concursos na área, inclusive para a reposição daqueles que se aposentaram, e a recuperação de verbas para o setor.
A jornalistas, o ministro disse entender e apoiar as reivindicações dos pesquisadores e servidores da área de ciência e tecnologia e afirmou que seu ministério é um dos que menos sofreu com os cortes.
"As mobilizações [por vagas e contra os cortes] têm o nosso apoio. Elas nos ajudam a dar visibilidade para as demandas do setor. São manifestações corretas, com peso político e representatividade. Parte grande das demandas vem carregada de muita coerência e legitimidade”, disse.
"Não há país do mundo que consiga ter crescimento, desenvolvimento econômico e criação de empregos sem o avanço da pesquisa, da ciência e inovação. E esse avanço se dá cada vez mais com a participação do capital privado, mas é imprescindível, sempre foi e vai continuar sendo, a participação dos recursos públicos.”
O ministro também falou sobre a fusão dos ministérios realizada pelo governo Temer, que uniu as áreas de Ciência, Tecnologia e Inovação com Comunicações. A ação é vista como um retrocesso pelos pesquisadores. Para Kassab, houve um resultado positivo para ambas as áreas, com um ganho de visibilidade para as demandas e maior proximidade entre setores estratégicos.
"O ministro é ministro das duas áreas em conjunto, dificilmente ele teria outra opinião”, afirma Ildeu de Castro Moreira, presidente da SBPC. "A criação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação foi uma conquista brasileira depois de décadas de luta, e ele vinha funcionando muito bem. Nós achamos que a fusão não ajudou em nada e trouxe alguns prejuízos. Não se concentrou tanto na ciência quanto deveria.”
"Nós continuamos com a posição de que é mais interessante fazer a separação dos ministérios, já que eles têm objetivos, estruturas e lógicas diferenciadas. É mais justo para o país, pela importância que a área tem. No entanto, nós estamos muito preocupados com uma questão maior de fundo, que é o desmonte do sistema de Ciência e Tecnologia com a redução drástica de recursos.”
O orçamento do MCTI em 2009 era de R$ 7,9 bilhões (R$ 13,4 bilhões em valores atuais). Atualmente o valor disponível é de R$ 4,1bilhões.
Na abertura oficial do encontro, no domingo (22), estudantes, servidores e pesquisadores vaiaram a participação do ministro da Educação Rossieli Soares da Silva e de representantes do MCTIC e protestaram contra o corte de verbas para os projetos de pesquisa. Também houve manifestações pedindo que o ex-presidente Lula, preso em Curitiba, seja libertado.
Uma dessas manifestações veio de Elisaldo Carlini, professor aposentado da Unifesp que recentemente foi chamado a prestar depoimento acusado de apologia às drogas. O especialista em maconha, há mais de 60 anos na pesquisa, foi um dos homenageados dessa edição da SBPC —e o único dentre eles que está vivo.
Os demais foram o físico pernambucano José Leite Lopes (1918-2006), que completaria cem anos em 2018, Nise da Silveira (1905-1999), psiquiatra alagoana, e a socióloga Ana Maria Fernandes, morta em maio deste ano, aos 70 anos.
Em sessão comemorativa dos 70 anos da SBPC, realizada na tarde desta segunda (23), Kassab reconheceu perante o público de acadêmicos que falta apoio político para a ciência brasileira.
"Falta apoio político, falta convicção, falta melhor relação com a sociedade para nos ajudar nessa importante missão de mostrarmos para nossas autoridades do campo da economia que eles têm uma visão errada em relação aos resultados que a ciência brasileira pode trazer para a recuperação da nossa economia.”
O físico e ex-presidente da SBPC Sérgio Mascarenhas pediu a palavra e disse para o ministro que ele poderia ser odefensor da ciência nacional, já que está dentro da "ditadura civil do governo Temer”
"A democracia tem muito a ver com a verdade. E a verdade é que há um desgaste completo da ciência. Não só dela, mas da educação, da inovação. Vossa excelência falou que a inovação está crescendo no país, mas ela está sendo destruída por esse governo. Seria uma coisa maravilhosa se vossa excelência pudesse ser o herói dessa luta e representar verdadeiramente [a ciência]. Gostaria que vossa excelência fosse o herói de acabar com esse marco ilegal da ciência [referindo-se ao slide que mostra a queda de investimentos ao longo dos anos]. Falo como um admirador de sua gestão de acabar com o marco ilegal da ciência que nós estamos vivendo.”
O ministro não respondeu a Mascarenhas e saiu para pegar o voo de volta a Brasília. Mais cedo, ele, acompanhado de assessores e servidores do MCTIC, visitou os estandes das diversas entidades que participam do evento, como Finep, Marinha, Agência Espacial Brasileira, Cemaden, Impa, entre outros.
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- 23/07/2018 - SBPC homenageia quatro cientistas na 70ª edição da Reunião AnualEm memória, foram lembrados o físico José Leite Lopes, a psiquiatra alagoana Nise da Silveira e a socióloga Ana Maria Fernandes. Presente à solenidade, e ainda atuante, foi homenageado o professor Elisaldo Carlini
Em memória, foram lembrados o físico José Leite Lopes, a psiquiatra alagoana Nise da Silveira e a socióloga Ana Maria Fernandes. Presente à solenidade, e ainda atuante, foi homenageado o professor Elisaldo Carlini
Fonte: Jornal da CiênciaOs cientistas brasileiros José Leite Lopes, Nise da Silveira, Ana Maria Fernandes e Elisaldo Carlini foram homenageados na cerimônia de abertura da 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada neste domingo, no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Maceió. A SBPC tem a tradição de homenagear, todos os anos, figuras expoentes da ciência brasileira que atuaram dentro da comunidade científica de forma seminal e que tiveram importância para a vida institucional da SBPC.
No ano em que se celebra seu centenário de nascimento, a história do físico recifense, José Leite Lopes, uma das figuras fundamentais para a consolidação da física no Brasil, foi contada pelo presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira. "A gente faz questão de expor, ainda que tão brevemente, uma vida tão variada, porque no Brasil os cientistas são pouco conhecidos. A ciência brasileira tem história. E esse é um exemplo claro disso”.
José Leite Lopes concluiu em 1939 o curso de Química Industrial em Pernambuco; em 1940, iniciou o curso de Física da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), no Rio de Janeiro. Em 1946 recebeu o título Ph.D pela Universidade de Princeton (EUA), sob a orientação de Wolfgang Pauli, prêmio Nobel de Física. "Ele teve uma formação científica de altíssimo nível e era um cientista brilhante”, disse Moreira.
Entre suas muitas contribuições importantes para a física teórica destaca-se o artigo, de 1958, no qual previu existência de uma nova partícula (bóson vetorial neutro), usando uma analogia entre a interação nuclear fraca e o eletromagnetismo. Sua proposição inspirou Weinberg, Glashow e Salam em seus trabalhos de a unificação dessas interações; eles seriam premiados com o Nobel da Física em 1979.
Mas ele fez muito mais que isso. Ele contribuiu para a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e foi fundador da Escola Latino-americana de Física. Ele ainda batalhou para a criação de um ministério de ciência e tecnologia no Brasil, ainda na década de 1960. "Vinte anos do MCTI ser criado, ele e a SBPC já estavam brigando por ele. Por isso que a gente briga também para ele continuar”, ressaltou o presidente da SBPC.
Lopes foi presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), de 1967 a 1971, e recebeu o título de presidente de honra da SBPC, por suas contribuições ao desenvolvimento da ciência e da educação no Brasil. Em 1964, foi preso e, em 1969, aposentado compulsoriamente pela ditadura militar. Exilado, fez carreira de sucesso como professor na Universidade Louis Pasteur, na França.
Entre os muitos prêmios, nacionais e internacionais, recebidos por Leite Lopes estão: Prêmio Nacional de Ciência Álvaro Alberto (1989); Ordre National du Mérite, grau de Officier (1989); e Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico (1994).
Leite Lopes, um professor brilhante, apreciava a arte e praticava a pintura. Ele foi um cientista que lutou intensamente, ao longo de toda sua vida, pelo desenvolvimento científico e pela educação no País, tendo escrito muitos artigos e livros sobre estes temas. Opôs-se muitas vezes, e de forma corajosa e contundente, aos poderes constituídos e sempre manteve acesa a chama da esperança de ver o Brasil se tornar um país desenvolvido, mais justo e menos desigual.
"Se ele estivesse aqui hoje, ele protestaria contra a atual e repentina destruição do sistema científico e educacional público que levou décadas para ser construído e do qual foi ator e testemunha; protestaria de forma veemente e irreverente contra uma nova ditadura que se evidencia. Depois de ter vivido sua punição pela ditadura militar anterior, através do AI-5, e ter sido separado do país por diversos anos, e também sintonizado com os clamores da sociedade civil a qual sempre se engajou, estaria clamando pela democracia plena, pela justiça social e por Lula livre”, declarou seu filho, o antropólogo José Sergio Leite Lopes, em carta lida pelo professor Otavio Velho, presidente de honra da SBPC. Velho recebeu a placa alusiva à homenagem da 70ª Reunião Anual da SBPC em nome filho do cientista.
É preciso imaginação e coragem
Corajosa, pioneira e inspiradora, Nise da Silveira introduziu a terapia ocupacional com arte para permitir que pessoas com doenças mentais se expressassem. "Ela era militante do Partido Comunista, era uma libertária por natureza e é uma das maiores cientistas do século 20. Ela enfrentou os tratamentos tradicionais para as doenças mentais, que considerava violentos, e introduziu a terapia ocupacional”, descreveu a sanitarista e especialista em Saúde Pública, Maria Jose Castro D’Almeida Lins, que apresentou a homenagem à psiquiatra brasileira.
Nascida em 1905, em Maceió (AL), cidade que recebe em 2018 a 70ª Reunião Anual da SBPC, Nise da Silveira foi uma das primeiras médicas formadas no Brasil. Foi admitida na Faculdade de Medicina da Bahia aos 16 anos, onde se formou como a única mulher entre os 157 homens daquela turma. Concluiu o curso aos 21 anos, com uma monografia sobre a criminalidade feminina. Logo que se formou, começou a trabalhar com psiquiatria, interessada em novos métodos para tratar a esquizofrenia. Mudou-se para o Rio de Janeiro onde atuou como médica interna do Hospital da Praia Vermelha. Na agitação política dos anos 1930, foi denunciada e presa como comunista por 16 meses na Casa de Detenção da Rua Frei Caneca.
Em 1933, cursando os anos finais da especialização em psiquiatria, estagiou na clínica neurológica de Antônio Austregésilo. Logo após terminar sua especialização, foi aprovada no mesmo ano em um concurso de psiquiatria, e começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha.
Nise foi reintegrada ao serviço público com a anistia e, em 1946, propôs ao diretor do Centro Psiquiátrico Pedro II, no bairro de Engenho de Dentro, na cidade do Rio de Janeiro, a criação de uma seção de terapia ocupacional naquele hospital. Seu trabalho pioneiro de pesquisa sobre o tratamento da doença mental através da arte-terapia foi reconhecido internacionalmente. Nise ainda foi pioneira ao enxergar o valor terapêutico da interação de pacientes com animais. "A sua história é marcada pela luta pela desospitalização na base da reforma sanitária. E hoje vemos o enorme desmonte da política de saúde mental. Um retrocesso enorme”, lamenta a médica sanitarista, ao declarar sua homenagem.
A produção artística dos internos do Centro Psiquiátrico foi reunida no Museu de Imagens do Inconsciente, fundado por ela em 1952. Alguns dos artistas revelados pelo trabalho de Nise da Silveira alcançaram renome internacional, o mais famoso deles sendo Arthur Bispo do Rosário. "Nise mostrou que é preciso imaginação, coragem e sonhos para se fazer um outro mundo”, ressaltou Lins.
A psiquiatra faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 30 de outubro de 1999 e deixou como legado uma luta que permanece até hoje, pela ciência, pela arte e pela cultura, como destacou seu primo, Luciano de Carvalho Queirós, que recebeu a homenagem em seu nome. "Como ela dizia sempre, ela não gostava de gente curada, dizia que gente curada é chata”.
Guerreira
A homenagem à pesquisadora Ana Maria Fernandes, que faleceu no dia 2 de maio de 2018, após uma longa batalha contra o câncer, foi feita pela amiga e companheira de Universidade, a professora e conselheira da SBPC, Fernanda Sobral. "Eu defino Ana com três palavras: amiga, colega e guerreira. Um dos maiores legados dela foi ser construtora de instituições: ela constituiu o departamento de Sociologia da UnB e seu programa de pós-graduação, também ajudou na construção do Cepac, que hoje em dia é o Ela – Centro de Estudos Latino-americanos. A direção da editora da UnB foi uma de suas últimas tarefas”, relatou Sobral.
Ana Maria Fernandes graduou-se em Ciências Sociais, Sociologia e Antropologia pela Universidade de Brasília (UnB) em 1972 e recebeu o título de mestra em Sociologia em 1977, na mesma universidade. Em 1987, defendeu sua tese doutorado em Sociologia na Universidade de Oxford, no Reino Unido, e, em 1995 realizou o pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, no Programa de Ciência, Tecnologia e Sociedade. Na UnB, foi professora titular por trinta anos, de 1974 até 2003. De 1997 a 2002 foi Decana de Pesquisa e Pós-Graduação, quando, em 2001, atuou como Reitora em exercício na gestão do reitor Lauro Morhy. Em seus últimos anos, atuava como pesquisadora associada sênior sobre temas como educação, desenvolvimento científico e tecnológico, pesquisa, tecnologia e inovação.
Sua tese se tornou livro, intitulado "A Construção da Ciência no Brasil e a SBPC” e publicado pela editora UnB em 1990, com relançamento em 2009. Na sinopse da obra, o cientista e divulgador científico José Reis descreve que o trabalho de Fernandes "constitui preciosa contribuição à compreensão da ciência no Brasil e ao papel que a SBPC tem desempenhado”.
"Mas a SBPC não foi apenas seu objeto de estudo. Ela, que nasceu no dia 18 de julho de 1948, dez dias após a SBPC ser criada, também participou ativamente da história desta entidade. Foi secretária regional da SBPC no Distrito Federal, no período de estruturação de criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do DF”, relata a amiga.
Por sua inestimável contribuição, recebeu em 2002 o título de Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico, e tronou-se membro da Grã-Cruz da ONMC em 2007.
"Acompanhei de perto sua luta contra o câncer, da mesma forma que acompanhei sempre a sua luta pela ciência. Ana era uma guerreira”, disse a conselheira da SBPC, que recebeu a placa de homenagem em nome das filhas de Fernandes.
Ciência para um país melhor
Prolongados aplausos e plateia em pé para o último homenageado na abertura da SBPC Alagoas. Foi uma deferência ao médico Elisaldo Carlini, em solidariedade e respeito, já que, apesar da idade avançada e da reconhecida contribuição na Farmacologia, com pesquisas sobre o uso medicinal da maconha, o pesquisador foi acusado de apologia às drogas, em 2017, o que causou a revolta da comunidade científica brasileira.
A presidente de honra da SBPC, Helena Nader, prestou as homenagens ao professor. "Carlini foi o responsável pela criação da psicofarmacologia no Brasil e é um dos pilares mundiais dessa área. Recebeu mais de uma centena de prêmios nacionais e internacionais”.
Professor emérito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), membro titular da ABC, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), primeiro representante da SBPC no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), condecorado pela Presidência da República e premiado internacionalmente, aos 88 anos, Carlini continua sendo o mais respeitado cientista brasileiro com atuação na área de drogas. Já nos anos 1970 ele produziu pesquisas pioneiras que caracterizaram a ação anti-convulsivante da maconha, que apenas nos últimos anos começou a ser amplamente reconhecida no Brasil. Suas descobertas permitiram a formulação de remédios eficazes para tratar doenças como epilepsia e esclerose múltipla, hoje utilizados em diversos países.
Mesmo com as dificuldades de locomoção, já que enfrenta o tratamento de um câncer, o professor Carlini fez questão de subir ao palco receber a homenagem. "É a primeira vez que me sinto tão emocionado com uma homenagem. Uma sociedade do tamanho da SBPC saudar um cientista, e não ser exatamente o contrário, um cientista dizer da importância dessa entidade para ele e para a vida dele, seria algo desproposital”, disse.
Carlini falou, então, sobre sua relação com a SBPC e o primeiro contato com a entidade, por meio de dois professores que eram membros da SBPC, José Ribeiro do Vale e José Leal Prado de Carvalho. "Quem se formava médico naquela época tinha um destino muito mais claro, de abrir um consultório ou trabalhar hospital, ganhando dinheiro. Poucos se dedicavam à ciência. Apanhei o gosto pela ciência com esses dois professores que me levaram a conhecer a Reunião Anual da SBPC. Eu ainda era calouro e foi um encantamento total para mim. Eu fiquei totalmente vidrado pela ideologia da SBPC”, lembrou.
Carlini contou que era um assíduo frequentador da SBPC e ressaltou a longa batalha da entidade, "verdadeiramente interessada em ver um país diferente”. Segundo relatou, ele queria servir com sua profissão muitas outras pessoas, e foi incentivado a fazer ciência. Foi assim que se enveredou para a pesquisa, mais especificamente, a estudar nas riquezas naturais novos medicamentos, como a maconha.
"Estou chegando aos 90, mas eu quero continuar. As pernas me doem mas o coração me encanta. Eu não quero descansar”, disse o professor, recebendo efusivos aplausos.
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- 23/07/2018 - Cnen participa da 70ª SBPC apresentando aplicações da energia nuclearFonte: ABENA Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) está presente na 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre de 22 a 28 de julho em Maceió, no campus da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Servidores de quatro unidades da Comissão apresentam diversas aplicações da energia nuclear na ExpoT&C: mostra de ciência, tecnologia e inovação que integra a programação da SBPC.
O estande sobre tecnologia nuclear montado dentro do espaço da ExpoT&C destinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) é compartilhado entre a Cnen e outras duas instituições do ministério na área nuclear: INB e Nuclep. A Cnen está representada por servidores do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD). Na manhã desta segunda-feira (23/7), o espaço da Cnen recebeu a visita do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, e do presidente da Cnen, Paulo Roberto Pertusi.
O conteúdo apresentado pela Cnen é bastante amplo. Recursos de realidade virtual estão sendo usados para apresentar aplicações da energia nuclear. Com eles é possível que os visitantes façam uma visita ao Reator Nuclear Argonauta e ao depósito de material radioativo do IEN. Tudo isso sem sair da frente do computador.
As visitas virtuais são possíveis graças a trabalhos desenvolvidos no Laboratório de Realidade Virtual (LRV) do IEN. Utilizando equipamentos e softwares bastante avançados, foram criados ambientes do mundo digital que provocam sensações bastante semelhantes às de uma visita real a instalações do reator ou do depósito de rejeitos radioativos. Uma animação com tecnologia 3D aborda os benefícios das aplicações pacíficas da energia nuclear, focando no uso como fonte geradora de energia elétrica. Também são apresentadas atividades de produção de radiofármacos e trabalhos na área de tecnologia mineral desenvolvidos no IEN, principalmente no que diz respeito ao processo de mineração e beneficiamento de urânio.
Entre os temas apresentados pela Cnen também estão as atividades do Reator Nuclear Triga Mark I, que funciona no CDTN e é utilizado para pesquisa, análises por ativação neutrônica, aulas práticas de física de reatores, produção de radioisótopos para aplicações ambientais, médicas e industriais e treinamento de operadores de usinas nucleares. No estande é possível conhecer também as aplicações do Laboratório de Irradiação Gama (LIG) do CDTN, como a esterilização de materiais de uso médico, farmacêutico e odontológico, a desinfestação e aumento de vida útil dos alimentos, a atenuação da resposta imunológica por hemocomponentes, a preservação de bens culturais, irradiação de gemas e joias e pesquisas de tecnologias inovadoras.
A produção de radiofármacos também está sendo apresentada pelo Ipen, maior produtor nacional destas substâncias. Em especial, o instituto traz para o estande novos radiofármacos que podem aprimorar o diagnóstico de diversas enfermidades e o tratamento do câncer. A contribuição do IRD ocorre em todas as aplicações de técnicas nucleares, focando na apresentação das medidas e cuidados adotados para garantia do uso seguro da energia nuclear e procedimentos para atendimento a emergências.
Palestras
Além das atividades do estande, a Cnen também está promovendo palestras sobre aplicações da energia nuclear e as medidas que garantem seu uso seguro. A programação da SBPC prevê três palestrantes da Cnen na terça-feira (24/07), no Pavilhão da ExpoT&C.
- 15h – Elder Magalhães de Souza (IRD/Cnen) – "Proteção radiológica ambiental e monitoração em caso de acidente nuclear ou radiológico".- 15h30 – Carolina Braccini Freire (CDTN/Cnen) – "Técnica de uso de geopolímero na gerência de rejeitos radioativos e na fabricação de peças pré-moldadas para construção civil".- 16h – Wilson Aparecido Parejo Calvo (Ipen/Cnen) – "Aplicações da energia nuclear". -
- 22/07/2018 - Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Atividades Nucleares - PosicionamentoA ABDAN posiciona-se contra matéria da revista VEJA sobre o setor nuclear.
A ABDAN posiciona-se contra matéria da revista VEJA sobre o setor nuclear.
Fonte: Defesa.Net
A ABDAN – Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Atividades Nucleares, em face a matéria "Nosso desastre nuclear”, publicado na revista Veja, Edição 2591 18/7/2018, vem esclarecer os seguintes pontos.
a) A ABDAN lamenta o tom da reportagem que desqualifica um importante empreendimento que envolve investimentos e desenvolvimento tecnológico nacional que vem fazendo com que diversas áreas da nossa indústria, como a Medicina e a Agricultura, sejam beneficiadas pelos avanços do desenvolvimento nuclear no Brasil. Prova disso é o recente lançamento do RMB – Reator Multipropósito - que dará autonomia ao país na produção de radioisótopos para o tratamento de câncer.
b) O Brasil está sempre no limite de uma crise hídrica, que nos deixa reféns do modelo hidroelétrico. Hoje não existem muitos novos projetos de hidroelétricas para construção, o que exige a adoção de novas termoelétricas para realizar a função de geração de energia de base. De todos os modelos existentes, a energia com menor custo é a termonuclear.
c) O parque nuclear brasileiro ocupou o 5º lugar mundial em disponibilidade em 2017. Angra 2 foi a 9ª usina, dentre 451 outras, em geração elétrica
d) É lamentável ver que a reportagem utiliza dados internacionais fora da realidade atual do setor nuclear no mundo. Só neste ano de 2018, quatro novas usinas entraram em operação no mundo e outras 58 estão em construção. Neste momento, por exemplo, o Departamento de Energia dos Estados Unidos (DOE) selecionou nove projetos para receber quase US$ 20 milhões em financiamento para pesquisa compartilhada e desenvolvimento de tecnologias nucleares avançadas.
Nos EUA, a mais nova central de Watts Bar 2 entrou em comercialização ano passado e existem mais 2 usinas em construção em Vogtle , ou seja, o mercado lá não está negativo e novas Usinas estão sendo construídas.
Uma licença de construção da unidade 2 na Usina Nuclear de Roppur foi concedida para a Comissão Energética Atômica de Bangladesh. A unidade 1 recebeu a mesma licença ano passado e as construções se iniciaram imediatamente após.
No relatório anual da Agência Internacional de Energia da OCDE de 2017 estima o crescimento da geração de energia nuclear em mais de 25% até 2040. As melhorias decorrentes desse aumento são de extrema importância para o mundo pois significam diminuição na taxa de emissão de CO2. Nessa estimativa a energia nuclear equivaleria a 15% da geração de eletricidade no mundo.
e) Não é verdade que a tarifa para o consumidor aumentará se Angra 3 entrar em operação. Estudo recente realizado pela EletroNuclear garante que, em substituição as termoelétricas que são notadamente mais caras, causaria sim uma redução para o consumidor final.
f) Sobre as usinas de Angra 1 e Angra 2 cabe ressaltar que a operação destas UTNs durante um mês corresponde a 0,9% da energia armazenável máxima do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o que, em base anual, corresponde a um acréscimo de 10,3% da energia armazenável máxima deste subsistema. Caso as UTNs Angra 1 e Angra 2 não estejam disponíveis para a operação em 2019, o valor esperado do custo total de operação no período 2017/2021 sofre uma elevação de R$ 1,4 bilhão (5,1%), assim como os CMOs do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, cujo impacto é decrescente ao longo do horizonte de análise, sendo a maior variação em termos absolutos, 66 R$/MWh, verificada no primeiro mês do estudo.
g) Por fim, concluir Angra 3 é extremamente importante para o Brasil.
UTN Angra 3 apresenta as seguintes características:
- sua capacidade instalada, e a previsão de alta disponibilidade e elevada confiabilidade a tornam, mesmo se avaliada isoladamente, um dos principais recursos para atendimento ao mercado da Região Sudeste e do SIN;
- como disponibilizará sua produção diretamente na Região Sudeste, maior carga do SIN, contribui para evitar congestionamentos nas interligações entre subsistemas, principalmente com o advento do atraso das obras em linhas de transmissão que estão atrasadas;
- devido a seu baixo custo unitário variável previsto será uma das fontes preferenciais para despacho, seja por mérito econômico ou por razões de segurança eletroenergética; e
- A operação da UTN Angra 3 durante um mês corresponde a 0,6% da energia armazenável máxima da Região Sudeste, o que em base anual corresponde a um acréscimo de 7,2% da energia armazenável máxima desta região.Sob o ponto de vista elétrico, a UTN Angra 3 traz os seguintes principais benefícios relacionados ao desempenho elétrico da Rede Básica de suprimento à área Rio de Janeiro/Espírito Santo:
- permite manter a qualidade do suprimento em situações de parada das UTEs Angra 1 e Angra 2, para recarga ou manutenções;
- aumento nos limites de transmissão para a área Rio de Janeiro/Espírito minimizando a necessidade de geração térmica e/ou uso de SEPs de corte de carga, principalmente em situações de contingências duplas; e
- melhor perfil de tensão nas malhas de 500 kV e 440 kV da região Sudeste, decorrente da redistribuição de fluxo através de atendimento local ao centro de carga (Rio de Janeiro e Espírito Santo). Portanto, é possível concluir que a UTN Angra 3 terá papel relevante no horizonte abarcado pelos estudos de planejamento da operação do ONS.
A ABDAN lamenta que a reportagem não colabore com a discussão técnica que é a que deve embasar este assunto tão importante tanto socialmente como economicamente e que trará enormes benefícios para a nação brasileira.
A ABDAN reforça seu compromisso de continuar atuando para o desenvolvimento da industria nuclear brasileira. -
- 20/07/2018 - AIEA firma parceria com Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear para treinamento de profissionaisFonte: ONU BrasilA Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) assinou nesta semana (18) um acordo de parceria com a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN) que irá aumentar as oportunidades de treinamento para profissionais de medicina nuclear na América Latina e no Caribe, assim como nos países africanos de língua portuguesa.
Enquanto no passado ambas as organizações trabalharam juntas nas áreas de medicina nuclear e imagens moleculares, o acordo - o primeiro do tipo assinado pela AIEA na América Latina - agora definirá e formalizará essa colaboração.
"O Brasil oferece um pano de fundo ideal para o acordo de parceria, pois o país abriga o maior número de centros de medicina nuclear na região da América Latina e Caribe, com várias instalações de última geração relacionadas a todas as áreas da medicina nuclear”, disse a chefe da seção de Medicina Nuclear e Diagnóstico por Imagem da Divisão de Saúde Humana da AIEA, Diana Paez.
"Também oferece uma excelente variedade de programas de treinamento e uma sólida comunidade de especialistas de alto nível”, salientou.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer e as doenças cardiovasculares, ambas classificadas como doenças não transmissíveis (DNTs), estão entre as principais causas de morte no mundo.
De 56,4 milhões de mortes globais em 2015, 17,7 milhões foram atribuídas a doenças cardiovasculares, enquanto 8,8 milhões ocorreram devido ao câncer. Além disso, o número de pacientes afetados está aumentando devido, em parte, ao aumento do tempo de vida, bem como às mudanças no estilo de vida.
A medicina nuclear desempenha um papel importante no cuidado de tais doenças, desde sua detecção precoce, até a fase de tratamento e, posteriormente, no monitoramento das respostas dos pacientes.
A parceria envolverá a colaboração entre as duas organizações na formação complementar de profissionais de medicina nuclear e de imagens moleculares, e aqueles de disciplinas afins, nos Estados-membros da AIEA.
Em particular, terá como alvo profissionais da região da América Latina e do Caribe, bem como países africanos de língua portuguesa. Como parte de sua cooperação, a AIEA e a SBMN identificarão centros clínicos ou universidades de alto nível para a formação de profissionais e bolsistas de medicina nuclear.
As organizações também fornecerão conhecimentos especializados e outros apoios relacionados ao treinamento, visando aumentar a capacidade nesse campo. Finalmente, ajudarão na identificação de centros clínicos de alto nível adequados para participação em projetos de pesquisa coordenados pela AIEA.
"O acordo vai construir uma ponte oficial para o caminho da colaboração”, disse Juliano Cerci, presidente da SBMN. "Esperamos fortalecer os campos de pesquisa e aprendizado, mas também questões práticas como regulamentação e educação formal”.
Há mais de 50 anos, a SBMN tem sido uma organização líder no campo da imagiologia molecular e medicina nuclear no Brasil, trabalhando para promover e ampliar o conhecimento, uso e acesso à medicina nuclear no país. Sua missão é promover, apoiar e estimular o progresso, a melhoria e a disseminação da medicina nuclear, bem como ciências e disciplinas relacionadas nos campos científico, ético e econômico.
"A AIEA tem o prazer de formalizar nossa colaboração com a SBMN”, disse o diretor-geral adjunto e chefe do Departamento de Ciências Nucleares e Aplicações da AIEA, Aldo Malavasi.
"Esse acordo prático é o primeiro do tipo na América Latina e no Caribe e reunirá o alcance institucional da AIEA e a expertise da SBMN em medicina nuclear, permitindo melhores oportunidades de treinamento e capacitação em toda a região. A cooperação entre a AIEA e organizações profissionais é essencial para expandir apoio ao trabalho, alcance e impacto da agência.”
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- 20/07/2018 - Espaço do MCTIC abriga experimentos e palestras para os visitantes da 70ª Reunião Anual da SBPCPavilhão reúne estandes de 30 instituições ligadas ao MCTIC na mostra ExpoT&C, instalada na Universidade Federal de Alagoas, durante a 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
Pavilhão reúne estandes de 30 instituições ligadas ao MCTIC na mostra ExpoT&C, instalada na Universidade Federal de Alagoas, durante a 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
Fonte: Jornal da Ciência
Os visitantes que passarem pelo pavilhão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) vão poder conhecer de perto alguns dos principais projetos das entidades de pesquisa vinculadas à pasta na mostra ExpoT&C. O espaço estará instalado no campus da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em Maceió (AL), durante a 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
A mostra se divide por estandes temáticos: espaço; biomas e clima; ciência e tecnologia; popularização da ciência; nuclear; fomento à pesquisa; inovação; e tecnologias da informação e comunicação (TICs). A Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa (Finep)terá um espaço próprio no local.
Uma das atrações será a simulação da Sala de Situação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). No espaço, os visitantes vão saber como funciona o processo de tomada de decisão sobre a emissão de alertas de desastres naturais.
Já o Observatório Nacional (ON) vai mostrar como acontecem os terremotos e como é possível detectar esse fenômeno. O ON também terá uma mostra sobre o Eclipse de Sobral, ocorrido em 1912, e que foi um dos registros astronômicos que comprovaram a Teoria Geral da Relatividades, proposta por Albert Einstein.
Na área destinada ao Instituto Nacional de Tecnologia (INT), os visitantes terão a oportunidade de terem criar um avatar próprio em 3D utilizando tecnologias de escaneamento corporal.
Gratuita e aberta ao público, a ExpoT&C reúne em uma tenda climatizada centenas de expositores, como universidades, institutos de pesquisa, agências de fomento, entidades governamentais e outras organizações interessadas em apresentar novas tecnologias, produtos e serviços. O pavilhão do MCTIC possui um auditório, com palestras desegunda(23) asábado(28).
No pavilhão do MCTIC, estarão representadas 30 entidades vinculadas ao MCTIC: Agência Espacial Brasileira (AEB); Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF); Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec); Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE); Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer; Centro de Tecnologia Mineral (Cetem); Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene); Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM); Cemaden; Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii); Finep; Indústrias Nucleares do Brasil (INB); Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict); Instituto Mamirauá de Desenvolvimento Sustentável; Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma); Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa); Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); INT; Instituto Nacional do Semiárido (Insa); Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA); Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC); Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast); Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG); Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep); ON; Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP); e Telebras.
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- 20/07/2018 - A política nuclear brasileiraNovo modelo quer romper imobilismo nesse setor
Novo modelo quer romper imobilismo nesse setor
Fonte: Folha de S. Paulo
O Brasil integra um grupo seletíssimo entre as potências globais. Além de nosso país, só EUA e Rússia reúnem duas condições fundamentais para desenvolver política nuclear autônoma: reservas significativas de urânio e independência tecnológica.
A despeito disso, o programa nuclear brasileiro há muito se ressentia de enorme imobilismo, com sérias dificuldades na área da governança, resultando em redundâncias e superposições entre órgãos competentes, fracionamento de missões análogas entre ministérios diversos e, em sentido oposto, junção nas mesmas agências de atividades que deveriam se dar separadamente.
Era necessário, pois, dotar o programa de uma governança que corrigisse desvios e intensificasse a complementaridade e simbiose entre agências e processos.
Com esse objetivo, o presidente Michel Temer, por decreto de 22 de junho de 2017, reinstituiu o Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB).
O CDPNB é um colegiado de alto nível e multidisciplinar, composto de 13 ministérios e a colaboração eventual de outras instituições. Por previsão legal, opera sob coordenação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, o que atende às melhores práticas internacionais.
A principal atribuição do CDPNB, no seu primeiro ano, foi a elaboração de uma proposta de Política Nuclear Brasileira (PNB), documento estratégico e duradouro que, quando vigente, será capaz de nortear o desenvolvimento futuro do programa nuclear, com objetivos claros e definições sobre aspectos organizacionais, científicos e tecnológicos.
Recentemente, o CDPNB submeteu sua proposta de política nuclear à análise dos órgãos competentes da Presidência. A minuta resultou de amplo debate e os resultados foram aprovados em reunião plenária.
Registre-se que o documento não avança em questões como a eventual construção de novas usinas nucleares, tema que deverá ser eventualmente discutido nas instâncias apropriadas. O que a PNB busca é criar condições organizacionais e normativas para futura tomada de decisões nesta e em outras áreas de aplicação da tecnologia nuclear.
A PNB também visa a favorecer o desenvolvimento futuro de atividades como a medicina nuclear, o controle de pragas agrícolas e o monitoramento ambiental, dentre outras.
Na medicina nuclear em particular, a escassez de radiofármacos e a necessidade de importá-los a custos elevados dificultam diagnósticos tempestivos e o acesso à radioterapia para a maior parte de nossa população (sobretudo no Norte e no Nordeste), um caso concreto em que o imobilismo na política nuclear tem um elevado custo social.
Para suprir essa carência, o governo deu um grande passo com o impulso dado à construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que haverá de nos garantir completa autonomia na produção de radiofármacos. Espera-se que o SUS possa prover, a preço de custo, nossas necessidades na área por um espaço de 50 anos.
Em suma, para além da autossuficiência energética, há diversos horizontes que se descortinam para o nosso país, caso saibamos romper com o imobilismo que por décadas entravou o avanço do nosso programa nuclear. A proposta de uma Política Nuclear Brasileira é o primeiro passo nesse sentido.
Sergio Westphalen Etchegoyen
Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República -
- 20/07/2018 - Escola traz a São Paulo avanços no uso de lasersFonte: Planeta Universitário
Os avanços na área da óptica têm sido tão rápidos e com resultados tão surpreendentes que mesmo excelentes alunos de mestrado ou de doutorado dificilmente têm ideia do que está ocorrendo na linha de frente de seu campo de estudo.Foi esse pensamento que motivou a realização da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Fronteiras de Lasers e suas Aplicações, que ocorre até 27 de julho no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo.
Coordenada por Niklaus Ursus Wetter, pesquisador titular do Ipen e professor de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP), a Escola tem apoio da FAPESP por meio da modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) e reúne alguns dos mais renomados pesquisadores da área e estudantes de pós-graduação de várias partes do mundo.
"Esperamos que esse encontro ajude a consolidar no Brasil a área de fotônica avançada, que movimenta atualmente um mercado de US$ 530 bilhões no mundo”, disse Wetter à Agência FAPESP.
"Trouxemos pesquisadores-líderes em suas respectivas áreas, para comunicar aos alunos o estado da arte nos diferentes campos da óptica, da ciência básica às múltiplas aplicações”, disse.
O escopo engloba os processos de geração, amplificação, modulação, emissão, transmissão, detecção e processamento da luz. E aplicações que vão do monitoramento ambiental à tecnologia aeroespacial e da nanousinagem à medicina. Formar cientistas e criar empresas e inovação na área são consequências desejáveis no médio prazo.
A FAPESP tem investido pesadamente em pesquisas e na criação de facilities na área. O diretor científico, Carlos Henrique de Brito Cruz, participou da abertura da ESPCA no Ipen, apresentando aos pesquisadores e estudantes presentes as modalidades de apoio oferecidas pela instituição para aqueles que buscam oportunidades de estudo e carreira no Estado de São Paulo.
Uma subárea altamente valorizada no evento é a dos ultrafast lasers (lasers ultrarrápidos). Tais dispositivos tornaram-se um grande objeto de interesse, por serem capazes de produzir os fenômenos mais curtos e mais potentes já criados pela humanidade.
"O termo ultrafast refere-se à duração temporal dos pulsos do laser. Hoje, alcançamos rotineiramente pulsos com durações da ordem de cinco femtossegundos (5x10-15 s), que correspondem a cinco milésimos de trilionésimos de segundo. Mas já foram atingidos pulsos com durações de uma a duas ordens de grandeza menores, entre 10-16 s e 10-17 s. Então, operando um laser com energia por pulso de um milijoule (1 mJ), que não é muito, e comprimindo essa energia em um intervalo de tempo de cinco femtossegundos, somos capazes de criar potências de 1019 W no foco do laser. Isso equivale a uma potência 10 milhões de vezes maior do que todas as centrais de energia do mundo, juntas, são capazes de gerar”, explicou Wetter.
O equipamento capaz de viabilizar esse patamar de potência não é um dispositivo gigantesco como o LHC (Large Hadrons Collider – Grande Colisor de Hádrons), instalado na fronteira franco-suíça. Mas algo que pode ser disposto sobre a bancada do laboratório.
"Os ultrafast lasers permitem alcançar potências de tal magnitude que, com um pouco mais, seria possível criar matéria de maneira controlada. Focando o laser no vácuo, poderíamos separar o vácuo em elétrons e pósitrons, por exemplo. É como se voltássemos àquilo que aconteceu uma fração de segundo depois do Big Bang”, disse o pesquisador.
Esses lasers de altíssima potência são vistos como potenciais fontes de feixes de prótons, cujo uso no tratamento de câncer tem crescido expressivamente.
O novo – enfatizou Wetter – é o que se pode fazer hoje com isso. "Uma aplicação é a criação de padrões de tempo e de frequência três ordens de magnitude mais precisos do que aqueles possibilitados pelos relógios atômicos. Conseguimos definir o tempo de um segundo com uma precisão de 18 dígitos”, disse.
Lasers randômicos
Outra aplicação, decorrente da interação dos lasers ultrarrápidos com a matéria, são as ablações multifotônicas. Esse processo não térmico possibilita fazer cortes de altíssima precisão, com resoluções da ordem de centenas de nanômetros, sem transformar o material.
Nos cortes convencionais, o processo sempre aquece o material, fazendo com que ele mude de propriedade nas bordas da excisão. Com os lasers ultrarrápidos, dá para cortar de forma que o material mantenha todas as propriedades de interesse intactas.
Nas suas várias modalidades, os lasers tornaram-se ferramentas de aplicação tecnológica quase ilimitada: da modificação de estruturas metálicas – criando materiais altamente repelentes a líquidos ou, ao contrário, capazes de reter óleo em microcavidades, praticamente zerando o atrito e o desgaste das peças – à prospecção tridimensional de aerossóis poluentes em regiões com extensões de quilômetros.
"Uma área novíssima, interessantíssima, é a dos lasers randômicos, que permitem estudar a propagação da luz em meios difusos, como um comprimido de aspirina, por exemplo. O fenômeno possibilita tanto a investigação do próprio material, por meio da análise da fração luminosa que volta, como a obtenção de novos efeitos ópticos, como o aprisionamento da luz, no qual o feixe luminoso fica preso no interior do material por tempo indeterminado”, disse Wetter à Agência FAPESP.
Outra área nova é a da estruturação dos feixes de lasers, que consiste em conferir um momento angular aos fótons de modo que eles girem para um lado ou para outro em trajetórias circulares, triangulares, quadradas, hexagonais etc. Ao interagirem com a matéria, esses feixes permitem construir metamateriais com propriedades ópticas notáveis, como a refração negativa ou a invisibilidade.
Especialistas que lidam com esses e outros fenômenos em centros avançados do mundo participam da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Fronteiras de Lasers e suas Aplicações.
Do exterior, vieram para o evento: Cefe Lopez, do Instituto de Ciencia de Materiales, Espanha; John Girkin, da Durham University, Reino Unido; Jorge Rocca, da Colorado State University, Estados Unidos; Rui Vilar, do Instituto Superior Técnico, Portugal; Takashige Omatsu, da Chiba University, Japão; Thomas Südmeyer, da Université de Neuchâtel, Suíça; Volker Freudenthaler, da Ludwig-Maximilians-Universität, Alemanha.
Mais informações: https://sites.google.com/view/laserfrontiers/
Agência FAPESP -
- 20/07/2018 - Escola traz a São Paulo avanços no uso de lasersFonte: Agência FAPESPOs avanços na área da óptica têm sido tão rápidos e com resultados tão surpreendentes que mesmo excelentes alunos de mestrado ou de doutorado dificilmente têm ideia do que está ocorrendo na linha de frente de seu campo de estudo.
Foi esse pensamento que motivou a realização da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Fronteiras de Lasers e suas Aplicações, que ocorre até 27 de julho no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo.
Coordenada por Niklaus Ursus Wetter, pesquisador titular do Ipen e professor de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP), a Escola tem apoio da FAPESP por meio da modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) e reúne alguns dos mais renomados pesquisadores da área e estudantes de pós-graduação de várias partes do mundo.
"Esperamos que esse encontro ajude a consolidar no Brasil a área de fotônica avançada, que movimenta atualmente um mercado de US$ 530 bilhões no mundo”, disse Wetter à Agência FAPESP.
"Trouxemos pesquisadores-líderes em suas respectivas áreas, para comunicar aos alunos o estado da arte nos diferentes campos da óptica, da ciência básica às múltiplas aplicações”, disse.
O escopo engloba os processos de geração, amplificação, modulação, emissão, transmissão, detecção e processamento da luz. E aplicações que vão do monitoramento ambiental à tecnologia aeroespacial e da nanousinagem à medicina. Formar cientistas e criar empresas e inovação na área são consequências desejáveis no médio prazo.
A FAPESP tem investido pesadamente em pesquisas e na criação de facilities na área. O diretor científico, Carlos Henrique de Brito Cruz, participou da abertura da ESPCA no Ipen, apresentando aos pesquisadores e estudantes presentes as modalidades de apoio oferecidas pela instituição para aqueles que buscam oportunidades de estudo e carreira no Estado de São Paulo.
Uma subárea altamente valorizada no evento é a dos ultrafast lasers (lasers ultrarrápidos). Tais dispositivos tornaram-se um grande objeto de interesse, por serem capazes de produzir os fenômenos mais curtos e mais potentes já criados pela humanidade.
"O termo ultrafast refere-se à duração temporal dos pulsos do laser. Hoje, alcançamos rotineiramente pulsos com durações da ordem de cinco femtossegundos (5x10-15 s), que correspondem a cinco milésimos de trilionésimos de segundo. Mas já foram atingidos pulsos com durações de uma a duas ordens de grandeza menores, entre 10-16 s e 10-17 s. Então, operando um laser com energia por pulso de um milijoule (1 mJ), que não é muito, e comprimindo essa energia em um intervalo de tempo de cinco femtossegundos, somos capazes de criar potências de 1019 W no foco do laser. Isso equivale a uma potência 10 milhões de vezes maior do que todas as centrais de energia do mundo, juntas, são capazes de gerar”, explicou Wetter.
O equipamento capaz de viabilizar esse patamar de potência não é um dispositivo gigantesco como o LHC (Large Hadrons Collider – Grande Colisor de Hádrons), instalado na fronteira franco-suíça. Mas algo que pode ser disposto sobre a bancada do laboratório.
"Os ultrafast lasers permitem alcançar potências de tal magnitude que, com um pouco mais, seria possível criar matéria de maneira controlada. Focando o laser no vácuo, poderíamos separar o vácuo em elétrons e pósitrons, por exemplo. É como se voltássemos àquilo que aconteceu uma fração de segundo depois do Big Bang”, disse o pesquisador.
Esses lasers de altíssima potência são vistos como potenciais fontes de feixes de prótons, cujo uso no tratamento de câncer tem crescido expressivamente.
O novo – enfatizou Wetter – é o que se pode fazer hoje com isso. "Uma aplicação é a criação de padrões de tempo e de frequência três ordens de magnitude mais precisos do que aqueles possibilitados pelos relógios atômicos. Conseguimos definir o tempo de um segundo com uma precisão de 18 dígitos”, disse.
Lasers randômicos
Outra aplicação, decorrente da interação dos lasers ultrarrápidos com a matéria, são as ablações multifotônicas. Esse processo não térmico possibilita fazer cortes de altíssima precisão, com resoluções da ordem de centenas de nanômetros, sem transformar o material.
Nos cortes convencionais, o processo sempre aquece o material, fazendo com que ele mude de propriedade nas bordas da excisão. Com os lasers ultrarrápidos, dá para cortar de forma que o material mantenha todas as propriedades de interesse intactas.
Nas suas várias modalidades, os lasers tornaram-se ferramentas de aplicação tecnológica quase ilimitada: da modificação de estruturas metálicas – criando materiais altamente repelentes a líquidos ou, ao contrário, capazes de reter óleo em microcavidades, praticamente zerando o atrito e o desgaste das peças – à prospecção tridimensional de aerossóis poluentes em regiões com extensões de quilômetros.
"Uma área novíssima, interessantíssima, é a dos lasers randômicos, que permitem estudar a propagação da luz em meios difusos, como um comprimido de aspirina, por exemplo. O fenômeno possibilita tanto a investigação do próprio material, por meio da análise da fração luminosa que volta, como a obtenção de novos efeitos ópticos, como o aprisionamento da luz, no qual o feixe luminoso fica preso no interior do material por tempo indeterminado”, disse Wetter à Agência FAPESP.
Outra área nova é a da estruturação dos feixes de lasers, que consiste em conferir um momento angular aos fótons de modo que eles girem para um lado ou para outro em trajetórias circulares, triangulares, quadradas, hexagonais etc. Ao interagirem com a matéria, esses feixes permitem construir metamateriais com propriedades ópticas notáveis, como a refração negativa ou a invisibilidade.
Especialistas que lidam com esses e outros fenômenos em centros avançados do mundo participam da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Fronteiras de Lasers e suas Aplicações.
Do exterior, vieram para o evento: Cefe Lopez, do Instituto de Ciencia de Materiales, Espanha; John Girkin, da Durham University, Reino Unido; Jorge Rocca, da Colorado State University, Estados Unidos; Rui Vilar, do Instituto Superior Técnico, Portugal; Takashige Omatsu, da Chiba University, Japão; Thomas Südmeyer, da Université de Neuchâtel, Suíça; Volker Freudenthaler, da Ludwig-Maximilians-Universität, Alemanha.
Mais informações: https://sites.google.com/view/laserfrontiers/
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- 19/07/2018 - Técnica reduz de 40 para 5 sessões de radioterapia contra câncer de próstataFonte: Estado de Minas
Uma nova técnica tem permitido reduzir o número de sessões de radioterapia contra o câncer de próstata. Para a doença, geralmente são previstas 40 sessões. Com o tratamento chamado de hipofracionamento moderado, chegou-se a 20. Agora, surgem no País as primeiras iniciativas de radioterapia ultra hipofracionada contra esse tipo de tumor, que reduz o número de sessões para cinco.
Nesse formato, são aplicadas altas doses de radiação sobre o tumor, o que permite menos aplicações. A abordagem, também conhecida como hipofracionamento extremo ou SBRT, já é adotada contra alguns tipos de câncer, como o de pulmão. Mas é nova quando se trata do de próstata - segundo mais prevalente entre os homens. Estima-se que, neste ano, serão 68.220 novos casos da doença.
A opção começou a ser oferecida nos últimos meses no Hospital Sírio-Libanês e no Mãe de Deus, em Porto Alegre. Já no A. C. Camargo Cancer Center, os dois primeiros casos de SBRT foram feitos este mês. "Os benefícios são menor tempo de tratamento, menos transtorno (do paciente) com deslocamento e, muito provavelmente, melhora do índice de controle bioquímico da doença", afirma Antônio Cássio Pelizzon, líder da equipe de radioterapia do A. C. Camargo.
O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, também se prepara para aderir ao hipofracionamento extremo para o câncer de próstata, após a instalação de um equipamento inédito no País, o acelerador linear Halcyon. Além de permitir menos sessões, torna cada sessão mais rápida - cai de 25 minutos para oito. "Em vez de tratar quatro pacientes por hora, posso tratar seis. Isso amplia o acesso, agrega valor e reduz o custo da inovação", diz Rodrigo Hanriot, coordenador de radioterapia do hospital.
Por enquanto, o hipofracionamento extremo é indicado para tumores restritos à próstata, de risco baixo ou intermediário. Pacientes com problemas crônicos no trato urinário não são bons candidatos - estudos mostram que, especialmente nesse grupo, pode haver efeitos colaterais (como ardor e aumento da frequência urinária), diz Andrea Barleze da Costa, gestora de Radioterapia do Mãe de Deus.
O hipofracionamento moderado ganhou força após dez estudos clínicos de fase 3 (alto nível de evidência), conduzidos em grandes centros de pesquisa, demonstrarem que a técnica é tão eficaz quanto a convencional. Para Arthur Accioly Rosa, da Sociedade Brasileira de Radioterapia, o modelo é uma mudança de paradigma.
Eficiente, a técnica se tornou tendência em vários países. Mas, como diz Elton Leite, do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), a popularização no País envolve questões ligadas a equipamentos e modelos de remuneração. Para aplicar altas doses de radiação com segurança, é preciso tecnologia que permita monitorar a localização precisa do tumor.
Uma opção é o IGRT ( radioterapia guiada por imagem), pouco disponível no Brasil e sem ressarcimento pelo SUS e pelas operadoras. Outra é o Calypso, recém-instalado pelo Sírio, que trabalha com emissão de sinais - dispositivos implantados na próstata avisam (25 vezes por segundo) se está no alvo e, diante de um desvio, a radiação é interrompida.
De modo geral, a radioterapia no País é paga conforme o total de sessões - se há menos, o valor cai. "É um verdadeiro paradoxo", diz João Luís Fernandes da Silva, do Departamento de Radioterapia do Sírio. Por isso, hospitais têm negociado pacotes com operadoras para todo o tratamento.
Jornada
Quando José Nei Garcez, de 80 anos, descobriu que tinha câncer de próstata, em março de 2017, iniciou uma jornada em busca de tratamento. Morador de Dom Pedrito (RS), na fronteira com o Uruguai, passou por médicos de outras duas cidades antes de ser indicado para o hipofracionamento extremo no Hospital Mãe de Deus.
Após uma semana, voltou para casa. "Se fossem muitos dias, era capaz de adoecer mais. Estava com saudade de casa, dos filhos", diz. "O tratamento em menos tempo foi grande vantagem para o aspecto emocional", conta a filha Clarisse, de 41 anos. Ele, que faz tratamento hormonal a cada três meses, diz não sentir efeito colateral. "Hoje me sinto ótimo. Foi um sucesso." As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.
(Amarílis Lage, especial para a AE) -
- 18/07/2018 - Energia gerada por fusão nuclear será utilizada a partir de 2030Após produzir plasma superquente, a empresa Tokamak Energy propõe novos projetos para avançar na construção de reatores de fusão nuclear
Após produzir plasma superquente, a empresa Tokamak Energy propõe novos projetos para avançar na construção de reatores de fusão nuclear
Fonte: Galileu
Após anunciar a criação de um plasma superquente no mês de junho, a empresa britânica Tokamak Energy acaba de afirmar que a oferta comercial de eletricidade por fusão nuclear deve ser uma realidade a partir de 2030.
A promessa é fruto do teste bem-sucedido da empresa, que registrou a temperatura mais alta atingida por plasma produzido pelo homem: 15 milhões de graus Celsius (tão quente quanto o centro do Sol). A reação foi gerada no reator ST40, onde o material foi confinado em uma câmara à vácuo e mantido dentro de campos magnéticos poderosos.
Empolgados com o resultado, os cientistas da empresa estão se preparando para produzir um plasma ainda mais quente, com cerca de 100 milhões de graus Celsius. Este é o primeiro passo para começar a operar em temperaturas necessárias para a fusão nuclear.
A Tokamak Energy é uma das maiores empresas que apostam na produção de eletricidade por reatores de fusão. A meta é conseguir tirar a ideia do papel antes da metade da década de 2040, que é o período em que o reator concorrente, da francesa ITER, está projetado para produzir o seu primeiro plasma.
Por isso, a empresa planeja lançar em 2025 um novo reator, que será construído especialmente para produzir uma grande quantidade de megawatts de energia por fusão.
Jarras de estrelas
A transformação do hidrogênio em hélio através da fusão nuclear é a principal reação que mantém as estrelas brilhando por bilhões de anos — por isso, a ideia de construir um reator de fusão lembra a de "estrelas em uma jarra”. Mas o assunto não tão adorável assim.
A fusão nuclear também acontece em bombas de hidrogênio, onde o elemento é derretido por dispositivos de fissão de plutônio em altíssimas temperaturas, o que resulta numa explosão centenas ou milhares de vezes mais potente do que uma bomba nuclear que funciona pela fissão.
Projetos de fusão controlados como os da ITER e da Tokamak Energy fundirão combustível de hidrogênio em temperaturas muito mais altas e a pressões muito mais baixas do que as vistas no interior do Sol.
Defensores da fusão nuclear afirmam que esse tipo de geração de energia pode tornar outras fontes obsoletas. Isso porque é possível produzir grandes quantidades de eletricidade por uma quantidade relativamente pequena de deutério e trítio, isótopos pesados de hidrogênio que são relativamente abundantes na água do mar.
Na teoria, reatores de fusão nuclear podem produzir muito menos resíduos radioativos do que reatores de fissão. Além disso, de acordo com o projeto da ITER, é impossível que acidentes nucleares como os de Chernobyl ou de Fukushima aconteçam nessas condições.
O pesquisador veterano Daniel Jassby, ex-físico do Laboratório de Física do Plasma da Universidade de Princeton, discorda. Segundo ele, projetos como esses podem sim criar uma quantidade significativa de lixo radioativo.
Com informações do Live Science.
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- 17/07/2018 - Incubadora de São Paulo busca startups de manufatura avançadaCietec quer criar uma rede colaborativa de empresas do setor junto ao mercado
Cietec quer criar uma rede colaborativa de empresas do setor junto ao mercado
Fonte: DCI
RAPHAEL FERREIRA•SÃO PAULO
A incubadora Cietec abriu um edital específico para empreendedores que tenham atuação na chamada manufatura avançada, também chamada de Indústria 4.0. Esse setor engloba tecnologias como internet das coisas e computação em nuvem.No momento, há cerca de 14 startups na incubadora que desenvolvem negócios utilizando tecnologias identificadas com a manufatura avançada. Em nota, a entidade disse que o objetivo é atrair novos negócios que possam se beneficiar de um ecossistema já em desenvolvimento.
Localizado em São Paulo, o Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) é a entidade gestora da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo USP/Ipen – Cietec, instalada no campus Ipen, na Cidade Universitária, em São Paulo.
Para mais informações os interessados devem acessar o edital no site do Cietec
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- 17/07/2018 - Oferta insuficiente de fármacos limita expansão da medicina nuclear no PaísCom a construção de novo reator, governo visa diminuir dependência da importação de insumos usados principalmente no diagnóstico e tratamento do câncer, com foco preponderante no SUS
Com a construção de novo reator, governo visa diminuir dependência da importação de insumos usados principalmente no diagnóstico e tratamento do câncer, com foco preponderante no SUS
Fonte: DCI
Ricardo Casarin • São Paulo
A falta de capacidade produtiva de radiofármacos torna deficiente o atendimento da demanda de procedimentos de medicina nuclear no País. A dependência de importação de insumos encarece tratamentos e reduz a oferta no Sistema Único de Saúde (SUS).
"O nosso mercado tem um déficit muito grande, a quantidade produzida internamente não atende o País. Atualmente, o Brasil gasta cerca de US$ 17 milhões importando o material necessário para a produção de radiofármacos utilizados no diagnóstico e tratamento de diversas doenças”, afirma o coordenador técnico do Projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), José Augusto Perrotta. Em março, o governo federal anunciou o investimento de R$ 750 milhões no RMB até 2022.
De acordo com o Ministério da Saúde, desde 2009 o Brasil enfrenta dificuldade no abastecimento de radiofármacos devido à paralisação de um reator canadense, responsável pelo fornecimento de 40% do mercado global. O principal objetivo do RMB, em desenvolvimento no Centro Industrial Nuclear de Aramar, em Iperó (SP), é nacionalizar a produção de radiofármacos, permitindo fornecimento a preço de custo ao SUS. "O governo planeja uma expansão dentro do sistema público, pois atualmente a medicina privada corresponde a 70% deste tipo de tratamento e só atende 30% da população”, conta o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Juliano Cerci.
Perrotta aponta que o projeto permitirá ao País produzir mais com menos dinheiro. "Com o reator, conseguiremos dobrar ou triplicar a produção, com um investimento em real, em vez de dólar, barateando o processo. Isso dará sustentabilidade e ampliará a medicina nuclear.” Ele explica como os radiofármacos são usados em procedimentos de detecção e tratamento de doenças. "O elemento radioativo é injetado no paciente que, junto com um equipamento, permite a visualização de um órgão específico, um mapeamento de dentro para fora. Isso permite detectar anomalias, como o câncer”, explana. "Já o tratamento consiste na emissão de radiação para matar uma célula cancerígena, por exemplo.”
Incentivo à indústria
O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed), Carlos Goulart, acredita que o RMB terá um impacto positivo para a produção nacional. "Nossas empresas estão procurando entender melhor o volume e a disponibilidade de insumos, todas têm interesse em fazer uso.” Goulart explica que o equipamento de diagnóstico conhecido como PET/CT (sigla em inglês para tomografia por emissão de pósitrons) é produzido pela indústria nacional. "É um tomógrafo unido ao radiofármaco, dando a localização exata de um tumor.”
Atualmente, o Brasil possui quatro reatores de pesquisa, sendo o principal deles o localizado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), localizado em São Paulo. "Todo o campus se desenvolveu ao redor do Ipen. Acredito que o mesmo vai ocorrer com o RMB, vai ser um grande polo de ciência nuclear no Brasil”, prevê Perrotta. A projeção de conclusão é em 2024, mas a produção de radiofármacos pode ser iniciada antes. "O reator é de multipropósito, há uma série de interfaces para outros setores, como a agricultura. Também traz a possibilidade de tornar o Brasil um exportador de insumos radioativos”, diz Cerci.
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- 17/07/2018 - Descoberto meio de extrair energia atômica para uso em bateriasFonte: Inovação Tecnológica
Depois de décadas de trabalho, finalmente se comprovou na prática que existe de fato uma forma mais amena e mais segura para extrair energia do núcleo dos átomos.
Talvez não dê para substituir as atuais centrais nucleares por algo menos arriscado, mas dá para pensar em novos tipos de baterias atômicas eficientes e seguras.
No início deste ano, Christopher Chiara e uma equipe da Austrália, EUA e Polônia demonstrou na prática uma teoria proposta há mais de 40 anos, que propunha que radioisótopos podem armazenar energia em materiais não fissionáveis - uma energia nuclear sem fissão nuclear.
Explorando uma classe não química de materiais, eles usaram um isótopo específico de molibdênio para demonstrar que a energia pode ser armazenada em uma forma excitada desses núcleos, energização esta que dura cerca de sete horas, e que a energia pode ser liberada em uma escala de tempo muito menor por um novo processo envolvendo as "conchas" atômicas em torno desse núcleo - uma outra maneira de se referir aos níveis de energia dos orbitais eletrônicos.
Criando um "buraco" nessa concha atômica, um elétron livre que cai na concha transfere a quantidade exata de energia - uma quantidade muito pequena - para o núcleo e, como um interruptor, causa uma liberação controlada da energia maior armazenada.
O processo ficou conhecido como ENCE - "excitação nuclear por captura de elétrons" (ou NEEC: nuclear excitation by electron capture)
A equipe suíça estabeleceu como usar pulsos de raios X para gerar os elétrons capazes de extrair a energia dos núcleos não fissionáveis. [Imagem: G. M. Vanacore et al. - 10.1038/s41467-018-05021-x]
Disparos de elétrons para gerar energia
Agora, Giovanni Vanacore e seus colegas da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, desvendaram a mecânica do processo em uma escala temporal de attossegundos - 1 attossegundo equivale a 10-18 segundo.
Ainda que esse experimento por si só seja inédito, a equipe definiu como criar flashes de elétrons em intervalos de tempo ainda menores, de zeptossegundos (10-21 segundos), usando tecnologia já existente, para aumentar o rendimento energético das reações nucleares e extrair sua energia.
"Em termos ideais, o que se quer fazer é induzir instabilidades em um núcleo de outra forma estável ou metaestável para provocar decaimentos produtores de energia, ou para gerar radiação," explicou Fabrizio Carbone, membro da equipe. "No entanto, o acesso aos núcleos é difícil e energeticamente caro por causa da camada protetora de elétrons em torno dele".
Os pulsos de zeptossegundos, contudo, resolvem essa dificuldade, estabelecendo um modo de explorar e coletar as várias ordens de grandeza de energia presente no núcleo de um átomo através do controle coerente do efeito ENCE (excitação nuclear por captura de elétrons).
"Nosso esquema de controle coerente com pulsos de elétrons ultracurtos pode oferecer uma nova perspectiva para a manipulação das reações nucleares com potenciais implicações em vários campos, da física fundamental às aplicações relacionadas à energia," concluiu a equipe em seu artigo.
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- 16/07/2018 - Indústria debaterá impactos das mudanças que o Governo estuda para Política Nuclear BrasileiraFonte: Petronotícias
O setor nuclear brasileiro vive momentos de grande expectativa, já que o governo federal está estudando mudanças importantes neste segmento. O Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB) se reuniu recentemente em Brasília para debater uma série de propostas de modificações na política do setor do país, que preveem a ampliação da utilização da fonte na matriz energética brasileira. O CDPNB está sendo coordenado pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen (foto). De acordo com ele, o conteúdo do plano está fechado e será proposto ao presidente Michel Temer em breve. "Com essa proposta feita pelo comitê, vamos ter claramente os objetivos e normas a serem seguidas na utilização pacífica da energia nuclear pelo Brasil”, explicou Etchegoyen. Como o assunto é considerado vital para o mercado nuclear brasileiro, ele será debatido na próxima semana durante o Seminário Internacional de Energia Nuclear (SIEN 2018), que será realizado nos dias 25 e 26 de julho, no auditório de Furnas, no Rio de Janeiro.
O que se comenta no mercado é que o plano do CDPNB é entregar o novo programa nuclear brasileiro, em forma de projeto de lei, para apreciação do Congresso Nacional. Além disso, o grupo liderado pelo general Etchegoyen passará a se reunir semestralmente para dar ainda mais celeridade aos trabalhos. "Como ainda não temos formalmente a Política Nuclear Brasileira, todos os trabalhos da área nuclear ficam soltos, sem ter objetivos e caminhos a seguir”, afirmou.
Outro tema que entrará na pauta do SIEN 2018 será a retomada das obras de Angra 3, considerada por especialistas do setor elétrico como fundamental para a segurança energética do Brasil. Além de ser uma fonte firme de geração de energia, a entrada em operação de Angra 3 poderá representar uma enorme economia. Um estudo feito pela Eletronuclear constatou que a partir do momento em que a usina nuclear começar a gerar energia, o custo com despacho das térmicas cairá em até R$ 900 milhões por ano. "Precisamos lembrar que hoje gastamos um volume de recursos muito alto (chegando a R$ 900 MW/h) para despachar as usinas emergenciais”, reforça o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, em entrevista ao Petronotícias.
O setor nuclear também aguarda com grande expectativa a decisão do governo de autorizar da revisão e fixação de um novo preço para comercialização da energia da central nuclear de Angra dos Reis, inclusive de Angra 3. Essa medida viabilizaria a retomada das obras da usina com participação privada, além de estimular a construção de outras usinas.
Conforme o Petronotícias publicou, no início deste mês, o presidente da Eletronuclear, Leonam Guimaraes, acredita que para reiniciar a construção de Angra 3, é preciso discutir o contrato de venda da energia que será produzida pela usina – cujo preço está defasado, inviabilizando o equilíbrio econômico-financeiro do empreendimento. Além disso, o executivo afirma que é preciso renegociar as dívidas decorrentes do financiamento. No momento, a Eletronuclear vem tentando adiar o pagamento das parcelas do financiamento para construção da unidade com o BNDES e a Caixa Econômica Federal. Por último, a empresa precisa fechar um novo modelo de negócios para Angra 3, que permita a participação privada, mantendo o controle da União.
O presidente da Eletronuclear é um dos nomes já confirmados para compor da agenda de atividades do SIEN 2018, que terá ainda a participação de Paulo Roberto Pertusi, presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN); Reinaldo Gonzaga, presidente da INB; Carlos Henrique Silva Seixas, Presidente da NUCLEP; Carlos Leipner, vice-presidente da Westinghouse Latin America & Canada; André Salgado, vice-presidente da Framatome para o Brasil e América do Sul e Leonardo Dalaqua Junior, gerente de contratos da GENPRO Engenharia, além dos diretores da Rosatom América Latina (Rússia) e EDF (França).
Além da agenda de debate, o SIEN terá em sua programação uma visita técnica, no dia 27, ao Instituto de Radioproteção e Dosimetria, ligado à Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear (DRS) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). As inscrições para o evento estão abertas e podem ser feitas através do e-mail: inscricao.planeja@gmail.com e pelos telefones (21) 3301-3208 / 2262-9401.
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- 16/07/2018 - Eletronuclear teme calote no BNDES, CEF e EletrobrasFonte: Valor Econômico
A Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, não terá como escapar da inadimplência e não rever, até o início de agosto, as condições dos empréstimos da construção da usina nuclear de Angra 3. Em entrevista ao Valor, o presidente da empresa, Leonam Guimarães, disse que não terá caixa suficiente para, no próximo mês, honrar os compromissos de amortização dos financiamentos com Caixa, BNDES e Eletrobras.
"Somando as três parcelas mensais chegamos a R$ 80 milhões que pesam enormemente sobre o nosso faturamento de R$ 270 milhões, por mês. Isso inviabiliza a administração de custos de operação das demais usinas", disse o executivo.
Para contornar a situação, a Eletronuclear trabalha em três frentes. Uma é assinar um aditivo com a Caixa para ter o prazo de carência de pagamento contado a partir da liberação de recursos - não mais a partir da data de assinatura do contrato.
Com esforço para conter despesas, a Eletronuclear conseguiu pagar, no último dia 2, a primeira parcela à Caixa, de R$ 25 milhões. O empréstimo prevê a liberação de R$ 3,5 bilhões, no total, para a compra de bens e serviços internacionais.
O executivo afirma que já obteve "resultado significativo" com corte em custeio, de R$ 8 milhões por mês. Segundo ele, a inadimplência só não foi antecipada para este mês porque pagou um valor abaixo do previsto às Indústrias Nucleares do Brasil (INB), responsável pelo fornecimento do combustível nuclear.
Outro alívio buscado pela Eletronuclear é com a própria holding, que tem parcelas mensais de R$ 22 milhões do empréstimo de R$ 1,05 bilhão. A Eletrobras se comprometeu a liberar este recurso para cobrir contrapartidas ao BNDES.
"Vendo a nossa situação de caixa, a Eletrobras nos concedeu um 'waiver' até março deste ano, o que permitiu pagar o BNDES com mais tranquilidade até abril. Mas isso acabou", disse Guimarães. O valor do empréstimo com o segundo banco de fomento também foi de R$ 3,5 bilhões, com parcelas mensais de R$ 31 milhões.
A terceira saída para evitar a inadimplência envolve negociações com o BNDES. O banco tem condicionado a repactuação do contrato à apresentação de garantias de viabilidade do projeto. Isso inclui a revisão da tarifa de energia que será comercializada e a definição de plano de reestruturação societária, com escolha de um sócio privado que deverá fazer aporte de recurso ao projeto.
O governo já prometeu atender ao pleito de revisão da tarifa - atualmente, em R$ 244 por MWh - e buscar solução para a escolha do sócio privado. Mas, na prática, pouco foi feito, apenas foi criado um grupo de trabalho, não formalizado ainda, para definir medidas que poderão ser adotadas, como mudanças em lei para que a revisão da tarifa não represente uma quebra de contrato.
"Soubemos da criação do grupo e logo cuidamos de formalizar proposta de chamada pública para termos um sócio minoritário, de acordo com o mandato constitucional de que a União seja majoritária no capital votante de projetos dessa natureza. Isso já existiu no passado, quando a Siemens / KWU assumiu a fatia de 25%, no âmbito do acordo Brasil-Alemanha", afirmou o presidente da estatal.
Guimarães alerta que a dificuldade financeira relacionada à usina de Angra 3 pode contaminar a "excelência de operação" das outras duas usinas que integram o complexo nuclear em Angra dos Reis: Angra 1 e 2.
"Fomos o quinto parque de geração nuclear com melhor desempenho no mundo, atingindo um fator de capacidade de quase 90%. No médio prazo, o nosso desempenho pode ficar comprometido. Existe sim um risco de descontinuidade séria", afirmou.
O presidente da Eletronuclear destaca que a forte pressão de caixa seria capaz de impactar somente a qualidade de operação das usinas, o que levaria, no limite, à indisponibilidade de alguma unidade. "Nunca a segurança da usina é comprometida. Antes de enfrentar qualquer risco, ela para".
O executivo ressalta que ainda conta com revisão de tarifa e sócio privado para retomar obras em Angra 3. Segundo ele, a estatal mantém conversas com cinco grupos estrangeiros interessados na usina: um russo (Rosatom), dois chineses (CNNC e SNPTC), um franco-japonês (EDF / Mitsubishi) e um consórcio - até agora, de empresas americanas - em fase de estruturação pelo escritório Squire Patton Boggs (SPB). Uma sexta empresa, sul-coreana, suspendeu as tratativas alegando mudança na estratégia.
A negociação com os estrangeiros começou na discussão sobre os futuros projetos de usinas nucleares previstos no planejamento estratégico do setor elétrico brasileiro. Seriam duas para o Nordeste e duas para Sudeste.
"Eles estavam de olho nos novos projetos, mas viram Angra 3 como uma boa opção, porque já está totalmente licenciada, com o projeto totalmente concluído. E ainda tem uma 'irmã gêmea', Angra 2, em operação, o que aumenta bastante a aposta em seu sucesso", afirmou Guimarães.
Ele garante que, além de ser um bom negócio para os investidores, Angra 3 será importante para aumentar a confiabilidade no fornecimento de energia pelo sistema elétrico e reduzir custo. Disse que a usina poderia gerar hoje uma economia de R$ 900 milhões por ano com a substituição de térmicas com custo mais caro de operação.
Angra 3 deveria ter sido concluída em janeiro de 2016. Guimarães ressalta que a paralisação das obras não tem relação com a fase da operação LavaJato que levou à prisão o ex-presidente da Eletronuclear, Othon Silva, em 2016. "A Lava-Jato foi uma tragédia em que a Eletronuclear foi a vítima".
Segundo ele, o projeto já havia parado em 2015, quando foram suspensos os aportes da holding, afetada pela perda de receita logo após mudança no setor promovida pela MP 579/12.
O empreendimento já consumiu R$ 7 bilhões em investimento e ainda exige mais R$ 14 bilhões para ser concluído. Análises de auditorias independentes indicaram que, se o governo desistir, deverá desembolsar mais R$ 11,8 bilhões com despesas relacionadas, por exemplo, à recuperação de áreas degradadas e indenização de fornecedores por quebra de contrato. -
- 16/07/2018 - Com crise e cortes na ciência, jovens doutores encaram o desemprego: 'Título não paga aluguel'Fonte: BBC News BrasilO estatístico Paulo Tadeu Oliveira, de 55 anos, defendeu seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP) em agosto de 2008. Dez anos depois, ainda não conseguiu ingressar no mercado de trabalho. O pesquisador, que é deficiente visual, emendou três pós-doutorados em busca de especialização e experiência, mas não passou nas diversas seleções para o quadro de universidades públicas. Atualmente, está no quarto estágio pós-doutoral, desta vez sem apoio financeiro.
Em busca de trabalho na iniciativa privada, ele consultou 18 headhunters para tentar enquadrar seu currículo ao mercado, mas encontrou respostas similares: o estatístico não possui experiência corporativa e, ao mesmo tempo, é considerado overqualified (qualificado demais) para as posições disponíveis. Em maio, ele relatou sua história à Comissão de Direitos Humanos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e espera resposta.
Assim como Oliveira, diversos jovens doutores (ou seja, titulados recentemente) estão patinando profissionalmente. A concorrência continua crescendo: no ano passado, foram formados 21.609 novos doutores – ao todo, são 302.298, incluindo estrangeiros residentes no país.
Em 2006, o país atingiu a meta de formar 10 mil doutores e 40 mil mestres por ano, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgados à época. Em 2014, o Plano Nacional de Educação estabeleceu uma nova meta: a formação de 25 mil doutores por ano até 2020.
O problema é que o principal destino de doutores, a área da educação – 74,5% dos empregados estão nas universidades ou institutos de pesquisa – sentiu os efeitos da crise econômica no país.
O orçamento do Ministério da Educação (MEC) sofreu cortes de R$ 7,7 bilhões em 2015 e de R$ 10,7 bilhões em 2016, segundo dados da própria pasta. No Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) 44% (R$ 2,5 bilhões) foram congelados em 2017, de acordo com números do governo.
A Capes, vinculada ao MEC, perdeu R$ 1 bilhão por ano desde 2015; o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao MCTIC, também perdeu cerca de R$ 1 bilhão no caixa de 2015 para 2016, o que afeta programas de pós-doutorado, por exemplo.
Nas instituições particulares, o quadro também é pessimista, com a demissão de milhares de professores - a Estácio de Sá, por exemplo, demitiu 1,2 mil docentes em dezembro de 2017 – e o trancamento de matrículas de alunos, que registrou um aumento de 22,4% entre 2011 e 2015, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Novo cenário
Entre 1996 e 2014, o número de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) triplicou no país, informa o relatório Mestres e Doutores 2015, o mais recente da série. Elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o estudo revela que o período também registrou um boom na formação de mestres (379%) e doutores (486%) no país.
Um novo estudo em andamento no CGEE revela também a taxa de empregabilidade de doutores recém-titulados: entre 2009 e 2014, o índice se estabilizou em cerca de 73%, mas em 2016 caiu para 69,3%.
"Historicamente, a taxa de emprego é mais estável, fruto de uma política constante, passando por governos variados. Apesar de ter cada vez mais doutores, podemos afirmar que até 2015 eles foram absorvidos pelo mercado, público e privado", diz a coordenadora da pesquisa, Sofia Daher, de 55 anos.
"A queda não é drástica, mas sinaliza uma tendência nova. Houve uma redução considerável de concursos para professores universitários", disse ela à BBC News Brasil.
O pesquisador Ronaldo Ruy, de 36 anos, é um retrato desse novo cenário: está desempregado desde a defesa de seu doutorado na Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2016. "Estou buscando pós-doutorado para não tirar definitivamente os dois pés da ciência", diz ele, que fez cursos no Smithsonian Research Tropical Institute e no Florida Museum of Natural History, nos EUA.
Atualmente dependendo da ajuda financeira da família, Ruy buscará trabalho fora de sua área de atuação. "O amor pela ciência não as paga contas. No meu caso particular, a situação chegou ao ponto da minha família ter dado prazo para que eu saia de casa e inevitavelmente terei que seguir outro caminho (profissional)", conta.
Foi o que fez Karen Carvalho, de 36 anos, doutora em neurociências pela USP.
Após a conclusão da pesquisa no Instituto Butantan, em novembro, ela tentou ingressar na indústria farmacêutica, sem sucesso.
"Durante o doutorado, desenvolvi depressão. Uma ironia, pois meu campo de estudo é estresse e depressão", diz a bióloga, que hoje atua como corretora de imóveis.
De acordo com uma investigação com 2 mil estudantes de 26 países, publicada na revista Nature Biotechnology em março, os pós-graduandos têm seis vezes mais chance de sofrer ansiedade e depressão do que a população geral.
Além das pressões do doutorado, Carvalho afirma que a falta de perspectiva agravou seu quadro.
"No Brasil, a gente é tratado como 'só estudante' durante a pós. Falta olhar para o cientista como um profissional, muitas vezes muitíssimo qualificado. Você se mata para fazer mestrado e doutorado, e depois pensa: e agora, vou fazer o que com os títulos? Só perdi meu tempo? É uma tristeza, perde-se o brilho olhando para a situação atual da ciência. A gente está no limbo."
Doutores demais?
O biólogo professor da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Hermes-Lima, de 53 anos, vem criticando o que vê como uma formação excessiva de doutores desde 2008.
"Teve uma inundação de 'cérebros'. É a lei do mercado: se você tem essa 'commodity' demais, desvaloriza-se", afirma.
Para Hermes-Lima, a última década registrou "uma alucinada proliferação" de cursos de pós-graduação no país, priorizando quantidade, e não qualidade da formação acadêmica. "Aí chegou o teto - e o teto agora está começando a cair", ilustra.
"A crise econômica empurrou muita gente sem real motivação científica para a universidade. Sem emprego, muita gente buscou refúgio na ciência, de olho nas bolsas. A crise demorou para chegar na ciência, mas agora chegou", critica.
O filósofo Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, pensa diferente. "Parar de investir na formação doutoral é um risco. Como um doutor demora em regra quatro anos para se titular, uma parada significará que, quando precisarmos de mais doutores, eles não estarão disponíveis", analisa.
Para ele, a dificuldade de manter o ritmo de investimento para jovens doutores está relacionada "por um lado, à crise econômica; por outro, às prioridades diferentes do novo governo".
Procurado pela BBC News Brasil, o Ministério da Educação diz não ser "verdade que falte recurso para as universidades". "A expansão das universidades federais trouxe impactos significativos para o orçamento do MEC, que precisam ser compreendidos em sua plenitude", escreve a pasta, em nota.
Essa expansão, acrescenta, "foi realizada sem planejamento". "O ano de 2014 foi influenciado pelas eleições e por um momento econômico em que a gestão anterior não mensurou os efeitos dos gastos exagerados e sem controle. Diversos programas aumentaram recursos fora da realidade, fazendo com que a própria gestão anterior iniciasse as reduções, a partir de 2015", conclui.
De 2003 a 2010, houve um salto de 45 para 59 universidades federais, o que representa uma ampliação de 31%; e de 148 câmpus para 274 câmpus/unidades, crescimento de 85%. A expansão também proporcionou uma interiorização – o número de municípios atendidos por universidades federais foi de 114 para 272, um crescimento de 138%, segundo dados do próprio MEC.
Por sua vez, o MCTIC afirma que está atuando junto à equipe econômica para maior disponibilização de recursos. "Em anos anteriores, os esforços do MCTIC para recomposição orçamentária têm dado resultados, com a liberação de recursos contingenciados ao longo do ano. No cenário de restrições orçamentárias, o MCTIC mantém ainda permanente diálogo com os gestores de suas entidades vinculadas para que os recursos sejam otimizados, minimizando o impacto em suas atividades."
Cartas de rejeição
Diante da falta de oportunidade no mercado, tanto na iniciativa privada quanto nas instituições públicas, muitos jovens doutores apostaram na possibilidade de um pós-doutorado, conforme diversos relatos à BBC Brasil. A bolsa mensal do CNPq é de R$ 4,5 mil.
Diferentemente do mestrado ou doutorado, o pós-doutorado não é um título: é uma especialização ou um estágio para aprimorar o nível de excelência de determinada área acadêmica. É visto como um aperfeiçoamento do currículo para processos seletivos para docente nas universidades públicas.
Para a maioria dos candidatos, porém, as expectativas acabaram frustradas.
"A proposta, apesar de meritória, não pode ser atendida nesta demanda, considerando-se a disponibilidade de recursos", dizia a resposta-padrão enviada a dezenas de doutores recém-titulados que tinham pedido bolsas na modalidade Pós-Doutorado Júnior (PDJ), do CNPq.
Diante do resultado, divulgado em meados de junho, muitos doutores relataram sua indignação ao serem rejeitados em depoimento em grupo de 6,6 mil pesquisadores brasileiros no Facebook. Sob a condição de anonimato, um parecerista do CNPq conta que os avaliadores também ficaram frustrados. "Não importa o quanto o projeto é excelente, não há recursos para todo mundo; é infrutífero para a ciência do país".
No início deste ano, dos 2.550 pedidos recebidos pelo CNPq, foram concedidas 363 bolsas de PDJ. No primeiro calendário de 2017, foram 2392 pedidos e 359 concessões.
Doutor em psiquiatria pela UFRGS, com temporada de estudos na Tufts University, nos EUA, o pesquisador Dirson João Stein, de 44 anos, tentou quatro editais de pós-doutorado desde abril, diante da falta de concursos na área. Não conseguiu aprovação em nenhum.
"Vejo como uma oportunidade de transição entre a vida estudantil e a vida profissional. Há possibilidade de praticar a docência, um dos principais pré-requisitos para a seleção de professores", considera. Assim como Ruy, Stein depende da família e, agora, faz freelancer como garçom para festas em São Leopoldo (RS).
Peso emocional
A psicóloga Inara Leão Barbosa, de 60 anos, que pesquisa desemprego desde 2003, destaca que um de seus efeitos psicossociais é o isolamento dos amigos e da família.
"É um sentimento de regressão, um impacto muito violento. Eles, que eram considerados tão inteligentes, passam a ser vistos como vagabundos que não querem trabalhar. Muitos voltam a morar com os pais e são tratados como adolescentes. Eles se culpam como indivíduos, esquecendo que a crise faz parte do sistema", diz Barbosa, professora da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Muitos doutores vão parar no subemprego. "E, se você não quiser (o subemprego), no momento de crise tem uma fila de gente que quer", afirma.
Professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o historiador Rodrigo Turin, 38, diz que a academia está sendo pautada por conceitos como "produtividade", "inovação" e "excelência", respondendo a uma lógica de mercado.
"Já começaram a aparecer, inclusive, ofertas de postos não-remunerados, nos quais esses jovens acadêmicos são induzidos a pesquisar e dar aulas apenas para poder 'engordar' seus currículos e, assim, se tornarem mais competitivos", critica.
Essa "ideologia da excelência" é um dos pontos estudados por Lara Carlette, de 29 anos. Sua tese Universidades de classe mundial e o consenso pela excelência, defendida no Departamento de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em fevereiro, foi indicada ao Prêmio Capes pela originalidade do trabalho.
Ao propor um desdobramento de sua pesquisa para o CNPq, ela recebeu dois pareceres positivos e uma decisão negativa que, ironicamente, indicava falta de originalidade.
Segundo Carlette, os jovens doutores vivem impasses: por um lado, muitos passam anos na condição de bolsistas de dedicação exclusiva (o que proíbe vínculo empregatício, assim limitando a possibilidade de experiência docente); por outro lado, a experiência é cobrada nos concursos.
Na mesma linha, os acadêmicos precisam preservar a originalidade de suas teses (o que limita a publicação de artigos durante o doutorado), mas a produtividade (o número de publicações) é cobrada nos processos seletivos e nos editais.
"Pode parecer dramático, mas conviver com isso diariamente é torturante. Saber ler a conjuntura, e não individualizar a falta de oportunidades, é essencial", adiciona a pesquisadora, que já foi questionada inclusive pela juventude: foi chamada de "novinha" durante um processo seletivo.
"Depois da alegria e do alívio de defender uma tese, você está desempregado no dia seguinte. Título não paga aluguel."